19/03/2016

Guerra e Paz - Liev Tolstói / Diário de Leitura #05

Em 2016, leio Guerra e Paz pela primeira vez e registro aqui um diário de leitura com postagens para cada uma das partes dos quatro tomos e epílogo.

Postagens:

Tomo 2 - Segunda Parte


↪ Esta parte, especialmente, sugeriu muito que a narrativa de Tolstói corresponde extensamente às diferentes versões da "jornada do herói" que Pierre, Andrei e Nikolai terão de atravessar durante aqueles conturbados anos da história russa; simbolizando, cada um, os diferentes aspectos da jornada que o próprio país também atravessava. [*Considerando-se que ainda faltam mais de 1500 páginas para acabar o livro, obviamente isso é mera hipótese a ser confirmada em definitivo.] Aparentemente, é provável que os três tenham ultrapassado, nestas ultimas páginas, a fase do "Threshold - Começo da transformação". Ou talvez já tenha sido "A Grande Revelação"? Não sei, é necessário continuar a leitura.

 Este momento das jornadas do Pierre e do Andrei lembra bastante, pelo pouco que conheço, a própria história pessoal de Tolstói, que também enfrentou uma crise espiritual semelhante a dessas duas personagens. Sei que o autor, inclusive, compartilhou suas angústias e reflexões filosóficas em livro (Companhia das Letras - Os Últimos Dias.)  
"(Pierre:) O que é ruim? O que é bom? O que se deve amar, e o que se deve odiar? Para que se deve viver e o que eu sou? O que é a vida, o que é a morte? Que força governa tudo? (...) Você vai morrer e tudo vai terminar. Você vai morrer e vai ficar sabendo de tudo...ou vai parar de perguntar."
Por enquanto, Pierre parece ter encontrado um alívio para a alma mediante a maçonaria, enquanto Andrei (♥) resiste parcialmente às investidas solidárias do amigo, ainda encontrando alguma espécie de alento no ceticismo e na solidão.

(Tá vendo, Jon Snow? Aos olhos de Tolstói, o senhor é um sábio!)


 Já a jornada do Nikolai... QUE JORNADA!! Amando demais. Está sendo delicioso acompanhar os sonhos e as ilusões de adolescente do bom rapaz sendo destruídos gradativamente (eu bem que tinha previsto que o tombo dele seria feio). Dá um pouco de pena, claro, mas acho que todo mundo passa por isso, em menor ou maior grau.

Nesta parte, o jovem tenente passou por grandes contragostos que certamente fizeram-no questionar, ainda que inconscientemente, o sentido de toda aquela merda. Concateno o que ele deve ter pensado consigo mesmo:
- Meu major toma parte das provisões de alimentos do outro regimento simplesmente para que seus soldados não morressem de fome e é punido severamente por roubo, sem qualquer constrangimento ou atenuante? 
- É assim que meu país está cuidando de seus soldados feridos?! 
- É assim que meu amigo de infância, agora que conseguiu chegar ao alto escalão, me trata?! Com desdém mal disfarçado? 
- Meu soberano, que eu tanto amo - tão perfeito e magnânimo, disse que não pode fazer nada por Deníssov, que "a lei é mais forte do que eu"?! 
- Meu querido amigo está padecendo em um hospital putrefato, acusado de roubo apenas por alimentar seus soldados, enquanto os imperadores decidem condecorar o primeiro Zé Mané que apareceu em suas frentes? 
- Soldados morreram em batalha, muitos passaram e ainda passam fome e frio, enquanto outros ainda agonizam em hospitais que mais parecem abatedouros... e agora esses dois imperadores decidem que foi tudo um mal entendido, começar um bromance?!
"(Nikolai:) - Como vocês podem julgar os atos do soberano, que direito nós temos de entender?! (...) Nós não somos funcionários diplomáticos, somos soldados e mais nada. Eles nos mandam morrer, e nós morremos. Se nos castigam, quer dizer que somos culpados; não cabe a nós julgar nada. Se convém ao soberano reconhecer Bonaparte como imperador e selar um acordo de paz com ele, quer dizer que isso é necessário. Se nós começarmos a querer julgar e discutir tudo, aí não vai restar mais nada de sagrado."

E daí, claro, ele foi encher a cara com bebida. ¯\_(ツ)_/¯

Aos poucos, Nikolai, você parece estar captando o espírito de como as coisas realmente funcionam neste mundo. Vai doer, não vou mentir, mas vai ficar tudo bem no final. Quero dizer, espero que sim. Vai, Tolstói?

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