Edições adotadas:
(1) Ebook disponibilizado pelo Projeto Gutenberg (aqui) com o texto original em inglês. +
(2) Edição traduzida para português: Ed. Record (98) - Tradutor: Leonardo Fróes.
(2) Edição traduzida para português: Ed. Record (98) - Tradutor: Leonardo Fróes.
LIVROS 07 & 08
Two Temptations - Sunset and Sunrise
* Atualização em 06/01/2018: *
(3) Eis que hoje, enquanto eu folheava To The Lighthouse, da Virginia Woolf (procurava um outro trecho específico), deparei-me com uma referência explícita a Middlemarch. Não me recordava disso de jeito nenhum! Decido incluir a passagem aqui:
(Epígrafe do cap. 82 de Middlemarch)
Two Temptations - Sunset and Sunrise
✒ A última postagem desta série ocorreu há mais de quatro meses e, também há mais de quatro meses, concluí a leitura de Middlemarch. Especificamente, no dia três de abril. Portanto, infelizmente acabei prejudicando o andamento ideal deste registro, razão pela qual associo os dois últimos livros da obra nesta postagem única que concluirá o diário de leitura. Reli tudo que eu havia escrito nas entradas anteriores - sim, pois quem disse que eu me lembrava? - e acredito que os pontos principais (dentre aqueles que assimilei da obra, é claro) já foram praticamente todos registrados, mas ainda restam impressões que podem ser acrescentadas aqui.
✒
Esse lance de casamento é mesmo apenas para os fortes, hein? Muito complicado fazer essa parada funcionar a contento para ambas as partes; ajustar o jogo de concessões até um equilíbrio mutuamente satisfatório. Sobre essa temática amplamente explorada por Eliot, destacaria aqui os diálogos excelentes e impressionantes travados entre o casal Lydgate e Rosamond. Assim como para as próprias personagens, foi exasperante perceber que, por mais que se esforçassem, nenhum deles conseguia fazer com que o outro entendesse suas percepções e sentimentos. Lembrou-me bastante de uma engenhosa cena do livro Coração tão Branco, do autor espanhol Javier Marías, a qual funciona como metáfora tácita para as dificuldades de comunicação que casais usualmente enfrentam. Naquela cena escrita pelo autor espanhol, dois líderes políticos de países distintos encontram-se em uma reunião formal mediante auxílio de um tradutor simultâneo que, percebendo a dificuldade de entrosamento na conversa dos representantes, resolve deliberadamente deturpar de leve as falas traduzidas, garantindo, assim, o pleno sucesso do encontro. Nos diálogos entre Lydgate e Rosamond, parecia realmente que eles se expressavam em línguas diferentes. Comparada à referida metáfora de Marías, a intervenção de Dorothea - conversando a sós com cada um - , praticamente reproduz aquela do tradutor bem intencionado.
Simultaneamente e nesse mesmo tema, não é esplendida a contrapartida que encontramos entre Mr. e Mrs. Bulstrode? Durante a revelação da verdade de Mr. Bulstrode, o momento de silêncio que o casal compartilha detém um poder de comunicação intenso que supera qualquer barreira e que prescinde palavras. Os dois se entendem e se confortam sem que precisem dizer coisa alguma.
"His confession was silent, and her promise of faithfulness was silent."
✒ Por falar em contrapartidas, é peculiar como Middlemarch apresenta perfis distintos de comportamento entre as várias esposas da trama. Encontramos: a submissão calada de Dorothea, o companheirismo íntimo de Mrs. Garth, a submissão parcial e consciente de Celia, bem como o egocentrismo de Rosamond. Opa, pausa! Penso que é necessário prudência antes de apontar todos os dedos contra Rosamond, em favor de Lydgate. Inclusive, nosso narrador, como esperado, não falha em demonstrar, da melhor forma possível, também o ponto de vista dela. Seria justo esquecer a responsabilidade das escolhas de Lydgate? Torna-se mais difícil defendê-la, entretanto, quando ela não consegue expressar sua confiança no marido durante a complicada adversidade relacionada à morte de Mr. Raffles, papel que é assumido por Dorothea, seu quase duplo. E não esqueçamos da ironia entre os opostos: Rosamond sucumbe à falência financeira do marido; Dorothea abre mão de sua fortuna para poder casar-se com Ladislaw. Como mencionei antes, aliás, o Dinheiro faz-se constantemente presente, ou ausente (!), na narrativa de Middlemarch.
Para finalizar essa temática, resgatarei uma pergunta que eu havia lançado no DL #03:
"(...) tenho a impressão de que o livro me agraciará com um grupo de pobres mulheres infelizes no matrimônio, cada uma à sua maneira, ao lado de maridos medíocres. Será?"
No fim das contas, tivemos mulheres e homens infelizes no matrimônio, amargando as más escolhas que fizeram; contudo não podemos negar que a história também conta com muitos casamentos aparentemente felizes. Refleti a respeito do perfil de cada um desses discrepantes matrimônios e, somente no final da leitura, dei-me conta de que parece existir um elemento crucial, óbvio talvez, nos casamentos fortunados: amor. Teve, Eliot, a intenção deliberada de sugerir isso? Tal hipótese só me ocorreu quando observei Lydgate angustiado diante da possibilidade de encontrar-se conscientemente em uma relação sem amor. A presença do nobre sentimento pode até não garantir invariavelmente o almejado desfecho feliz, porém sua ausência dificilmente o fará.
✒ Persistindo no tema de sentimentos humanos, a reta final da leitura evidenciou um outro que também foi extensamente explorado pela autora: o orgulho. Nessa história, a maioria das personagens não quer pedir ajuda, não quer que os outros saibam que encontram-se em apuros, não quer aceitar o dinheiro alheio (- não é seu caso, né, Fred?), nem macular a aparência de uma vida perfeita e bem sucedida. Ladislaw, Mr. Busltrode e Rosamond, por exemplo, formam um trio cômico por conta da tendência compartilhada de bancarem os fugitivos. Pra que passar vexame em uma província, se é possível escapar para um local onde ninguém o conhece? Deu merda em um lugar? Só partir para um novo lugar, ora.
✒ Aproveito a menção que fiz a Marías, para trazer outras duas leituras desse ano que também relacionam-se com Middlemarch. E melhor: citam explicitamente a obra!
(1)
Essa citação de Middlemarch, por Wharton, causou-me uma feliz surpresa. De um lado, porque, logo no início da leitura, eu tinha mesmo achado que o estilo e a proposta de A época da inocência remetem bastante ao livro de Eliot. De outro, porque estou quase certa de que, caso o querido Newland Archer - o protagonista que recebia, em 1870, sua edição quentinha de Middlemarch direto da gráfica londrina - tivesse se dedicado à leitura imediata e atenta do livro, muitos de seus contratempos matrimoniais e sentimentais poderiam ter sido evitados.
Ok, momento confissão: quando li essa passagem dos diários da Sontag, em Middlemarch Dorothea mal tinha se casado com Casaubon. Ou seja, passei boa parte da leitura apreensiva e totalmente incrédula quanto ao cenário de uma Dodo assassina. Justo ela, dentre tantas opções mais plausíveis?! Por isso mesmo, durante a cena estranha da escada, supus que o momento havia chegado.
Enfim, concluída a leitura, resta evidente que não houve nenhum assassinato — <cof, cof> há controvérsias, não é, Mr. Bulstrode? — de modo que não entendi nada do que a Sontag quis dizer (o que não é grande novidade, convenhamos). Até porque, mesmo sob uma suposta perspectiva simbólica, digamos, discordo completamente que Dorothea tenha contribuído para o fim prematuro de Casaubon. Fica a dúvida.
* Atualização em 06/01/2018: *
(3) Eis que hoje, enquanto eu folheava To The Lighthouse, da Virginia Woolf (procurava um outro trecho específico), deparei-me com uma referência explícita a Middlemarch. Não me recordava disso de jeito nenhum! Decido incluir a passagem aqui:
* Fim da atualização de 06/01/2018. *
✒ Hora de brincar resgatando outras perguntas que eu havia lançado e registrado ao longo deste diário.
(1) DL#01 ↦ "(...) e alerto que ainda não concluí meu completo discernimento a respeito de Dorothea."
Claro que, agora, o processo está concluído e, na falta de palavras, entrego: 💖. Mas a Eliot, por sua vez, dedicou as palavras finais do seu livro justamente a essa magnífica personagem:
"For there is no creature whose inward being is so strong that it is not greatly determined by what lies outside it. A new Theresa will hardly have the opportunity of reforming a conventual life, any more than a new Antigone will spend her heroic piety in daring all for the sake of a brother's burial: the medium in which their ardent deeds took shape is forever gone. But we insignificant people with our daily words and acts are preparing the lives of many Dorotheas, some of which may present a far sadder sacrifice than that of the Dorothea whose story we know.
Her finely touched spirit had still its fine issues, though they were not widely visible. Her full nature, like that river of which Cyrus broke the strength, spent itself in channels which had no great name on the earth. But the effect of her being on those around her was incalculably diffusive (...)"
(2) DL #02 ↦ "Será que Lydgate deixará ser engolido pelos middlemarchers?! Estou aflita por ele."
Ele até esboçou uma reação, mas acabou sendo engolido de qualquer jeito. Desde as primeiras páginas, pude antever que as coisas não dariam certo para o jovem médico, mas falhei na estimativa da dimensão do estrago. Os sonhos e ambições de todas as personagens são triturados sem piedade ao longo de suas respectivas jornadas, mas encaro o caso de Lydgate como o mais cruel, talvez porque eu tenha tido muita identificação com ele. Chega, assim, a hora da segunda confissão: adoraria sair dessa leitura afirmando que Dorothea é a minha personagem favorita, contudo não posso negar que esse posto é ocupado por Tertius Lydgate.
(3) DL #02 ↦ "Queria registrar uma breve especulação: Mr. Lydgate e Miss Dorothea Brooke Mrs. Dorothea Casaubon parecem estabelecer, nessa narrativa, um paralelo de significado relevante. (...) O que será que a narrativa reserva para esses dois?"
Na verdade, calculo que seja possível estabelecer muitos paralelos entre as personagens (outro ótimo já citado: Dorothea x Rosamond), no entanto a dinâmica desses dois é mesmo especial e favorita, sobretudo porque eles protagonizam minha temática predileta — em uma epígrafe utilizada pela Eliot:
"My grief lies onward and my joy behind."
- Shakespeare: Sonnets (Epígrafe do cap. 82 de Middlemarch)
Por isso mesmo, foi um deleite acompanhar a parceria firmada entre o dois nos últimos capítulos. Sempre que eu pensar em Middlemarch, imediatamente lembrarei de Dorothea e Lydgate.
(4) DL #04 ↦"Por que, antes de morrer, Featherstone insistiu para que Mary Garth queimasse o último testamento, exatamente aquele que desfazia todos os anteriores e garantia Riggs como
herdeiro? Mary poderia ter evitado algo? O quê?! Alguma catástrofe futura?"
Fiquei abobalhada quando me deparei com essa pergunta que lancei. Bom, se Mary tivesse queimado o testamento, Fred ficaria rico e... o quê? Torraria a grana irresponsavelmente? Teria se casado com Mary? Outra: Riggs não apareceria, muito menos Mr. Raffles. Daí, Mr. Bulstrode e Lydgate teriam sido poupados de todo o imbróglio relacionado à morte do alcoólatra chantageador.
(5) DL#06 ↦ "P.S.: se eles não ficarem juntos no final, a Eliot terá de lidar com meu rancor. (Mentira, pois a leitura foi ótima e Dorothea está muito bem sozinha. Mas não custa nada, não é?)"
Sim, as interações lindamente descritas entre os dois me deixaram meio abestalhada a ponto de ameaçar uma escritora já falecida. Acontece. Mas pronto, Will e Dorothea ficaram juntos, então Eliot só lidará com minha gratidão.
✒ Encerro a fantástica leitura aqui, repetindo a bela última frase de Middlemarch:
"(...) that things are not so ill with you and me as they might have been is half owing to the number who lived faithfully a hidden life, and rest in unvisited tombs."
P.S.: mas talvez não seja o fim de Middlemarch neste blog, visto que
1. ainda tenho a adaptação da BBC - link - para assistir;
2. o livro da Rebecca Mead, My Life in Middlemarch, já está na fila de leitura. ;)
1. ainda tenho a adaptação da BBC - link - para assistir;
2. o livro da Rebecca Mead, My Life in Middlemarch, já está na fila de leitura. ;)
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