tag:blogger.com,1999:blog-23622636500278540652024-03-18T23:47:20.582-03:00Correndo entre livrosDevaneios sobre livros e/ou qualquer outro assunto — filmes, séries, músicas, desenhos, pinturas, minha vida. Um blog old-school; o mero diarinho temático de uma leitora besta.Unknownnoreply@blogger.comBlogger109125tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-45223083101789399932024-03-18T23:24:00.001-03:002024-03-18T23:27:30.623-03:00Alejandra Pizarnik; Diários (#06) - Outubro e Novembro/1955<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJGG_iahStUx_zdTlhBZ0NN1gvwdfpV7dRuUXw3csdgIoaYksuLusa5LKznbZr1CwnaTqFh8qUQxsC25-Lpp31IEmgbPuYpXDAR9YLUoH3J5LwKZHrUTN3Y_9sTkVWXuri3AtltxkiL8jMdNk3aONxX10HIzIvYkznuODDBAmCWAQs3r2Gh7RA2w/s548/Diarios%20Alejandra%20Pizarnik%202.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="452" data-original-width="548" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJGG_iahStUx_zdTlhBZ0NN1gvwdfpV7dRuUXw3csdgIoaYksuLusa5LKznbZr1CwnaTqFh8qUQxsC25-Lpp31IEmgbPuYpXDAR9YLUoH3J5LwKZHrUTN3Y_9sTkVWXuri3AtltxkiL8jMdNk3aONxX10HIzIvYkznuODDBAmCWAQs3r2Gh7RA2w/w400-h330/Diarios%20Alejandra%20Pizarnik%202.png" width="400" /></a></div>* Proposta do post: (1) anotar trechos, (2) devanear a partir das entradas de Pizarnik, (3) dar pitacos inúteis sobre o que ela escreve e/ou (4) estabelecer conexões. Uma conversa.<div><br /><div><div class="separator" style="clear: both;">✒ Texto sinalizado com [📔],<span style="color: #38761d;"> <i><font>em verde + itálico</font></i></span><font color="#0b8043"><span style="color: #6aa84f;"> </span></font><i>= </i>entradas originais de Alejandra Pizarnik.<br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><div><br /><div style="text-align: center;"><b><font color="#0b8043" size="6">Cuaderno de Octubre y Noviembre de 1955 </font></b></div></div><br /></div></div></div><div>📔<i><span style="color: #38761d;"> "Heme acá, sentada y sin gloria, (...)"</span></i></div><div><br /></div><div>Dia desses, enquanto pintava, assisti ao <a href="https://www.youtube.com/watch?v=GNtY-0AUMXY" target="_blank">papo entre Caetano Veloso e Paul Preciado durante a Flip 2020</a> e fui fisgada pela informação de que o título do livro de Caetano - <i>Narciso em férias</i> - é um <i>roubo artístico</i> do título em português para um dos capítulos de <i>This Side of Paradise (Este lado do Paraíso),</i> livro de F. Scott Fitzgerald (*creio que Caetano não citou o responsável pela tradução, lamento). Daí, influenciada pelo exercício de Caetano, estou certa de que essa preciosa expressão no diário de Pizarnik — <i>Sentada e sem Glória</i> (!) — seria o título perfeito para um hipotético livro de minhas memórias. Aliás, <i>boa</i>: catalogarei as frases com as quais eu esbarre durante minhas leituras e que se apresentem como boas candidatas a títulos de livros que jamais escreverei. Ah!, vale recordar aquela que Pizarnik me ajudou a bolar, no primeiro caderno de seus diários: <i>uma interrogação horizontal</i>. E outra pescada durante a releitura de minhas postagens sobre os diários: <i><span style="color: #38761d;">Tortura espiritual elegante.</span></i></div><div><br /></div><div>Recapitulando, eis minha lista atual:</div><div>- <i><span style="color: #38761d;">Sentada e sem Glória</span></i></div><div><i><b>-</b><span style="color: #38761d;"> Tortura espiritual elegante</span></i></div><div>- <i>Uma Interrogação Horizontal </i>[<i>Pizarnik escreveu: (...) </i><i><span style="color: #6aa84f;">nacer en forma de signo de interrogación (...)</span></i>]</div><div><i><br /></i></div><div><i><br /></i></div><div><div><div>📔 <i><span style="color: #38761d;">¡Quiero escribir bien! ¡Dios mío! Soy un deseo suspendido en el vacío. No sé ni comprendo nada, Sólo sé que deseo, deseo, deseo. ¡Dios! ¡Quiero tener fe! ¡Quiero creer en ti! ¡Oh, cómo quiero creer en Dios! ¡Quiero escribir! ¡Quiero escribir!</span></i></div><div><br /></div><div>Opa, já é hora de atualizar minha lista de títulos potenciais:</div></div><div>- <i><span style="color: #38761d;"><b>Um desejo suspenso no vazio</b></span></i></div><div><div>- <i><span style="color: #38761d;">Sentada e sem Glória</span></i></div><div><i><b>-</b><span style="color: #38761d;"> Tortura espiritual elegante</span></i></div><div>- <i>Uma Interrogação Horizontal </i><i> </i>[<i>Pizarnik escreveu: (...) </i><i><span style="color: #6aa84f;">nacer en forma de signo de interrogación (...)</span></i>]</div></div><div><br /></div></div><div><br /></div><div>📔 "<i><span style="color: #38761d;">Acabo de recibir una carta de A. R. en la que me dice, honestamente, que no entiende mis versos. Me ruega que se los explique. Sonrío tristemente. Y a mí, ¿quién me los puede explicar? No sé de dónde han surgido, ni cómo."</span></i></div><div><i><span style="color: #38761d;"><br /></span></i></div><div>Aproveitarei a exasperação de Pizarnik para devanear acerca da minha própria inquietação correlata, quero dizer, minha inquietação acerca da obsessão coletiva pela explicação de obras de arte, percebida sobretudo na internet. Faz tempo que esse movimento me enfastia — *PAUSA* Seguindo novamente o exemplo de Caetano, roubarei artisticamente a Greta Gerwig para nomear essa tendência: é o movimento <i><b>"We'll show you!"/"A gente te mostra; a gente te explica!"</b></i></div><div><i><b><br /></b></i></div><div><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQIqX-2EPBwzYgqHfIJq23A6nwzpv9avDPEdBh6EmaSOfRvScyhhPcapZbDzZspx9eo4nB-AtqZwwgKD5XGgvJpvzBgPwYL8O8cC73QljoSGBpmHRKaa0XJxMwYUsOhE7T3HKojETCqvuwoVeB-kFAPm63sFFitxGzcQX5TykHvfOF7W4T4gNpqmdz/s1359/BARBIE%20WE'LL%20SHOW%20YOU.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1359" height="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQIqX-2EPBwzYgqHfIJq23A6nwzpv9avDPEdBh6EmaSOfRvScyhhPcapZbDzZspx9eo4nB-AtqZwwgKD5XGgvJpvzBgPwYL8O8cC73QljoSGBpmHRKaa0XJxMwYUsOhE7T3HKojETCqvuwoVeB-kFAPm63sFFitxGzcQX5TykHvfOF7W4T4gNpqmdz/w640-h309/BARBIE%20WE'LL%20SHOW%20YOU.jpg" width="640" /></a></div></i><div><br /></div>*FIM DA PAUSA* — como dizia, faz tempo que o movimento <i>A Gente te explica</i> me enfastia e, para ilustrar, desabafo recentes perturbações:</div><div><br /></div><div><b>(1)</b> Clicando num vídeo sugerido pelo You Tube, me deparei com um moço bastante satisfeito consigo mesmo ao afirmar que, após ler a bibliografia de um tal autor e ler um punhado de críticas, teria <i>chegado ao cerne</i> da obra do artista. Ah, e é claro que o rapaz estava ali para nos conduzir ao tal <i>cerne</i>. Eu me aborreci logo nessa introdução e fechei o vídeo, porém persisti atormentada pela ideia de "chegar ao cerne de uma obra". Por mais que eu argumentasse que talvez eu estivesse bancando o deplorável papel de chata anti-intelectual, eu simplesmente não conseguia descolar a frase "chegar ao cerne" da imagem de mineradoras. Eu senti (e sinto) que <i>chegar ao cerne de uma obra de arte</i> significa destruí-la; significa cavar, cavar e cavar até que nada reste. A propósito, essa entrada no diário de Pizarnik me fez finalmente ler o ensaio <i>Contra a Interpretação</i>, de Susan Sontag, e não negarei a satisfação de ver a autora corroborar, em certa medida, essa minha impressão (tradução de Denise Bottmann):</div><div><blockquote style="font-style: italic;">"O estilo moderno de interpretação escava e, ao escavar, destrói; ele cava "por baixo" do texto para encontrar um subtexto que é verdadeiro."</blockquote><p>Ressalto que a interpretação à qual Sontag se refere corresponde<i> </i>ao<i> ato mental consciente que utiliza determinado código, determinadas "regras" de interpretação. </i></p><p><b>(2)</b> Noutra ocasião, o You Tube me sugeriu um vídeo cujo título prometia <i>destrinchar certa obra de arte</i>. Aqui, fui esperta e sequer dei play, no entanto a leitura da chamada permitiu que uma nova imagem apoquentasse meu juízo: a mineradora que cava e revira numa sana destruidora deu lugar ao esquartejador de corpos. Destrinchar uma obra, até prova contrária, me parece picá-la, desfazê-la em mil pedacinhos. [Opa!, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=nMh-OwnrhVs" target="_blank">não posso perder a referência ao querido Bob Esponja: esse intérprete é o Zé do Picadinho!</a>]</p><p><b>(3)</b> Ainda no You Tube, encontrei esta proposta em Inglês: <i>"Não sei quem <b><u>breaks down</u></b> a obra X"</i>. Putz, esse <i>phrasal verb</i> permitiu à galera ao menos ser mais explícita: bora tacar logo uma marreta na arte e quebrar essa merda.</p><p>[*Sim, percebo agora que bastaria eu sair do You Tube, né? Que tonta.]</p><p><b>(4)</b> Tenho me deparado bastante com este tipo de comentário na internet: "gostei do filme/livro/série, <b>deu para tirar muitas reflexões</b>." Quando leio esse tipo de coisa, embarco na indagação: é isso que faz com que meu encontro com uma obra de arte me proporcione prazer estético? E se, em vez de me impelir à reflexão, a arte silencie meu pensamento e liberte uma avalanche inexplicável de emoções? [↦ <i>err</i>, perdão pela pieguice à la Roberto Carlos, mas, poxa, às vezes não é assim?]</p><p style="text-align: center;">***</p><p>Estou lendo uma coletânea de breves ensaios escritos por Robert Adams e, num dos textos, o fotógrafo compartilha que o poeta Robert Frost, ao ser compelido a explicar seus poemas, teria retrucado: <i>Você quer que eu o diga de um jeito pior? </i>Concordo demais.<i> </i>Hoje, acredito que <i>explicar, chegar ao cerne, destrinchar, desvendar</i> uma obra de arte significa destruí-la e substituí-la por algo pior. Ainda em<i> Contra a interpretação</i>, Sontag sustenta que o fervor de interpretação não decorre de uma devoção a uma obra de arte problemática, mas de um desprezo pelas aparências, tratando-se de ato reacionário e sufocante que pretende domar a obra que enerva. Tomadas pela insatisfação e exasperação diante da arte, as pessoas se lançam a interpretá-la e, assim, a esvaziam e empobrecem. </p><p>Nesse referido ensaio escrito em 1964, Sontag afirma haver arte resistente à interpretação, arte para a qual os intérpretes não ligam e deixam quieto. Não sei qual seria minha opinião em 64, estivesse eu viva para ver, no entanto isso não é válido no momento atual. É curioso, pois Sontag expõe que a horda interpretativa persegue o suposto <i>conteúdo</i> das obras, um alegado sentido verdadeiro. Essa famigerada palavra — <i>Conteúdo — </i>bem serve para meu argumento, pois, para ganhar dinheiro na internet, as pessoas precisam produzir <i>conteúdo</i>, ou seja, precisam interpretar geral. Vivemos uma verdadeira <i>Economia da Interpretação</i>, na qual nenhuma arte está incólume aos intérpretes. Inclusive, quem produz arte quer mais é ser interpretado, pois a interpretação parece ser a principal forma de marketing digital. <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2023/06/succession-pinturas-quadros-van-gogh-mitford-walser-hilst-ostrower-pizarnik.html" target="_blank">No post que escrevi sobre a última temporada de Succession, por exemplo, eu já tinha lançado essa premissa (transcrevo): </a><i><a href="https://www.correndoentrelivros.com/2023/06/succession-pinturas-quadros-van-gogh-mitford-walser-hilst-ostrower-pizarnik.html" target="_blank">"eu sei, ninguém aguenta mais análises acertadas a respeito de Succession — por sinal, especulo que o atual caminho para uma série de sucesso seja precisamente este: abastecer a internet de muito pano para <strike>manga</strike> (argh:) conteúdo"</a>. </i>Em outras palavras, um aparente caminho para garantir o sucesso de uma obra é justamente criar e escancarar múltiplas brechas para interpretação. [*Aquele lá que iria <i>"break down"</i> a obra, por exemplo, era ninguém menos que o próprio diretor do filme.]</p><p>À primeira vista, pode parecer que esse meu papo furado <i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TLqgK_LQKS4" target="_blank">conceals something dirtier and meaner (rs</a>), </i>digo, pode parecer que assumo o posto de anti-intelectual, porém estou certa de que não se trata disso, e algumas leituras recentes me ajudam a construir minha defesa. Sontag, é lógico, ilumina meu imbróglio naquele ensaio, pois o que ela defende é 1. o abandono da interpretação sufocante em prol de nossa energia e capacidade sensual; 2. o regresso à linguagem a respeito da forma* e 3. uma volta à vivência imediata da arte no presente, apreciando-a/usufruindo-a/contemplando-a em sua superfície sensual, sem nela se perder. [*: essa abordagem praticamente inexiste na internet.]</p><p>No livro <i>Universos da Arte</i>, Fayga Ostrower estabelece uma distinção entre a explicação e a apreciação de uma obra de arte. A apreciação, nos termos de Ostrower, não é uma <i>análise </i>(a qual trata objetivamente da forma), mas uma <i>síntese, </i>a qual corresponde a um processo de integração que engloba todos os atos de compreensão e de percepção. Na apreciação de uma obra, em contrapartida à mera explicação, embarca-se num <i>ato de compreensão onde tudo que temos em termos afetivos, intelectuais, conscientes e inconscientes, associações, emoções, pensamentos, tudo isso se integra num conjunto de noções que se qualificam mutuamente</i>. Assim, quando se aprecia uma obra de arte, buscando compreendê-la nesses termos amplos, a destruição própria da interpretação reacionária dá lugar <u>à </u><i><u>criação de um novo conhecimento, nosso e também sobre nós</u></i>. Pronto, é isso que prefiro.</p><p>Para encerrar minha lamúria, escolho parafrasear/adaptar um trecho do livro <i>Demian</i>, de Herman Hesse, que, embora refira-se à contemplação das formas da natureza, parece-me resumir bem o que sinto sobre a situação compartilhada por Pizarnik e a encrenca Explicar X Contemplar/Apreciar Arte. Por sinal, este trecho de <i>Demian</i> mostra-se bastante imbuído da essência contida naquela proposição de Ostrower, acho. E toda esta minha lorota serve para registrar que, entre o movimento <i>"A gente te explica"</i> e o <i>"A gente contempla", </i>não me resta dúvidas sobre qual escolher, na medida em que um destrói, enquanto o outro cria.</p><p>[**Abaixo, as palavras em vermelho são aquelas que substituí, portanto ausentes no texto original de Hesse. Tradução: Ivo Barroso.]<br /></p><blockquote><i>"(...) <b>contemplar</b> <span style="color: red;">a arte</span> não como observador<span style="color: red;">a</span> que investiga, mas abandonando-me ao seu encanto peculiar, à sua profunda e complexa linguagem. (...) A contemplação <span style="color: red;">das formas na arte</span> despertam em nós um sentimento de consciência do nosso interior com a vontade que as fez nascer e acabam por parecer-nos criações próprias (...) Nenhuma outra prática nos revela tão singelamente quanto esta até que ponto também somos criadores e como nossa alma participa sempre de uma contínua criação do mundo."</i></blockquote><p>P.S. 1: por certo já temos <i>muuuuita</i> coisa criada no mundo, estou ciente; mas a criação da contemplação costuma permanecer no íntimo de cada um, quero dizer, não entulha o mundo externo e visível, uma vez que quase sempre é imaterial.</p><p>P.S. 2: essa minha conversinha de movimento <i>"A gente contempla"</i> é um bocado piegas, estou ligada, porém é aquela coisa: entre a pieguice e a canalhice...</p><p>P.S. 3: peguei pesado com o <i>canalhice</i>, né? Perdão, mas me vi refém da rima.</p><p>P.S. 4.: eita, mas eu disse que a interpretação fajuta destrói a arte substituindo-a por algo pior, ou seja, essa interpretação tacanha também cria, ué. Oxe, me perdi. Ah é, no entanto ela destrói a arte, enquanto a contemplação — que também pode criar algo pior — não destrói nada. Beleza, então pode reconhecer a firma. [Pode reconhecer <u>hoje</u>, pois o amanhã a Deus pertence — e chega de P.S.<u>]</u></p><p></p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-45056258373185945612024-02-01T18:54:00.002-03:002024-02-02T10:25:14.049-03:00Livro ⇋ Filme: são dois pra lá, dois pra cáBreves registros de três pontes erguidas entre livros lidos e filmes vistos; elementos isolados de cada obra que me fizeram oscilar de uma para a outra. <br /><br /><div style="text-align: center;"><b>[spoilers!]</b></div><div><div style="text-align: center;"><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6eOGS3AkMMjGSEzpYicsUBs3NAD0D2zxl9kJ7X6bUevh9SHW3to5VNDWiSnfLOtEo-_dzxny7t0Ou2A7asnWOl9doeWOP9Taz98QIIikw9AFmwNjUxJj5zWR539ovGa5cFbhmcZSN_V9se9KheVB6Bbcpg-tbPmVHEwHMRPmmMqz6PTiZITOabPAb/s623/Kokoro%20Natsume%20Soseki%20%20x%20Movie%20Happu%20Hour%20Hamaguchi.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="623" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6eOGS3AkMMjGSEzpYicsUBs3NAD0D2zxl9kJ7X6bUevh9SHW3to5VNDWiSnfLOtEo-_dzxny7t0Ou2A7asnWOl9doeWOP9Taz98QIIikw9AFmwNjUxJj5zWR539ovGa5cFbhmcZSN_V9se9KheVB6Bbcpg-tbPmVHEwHMRPmmMqz6PTiZITOabPAb/s16000/Kokoro%20Natsume%20Soseki%20%20x%20Movie%20Happu%20Hour%20Hamaguchi.png" /></a></div><b>Livro</b>: <i>Kokoro </i>(1914), de Natsume Soseki [Tradução (Penguin): Meredith McKinney]<br /><b>Filme</b>: <i>Happy Hour</i> (2015), de Ryûsuke Hamaguchi<br /><b><br /></b></div>No filme <i>Happy Hour, </i>o filho de uma das quatro amigas engravida a namorada e, na minha memória, era certo que os pais dos adolescentes tinham decidido em comum acordo que a garota abortaria. No entanto, revi a cena antes de escrever este post e recordei que o desenrolar do imbróglio é um tanto mais truncado e constrangedor. Desconheço se é a conduta social prescrita para tais casos no Japão, mas o fato é que a mãe e a avó do moleque visitam os pais da menina para se desculpar e sorrateiramente entregar um envelope com ¥500.000,00 (indenização? pagar aborto?). Dito isso, o que na verdade me interessa é a conversa entre mãe e filho que sucede à transação peculiar. Enquanto caminham lado a lado na rua, Sakurako lhe diz, de um jeito sereno e espontâneo:</div><div><i><blockquote style="text-align: center;">— Nada pode desfazer o que você fez. (...) Então você deverá conviver com isso. Talvez você jamais conseguirá ser feliz pelo resto de sua vida. (...) Nossa, eu lhe disse algo horrível.</blockquote></i>Quando assisti a essa passagem pela primeira vez, as palavras da personagem me marcaram muito, pois, por razões pessoais (e por que mais?), me sinto atraída a narrativas que exploram eventos (grandiosos ou banais) capazes de afetar em definitivo os caminhos futuros de uma vida inteira. Quando ouvi Sakurako, soube exatamente ao que ela se referia, por outro lado não sei se o garoto foi capaz de depreender o que ouvira naquele momento. A propósito, trata-se de um eventual aspecto terrível dessas ocorrências, quero dizer, podem surgir numa fase da vida em que sequer dispomos de arsenal para apreendê-las. Claro, cabe ressalvar a impossibilidade de determinar até que ponto a mãe não estaria falando de si mesma, numa espécie de projeção — dado o contexto do filme, é bastante possível, sobretudo porque Sakurako estava se remoendo pela vergonha que acabara de passar e ressentida pelo marido tê-la abandonado naquela dolorosa situação. </div><div><br /></div><div>Enquanto lia <i>Kokoro</i>, o pungente presságio materno no filme de Hamaguchi voltou a me fazer companhia<i>, </i>pois me impressiona o quanto ele ajuda a entender a trajetória e escolhas do Sensei, personagem no livro de Soseki. À primeira vista, o suicídio do amigo <i>K</i> — do qual Sensei sente-se culpado — desponta como o ponto de virada na vida da personagem, o instante a partir do qual nada jamais seria o mesmo, porém teorizo que o crucial divisor de águas surgiu lá atrás, quando o jovem e órfão Sensei percebera-se traído pelos parentes que dele caberiam cuidar. Sensei afirma ter aprendido cedo que seres humanos são horríveis e inescrupulosos; portanto quanto mais afastado de todos, melhor. O discurso da personagem sugere um trauma profundo decorrente dessa experiência, do que resulta uma resistência notável para se relacionar. Nesse contexto, conjecturei que o dramático suicídio de <i>K</i> foi lido por Sensei como a brutal revelação de que ele tratara o amigo de forma tão (ou mais) vil quanto aqueles seus parentes no passado, constatação que o posicionou numa encruzilhada: é fácil se afastar das pessoas, porém como se afastar de si mesmo? No fim, Sensei escolhe a única maneira possível. Tomando emprestadas aquelas palavras de Sakurako, eu comentaria: <i>Sensei se deu conta de que fez algo horrível e que então jamais seria feliz; sentindo-se incapaz de conviver com aquilo pelo resto de sua vida</i>. E instiga o quanto a narrativa de Soseki expõe que o próprio Japão atravessava um momento histórico crítico que redefiniria para sempre os rumos do país, com o fim da era Meiji e com a crescente influência ocidental. Poderia o Japão ser feliz e conviver com isso?</div><div><br /></div><div><u>Adendos:</u></div><div>(1) Shizu, esposa de Sensei, bem poderia ser escalada como a quinta amiga no filme de Hamaguchi; mais uma mulher japonesa solitária e infeliz no casamento, joguete de dois homens tolos.</div><div><br /></div><div>(2) A primeira terça parte de <i>Kokoro</i>, da qual destaco a descrição de como o narrador avista Sensei pela primeira vez na praia de Kamakura e a construção da amizade entre ambos, traz uma carga homoerótica que me remeteu demais ao filme <i>Me Chame pelo seu Nome</i> (Luca Guadagnino, 2017)<i>.</i> O começo do livro, com sua narrativa ambígua e complexa, é pra mim a melhor parte formal da obra.</div><div><br /></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NrhM1Mim3zW2jevWhHMS3JHEaB4SHsp03p3ljDG10UaDiArqb2zB4K7Er_eQr2sIeC8HUjoLcaKC0MViO-Ct0MFWp68ZrVPCj_VF1EPZBWufTJ9m207AHgQ4p1tMWFhrViKH0-I8YoVqw8o377nr-gb8jd2oJCNvJfK6yKyGHTjozpTiuV5A1u0x/s623/Demian%20Herman%20Hesse%20%20x%20%20Movie%20Happy%20Hour%20Hamaguchi.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="623" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NrhM1Mim3zW2jevWhHMS3JHEaB4SHsp03p3ljDG10UaDiArqb2zB4K7Er_eQr2sIeC8HUjoLcaKC0MViO-Ct0MFWp68ZrVPCj_VF1EPZBWufTJ9m207AHgQ4p1tMWFhrViKH0-I8YoVqw8o377nr-gb8jd2oJCNvJfK6yKyGHTjozpTiuV5A1u0x/s16000/Demian%20Herman%20Hesse%20%20x%20%20Movie%20Happy%20Hour%20Hamaguchi.png" /></a></div><b>Livro:</b> <i>Demian</i> (1919), de Herman Hesse [Tradução: Ivo Barroso]<br /><b>Filme:</b> <i>Happy Hour</i> (2015), de Ryûsuke Hamaguchi<br /><div><br /></div><div>Agora, pinço o memorável workshop em grupo do qual as amigas de <i>Happy Hour</i> participam, cuja proposta era auxiliar o encontro de equilíbrio na vida e propiciar formas profundas de conexão. [Puxa, poderia ter salvado o pobre Sensei?] Trata-se de uma passagem com meia hora de duração e, enquanto assistia, me questionava como o Hamaguchi conseguia segurar minha atenção naquela "patacoada" — sim, pois eu nunca participaria de um troço daqueles, por exemplo. No entanto, me vi hipnotizada durante toda a cena (se duvidar, é minha favorita do filme). Teorizo que o sucesso do diretor consiste justamente em filmar o processo durante todo seu tempo natural de transcurso (agrega delicado realismo) e sem interferência; digo, a câmera de Hamaguchi não julga nem sentimentaliza nada (armadilha da qual um cineasta americano, teorizo, não escaparia). Afunilarei essa cena do workshop para citar o exercício da dinâmica pertinente a esta postagem: em duplas, encostam-se as testas e, enquanto um pensa numa palavra, o outro deve tentar recebê-la por telepatia ou coisa que o valha. Segundo o coach, não é transmissão de pensamento, mas um exercício de atenção e foco no outro. Bom, encerrados os exercícios, uma das amigas — aquela mesma mãe do garoto, aliás — compartilha sua opinião a respeito da experiência:</div><div><blockquote style="font-style: italic; text-align: center;">"Ouvimos os intestinos um do outro e tocamos nossas testas. Não sabia o que estávamos fazendo, mas eu estava tentando ouvir o outro e o outro tentava me ouvir. Foi uma sensação boa."</blockquote><p>Essa cena é relevante porque uma das propostas do filme é um estudo sobre amizades e relacionamentos, focado no quanto desconhecemos aqueles que julgamos conhecer bem, inclusive uma melhor amiga. E, por conseguinte, o quanto é possível sentir-se cada vez mais solitário mesmo em relacionamentos que, ao menos na superfície, parecem sólidos feito pedra. </p><p>O livro de Hesse me obrigou a rever a cena do workshop porque Demian garante que, se observarmos uma pessoa com suficiente atenção, acabaremos por saber mais a seu respeito do que a própria pessoa. Mediante observação atenta do outro, Demian afirma ser possível predizer o que o indivíduo sente e pensa em determinado momento e assim antecipar o que fará. Generoso, Demian não omite as pegadinhas do fenômeno: não é fácil, requer exercício, é preciso querer e parar de se ocupar consigo mesmo. Então, seria o exercício da testa e da "transmissão de pensamento" propostos pelo coach em <i>Happy Hour </i>assim tão estapafúrdio? No filme, ninguém acertou a palavra no pensamento do colega, contudo chegaram perto. Quer dizer, fiquei matutando que a dificuldade não está exatamente em conhecer e compreender o outro, mas sim em conceder plena e generosa atenção para alguém que não a si próprio.</p><u>Adendo:</u><br />(1) Quando já estava imersa nesse papo furado, calhei de ver a <a href="https://www.youtube.com/watch?v=GNtY-0AUMXY" target="_blank">conversa que Caetano Veloso teve com Paul Preciado durante a Flip de 2020</a> e não pude deixar de reparar na atenção de Preciado e nas anotações que ele fazia das referências literárias mencionadas por Caetano. Por deus, achei incrivelmente sexy. Atinei que, durante meus desvarios, ainda me escapava o quanto o exercício da atenção é atraente. [*Como ninguém me dá bola, nem lembrava mais dessa; coitada de mim.] Para retomar uma das temáticas no filme do Hamaguchi e até no livro do Soseki: a chave da infelicidade em muitos casamentos parece ser a falta de atenção.</div><div><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOlVKYMTwvMNtXqiySatO5gfAaaRdxxY4eVpnVJBmdIl6-yKnPxFbpQb4MfTHwZmEAxOqIvdyfdvDr2_Vltt3r3mpkO1xYN-mNWTCnPeXHGGTx0z3Q6FmJj8TkLQG7X75t-n7XStHz3kqJ3xWeM0IXu7kM9_Tbb0dRsVPmle8dzadV7sAGhJMHadcX/s623/The%20Last%20Samurai%20Helen%20Dewitt.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="440" data-original-width="623" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOlVKYMTwvMNtXqiySatO5gfAaaRdxxY4eVpnVJBmdIl6-yKnPxFbpQb4MfTHwZmEAxOqIvdyfdvDr2_Vltt3r3mpkO1xYN-mNWTCnPeXHGGTx0z3Q6FmJj8TkLQG7X75t-n7XStHz3kqJ3xWeM0IXu7kM9_Tbb0dRsVPmle8dzadV7sAGhJMHadcX/s16000/The%20Last%20Samurai%20Helen%20Dewitt.png" /></a><b>Livro:</b> <i>The Last Samurai</i> (2000), Helen DeWitt<br /><b>Filme:</b> <i>Anatomia de uma queda</i> (2023), de Justine Triet</div><p></p>Quando terminei de ver <i>Anatomia de uma Queda</i>, fiz uma ronda rápida pelo Letterboxd/Reddit e fiquei abestalhada de ver a galera — e a própria diretora, por sinal — comentando que o filme era notadamente um estudo sobre relacionamento conjugal e familiar, focado no que acontece com aqueles que ficam após a morte de um membro da família. <i>Tipo; oi</i>? Vá lá, em certa medida encontra-se isso no filme, porém estou convicta de que a maior personagem e temática de <i>Anatomy of a Fall</i> é a Linguagem, a Palavra; tanto no contexto micro (família) quanto macro (sociedade, adotando-se a instituição da Justiça como recorte). Justamente por isso, aliás, considero estupenda a escolha de trazer o cachorro para a abertura e encerramento do filme, um bicho mais feliz do que qualquer ser humano jamais será. E por quê? Ora, pelo simples motivo de que esse animal não vive soterrado por palavras que não explicam nada e que mais servem para confundir e alimentar fantasias descabidas, neuroses e paranoias — para alegria de psiquiatras idiotas feito aquele do morto. [*<a href="https://www.correndoentrelivros.com/2023/11/fragmentos-discurso-amoroso-kpop-kpoper-roland-barthes.html" target="_blank">É, talvez eu persista sob forte influência do Roland Barthes</a>]. Feito o desabafo, não pretendo defender meu ponto de vista com chata e aborrecida análise — até porque sei que muitos concordam —, contudo desejo pinçar um elemento desse tema. </div><div><br /></div><div>O filme de Triet nos apresenta a um casal no qual o marido é francês e a esposa é alemã, ambos vivendo com o filho na França e se comunicando entre si em Inglês. Na famosa cena da briga, a esposa nos diz que a escolha do Inglês seria um meio termo mediante o qual ambos fariam uma concessão. Enfim, isso aí nem me interessa tanto, mas sim isto aqui: em nenhum momento do filme a mulher fala em Alemão (somente em Inglês ou Francês). Li entrevistas da diretora nas quais resta sugerido que a ausência do Alemão (e predomínio do Francês) resultaria de mero estratagema legal para garantir o financiamento do filme, porém decido ignorar esse fato e prosseguir com minhas divertidas elucubrações. A atriz <a href="https://www.youtube.com/watch?v=18zfY8XrCDY" target="_blank">Sandra Huller, em entrevista ao SAG-AFTRA Foundation</a>, diz que sua atuação pretendeu personificar uma mulher que não cede facilmente a momentos de fúria ou desespero, sobretudo em consideração ao filho que dela dependia. Penso que a atriz foi exitosa no intento — é fantástica a inversão dos habituais papéis na cena da briga: é o marido quem assume o posto de "chorão descompensado", enquanto a mulher mantém a pose plácida —, e, pra mim, a certeza de que Sandra é uma mulher em pleno domínio de suas emoções sustenta-se pela constatação de que ela jamais apela para o Alemão, sua língua materna. A mulher não esbraveja um palavrão sequer em Alemão e, quando breve e justificadamente desaba naquela cena do carro, também não solta uma mísera lamúria em Alemão. Nos momentos em que se angustia ao perceber que não se faz entender, é ao Inglês que ela naturalmente recorre, e não ao Alemão. Além disso, dado que o tribunal garantia a presença de tradutor juramentado, por que ela não escolheu se expressar em Alemão? Então, sim, constatar que aquela circunstância dramática não é suficiente para fazer Sandra sucumbir ao conforto e aconchego da língua materna me deixa perplexa diante dessa mulher. Outra hipótese bastante digna de nota seria algum tipo de trauma relacionado às origens, contudo o roteiro não oferece mais elementos; exceto a menção do desejo de retornar para Londres, e não para a Alemanha. Entretanto, minha absoluta ignorância acerca do Alemão me impossibilita desenvolver a hipótese mais instigante para a ponte que registro com o livro de DeWitt: a "personalidade" do idioma alemão, com suas particularidades linguísticas, seriam rejeitados, antagonizados pela personagem? Em outras palavras: qual é a característica do idioma alemão que a personagem se recusa a preservar em si mesma? E ainda: qual é a característica do Inglês que ela deseja incorporar? A propósito, estou quase certa de que o filme omite a língua na qual Sandra escreve seus livros de ficção; uma pena — deve ser em Inglês. Que ela traduza do Alemão, portanto, parece provar que a escrita de ficção não paga os boletos. <br /></div><div><br /></div><div>Tantas linhas investidas nessa lenga-lenga, e mal mencionei o livro da Helen DeWitt. A narrativa de<i> The Last Samurai</i> explora bastante o fascínio por idiomas, e gosto do quanto o texto defende que o aprendizado de línguas não é questão de inteligência, mas sim de disciplina e sobretudo obstinação. Também há na obra um forte subtexto que rejeita a ideia do aprendizado como mera empreitada utilitária, ressaltando o inerente prazer no processo. O livro me tocou tanto nesse aspecto, que cheguei a sonhar que estava tendo aulas para aprender Japonês (tomara que sirva para me chacoalhar, porém duvido — minha obstinação evaporou). Entretanto, a ponte com o filme de Triet decorreu de uma reflexão específica que Sibylla faz a respeito da escolha de idiomas na construção de ficções. No início do livro, a personagem acredita que os parâmetros geográficos e temporais de uma história devem ditar o idioma na obra, ou seja, uma personagem chinesa deveria falar em chinês, uma brasileira, em português etc. No entanto, após ler um livro de Shoenberg sobre música — <i>Theory of Harmony</i> — Sibylla se dá conta do quanto seu pensamento era simplório, pois equivaleria dizer que um pintor só poderia pintar o céu de azul, o sol de amarelo e a grama de verde. A personagem percebe que um exercício de escrita ficcional mais rico e interessante deveria partir das características linguísticas de um idioma e das relações dos idiomas entre si, os quais então ditariam os demais elementos da ficção, inclusive trama e personagens. Pode-se dizer que Sibylla propõe que se aplique à escrita procedimentos que já são corriqueiros em outras artes, como a música e a pintura. Transcrevo a reflexão (arrisco tradução livre):</div><div><blockquote style="font-style: italic;">"Talvez um escritor pensaria nas monossílabas e falta de inflexão gramatical do Chinês, e em como isso soaria ao lado das adoravelmente longas palavras finlandesas, repletas de duplas consoantes e vogais longas em 14 casos ou o adorável Húngaro cheio de prefixos sufixos; e apenas após pensar nesses termos pensaria então numa história sobre húngaros ou finlandeses com chineses"</blockquote><p>Quando vi <i>Anatomy of a Fall</i>, pensei que Triet flertou com essa proposta, em especial quando seu roteiro constrói uma personagem alemã que não se expressa em Alemão. Quer dizer, a ausência de uma língua se fazendo presente para pintar uma imagem. Além do mais, falamos de uma imagem concebida mediante a relação entre o Inglês e o Francês — para não falar na relação com a linguagem especial do adorável cachorro.</p><u>Adendos:</u><br />(1) Sim, o Hamaguchi poderia ter aparecido em dose tripla neste meu post, pois ele aplicou essa estratégia em <i>Drive my Car (2021)</i>. As cenas de ensaio da peça de Tchekhov, nas quais cada ator e atriz falam em uma língua, são disparadamente do que mais gosto nesse filme.</div><div><br /></div><div>(2) Curiosamente, há nesta temporada do Oscar outro filme que se lança no jogo de idiomas: <i>Past Lives</i> (<i>Vidas Passadas</i>, 2023), de Celine Song. Na minha opinião, a singeleza e doçura do casal protagonista casa bem com a sonoridade do coreano (cheio de vogais e ritmo melódico) contraposta à dureza e saturação da paisagem nova-iorquina. Entretanto o filme de Song, ao contrário do de Triet, argumenta que não se pode escapar da língua materna, a qual nos assombra para sempre, ainda que somente em sonhos. Será que Sandra sonha em Alemão? <i>Taí</i>, se me concedessem o direito de fazer uma pergunta a Sandra (na cena inicial da entrevista), com certeza seria esta: que idioma preenche seus sonhos?</div><div><br /></div><div>[Pior sou eu (?) que, conforme contei, calhei de sonhar num idioma que sequer falo.]</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-29515221508629630472023-12-25T10:15:00.008-03:002024-03-09T23:54:54.579-03:00And I draw a line to your heart today [2023.2]<div class="separator" style="text-align: center;"><div style="text-align: right;"><i>"Como assim você não tem lápis de cor na sua casa?</i></div><div style="text-align: right;"><i>Não é do ser humano ter lápis de cor em casa?"</i></div><div style="text-align: right;">— Danilo (Lorelay Fox); Podcast Para Tudo Ep. #151</div></div><div class="separator" style="text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s16000/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" /></div><div class="separator"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-mw6hLfuxaAerCQMsP5TBDI7KE-GWaoglZ7LbDQnrFbllbSEog885pqR45SmMfoTGupiIIZq2VylOBKODC9Qsw5r84OV4M7EHqIoydxtLu8HO_Zprjr6jlRhhtD8zfUetgGZFoXrbSMhYCUOQ7GHBYal9eBTl_921rXuREgxNg-ut621KCXgWrviG/s635/THE%20BEAR%20ESTAMOS%20DESENHANDO%20AGORA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>Mas que pergunta, Chef; é óbvio que estamos desenhando — ok, para ser exata: continuo <i><u>tentando</u></i> desenhar e pintar. Este ano foi repleto de fracassos e marcado pela sensação de que só regrido, mesmo porque mal pratiquei, porém deixei de me apoquentar com isso. Não tenho talento, mas segue o baile, pois diverte e acalenta. Neste post, fixarei mais algumas pinturinhas deste ano (em guache e aquarela), aproveitando para desejar feliz natal e um excelente ano novo àqueles que visitaram este blog em 2023, ou seja, aos diligentes <i>bots</i> de indexação e de I.A. Obrigada pela companhia, robozinhos, e perdão pelas postagens imprestáveis.<div><br /><div>[**Lamento o quanto a qualidade das imagens piora ao postar o arquivo no site e nem sei como resolver 😕.]<div><div><div style="text-align: center;">🎨</div><br /><span style="font-size: x-small;">[Topei o exercício proposto pelo Chef Carmy e pintei dois pratos da segunda temporada de <i>The Bear</i>:]</span></div><div style="text-align: center;"><img border="0" height="467" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1utucTNCa2Huk5DOdb-DEvcOrga-4vsLnX5zC6TYT3IWUcC4yfntSJQ7R85YbSe_6Lo3LL_f19MW5kIvqwmXigp6zNYjwAc5tp3WlSbqdqtvq5RFYmehBvI2NNBaxhvF4IircZizVjINjzagzyYThZr-ddNmSPjkZ_-GM1kZWqmV2rn-GWlhrBQ07/w640-h467/OMELETE%20THE%20BEAR%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" width="640" /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0efMjHcJKfv6aSifH415LOlg1mgOCU87f_eOyft0oTVZlio1K5JdNT8wFrQDE678Gv3FmgTMbie0jKkqBllT9VWboyVW7XbDw3qVtm2Fbmu5XUETTUc5Pn9Y7hJBHc0v_RiaateHxK679afsKJoPszGAS3yjsvKveWOJwYu23GObHhGdds7j0U6av/s2035/SOBREMESA%20THE%20BEAR%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2035" data-original-width="1671" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0efMjHcJKfv6aSifH415LOlg1mgOCU87f_eOyft0oTVZlio1K5JdNT8wFrQDE678Gv3FmgTMbie0jKkqBllT9VWboyVW7XbDw3qVtm2Fbmu5XUETTUc5Pn9Y7hJBHc0v_RiaateHxK679afsKJoPszGAS3yjsvKveWOJwYu23GObHhGdds7j0U6av/w329-h400/SOBREMESA%20THE%20BEAR%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" width="329" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZuua4s1xwtYAveUsme3ttWLMll7gV1o38aAiRwo_Nnl6XE3FNm-RhzY93XwWlmeGN5p2t_rscqJAUXgoadcmpfsuJguQJVzSXmROChOlDa1AOhh8nmHpGvhQ6okzxidrMFydv3cXUzr_kYjlyqXtP5fUJEctaS_9R6-8Vj2Tc42bg6AqKvC3uWL86/s2910/KIERAN%20CULKIN%20HOME%20ALONE%20ESQUECERAM%20DE%20MIM%20CORERNDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2910" data-original-width="2239" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZuua4s1xwtYAveUsme3ttWLMll7gV1o38aAiRwo_Nnl6XE3FNm-RhzY93XwWlmeGN5p2t_rscqJAUXgoadcmpfsuJguQJVzSXmROChOlDa1AOhh8nmHpGvhQ6okzxidrMFydv3cXUzr_kYjlyqXtP5fUJEctaS_9R6-8Vj2Tc42bg6AqKvC3uWL86/w493-h640/KIERAN%20CULKIN%20HOME%20ALONE%20ESQUECERAM%20DE%20MIM%20CORERNDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" width="493" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[referência do desenho: Kieran Culkin, no filme Esqueceram de Mim]</span></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXuw1GTqOthDmeh3bi5A5xjMGUqMp2PyHjso3zAszn8zaVIFXACwy41Gfum9pX8tHHrWBvFt3McHkOrCFWgoOOXnUznNCe9EOi2_v6riGrmGwuTKHUfGVPGZsPfQ6Humrsb27cebb5dZy42LH3hsaxHdj8QCGKcE1ZdeOuslLvf6678iYvD6agIXZ3/s2383/FILME%20ONE%20MILLION%20YEN%20GIRL%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1570" data-original-width="2383" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXuw1GTqOthDmeh3bi5A5xjMGUqMp2PyHjso3zAszn8zaVIFXACwy41Gfum9pX8tHHrWBvFt3McHkOrCFWgoOOXnUznNCe9EOi2_v6riGrmGwuTKHUfGVPGZsPfQ6Humrsb27cebb5dZy42LH3hsaxHdj8QCGKcE1ZdeOuslLvf6678iYvD6agIXZ3/w640-h422/FILME%20ONE%20MILLION%20YEN%20GIRL%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: cena do filme japonês <i>Garota de um Milhão de Ienes</i> / <i>百万円と苦虫女</i> (2008), de Yuki Tanada]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">🎨</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKoNoddMXj9V1fjw0wuFUM5FtiilvlF3FrL6SSqQC3e2TE_R_-162xanVTeeKVi6SS6aV8H03ESD34yca6w9PIPWy6k3id0REu_SzPShw-INhKWtB8CmSi82F3Cwjzs9A31UuDL4P_OiyEazEVAm_XvLnyg14mdl9SXTTVeeIs8d6IAKFfdIA0XHLv/s2474/FILME%20RUSSO%20THE%20IRONY%20OF%20FATE.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1605" data-original-width="2474" height="416" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKoNoddMXj9V1fjw0wuFUM5FtiilvlF3FrL6SSqQC3e2TE_R_-162xanVTeeKVi6SS6aV8H03ESD34yca6w9PIPWy6k3id0REu_SzPShw-INhKWtB8CmSi82F3Cwjzs9A31UuDL4P_OiyEazEVAm_XvLnyg14mdl9SXTTVeeIs8d6IAKFfdIA0XHLv/w640-h416/FILME%20RUSSO%20THE%20IRONY%20OF%20FATE.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: cena do filme russo <i>The Irony of Faith, or Enjoy your bath!</i> / <i>Ирония судьбы, или С легким паром!</i> (1976), de Eldar Ryazanov]</span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">🎨</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxR2JCYkcERrP5-x5kjUMPPxlMM1lZJuf6cnfU_KQVTUhP7-k78INMr2ijZTgDZdo6PuMxMPjcSrzQgsKDHgbXQOT7L0uQqttjlnogrHnvJhQ6sgt17UwBjnK048k0kHldbiI9v5ju99FbhP1DIV3S8pz1W2nxDOca1qwrZUy0uxJooUtji-yNjvxE/s2232/FILME%20KUMMATY%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2232" data-original-width="2023" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxR2JCYkcERrP5-x5kjUMPPxlMM1lZJuf6cnfU_KQVTUhP7-k78INMr2ijZTgDZdo6PuMxMPjcSrzQgsKDHgbXQOT7L0uQqttjlnogrHnvJhQ6sgt17UwBjnK048k0kHldbiI9v5ju99FbhP1DIV3S8pz1W2nxDOca1qwrZUy0uxJooUtji-yNjvxE/w580-h640/FILME%20KUMMATY%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" width="580" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: cena do filme <i>Kummatty</i> (1979), de Govindan Aravindan]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">🎨</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDDEtZfVZiMN0ZuCKmXJz2UiALXmEO6amLnbD_vud2xSendK8hPyn6nFEEWzW8ryV1f4SCrxKTDLT3Kapb_1CVI2SjDubFzruNJad97r9Qu0UGuT1riBtvS3WVb4WCvP6LShtEPc_vHLYNVepfta36syz3vyrG91k2ghXzqb1p6pUnQui7qAM_vrMY/s2187/FILEM%20THE%20FRIENDS%201994%20SOMAI%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1675" data-original-width="2187" height="490" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDDEtZfVZiMN0ZuCKmXJz2UiALXmEO6amLnbD_vud2xSendK8hPyn6nFEEWzW8ryV1f4SCrxKTDLT3Kapb_1CVI2SjDubFzruNJad97r9Qu0UGuT1riBtvS3WVb4WCvP6LShtEPc_vHLYNVepfta36syz3vyrG91k2ghXzqb1p6pUnQui7qAM_vrMY/w640-h490/FILEM%20THE%20FRIENDS%201994%20SOMAI%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: cena do filme <i>Natsu no niwa: The Friends</i> (1994), de Shinji Sômai]</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjruuZ8eY8ZiJc8XlMLrZ4X0zQ7VNcXsEpem-D132pHjvaIMwBg1I2uOZ02gBNCxeR4_leaAmDbo6W8ZdaUPsT5W2eZ_-tQ_KvkbjK41BRpmALVqheU1Qalp3dzaUfXtrYsImAdcZPA-quOja_fDrt-snS0F_1BeJRamUw58IqcaEGOiA5QVp89VWVK/s2993/CASA%20LEVADA%20MAR%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2993" data-original-width="2159" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjruuZ8eY8ZiJc8XlMLrZ4X0zQ7VNcXsEpem-D132pHjvaIMwBg1I2uOZ02gBNCxeR4_leaAmDbo6W8ZdaUPsT5W2eZ_-tQ_KvkbjK41BRpmALVqheU1Qalp3dzaUfXtrYsImAdcZPA-quOja_fDrt-snS0F_1BeJRamUw58IqcaEGOiA5QVp89VWVK/w462-h640/CASA%20LEVADA%20MAR%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" width="462" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcSfy6b1fps-QvUdIZycMePw24Vw9xl3ZD635rO79HWOomMPJgiBx58sc33aCM1N6pKj_mkGqoOMGTZpq_jr3kv9URDiP15H2uXqsU_D8YRkIrssJ5AAYqOdd3-Vyh1w37XWk7-7AJfI61E_Fr8roWXnQtOOt3hLgP4wf1fGZEnBzftqR-OpH8UBZT/s2577/PINTURA%20CASTOR%20CORRENDO%20ENTE%20LIVROS%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2577" data-original-width="2355" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcSfy6b1fps-QvUdIZycMePw24Vw9xl3ZD635rO79HWOomMPJgiBx58sc33aCM1N6pKj_mkGqoOMGTZpq_jr3kv9URDiP15H2uXqsU_D8YRkIrssJ5AAYqOdd3-Vyh1w37XWk7-7AJfI61E_Fr8roWXnQtOOt3hLgP4wf1fGZEnBzftqR-OpH8UBZT/w584-h640/PINTURA%20CASTOR%20CORRENDO%20ENTE%20LIVROS%202023.jpg" width="584" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: vídeo postado no Ig pela conta beaversofinsta]</span></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqMJf8SvtIHp__R78bUomwkI-lbEcWZ1Sw58433IGGkMQqaQFKPmRjAGo_6gYBl3AUAz0oGBr194j-jzQzCF_ej-SaWadQsl2EiGS8N3qujj_hAgB1bgM7MXtMi2xu89w1jomJYiKyyGYbPLscdVJpwPCZRCdbYJSfVeUuqTlBqPJTS8OxLIHTTbKd/s2672/NINGNING%20AESPA%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2672" data-original-width="2371" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqMJf8SvtIHp__R78bUomwkI-lbEcWZ1Sw58433IGGkMQqaQFKPmRjAGo_6gYBl3AUAz0oGBr194j-jzQzCF_ej-SaWadQsl2EiGS8N3qujj_hAgB1bgM7MXtMi2xu89w1jomJYiKyyGYbPLscdVJpwPCZRCdbYJSfVeUuqTlBqPJTS8OxLIHTTbKd/w568-h640/NINGNING%20AESPA%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" width="568" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: Ningning (aespa) para W Korea 06/2023]</span></div><br /><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjo9MK1Y7tR0iLNaMhA2T3LnADgJ-lkn6UvUue7UFIHzHiOobmrbS_Fdc26pcDjZNQ_arzbZGO-t4YLQw9FF2kdPRvhmMhsOmex-lnV42Lg_CXYinTXD6q-_E3xlimrxhWFhkiEzcLFGyDVn-tN2OiJzg5FmHjnGroQZ4rv2DxmiVt8vuJuUtLbkFP/s1472/VACAS%2010001.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1159" data-original-width="1472" height="504" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjo9MK1Y7tR0iLNaMhA2T3LnADgJ-lkn6UvUue7UFIHzHiOobmrbS_Fdc26pcDjZNQ_arzbZGO-t4YLQw9FF2kdPRvhmMhsOmex-lnV42Lg_CXYinTXD6q-_E3xlimrxhWFhkiEzcLFGyDVn-tN2OiJzg5FmHjnGroQZ4rv2DxmiVt8vuJuUtLbkFP/w640-h504/VACAS%2010001.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: foto postada no IG pela conta Estúdio Arado]</span></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">🎨</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnOsoLCHVCpNGSbB0n4yh5vNo5wvY-wlHdxYW1Cw5LwHzQoJFn2cIgCfye3L98DMhZzmt2hPSnTyMh2ogy_WWYd69fhngNYEr8_hBnRLk0ngDizahLnq380d434nK7giVSHVXaCJm3SrG5uqGYLfax6l9LXAo6XYAZ8KsBfDT9hC5XRd3mj34Iybgb/s2239/GATINHO%20CAIXA%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2239" data-original-width="1680" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnOsoLCHVCpNGSbB0n4yh5vNo5wvY-wlHdxYW1Cw5LwHzQoJFn2cIgCfye3L98DMhZzmt2hPSnTyMh2ogy_WWYd69fhngNYEr8_hBnRLk0ngDizahLnq380d434nK7giVSHVXaCJm3SrG5uqGYLfax6l9LXAo6XYAZ8KsBfDT9hC5XRd3mj34Iybgb/w480-h640/GATINHO%20CAIXA%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023%20RED.jpg" width="480" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: foto postada no IG pela conta readersfloor]</span></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: medium;">🎨</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><div class="separator" style="clear: both; font-size: small; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZSBoJQ_76xDmjVNE001watfTZv9a6K8HUXH5I_Yaa1Nvxh3_B0XiAFBFJQfzOuTEDQWEsY18wwLX2gRtJdKh_jnmlu7BVDaY8rHBRjM65CaXNfsTY-DNSNIJn6b_wdFNYQpEZ7qMktw_3edZ97DwQlOWVGLkBhhxMKVqDaalAl3eqLZRc8GQBEmXA/s2931/Lavadeira%20Turca%20pintura%20correndo%20entre%20livros%2023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2931" data-original-width="1878" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZSBoJQ_76xDmjVNE001watfTZv9a6K8HUXH5I_Yaa1Nvxh3_B0XiAFBFJQfzOuTEDQWEsY18wwLX2gRtJdKh_jnmlu7BVDaY8rHBRjM65CaXNfsTY-DNSNIJn6b_wdFNYQpEZ7qMktw_3edZ97DwQlOWVGLkBhhxMKVqDaalAl3eqLZRc8GQBEmXA/w410-h640/Lavadeira%20Turca%20pintura%20correndo%20entre%20livros%2023.jpg" width="410" /></a></div><span style="font-size: x-small;">[*referência: vídeo postado no Ig pela conta dincerisgel (cenas da Turquia)]</span></span></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: large;">🎨</span></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqakLR9GuwhlIwSOnmGftOHILqzQnH5_AhRVKBMHC7VLLp7hJw9fDKqrEiHXElqZXiyJOpqbRoFlv6ZsOwWd3co-06qt9IJsKBhFcgcx7tjeTZzGvuLKAGxMTuOheM8DZM86yc57X1XTrQ5ZS5Slg_nO82utvZq6u_n7YBRNAwMx_AbkzlHzSP3Xup/s1080/DOG%20BY%20THE%20POOL%20PAINT%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%2023.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="738" data-original-width="1080" height="438" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqakLR9GuwhlIwSOnmGftOHILqzQnH5_AhRVKBMHC7VLLp7hJw9fDKqrEiHXElqZXiyJOpqbRoFlv6ZsOwWd3co-06qt9IJsKBhFcgcx7tjeTZzGvuLKAGxMTuOheM8DZM86yc57X1XTrQ5ZS5Slg_nO82utvZq6u_n7YBRNAwMx_AbkzlHzSP3Xup/w640-h438/DOG%20BY%20THE%20POOL%20PAINT%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%2023.png" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: foto postada no Ig por Juliana Cunha]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><span style="font-size: large;">🎨</span><br /><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl91lEzZVMHFa7HwHtsik6MrNbTxBRntY06lquyj5RjtHEQ6m4yOJQhb7jVQqQYXfyfB1ekFzB_cRoey0jqK-rqtTUyh8Wp-mHaPUQHLiKyIiJBDXYOADkFN84nnSSwDykB1kOeyV0-EJym-E6rGk4RkoK8xIX0oDbQfV93RXqnbSvToYp7Tbb5LuZ/s3071/PINTURA%20FRUTAS%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3071" data-original-width="2363" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl91lEzZVMHFa7HwHtsik6MrNbTxBRntY06lquyj5RjtHEQ6m4yOJQhb7jVQqQYXfyfB1ekFzB_cRoey0jqK-rqtTUyh8Wp-mHaPUQHLiKyIiJBDXYOADkFN84nnSSwDykB1kOeyV0-EJym-E6rGk4RkoK8xIX0oDbQfV93RXqnbSvToYp7Tbb5LuZ/w493-h640/PINTURA%20FRUTAS%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202023.jpg" width="493" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;">🎨</span></div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwNA_s44UMBkqoJQk7kfJBMJkKTbjavfSMiKEkm-0xnP1p4boMXl1IEDeBgtPPl12KqIo3N-iBSLGOvocfKQYyvvPZQLC9Rk6S6cFHNe2M7gzzZgl1S9T-EiPgPd1bcvi4Jr5VPAFeAjUeXEmpY2vCDtD9ePTO0n6qUtAs50jOkCaqNJqI1_hLksMS/s2438/MOVIE_GENTLE_BREEZE_VILLAGE_PAINT_CORRENDO_ENTRE_LIVROS_23_93.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1530" data-original-width="2438" height="402" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwNA_s44UMBkqoJQk7kfJBMJkKTbjavfSMiKEkm-0xnP1p4boMXl1IEDeBgtPPl12KqIo3N-iBSLGOvocfKQYyvvPZQLC9Rk6S6cFHNe2M7gzzZgl1S9T-EiPgPd1bcvi4Jr5VPAFeAjUeXEmpY2vCDtD9ePTO0n6qUtAs50jOkCaqNJqI1_hLksMS/w640-h402/MOVIE_GENTLE_BREEZE_VILLAGE_PAINT_CORRENDO_ENTRE_LIVROS_23_93.png" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">[*referência: cena do filme <i>A Gentle Breeze in the Village / 天然コケッコー</i> (2007), de Nobuhiro Yamashita]</span></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-45273414446194646082023-12-24T12:31:00.007-03:002024-03-09T23:55:06.134-03:00If life is a photograph fading in the mirror [2023.2]<p>Conforme compartilhei <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2023/02/gato-cassandra-cat-sayaka-murata-pinturas-desenhos-madeira-agua-ilha-bergman-transtromer-holy-motors-van-gogh-cavernas.html">no post de Fev/2023</a>, decidi comprar uma câmera fotográfica e, durante minhas férias no Japão em Outubro deste ano (!), pude brincar um pouquinho com ela pela primeira vez. É uma máquina bem básica, compacta, de entrada, preço acessível e eu sequer sei mexer na danada, porém gostei tanto do exercício de sair por aí atenta à paisagem ao meu redor, que tentarei não deixar a iniciativa minguar. [*Falarei mais sobre o assunto quando trouxer ao blog uma leitura atual.] Então, para dar um empurrão em mim mesma, selecionei algumas fotos da viagem que me arrancam a pergunta: "Poxa, essa foto ficou legal, vai? Quase? Clichês? Mais ou menos, pode ser?". [*Reconheço que o Japão facilita demais as coisas, até para uma leiga idiota feito eu]. Ou ainda: e se eu brincasse de <a href="https://youtu.be/OupS5BS-a2I?si=U5CsN2vx25lxU7HB" target="_blank">publicar um photobook de cartões-postais, feito o Teju Cole</a>? (Quem não brinca não se diverte, gente.) Como adiantei, não domino a câmera e muito menos sei lidar com aplicativos de edição, portanto trata-se de um post no qual apenas compartilho e registro para onde meu olhar se voltou naquele momento. São fotos cujas capturas me deixam feliz, e isso basta para um blog diarinho. Minha intenção é manter essa série fixa no blog, digo, trazer postagens de vez em quando (<a href="https://www.correndoentrelivros.com/search/label/minhas%20pinturas" target="_blank">como faço com minhas pinturinhas</a>) nas quais compilarei novas capturas com a câmera, possivelmente a partir de um tema. Ao menos, é a ideia no momento, a ver.</p><p></p><div style="text-align: center;">📷</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh96TuXtoECvX_Ohz0gMl74YtmakBzpTt1-SirPlTg8CdYcEan_a7r6R70yVHjQslBlantH8aF3m2orBddUG0cshCewOPAFF16VqjsxN1m-EPE6wNOR0Akcw9AY-3fk0Pf5exTtTA2gEV7KIxT7G73UovBqgfZC7s4AIy4KfB-eosbUAahVxe1-UTEm/s635/13%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="471" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh96TuXtoECvX_Ohz0gMl74YtmakBzpTt1-SirPlTg8CdYcEan_a7r6R70yVHjQslBlantH8aF3m2orBddUG0cshCewOPAFF16VqjsxN1m-EPE6wNOR0Akcw9AY-3fk0Pf5exTtTA2gEV7KIxT7G73UovBqgfZC7s4AIy4KfB-eosbUAahVxe1-UTEm/s16000/13%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7JDmUznu1ROYMTLY5qwmkBZXqvof342egxed1d_0ZVq5AuMnvVz9rglO-QkfCf9WtP6Wn8q-UwY_QkxUF33BBLNPwRTvjWxqqvxPMTV930oLc-ydMEidlGC4L01FXE6Go7pHq45Xe7jSjtUeU4zVGXDQ2X5iJKVbHSA7F191AtA8dMa8BHsrEtXNk/s601/01%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="601" data-original-width="447" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7JDmUznu1ROYMTLY5qwmkBZXqvof342egxed1d_0ZVq5AuMnvVz9rglO-QkfCf9WtP6Wn8q-UwY_QkxUF33BBLNPwRTvjWxqqvxPMTV930oLc-ydMEidlGC4L01FXE6Go7pHq45Xe7jSjtUeU4zVGXDQ2X5iJKVbHSA7F191AtA8dMa8BHsrEtXNk/s16000/01%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7-75iRK7AcB5aGmi3TY_7xRBPwQpc1Xpe2FusBpe2lfSOEnkVQ7XfyD-VyxmZRbLhUURxPOUhTGKf7mLKlOBm2ApufQ2nbIBFXVA5VzueAvN4h_bKj-_2Ax8hrbWbqoUpy0SX5_Wfj3g6QQXWFT1mZqSw-X94gcMuUrbLuuZCJ2dRZYeQpBmOOS6L/s635/07%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7-75iRK7AcB5aGmi3TY_7xRBPwQpc1Xpe2FusBpe2lfSOEnkVQ7XfyD-VyxmZRbLhUURxPOUhTGKf7mLKlOBm2ApufQ2nbIBFXVA5VzueAvN4h_bKj-_2Ax8hrbWbqoUpy0SX5_Wfj3g6QQXWFT1mZqSw-X94gcMuUrbLuuZCJ2dRZYeQpBmOOS6L/s16000/07%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfWI8OR-LU17buOdU0uu-jIO6iZ2s7YYSbSXUJlU1Thy9H0mEnkdscvht-BrzqmsMEWvfApidYGgD5vQ6OTrIgxFUzrMng59YiXCavwVg-NO1diG1Gj6j0AqnBmOyPLKeOlHdiRm8OvM6ca8o7j4ShfYMa24Eop4gmzx6ydjoXnYih-RNa8kcLy8tj/s635/04%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="473" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfWI8OR-LU17buOdU0uu-jIO6iZ2s7YYSbSXUJlU1Thy9H0mEnkdscvht-BrzqmsMEWvfApidYGgD5vQ6OTrIgxFUzrMng59YiXCavwVg-NO1diG1Gj6j0AqnBmOyPLKeOlHdiRm8OvM6ca8o7j4ShfYMa24Eop4gmzx6ydjoXnYih-RNa8kcLy8tj/s16000/04%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIfMJV0MvhUyP8yv22VhiHR0SqsDdoUASuQAvX8sCtwv71B_L5XxXs_JxXOhXiMY-TI6imH6tl7cKj_pJWjWSAgqKtKNchqshuRf-F6kegaSjiPI2cRd4Tx-hqN5qX5XfQsiaNlE1KX1citK80DoTHqOU105BfhhLGTch9f4H620n5Pk0ff76D49v/s635/02%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="471" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIfMJV0MvhUyP8yv22VhiHR0SqsDdoUASuQAvX8sCtwv71B_L5XxXs_JxXOhXiMY-TI6imH6tl7cKj_pJWjWSAgqKtKNchqshuRf-F6kegaSjiPI2cRd4Tx-hqN5qX5XfQsiaNlE1KX1citK80DoTHqOU105BfhhLGTch9f4H620n5Pk0ff76D49v/s16000/02%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzsZv3Nq17ZHSVUutPXRgX_I5UA5y3MMsFj98npTlZ0yv3KjK6_IgnRTWjh_rnNTdTmQv0fnf0wJw8qqUue_gOKMBkFCYnOVIBFEn-6TRZ9Z8DU9gxffZVXyZP0Gvh3IDs3SUIOhBfuG-qb2Wn_6fBDvp0Gj7BHGvQrX0aU_m_rWh6z71-58Otv84I/s846/29%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzsZv3Nq17ZHSVUutPXRgX_I5UA5y3MMsFj98npTlZ0yv3KjK6_IgnRTWjh_rnNTdTmQv0fnf0wJw8qqUue_gOKMBkFCYnOVIBFEn-6TRZ9Z8DU9gxffZVXyZP0Gvh3IDs3SUIOhBfuG-qb2Wn_6fBDvp0Gj7BHGvQrX0aU_m_rWh6z71-58Otv84I/s16000/29%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzT1JCCQyEa2NJ_udV-s4-RH7K6RlSbiv9TyA0kjayFr2TVGFGmQaXif21UA9dTIBo77WtMYWUC_2TAbwWk-QRQYDrlPSrtcquOivFNiumg4d-jho-lq71_7bAqfjrx_lI8D7eQqaX2B3-29IuC8kI96vIo-seyS64JOVkG4JfmmTKS6GKhFTCEbwQ/s635/28%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzT1JCCQyEa2NJ_udV-s4-RH7K6RlSbiv9TyA0kjayFr2TVGFGmQaXif21UA9dTIBo77WtMYWUC_2TAbwWk-QRQYDrlPSrtcquOivFNiumg4d-jho-lq71_7bAqfjrx_lI8D7eQqaX2B3-29IuC8kI96vIo-seyS64JOVkG4JfmmTKS6GKhFTCEbwQ/s16000/28%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixCqWlwB4ZIRuCj02S5E1b2RUW3J3lnaJ_NmscqXvBpbVrA4DVZ-IXmfJqt4D48ewr1_R2dCgOj-1z5amtMrOCYrcMIFTgiCOY7axuLJGPRCSxwj9TAuAvmvQ9bQX-2abCTegEMp61Z_6QBOdK-qqQkoAZTtvfOsg4F14OgQerLq5zjDLf_-omewFn/s635/03%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="472" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixCqWlwB4ZIRuCj02S5E1b2RUW3J3lnaJ_NmscqXvBpbVrA4DVZ-IXmfJqt4D48ewr1_R2dCgOj-1z5amtMrOCYrcMIFTgiCOY7axuLJGPRCSxwj9TAuAvmvQ9bQX-2abCTegEMp61Z_6QBOdK-qqQkoAZTtvfOsg4F14OgQerLq5zjDLf_-omewFn/s16000/03%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi54tMbC7JpeKPpKAolnhuPzNmhIJHZQih3-LGltEK06J7TaCY3f0nFhYeQjdG8PGx8W2E4NhRaJWU2K_9QcKaU1n-hYYIN4Xdn8FeuOlwNRvL1O4eHyDgyX_IoWXkggmwexzQFhIJR7l9aFmsNNLGK20z2nPGR7cS1jg_sZbPBGGXezU-LOvab4TXP/s846/08%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="635" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi54tMbC7JpeKPpKAolnhuPzNmhIJHZQih3-LGltEK06J7TaCY3f0nFhYeQjdG8PGx8W2E4NhRaJWU2K_9QcKaU1n-hYYIN4Xdn8FeuOlwNRvL1O4eHyDgyX_IoWXkggmwexzQFhIJR7l9aFmsNNLGK20z2nPGR7cS1jg_sZbPBGGXezU-LOvab4TXP/w480-h640/08%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" width="480" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ADUlOZfmomOBnxqadh45BSHQy7Zg94dw8u5dnBOBthKiuNVfVxYfCh4Uk6X68tvCysX51iH_nuLiZUT75PGY3BPfFoUkg0P9M1I5RdNZWc25zq2iKWdf8riNzJnkymkG6MY-UKBsGnzkN-9xaw3X7QDIxQG6S7DdhcvPHLD32ru7blCuRRFBW2kT/s635/16%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; 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margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="481" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqsXWzHVWgq9NGgKlkdLQxGC645W80SqzqkMg0zQP6k1OCVTNpIQ6_l4N5DupqYa0hhwrLpbWCMKd9VViQzXhdf2Uz1BgR381qkf3Cpb40gaVeJams4a-_R7qxyguCEvxbgwI0eA1tL-AhxsyxPCIuIjs5c9wDTD5LTY9ZeuAH767tN86b93XI8gED/s16000/17%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguOKAEzNlN8jzlkQ_LtYHbS1I2c_fa6lSfhODtDMYl415qaPSrnux-fMTpZ-BA0pgPnYeiytwphlw_lojRchk8w9XuVI-a1eshKbWvmwDDakoHbefRzNoli7cZZJMMkeOFUxNBjhtSi88gxkHzMCgyXDU_xopTKZVs1cPlS9GfbvbkJO6WVk6jbzRb/s846/12%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguOKAEzNlN8jzlkQ_LtYHbS1I2c_fa6lSfhODtDMYl415qaPSrnux-fMTpZ-BA0pgPnYeiytwphlw_lojRchk8w9XuVI-a1eshKbWvmwDDakoHbefRzNoli7cZZJMMkeOFUxNBjhtSi88gxkHzMCgyXDU_xopTKZVs1cPlS9GfbvbkJO6WVk6jbzRb/s16000/12%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghL6UWr_3tsueMr1wS0pOv5VWB-oltCdEZ2QMceLwOfztrfE2mL5eZCo_uP3TYUvTcPvQ_eZ-uNFUY8XWmck3ROeHoZwjk4Spnzt6rGxXa6mmm3Gr9g05m_l1yr-0Kf2GiupvOlvwZ-C9x6-d7KmDG_u1XqpOaIjlou6g5e6GpR6zRnwIiwdrwWjN3/s601/21%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="601" data-original-width="449" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghL6UWr_3tsueMr1wS0pOv5VWB-oltCdEZ2QMceLwOfztrfE2mL5eZCo_uP3TYUvTcPvQ_eZ-uNFUY8XWmck3ROeHoZwjk4Spnzt6rGxXa6mmm3Gr9g05m_l1yr-0Kf2GiupvOlvwZ-C9x6-d7KmDG_u1XqpOaIjlou6g5e6GpR6zRnwIiwdrwWjN3/s16000/21%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Q5zk-8Um9ZF4G4VfCWP2_RIPN-8kq2QIp1sdfcOEL2_fFsPOQKq-Zg7xeuiwlYhyI57mmHyVcd3M74JBqDVsT6tCj81-snuOdQz4HZceGFOmdr4vdMOSx3BRgd86Ecch5sqaD4ONAc9xhDSTxo2fE1G6erOJZBQFASKOIF-1V1D5NaYJ7cnrdP0f/s635/11%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="465" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Q5zk-8Um9ZF4G4VfCWP2_RIPN-8kq2QIp1sdfcOEL2_fFsPOQKq-Zg7xeuiwlYhyI57mmHyVcd3M74JBqDVsT6tCj81-snuOdQz4HZceGFOmdr4vdMOSx3BRgd86Ecch5sqaD4ONAc9xhDSTxo2fE1G6erOJZBQFASKOIF-1V1D5NaYJ7cnrdP0f/s16000/11%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZrwsWZY95dl4kbPEqKE02ayK5SMhpcTBjZ72G0NByHkRSXhVYm0Ns9GqDDo-MlQ5rbzC0s0DANbWvILVD1KqxJFoC8uvZBPxYjYOJYnJ_w1dK021d8vg3xuGIMjSfPPgYqXUJAss-mv7ELi4iYEIEpPgKZLF-Kj3KYoLZPnlZzzMuWiBL1HVjU19a/s601/25%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="601" data-original-width="446" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZrwsWZY95dl4kbPEqKE02ayK5SMhpcTBjZ72G0NByHkRSXhVYm0Ns9GqDDo-MlQ5rbzC0s0DANbWvILVD1KqxJFoC8uvZBPxYjYOJYnJ_w1dK021d8vg3xuGIMjSfPPgYqXUJAss-mv7ELi4iYEIEpPgKZLF-Kj3KYoLZPnlZzzMuWiBL1HVjU19a/s16000/25%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbbznFQaIHrasKSqS0a_DR_LmRKFwt2d6nRhUXgjRVD6YqKRnP3gfl5rV4TmR_DhL2jTYteB3HK1MJ1deaRlK88rPGgO6_V-zBpRozjkGQTnDdsnF8oHnAZej9PvL4hz03sHcrw3xDV4PF3GKt0ng2yDWl8XrLfjDPdiDUgz67ztzFO-710qC94VDu/s635/26%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbbznFQaIHrasKSqS0a_DR_LmRKFwt2d6nRhUXgjRVD6YqKRnP3gfl5rV4TmR_DhL2jTYteB3HK1MJ1deaRlK88rPGgO6_V-zBpRozjkGQTnDdsnF8oHnAZej9PvL4hz03sHcrw3xDV4PF3GKt0ng2yDWl8XrLfjDPdiDUgz67ztzFO-710qC94VDu/s16000/26%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJiFj_vvrE5oShmx5t08dQESa3X0oUDSnI4Ai9j5td5CXy_oJmEb3zb9-_6R7LwDaiKrxDYhd0Cpr4NkTifhO4OYvqNgHEP9ezEbyuP3-jCyN_rSSkus2GIq1WXDpvlF6v8N1uGTQSKUp5UzEqE0R9_YQNjhji6Ijrk3CxckkaMkvo6WAO8PiBvq3F/s635/24%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="467" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJiFj_vvrE5oShmx5t08dQESa3X0oUDSnI4Ai9j5td5CXy_oJmEb3zb9-_6R7LwDaiKrxDYhd0Cpr4NkTifhO4OYvqNgHEP9ezEbyuP3-jCyN_rSSkus2GIq1WXDpvlF6v8N1uGTQSKUp5UzEqE0R9_YQNjhji6Ijrk3CxckkaMkvo6WAO8PiBvq3F/s16000/24%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUp419CzlwImL_xnShYmJXpv3LRxImpesG0NO_sHumttuPopKWRy7X2uT8EMEhgMsikpSqFvSIJa5Pl4Umwu0pXKvztko4YtOi4QIZKezr9WwbE6KJPjxOGXgnthNksn5DoJgR8UVveMQrwQ5I2MmMWfyQoZgw8srBYP9tO1WmPxIb2VdhH1I1jZi1/s635/27%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="474" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUp419CzlwImL_xnShYmJXpv3LRxImpesG0NO_sHumttuPopKWRy7X2uT8EMEhgMsikpSqFvSIJa5Pl4Umwu0pXKvztko4YtOi4QIZKezr9WwbE6KJPjxOGXgnthNksn5DoJgR8UVveMQrwQ5I2MmMWfyQoZgw8srBYP9tO1WmPxIb2VdhH1I1jZi1/s16000/27%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx3afhp8NVMAATR7-t0Qm8VEFnOI6QTD0ucGT1pvheTgyQSfQ_-khdI3mOzt9IxFIFXKxbIOfG2lvlm1lBYJY_zlBkMOGT6-ybyawylEVIOIUIhyphenhyphenemEoUWKnA2gb7UZGn70_CnIl3cIbswVzR__D9hHtYXlUC1WStaLKEc7J1Z8oVNAsJlAhJzyr6W/s635/23%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx3afhp8NVMAATR7-t0Qm8VEFnOI6QTD0ucGT1pvheTgyQSfQ_-khdI3mOzt9IxFIFXKxbIOfG2lvlm1lBYJY_zlBkMOGT6-ybyawylEVIOIUIhyphenhyphenemEoUWKnA2gb7UZGn70_CnIl3cIbswVzR__D9hHtYXlUC1WStaLKEc7J1Z8oVNAsJlAhJzyr6W/s16000/23%20JP%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-75617989195542079622023-11-29T19:25:00.003-03:002024-02-04T23:47:57.090-03:00Immerse your soul in love #03 - Roland Barthes x K-POP<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPECq6Ocbwq_YIKnbAGl1iV0k6Gv7beeUoME385ckukvav0c3NRWDNmGnJVceXVheKRB31XRoWy75YxZsdxnBLHi9rR5e631bq7cY-ongpn7SriUYfpYnMrukCA27RZ2CteBRQfvvMmmXTFWMJbXrMhQh-JjL47XXKe7yYQlkxzlSuoFQP054_QkoI/s626/DISCURSO%20AMOROSO%20ROLAND%20BARTHES%20X%20KPOP.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="626" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPECq6Ocbwq_YIKnbAGl1iV0k6Gv7beeUoME385ckukvav0c3NRWDNmGnJVceXVheKRB31XRoWy75YxZsdxnBLHi9rR5e631bq7cY-ongpn7SriUYfpYnMrukCA27RZ2CteBRQfvvMmmXTFWMJbXrMhQh-JjL47XXKe7yYQlkxzlSuoFQP054_QkoI/s16000/DISCURSO%20AMOROSO%20ROLAND%20BARTHES%20X%20KPOP.png" /></a></div><p></p><p>É, ainda estou nessa de K-pop. Inclusive, mês passado estive no meu primeiro show k-poper (!da minha banda favorita: SHINee!) e, por ora, fiquemos assim: uma coisa é saber que se assistirá a uma apresentação musical sem banda no palco e sem música tocada/cantada ao vivo, outra coisa beeeeeeeeem diferente é testemunhar isso. Mas esse sequer é o assunto deste post que, na verdade, continuará <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2022/05/cultish-language-fanaticism-amanda-montell-kpop-idols-lives-culto-linguagem.html" target="_blank">aquele papo de Maio/22, ocasião na qual organizei observações a respeito do discurso de Idols durante <i>lives</i>.</a> Meus devaneios a respeito da linguagem nesse universo continuam a todo vapor, e agora preciso conversar sobre o tópico que, naquela prévia postagem, restou identificado pela expressão <i>Love Bombing / Bombardeio de Amor</i>. </p><p>Em 2023, o bombardeio amoroso tomou proporções descomunais, provavelmente porque o Idol de quem sou fã retornou do serviço militar obrigatório, não sei bem [e comecei a frequentar o reddit, diga-se]. Ocorre uma constante e intensa troca de declarações amorosas entre artistas e fãs; um verdadeiro <i>Discurso Amoroso K-poper</i>. Para ilustrar, breves exemplos:</p><p><b>1.</b> O cara canta uma música que não é baladinha, daí as fãs coreanas cantam junto, num coro uníssono (traduzindo para português): <i>♫ <b>NÓS TE AMAMOS</b>, <b>NÓS TE AMAMOS,</b>....♫</i><br /><br /><b>2.</b> Regressando <strike>das trincheiras</strike> dois anos depois, o Idol grava um vídeo para responder perguntas das fãs, dentre as quais consta esta <strike>inesperada</strike> pérola: "<i><b>Ei, o que é o amor, hein?"</b></i> A resposta sugere que ele, profissional experiente (quinze anos de carreira), sabe bem por que elas perguntaram isso; em outras palavras, ele sabe bem a resposta que elas desejavam ouvir:<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCDqDhAOobDxqafJUwdkf-7IP1EUpUn_lWrgUwWAAHXUZv7Fegtrg3JRWdfocCXpYiqgiSAUItpk1Em1eezwBp-1H2A6Aa0Ovd2OYnxGYeSrp4djHByUH5er5VglXDY90q6cquzfga_if94QDayyM7OdXijM-zpRJI7cc1Jg9mQ-rOeqZCfkhu6aK1/s622/TAEMIN%20LOVE%20CL.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="233" data-original-width="622" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCDqDhAOobDxqafJUwdkf-7IP1EUpUn_lWrgUwWAAHXUZv7Fegtrg3JRWdfocCXpYiqgiSAUItpk1Em1eezwBp-1H2A6Aa0Ovd2OYnxGYeSrp4djHByUH5er5VglXDY90q6cquzfga_if94QDayyM7OdXijM-zpRJI7cc1Jg9mQ-rOeqZCfkhu6aK1/s16000/TAEMIN%20LOVE%20CL.png" /></a></p><p><b>3.</b> Soltam vídeo com bastidores da gravação do último MV, o qual inclui uma passagem na qual a diretora manda o rapaz fingir que está falando. Adivinhe o que ele fala? <br /><b>R-</b> <i>~<b>ÃIN, EU AMO MINHAS FÃS~</b></i> [— ah má VSF]</p><div><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggXX6vHZfeeadxP3rh5w0M2FRjJztp2SuZtmLjrW7eL4OQid-3-Irjoyd1UYwXdcmbE2uAQvQOYdr7eptmKMLEdoeVFPhWXBtIXsvEWfwc1E3QAr38c41b1a2037Tqdi4TPhW7toEcXvgNHIuwn72P5g5kAZ13ZCdrnsTXu3TGo-Hkvr5S00LSs370/s320/exemplo.png" /> <span style="font-size: x-small;">Fonte: twitter @Loya_Taemint </span></div><div><b><br /></b></div><div><b>4. </b>A conta de fã posta uma foto do Idol, vem o comentário: <i>"amor da minha vida toda"</i>. (Hein?!) A legenda? <i>I love you.</i> O Idol posta uma foto, vem a fã comentar linhas e mais linhas a fim de dizer o quanto ela o ama. Etc etc...</div><div><br /></div><b>5.</b> Isto 👇 é uma ordem? <br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia7-Bofs63_Fn3xUNkNuEW5Z3qbx9PfTwlUl2i7xbn6qyVzsZOdRGqhX0eQpgoDxTfCt_IolD9PyuSVgUgOWez6r4NWSbQB0vo04jS9rs30oQCzTEX9V6v06Ot8TNgRbzgQH9GGcCuXEms-AV2Cu8GL-Pm6EfzvmMllEA0BmIJ9o4D2c3KE_FyCsy3/s542/exemplo%20TAEMIN%20IG%20LIVE.png"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia7-Bofs63_Fn3xUNkNuEW5Z3qbx9PfTwlUl2i7xbn6qyVzsZOdRGqhX0eQpgoDxTfCt_IolD9PyuSVgUgOWez6r4NWSbQB0vo04jS9rs30oQCzTEX9V6v06Ot8TNgRbzgQH9GGcCuXEms-AV2Cu8GL-Pm6EfzvmMllEA0BmIJ9o4D2c3KE_FyCsy3/s320/exemplo%20TAEMIN%20IG%20LIVE.png" /></a><div>(*a conexão estava ruim, daí ele apelou para esse tipo de comunicação)<div><br />Enfim, deu pra ter uma ideia ao que me refiro, não é? Até porque isso está presente na maioria dos <i>fandoms</i>; não é exclusividade k-poper — embora o k-pop tenha, sim, diversas particularidades. Por exemplo, neste ano calhei de assistir ao Eurovision e, já imersa nestes desvarios, não pude deixar de reparar que todos os cantores concorrentes mandaram um "<i>I love you!" </i>no final de suas apresentações. Então pergunto: o que diabo é isso? Putz, eu não entendo. Eu me desassossego porque sinto não dispor das ferramentas linguísticas necessárias para compreender o que esse povo tanto fala, eu não consigo entrar nesse sistema. Foi nessa toada, portanto, que pedi ajuda ao Roland Barthes, finalmente sacando da estante o <i>Fragmentos de um Discurso Amoroso</i> (Tradução: Hortênsia dos Santos).<div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>ELUCIDAÇÕES GERAIS PRELIMINARES</b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖</span> Barthes esfregou na minha cara o óbvio que eu não enxergava: ora, nada mais natural que um blog diarinho literário devaneando a respeito de <i>apaixonamentos</i>. Sempre encarei esta minha série <i>Immerse your Soul in Love</i> uma pieguice despropositada, porém, após papear com Barthes, sinto-me um tanto orgulhosa de minha iniciativa. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Veja bem, apaixonar-se: </div><div style="text-align: left;"> é o mesmo que afogar-se em linguagem, </div><div style="text-align: left;"> é ser consumido por uma energia linguística, </div><div style="text-align: left;"> é a loucura da linguagem,</div><div style="text-align: left;"> é um delírio constante da Imaginação,</div><div style="text-align: left;"> é entregar-se à produção obsessiva de ficções e fantasias;</div><div style="text-align: left;"> é um braseiro do sentido;</div><div style="text-align: left;"> Apaixonar-se É Literatura! → Calma, essa fui eu que mandei e não é pra tanto. [Ou é?]</div><div style="text-align: left;">**Acredita quem quiser, mas afirmo: enquanto escrevia este post, o Spotify soltou esta música inédita pra mim: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=fmxMMn7W5rA" target="_blank"><i>You are my literature</i>, da coreana Park So Eun</a>. Parece que é pra tanto, sim. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖</span> Lembra <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2020/01/goethe-adam-driver-kylo-ren-houellebecq-tokarczuk-sally-rooney-tove-ditlevsen-robots-in-disguise.html" target="_blank">quando escrevi no blog (em 2020) <i>"...acumulo assustadores indícios de que possivelmente eu seja a reencarnação do Werther no século XXI."</i></a>? Rememorei a declaração porque Barthes demonstra, neste livro, que <i>Os Sofrimentos do Jovem Werther,</i> de Goethe, é a ficção onde o discurso amoroso surge em sua plenitude. Werther é o perfeito arquétipo da figura apaixonada. Jesus, Maria e José, por favor me acudam. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖</span> Barthes aliviou minha barra:</div><div style="text-align: left;">— <i>É claro que a senhora não está entendendo, pois, passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada. </i></div><div style="text-align: left;"><i><br /></i></div><div style="text-align: left;">O <i>Eu-te-amo</i>:</div><div style="text-align: left;">- não tem empregos, é uma palavra que se desloca socialmente; </div><div style="text-align: left;">- não tem nuances, não tem outro referente a não ser seu proferimento: <b>é um performativo</b>;</div><div style="text-align: left;">- não é uma frase, não transmite um sentido;</div><div style="text-align: left;">- não é da ordem nem da linguística nem da semiologia, mas da <b>musical</b> (!): dizer <i>eu-te-amo</i> é um gozo apenas. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Barthes ressalta que não há um sistema de amor, não há um lugar que lhe responda — então como eu poderia entendê-lo? [<a href="https://www.correndoentrelivros.com/2020/05/amor-bell-hooks-immerse-soul-love-02.html" target="_blank">Bell Hooks já tinha me dado esse toque</a>.] Quer dizer, não há uma filosofia que compreenda e recolha a figura apaixonada. Aliás, o apaixonado é compreendido somente por aqueles que falam sua língua, ou seja, por outros enamorados; razão por que, suponho, os fóruns sobre K-pop (no twiter, reddit, discord...) juntam muitas pessoas, fomentando várias e acaloradas discussões. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Além disso, saliento novamente que as declarações no k-pop percorrem uma via de mão dupla, o que implica dizer que os Idols não negam às fãs aquilo que uma apaixonada espera ao proferir o <i>eu-te-amo</i>: eles infalivelmente respondem mediante igual proferimento, quase simultaneamente. Isso é importante, pois a pronúncia da <i>palavra-frase</i> eu-te-amo vem para que o outro responda e, no Kpop, a resposta perfeita sempre vem para os dois lados.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Embora Barthes use o exemplo do idioma húngaro (em contrapartida ao francês / português/ inglês), <u>suspeito</u> que também o coreano seja uma língua que aglutina a palavra-frase eu-te-amo, adiantando o "trabalho" de tomar a expressão por uma palavra, burlando nossa sintaxe. Ainda que eu esteja errada, colo a descoberta recente de que os fandoms e artistas apelam para outras sintaxes e neologismos que permitam expressar o tal sentido que o <i>eu-te-amo/amo-você</i> (사랑해 - <i>saranghae</i>) aparentemente não dá conta. Transcrevo comentários de fãs:</div><div style="text-align: left;"><b>- </b><i>"exo's saranghaja, it means 'let's love!'"</i></div><div style="text-align: left;"><b>- </b><i>"Onewe's Kanghyun says saranghaengseong which is saranghae combined with the word for planet"</i></div><div style="text-align: left;"><i>- Horanghae was Hoshi+Saranghae??</i></div><div style="text-align: left;"><i>- "think that BTS uses Borahae, which means I purple you"</i></div><div style="text-align: left;"><i>- "Doahae - Dokyeom</i></div><div><i> Wooahae - Woozi</i></div><div><i> Mianhae - Minghao"</i></div><div><i>- "I don't know if this counts but Eric (The Boyz) says "Always remember Eric loves you"</i></div><div><i>- "Mamamoo use “saranghanu” It’s just a cuter way to say “saranghae”</i></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖</span>A parte mais legal da leitura foi quando Barthes disse na lata que esse meu papo de que quero investigar é lorota, pois meu grito não é de interpretação, mas de amor. É próprio do apaixonado esse movimento de querer entender o que se passa consigo, sobretudo porque ele encontra-se no exaustivo estado em que tudo é signo a ser decodificado.</div><div style="text-align: left;"><i></i></div><blockquote><div style="text-align: left;"><b><i>"Ninguém tem vontade de falar de amor se não for <u>para</u> alguém."</i> </b></div></blockquote><div style="text-align: left;"></div><div style="text-align: left;">Portanto, fica o alerta: Barthes atira na cara; desdenhando sem piedade dos sentimentos da pobre leitora. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>ELUCIDAÇÕES OBJETIVAS</b></div></div></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: left;"><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"O coração se constitui em objeto de dom (..) é o órgão do desejo (dilata, falha como o sexo) tal como ele é retido, encantado, no campo do Imaginário."</span></i></b></div><div style="text-align: left;">Não minto: o coraçãozinho com os dedos sempre testou minha tolerância à estupidez. Porém Barthes entrou em cena e comecei a pira de achar que esse gesto merece ser levado a sério. Quero dizer, oferecer o coração para alguém não deveria ser pouca coisa. Viajei? O problema é que fazem coraçãozinho toda hora, daí o delicado gesto banaliza feito o eu-te-amo; de forma que o coraçãozinho irritante também não diz nada. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>💖 </b><i><span style="color: #cc0000;"><b>"A identidade fatal do enamorado não é outra senão: sou aquele que espera."</b></span></i></div><div style="text-align: left;">Embora o discurso amoroso k-poper prossiga por via dupla, não se pode negar que quem o controla é o Idol. Quem espera é a fã e, conforme pontua Barthes, fazer esperar é prerrogativa de todo poder. <i>"Estou apaixonado? - Sim, pois espero." O outro não espera nunca. </i>Às vezes, contudo, o apaixonado consegue suportar bem a ausência, o que não é outra coisa senão o esquecimento, incorre-se numa infidelidade. Por outro lado, o enamorado que não esquece de vez em quando morre por excesso, cansaço e tensão de memória. Cientes disso, os Idols não abusam e aparecem sempre que possível, seja numa live/fan-meeting, fan-sign, show, Buble, vídeo no You tube, post no Instagram [sério, não há um dia sem alguma novidade, é impressionante]. Antes de afastar-se para o serviço militar obrigatório, o Idol de quem sou fã, por exemplo, implorou para que as fãs não o esquecessem e não o traíssem, em tom algo debochado.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>💖 </b><i><span style="color: #cc0000;"><b>"Não significa nada para você ser a festa de alguém?"</b></span></i></div><div style="text-align: left;">Ser a festa de alguém...<b> </b>Bonito, né? Na relação de fã e Idol, a festa máxima, o grande encontro, seria o show, certo? E há quem questione se os shows valem todo o dinheiro e perrengue. Quem pergunta isso está mais perdido do que eu.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>💖 </b><i><b><span style="color: #cc0000;">"Desacreditada pela opinião moderna, a sentimentalidade do amor deve ser assumida (...) como uma transgressão (...)"</span></b></i></div><div style="text-align: left;">Teorizo que o discurso amoroso k-poper tem um duplo exemplar: as falas que ironizam e menosprezam as fãs. —<i> Qualquer outro desejo que não o meu não é louco? </i>— Nos grupos do reddit, de vez em quando aparece alguém comentando que o namorado (claro) ou parentes tiram sarro, ou que a pessoa tem medo de que descubram no trabalho [a propósito, há uma série coreana sobre esse tema: <i>Her Private Life</i> - abandonei após o primeiro episódio]. Conforme assevera Barthes, há um desprezo sobre todo o <i>páthos</i>, uma vez que o delírio do enamorado é tolo, trata-se efetivamente de um discurso vazio. O paralelo que o autor faz com um tenor de ópera me pareceu formidável, porque dá o tom preciso de como os não enamorados percebem as manifestações de fãs, proferidas em meio público:</div><div style="text-align: left;"><blockquote style="font-style: italic;">"Sou esse tenor: como um grande animal, obsceno e estúpido, fortemente iluminado por uma luz de vitrine, declamo uma ária muito codificada, sem olhar quem amo e a quem supostamente me dirijo."</blockquote><p>O linguajar da fã enamorada é realmente ridículo e é impossível contradizê-lo, pois, quando o discurso supera o limite da língua e o obsceno torna-se dizível, significa que o apaixonado está recuperado, deixou de sê-lo. Por outro lado, a chacota pública não seria menos estúpida. A quem não está tomado pela febre linguística amorosa, cabe discernir que <i>o amor não é dialético. </i>Gostaria de saber: qual o propósito de discutir com uma pessoa <i>que teima, que recusa aprendizados, cujo discurso é irrefletido e incapaz de conceber pontos de vista</i>? Como argumentar com uma pessoa que se encontra nesse estado dramático? Não adianta, não tem jeito. A menos que a enamorada esteja em perigo, deixar e ficar quieto parece ser a melhor estratégia.</p><p>Neste livro originalmente publicado em 1977, Barthes menciona uma <i>inversão histórica: não é o sexual que é indecente, é o sentimental - censurado em nome do que no fundo é apenas uma outra moral. </i>No entanto, a julgar pelo que observo nas falas das fãs de k-pop (maioria na faixa de 15-30 anos, calculo), resta-me a impressão de que a atual jovem geração se esforça para reverter a inversão mencionada por Barthes em 77, a fim de restabelecer uma moral que censure o sexual. Percebo uma dissonância: de um lado há Idols jovens, lindos e sexys cantando músicas de leve duplo sentido e dançando coreografias sensuais; do outro lado há fãs rechaçando veementemente discursos com subtextos eróticos. Ao mero sinal de que esses artistas estejam sendo sexualmente <i>objetificados</i> pela via do discurso, pode ter certeza de que elas reagirão mediante enérgica censura. Logo no início do livro, há uma frase que me pareceu descrever bem a situação das fãs de kpop: <i>(...) uma criança com tesão retesando seu arco: como o jovem Eros. </i>A maioria segue uma premissa discursiva bastante pueril que nega a lógica do desejo; enquanto os artistas, cientes disso, devolvem discursos ora infantis, ora transbordantes de <i>Eros</i>. [Claro, há exceções - fanfics, fotos eróticas via IA, ships homoeróticos entre Idols - porém, ao menos no contexto público, prevalece a má fama dessas iniciativas.] Esse é um ponto que me provoca muita estranheza nesse diálogo, pois os eu-te-amo's (do Idol e da fã) claramente partem de lugares e intenções comunicativas distintas e, a despeito disso, se encontram num ponto que garante a eficácia comunicativa. É o verdadeiro prodígio linguístico k-poper.</p></div><div style="text-align: left;"><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"</span></i></b><i style="font-weight: bold;"><span style="color: #cc0000;">A cada instante do encontro, descubro no outro um outro eu mesmo (...)"</span></i></div><div style="text-align: left;"><span>Dia desses esbarrei num debate no qual algumas fãs reclamavam e tripudiavam dos incessantes eu-te-amo's durante lives e fan calls. Houve quem se colocasse num aparente patamar superior por preferir investir o tempo numa conversa mais, digamos, produtiva e intelectual com o Idol, perguntando o que eles estão assistindo, informações sobre os conceitos das músicas, seus gostos etc. Tadinhas, mal sabem (ou sabem) que incorrem no mesmo discurso amoroso, considerando-se que <i>o balanço de seus gostos comuns é uma verdadeira cena de amor. </i>Fã e idol <i>não se conhecem e precisam se contar: Eis o que sou. É o gozo narrativo.</i> Tanto é verdade que, basta o Idol soltar um gosto que não bate com o delas, e prontamente o discurso amoroso dá lugar àquele do desconforto, da estranheza. Por falar nisso, vale registrar que, conforme Barthes, o apaixonado é um ouvinte monstruoso, o que resulta numa trabalheira danada aos Idols. Talvez explique porque eles prefiram restringir a conversa com as fãs aos eu-te-amos, pois quem cancelaria um amor por causa de um eu-te-amo? </span></div><div style="text-align: left;"><span><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span><b>💖 <span style="color: #cc0000;"><i>"(...) amamos primeiro um quadro"</i></span></b></span></div><div style="text-align: left;"><span>Considerando-se a enorme quantidade de Idols, costuma vir-me a pergunta: por que essa mina ama esse/essa, e não aquele/aquela? Aliás, por que ela ama? Barthes me esclareceu tratar-se simplesmente de um arrebatamento, é um detalhe da imagem que arrebata, alguma coisa se ajusta exatamente ao desejo da pessoa — <i>é a voz, a queda dos ombros, a silhueta esbelta, o jeito de sorrir</i>. Nem sempre o quadro é visual, mas sonoro: pode ser um verso cantado, uma frase dita ou uma construção sintática que morará na pessoa como uma lembrança (com alguma vergonha, assumo que esse foi meu caso). No entanto, antes disso é preciso estar disponível, estar propícia ao rapto, pois <i>ninguém se apaixona sem que o tenha desejado</i>. Isto posto, não surpreende que as empresas de K-pop invistam pesado na estética visual e sonora, sempre atentas à direção por onde caminha o desejo da maioria. A existência dos tais <i>"concepts"</i> — o conceito, o tema e as características estéticas do conjunto visual de cada novo lançamento — demonstra bem isso; quer dizer, a estética dos grupos não fica congelada no tempo, mas tenta se moldar aos desejos flutuantes. Outro aspecto significativo nesse processo é que <i>o ser amado é desejado porque um outro ou outros mostraram que ele é desejável, </i>o que implica dizer, teorizo, que quanto maior o apelo/sucesso de um Idol, maiores as chances dele seguir arrebatando mais e mais corações - numa progressão geométrica, talvez. <i>A cultura de massa é uma máquina que mostra o desejo: eis o que deve lhe interessar.</i> Poxa, eu mesma investi no K-pop apenas porque não parava de ouvir uma galera legal martelar sobre as maravilhas desse universo. </span></div><div style="text-align: left;"><span><br /></span></div><div style="text-align: left;">Durante a pesquisa de campo, me espantei ao deparar-me com o discurso da deliberação, mediante o qual a pessoa decide se amará ou não um Idol — é a fase durante a qual escrutinam todo o passado, presente e futuro do artista, num verdadeiro teste de qualidade artística e, pasmem, moral. Aliás, a expressão "tornar-se fã/to become a fan" não dá conta de expressar a intensidade da relação, de modo que adotam o verbo <i>"to stan"</i>. Elas deliberam se irão <i>"stan"</i> o Idol. Uso a palavra em inglês porque, para além de não saber se existe equivalência exata em nossa língua, ainda não entendi o que exatamente significa <i>"to stan"</i> um Idol. Captei tratar-se de algo bastante sério, um quase voto eterno de máxima devoção, fidelidade e amor. [O papo lembra muito a deliberação que antecede uma conversão religiosa que, uma vez feita, não costuma ter volta.] Embora eu ache essa postura estranhíssima, os fragmentos de Barthes comentam haver um tanto de mito na ideia de amor à primeira vista: <i>"Depois de tê-la olhado por muito tempo, decidiu-se a amá-la. O quê? Vou deliberar se devo ficar louco (o amor seria essa loucura que eu quero)?"</i> Para muitas fãs de kpop, a resposta é sim, elas querem e escolhem a loucura. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span><b>💖 <span style="color: #cc0000;">"<i>Quando a imagem se altera, o invólucro da devoção se rasga, um tremor revira minha própria linguagem."</i></span></b></span></div>Conforme adiantei, as fãs são ouvintes monstruosos e, via de regra, a imagem do Idol se altera diante delas pela via da linguagem — porém suspeito que isso vale sobretudo para as fãs ditas internacionais, visto que as fãs coreanas parecem responder mais às rupturas visuais (flagras, notícias com fotos). Caso o Idol diga uma palavra diferente do roteiro ou emita uma opinião que não casa com a moral da fã, com a fantasia construída, então elas <i>ouvem rugir de modo ameaçador todo um outro mundo, que é o mundo do outro — a apaixonada recusa-se a reconhecer a divisão de imagens, a alteridade do outro</i>. É uma contradição perturbadora: ao mesmo tempo que as fãs recepcionam passivamente as narrativas professadas pelo Idol amado (ou pelas próprias empresas), também trata-se de uma devoção suave que se rasga facilmente diante de ínfimos indícios de alteração na imagem fantasiada. Eu observo esse comportamento discursivo e fico besta que alguns Idols tenham coragem de dizer qualquer coisa que não seja o bendito eu-te-amo (tão seguro, pois tão vazio). A demanda exige-lhes treino, e as empresas se encarregam disso. É outro ligeiro paradoxo linguístico: o diálogo frequente precisa ocorrer a fim de preservar o elo do desejo, contudo é por meio dele que tudo pode ruir. <div><br /></div><div><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"Solicitada a definir o objeto amado, e sofrendo as incertezas dessa definição, a máquina de linguagem fabrica sua cadeia de adjetivos." </span></i></b><br />Esse foi um trecho de grande argúcia do Barthes, dado ser certeiro em relação aos discursos das fãs no espaço público; o qual transborda de adjetivos que não informam nada para quem está fora do sistema amoroso. Inclusive, há um fragmento intitulado <i>"Adorável"</i> — "(...) <i>palavra tola. (...) não abriga nenhuma qualidade, a não ser o tudo do afeto. Ao mesmo tempo que diz tudo, diz também o que falta ao tudo." —, </i>que é uma espécie de bordão do meu Idol favorito. Desconheço o contexto, mas creio que resultou das frequentes menções dessa palavra pelas fãs anglófonas (<i>Adorable</i>), e também porque o som em inglês soa engraçado para ele, aparentemente remetendo ao som da expressão coreana que designa mau cheiro. [P.S.: já que estou falando sobre linguagem, acrescento que me chama atenção o quanto coreanos acham engraçadas certas sonoridades da língua inglesa].</div><div><br /></div><div><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"O incidente é fútil (é sempre fútil), mas atrai para ele toda a minha linguagem."</span></i></b></div><div>Durante minhas andanças pelo reddit, me desconcerta a seriedade com que a galera conversa sobre k-pop, provocando-me a sensação de que discutem, sei lá, física quântica. Qualquer mínima banalidade desencadeia discussões, teorias, definições, conceitos, regras. — <i>Tudo é solene: não tenho noção das proporções. — </i>Fico fascinada e gasto horas lendo os papos da galera.</div><div><br /></div><div><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"Quero ser o outro, quero que ele seja eu, como se estivéssemos unidos, (...)"</span></i></b></div>Pincei esse fragmento porque, dentre as passagens no livro de Barthes, é o que desponta como possível resposta às intrigantes perguntas:</div><div>1. Por que as fãs investem tanto tempo e dinheiro comprando tudo que lançam? E acredite: as empresas de k-pop lançam coisas <b><u>todos.os.meses, </u></b>sejam álbuns, merchandising, shows, fan-meetings, fan-signs, fan-calls, produtos de publicidade. Caso a mina seja fã de mais de um grupo, o risco de ruína financeira é real. Li discussões em que elas assumem reservar mensalmente parte dos salários para estes gastos (e não é pouco). Eu mesma fico abestalhada com o dinheiro que já soltei para esses caras. Ah, e também acredite [*vi com meus próprios olhos, no show ao qual fui]: elas compram <b><u>tudo mesmo</u></b>. </div><div>2. Por que as fãs se preocupam tanto com o sucesso dos idols? Ao que parece, muitas recusam ser fã de um grupo <i>"flopado",</i> de pouco sucesso. Seria a lógica "se os outros não desejam, eu também não desejo"? Amar um flopado significaria que elas próprias seriam flopadas? Elas são obcecadas com <i>charts</i>, números de vendas, número de visualizações dos vídeos, número de seguidores; é quase como se o sucesso do Idol representasse o sucesso delas mesmas. É muito doido. </div><div><br /></div><div><b>💖 <span style="color: #cc0000;">"</span></b><i><span style="color: #cc0000;"><b>A figura visa à dialética da carta de amor, ao mesmo tempo vazia (codificada) e expressiva (cheia de vontade de significar o desejo)"</b></span></i></div><div>Dia desses uma fã perguntou se era possível enviar uma carta ao Idol e queria saber se funcionários da empresa liam as cartas antes de repassá-las aos artistas. Assim, pode ser excesso de cinismo de minha parte, porém afirmaria com tranquilidade: é óbvio que esses Idols não leem essas cartas, gente. Quando Idols aparecem em aeroportos, sempre tem um punhado de fãs entregando cartinhas pra eles (eita, será que tem grana dentro?). O fragmento me fez lembrar daquelas cartas em rolo, com quilômetros de papel no qual a pobre fã escreveu à mão inúmeros eu-te-amo's. Ainda escrevem esse tipo de carta? Nas imagens de k-pop, nunca vi. Ah, como também nunca vi a performance do choro.</div><div><div><br /></div><div><div style="text-align: left;"><b>💖 <i><span style="color: #cc0000;">"A fofoca reduz o outro a ele/ela, e essa redução me é insuportável."</span></i></b></div><div style="text-align: left;">Xi, nem pense em fofocar na frente das fãs — na verdade, elas são mais afeitas à palavra "<i>especular"</i>. Desencoraja-se com rigor qualquer tipo de especulação — e a margem é estreita —, o que é ótimo para as empresas, pois significa que a maioria das fãs toma por lei tudo o que os Idols dizem <u>e o que não dizem</u>. Nesse sentido, questionamentos em fóruns de discussão costumam ser rejeitados, dado representarem blasfêmias que meramente escondem a dúvida e críticas ao Idol amado. À figura amada, só cabem adjetivos elogiosos, uma vez que perfeita. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖 <i><span style="color: #cc0000;"><b>"Lufada de linguagem durante a qual (...) é o amor que o sujeito ama, não o objeto."</b></span></i></span></div><div style="text-align: left;">Este é outro fragmento no qual sinto Barthes denotar extrema agudeza. Neste ano, paguei para assistir ao streaming de um dos tais "fan-meetings" [evento onde rola uma ou outra performance musical, entremeada por muito papo furado e supostas palhaçadas fofinhas] e acho prudente evitar discorrer sobre o tópico, pois certeza de que eu soaria feito uma velha amarga. Digo apenas que aquilo que vi provocou a forte impressão de um encontro no qual Idol e fã celebram o amor mútuo. Sim, achei tudo bizarro.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: center;">💖 </span>O assunto rende, porém encerrarei o post aqui. No entanto, visto que prosseguirei a pesquisa de campo, o tema poderá retornar ao blog. No mais, colarei abaixo o print de uma postagem fabulosa do reddit que ajuda a desconstruir o mito de que fãs de k-pop são todas mocinhas ingênuas, enganadas pelo sistema: </div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-UgQuKCxU9jR3G6KIURCCNhyphenhyphen1Byr6wtHoPM_QG1Bo35DPoXgl1hpQa609JYDESrob5yWEozrkwjHZQSzLeQa0A3SHwJ-VyXHKfH-xN3yuQaRku_EA5edQ2JmXeQ24JnSzFjV09oihTusXAJqZ0dsiG1O-D5997hp8_HD9JfsHkB7PVz6ylbE8URZl/s806/fan%20culture%20-%20k-pop.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="110" data-original-width="806" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-UgQuKCxU9jR3G6KIURCCNhyphenhyphen1Byr6wtHoPM_QG1Bo35DPoXgl1hpQa609JYDESrob5yWEozrkwjHZQSzLeQa0A3SHwJ-VyXHKfH-xN3yuQaRku_EA5edQ2JmXeQ24JnSzFjV09oihTusXAJqZ0dsiG1O-D5997hp8_HD9JfsHkB7PVz6ylbE8URZl/w640-h88/fan%20culture%20-%20k-pop.png" width="640" /></a>Traduzindo +-:<i> "A maioria dos Idols pode ser considerada falsa (fake), mas desde que façam isso direito, eu não me importo."</i> Ou seja, talvez prevaleça nos <i>fandoms</i> o mais puro espírito Blanche Dubois: <i>não queremos realidade, queremos fantasia</i>. </div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div></div><div style="text-align: left;"> <span style="text-align: center;">— Ah, Barthes, obrigada e: 사랑해 ♥︎.</span></div></div></div><div style="text-align: left;"></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-81629607803419206212023-11-03T13:36:00.007-03:002023-12-11T20:45:15.289-03:00André Kertész - On Reading (*fotografia)<div style="text-align: center;">[*folheando e conversando groselha sobre o livro:]</div><div style="text-align: center;">[** começo a folhear no tempo 05:25 do vídeo.]</div><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/vWrbv0DqXjA?si=p1hT6c8o0CZlnXDE" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-8722668094094419082023-08-20T16:38:00.015-03:002024-01-31T02:41:06.486-03:00日本海<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv0mKYGMlJjpDHjdtUbXtl0TH5cjlgt_ggs8dp45m-KlCJTQ6pn427jDDy0WvqgWgB6_IKFDIN1lSeu_u1caX4W-i6E5Ei9hgz88Qvyuh2mpNXHVCt20WzL0iFpsPKzQgzjc-BchjHLrtqjyDfHjEDIzQlVK4C0AYh1RY2gJSnc2-44UuwSw3ICPVk/s552/hokusai%202.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="552" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv0mKYGMlJjpDHjdtUbXtl0TH5cjlgt_ggs8dp45m-KlCJTQ6pn427jDDy0WvqgWgB6_IKFDIN1lSeu_u1caX4W-i6E5Ei9hgz88Qvyuh2mpNXHVCt20WzL0iFpsPKzQgzjc-BchjHLrtqjyDfHjEDIzQlVK4C0AYh1RY2gJSnc2-44UuwSw3ICPVk/s16000/hokusai%202.png" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>A Grande Onda de Kanagawa</i> - Hokusai</td></tr></tbody></table><div><br /></div>Em <i>Fragmentos de um Discurso Amoroso</i>, Roland Barthes escreve que a pessoa apaixonada recebe tudo que é novo e incômodo não como fato, mas como signo que é preciso interpretar. Certo; então assumo que mais uma vez bancarei a tola apaixonada, pois afirmarei que o Mar do Japão está me chamando. Quer dizer, ao menos é assim que interpreto as recorrências marítimas japonesas em meu percurso. Nesta postagem, porém, evitarei o modo apaixonada <i>hard</i>, pois não acrescentarei outras interpretações, não elaborarei significados. Por enquanto, me sinto compelida a somente anotar o convite que recebo, numa espécie de preparação para um encontro que, se a vida permitir, ocorrerá — em outras palavras, as quais Barthes talvez acrescentasse: tentarei me permitir o gozo.<p style="text-align: center;">🌊</p>A primeira vez que pensei conscientemente acerca do mar no litoral japonês foi durante a final de surf das Olimpíadas de 2020, a qual ocorrera na praia Tsurigasaki, em Ichinomiya, prefeitura de Chiba (costa leste do Japão, oceano pacífico). Não, é lógico que não entendo bulhufas de surf, mas eu estava de bobeira e havia um brasileiro no páreo, Ítalo Ferreira, daí acabei assistindo. Antes de devanear qualquer coisa, recapitulemos a transmissão da disputa:<br /><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/_ul-cd1uX_g?start=29" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Conforme adiantei, não manjo nada de surf, porém foi fácil perceber que aquele mar não estava pra surfista. Era um mar muito, muito mexido, agitado, irritadiço, meio amarronzado, com ondas inconsistentes e mal formadas. Posso estar errada, contudo os comentários do vídeo sustentam minha leitura. Some-se a isso aquele tempo nublado e a areia acinzentada e pronto: fiquei hipnotizada. A primeira impressão, admito, foi a de uma feiura repulsiva, no entanto a imagem rapidamente girou 180 graus diante de meus olhos, e me peguei tomada por uma beleza paralisante. Senti medo daquele mar, porém um medo tão intenso quanto a vontade de nele mergulhar para nunca mais voltar. [*Cabe confessar que me lembrou demais o mar enfezado e feioso de Fortaleza — onde cresci —, o que talvez tenha contribuído para minha forte reação.] Como sou lerda, demorei a atinar que aquele mar, na companhia daquele céu e daquela areia, era a imagem da sombra à qual louva Junichiro Tanizaki. As peculiares cores nos enquadramentos dessa final de surf refletem aquelas dos aposentos japoneses, do <i>tokonoma</i>, da laca, da comida, do chá, do tom da pele/olhos/cabelos daquele povo. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A propósito, meses depois acabei assistindo a um filme japonês lindo que inclui a temática do surf, chamado <i>O mar mais silencioso daquele verão - Ano natsu, ichiban shizukana umi</i> (1991), de Takeshi Kitano. O <i>"silencioso"</i> do título alude em especial ao protagonista, um rapaz surdo-mudo, mas curiosamente acho que o adjetivo descreve bem o mar que vi no filme, um mar em tudo antagônico àquele de Ichinomiya (infelizmente não lembro nem encontrei o local exato da filmagem). O mar apresentado pela obra de Kitano é super calminho, oferecendo ao aprendiz de surfista apenas umas marolinhas desengonçadas e sem ânimo. A julgar pelo desfecho da obra, no entanto, cheguei à conclusão de que jamais podemos subestimar o mar, nem mesmo um mar silencioso feito aquele. [E desejo explicitar: essa reflexão também vale para o protagonista — e para qualquer ser humano, não?].</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqDG90TkguKE2QpqlgFHxzpN6voMPpqJ_op73OymX2ZVOxYZcmS9Zl9jHPne-tqOjkpIv_Ye5njRNY0EYwbRupnUwi4dvojJUYJtXTuREm1ExiJlvgXHkRf9mywFUP4toZjnQdEYMwBlgGpPNFSbMrlxpuarMXs8ERKFne7vDB75pVMtK09s6fNyHg/s1788/a%20scene%20at%20the%20sea.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1006" data-original-width="1788" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqDG90TkguKE2QpqlgFHxzpN6voMPpqJ_op73OymX2ZVOxYZcmS9Zl9jHPne-tqOjkpIv_Ye5njRNY0EYwbRupnUwi4dvojJUYJtXTuREm1ExiJlvgXHkRf9mywFUP4toZjnQdEYMwBlgGpPNFSbMrlxpuarMXs8ERKFne7vDB75pVMtK09s6fNyHg/w400-h225/a%20scene%20at%20the%20sea.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i style="text-align: left;">O mar mais silencioso daquele verão </i><span style="text-align: left;">(</span><span style="text-align: left;">1991)</span></td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">🌊</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCflXxpYIz2D2loKw9vMKhzyIuUyuZcIa75kuUgA0ZKOARoG7Evj0Fk4atuBuuZim7eymVqMcuc-KD9ihTmBBNj7-Tw92wLG6RdOABZnuEM5CE2x75cdKQPKNRbDOGrw2DgkKdlUS2LgRorP9Ppl8mbEPLvJTaP3hx12Cl6oGZPt8bWskyaD1CygYy/s650/O%20pavilh%C3%A3o%20Dourado.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="417" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCflXxpYIz2D2loKw9vMKhzyIuUyuZcIa75kuUgA0ZKOARoG7Evj0Fk4atuBuuZim7eymVqMcuc-KD9ihTmBBNj7-Tw92wLG6RdOABZnuEM5CE2x75cdKQPKNRbDOGrw2DgkKdlUS2LgRorP9Ppl8mbEPLvJTaP3hx12Cl6oGZPt8bWskyaD1CygYy/w128-h200/O%20pavilh%C3%A3o%20Dourado.jpg" width="128" /></a>Avalio que a experiência durante as Olimpíadas de 2020 me ajudou a melhor entender o trecho próximo ao final de <i>O Pavilhão Dourado</i>, de Yukio Mishima, no qual Mizoguchi anseia desesperadamente rever o mar; momento em que o protagonista se encontra num turbilhão de emoções, desnorteado quanto ao que pensar e fazer. Mizoguchi viaja em busca do mar da infância e fica frustrado quando se depara com a intervenção americana no espaço que lhe era tão familiar, o que toma por uma vil e inútil tentativa estrangeira de domar o mar japonês. A personagem decide prosseguir a busca mais adiante, até que finalmente se encontra com o que julga ser o verdadeiro Mar do Japão: "<i>(...) o mar encapelado, sempre irritadiço, o mar raivoso da costa interna do Japão. (...) um mar (...) imperioso e dominador. (...) Sim, esse era o Mar do Japão! A fonte de toda a minha infelicidade e de todos os meus pensamentos sombrios. A fonte de toda a minha feiura, (...) As águas estavam agitadas.</i>" (Tradução: Shintaro Hayashi) Ou seja, o mar e personagem enquanto imagens especulares, profunda conexão. E no aperto, a ele se recorre. Embora essa descrição concebida pela personagem se adeque perfeitamente àquelas cenas das olimpíadas, o mar sobre o qual escreveu Mishima corresponde, na verdade, àquele da costa oeste japonesa, na baía de Maizuro, perto de Quioto.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🌊</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAq-gBhpLCWsuPs0OypD2J1guevq2ufKwmM0rFUcBCiyWBtPSEDq4bSo7RX_7bhZjKUpgrmGNGxhy-l70V6cdkPiK2nV4cfmjfGySpVHSG9H9-Vro36QeAeLmeHQ49FqtHli87Xhlb1dF11wNJ5M0C95Bq-mWVw747KJ-JkZoy1UTf7xPWuiaDvKwk/s1000/naufr%C3%A1gios.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="657" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAq-gBhpLCWsuPs0OypD2J1guevq2ufKwmM0rFUcBCiyWBtPSEDq4bSo7RX_7bhZjKUpgrmGNGxhy-l70V6cdkPiK2nV4cfmjfGySpVHSG9H9-Vro36QeAeLmeHQ49FqtHli87Xhlb1dF11wNJ5M0C95Bq-mWVw747KJ-JkZoy1UTf7xPWuiaDvKwk/w131-h200/naufr%C3%A1gios.jpg" width="131" /></a></div>É curioso que Mishima e Kitano tenham usado o mar japonês como reflexo da paisagem interna de suas protagonistas, sobretudo quando as respectivas imagens assumem extrema oposição. No entanto, a leitura cuidadosa dessas obras facilmente apreende que tanto o delicado silêncio quanto a raiva agitada integram esse mesmo mar (e personagens). Um livro que, a meu ver, destaca muito bem essa ambiguidade é <i>Naufrágios</i>, de Akira Yoshimura. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">No primeiro volume dos <i>Diários de E. Renzi</i>, Piglia registra que, se ele lembra das circunstâncias em que estava quando leu um livro, é prova de que a obra foi decisiva. Transcrevi essa precisa assertiva porque me recordo vivamente do início da leitura de <i>Naufrágios</i>. Eu estava deitada sonolenta na cama, pronta para dormir, todas as luzes apagadas exceto pela luz débil do abajur, e mal pude acreditar no belo quadro que as palavras de Akira Yoshimura (via tradução de Sylvio Deutsch) começaram a pintar em minha frente: costa rochosa contra a qual as ondas do mar quebram com força, faixa de areia estreita, tempo chuvoso, cortejo fúnebre, Japão. Embora eu seja avessa a superlativos, sou forçada a garantir que esse é um dos livros com as mais belas descrições que já li. (Obrigada, tradutor.) A história se passa durante o período medieval japonês, retratando a vida dos habitantes de um vilarejo praiano, que <i>lutavam contra a fome</i>. As minúcias da rotina daquelas pessoas, primorosamente narradas por Yoshimura, demonstram bem a personalidade dúbia do mar, a ambiguidade com que esse enorme volume d'água trata aqueles que decidem viver próximo a ele. A onda que afaga e traz oferendas (ainda que por vias tortas - <i>O-fune-sama</i>), é a mesma que noutra hora é fonte de privação e calamidades. As descrições sobre os perrengues da pesca, atividade ardilosa, foram pra mim um grande destaque, sobretudo a pesca de saurys. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🌊</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMVL-lw0Ca8j0Mb-QKD0ultx14b9iQ_ePo4werqKkqUL_YnfDicJkTgUI1nJQ-Qz5tSnkFp7yMQnSt_rnjW3smTK5xusDrKRU8DDOWBkonWDfbzQLSuRrsmLOTHy6ck00n0oWKWqqsQ6aI0F-qH2pA18JnCbVy5Hv0oFC2U78NRu5BlWOJMkMeqef8/s2560/The%20Passenger%20Jap%C3%A3o.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2560" data-original-width="1727" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMVL-lw0Ca8j0Mb-QKD0ultx14b9iQ_ePo4werqKkqUL_YnfDicJkTgUI1nJQ-Qz5tSnkFp7yMQnSt_rnjW3smTK5xusDrKRU8DDOWBkonWDfbzQLSuRrsmLOTHy6ck00n0oWKWqqsQ6aI0F-qH2pA18JnCbVy5Hv0oFC2U78NRu5BlWOJMkMeqef8/w135-h200/The%20Passenger%20Jap%C3%A3o.jpg" width="135" /></a></div>Richard Parry, num dos breves artigos inclusos no livro <i>The Passenger - Japão</i>, me fez lembrar o último momento de máxima raiva e violência expressos por esse mar que ora me intriga: o Tsunami de 11 de março de 2011. Segundo o autor, após a incomensurável tragédia seguiu-se uma série de aparições de fantasmas das pessoas que se afogaram no tsunami, inclusive casos de possessão. O país foi tomado por um "<i>enxame de fantasmas"</i>. Aqui, vale lembrar o valor à ancestralidade presente na cultura japonesa e a relação distinta que eles têm com a morte, a qual lhes representa<i> quase uma variante e não uma negação da vida. </i>Retornando ao livro de Yoshimura, há uma passagem onde se diz que, com a morte, o espírito parte para um lugar distante nos mares, retornando à vida da aldeia após um tempo. Ou seja, na vila de <i>Naufrágios</i>, a morte é apenas um período de sono profundo, portanto as lápides dos túmulos são posicionadas de frente para o mar, a fim de guiar os espíritos no momento de despertar e retornar. Para além disso, esta fala de Ayane, moça cujo pai falecera vítima do tsunami, também expõe outro lado relevante acerca do fenômeno: <i>"Quando pessoas veem fantasmas, estão contando uma história, uma história que foi interrompida. Elas sonham com fantasmas porque então a história continua ou chega a um desfecho. Se isso lhes traz conforto, é uma coisa boa." </i>(tradução: Érika Vieira) Chamou-me particular atenção a fala do sacerdote budista Kaneta, segundo a qual as histórias fantasmagóricas posteriores à tragédia sempre têm uma conexão com a água. Por exemplo, Parry comenta que, numa comunidade de refugiados de Onagawa, uma antiga vizinha falecida sempre aparecia na sala de estar das casas, a almofada em que se sentava ficando <i>ensopada de água do mar.</i> </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Dado aquele trecho de <i>O Pavilhão Dourado</i>, fiquei pensando sobre o que Mishima acharia das muralhas de contenção de tsunami que o Japão construiu ao longo do litoral. De minha parte, não consigo evitar a temerosa pergunta: é possível conter esse mar?</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🌊</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNk57p2emErtY9LvZit1msQ1WfN4fggMQb38lELJUra8ZziekYVqVbnaT6mta5Re4Gl1qo0lQRBNrizoUzruTyrLXHmcJBSfqCqTl5-m3u9LNxSBgoXu2Zfnxwp_9FPmGO-2WV8EFIIawbhMr9YMHc4tj22SZS8o_XRyV9S9uXzsgqw9LWO45aJ1Q2/s400/the%20waiting%20years%20-%20fumiko%20enchi.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="279" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNk57p2emErtY9LvZit1msQ1WfN4fggMQb38lELJUra8ZziekYVqVbnaT6mta5Re4Gl1qo0lQRBNrizoUzruTyrLXHmcJBSfqCqTl5-m3u9LNxSBgoXu2Zfnxwp_9FPmGO-2WV8EFIIawbhMr9YMHc4tj22SZS8o_XRyV9S9uXzsgqw9LWO45aJ1Q2/w139-h200/the%20waiting%20years%20-%20fumiko%20enchi.jpg" width="139" /></a></div>Para encerrar, incluo a leitura de <i>The</i> <i>Waiting Years</i> (女坂 - tradução: John Bester), livro que me fez ter certeza de que o mar do Japão me convoca à sua presença. Dando asas à imaginação, confabulei que possivelmente a escritora Fumiko Enchi leu <i>As Irmãs Makioka, </i>do Tanizaki,<i> </i>e teria refletido consigo mesma qualquer coisa do tipo: <i>legal esse livro, gostei tanto que escreverei a minha versão, uma que aborde outro tipo de sororidade e de realidade vividas pelas mulheres japonesas</i>. Para dar uma melhor ideia do que quero dizer, descreverei brevemente o pontapé inicial da narrativa: final do período Meiji (colo na minha memória e estimativas), homem de 39 anos manda a esposa para Tóquio, acompanhada da filha do casal, encarregada de comprar e trazer pra casa uma amante de quinze anos. A patifaria não encerra aí, é ler para crer. O livro é espetacular — em especial a surpreendente serenidade e delicadeza da narrativa, em contrapartida à vida fatídica das mulheres da história — e não teria espaço neste específico post, não fosse o surpreendente recado final que a esposa, então convalescente, manda para o marido: <i>"Diga a ele que despeje meu corpo no mar. Despeje-o..." </i>[*Vale recordar que, em <i>Naufrágios</i>, é dito que a vila só lançava ao mar os corpos de suicidas.] Segundo o narrador de Enchi, esse recado golpeou o marido com a força plena das emoções que a esposa esforçou-se em reprimir durante os últimos quarenta anos, choque suficiente para dividir o ego do homem em dois. </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🌊</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Afinal, que mar é esse, Japão? Quando ele <i>quebra na praia, também é bonito </i>feito o nosso? Parece que sim, ainda que de uma maneira particular. E quando quer ser feio, aparentemente ele não mede esforços para atingir a máxima feiura, não é? Mar silencioso e delicado, tão generoso, no entanto arredio, raivoso e sombrio; infelizmente propenso a momentos de fúria avassaladora. Vida e Morte. É isso, Japão? Sinto-me tocada a ponto de dividir com vocês uma música favorita, um <i>lugar bem juntinho ao mar</i>. Adoraria receber, em troca, uma música japonesa que cante o mar daí. Aguardarei o encontro. </div> <iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="152" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/track/3VGYCY6uneaDXTVBNFzGjN?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe><div><b>**ATUALIZAÇÃO EM 21/09/2023: </b>PQP!; acabo de descobrir que a <b>banda japonesa Kikagaku Moyo</b> fez uma excelente versão (2022) para essa música do Erasmo! AAAAAHHHHAAAAAHH!!! E eles mantiveram o título em português! AAAAHHH! Meu deus do céu, estou sem palavras (talvez chorando um pouquinho). E não é que o encontro, então, ocorreu?! Puxa, não conhecia a banda, mas salvei para explorar sua discografia. Então, para a linda versão japonesa de <i>Meu Mar</i>, é só apertar o play: [*crédito da informação: Barcinski]</div>
<iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="152" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/track/6KB1dIKogoGFUS6PSmWtCi?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-3383581118622697442023-07-18T23:41:00.011-03:002023-10-29T22:42:39.430-03:00Oh you can get lonely, and animals help with that<p>Num exercício de impertinência, resolvi publicar este post em resposta não solicitada à<a href="https://outracozinha.substack.com/p/bestiario" target="_blank"> newsletter <i>Outra Cozinha,</i> da autora Carla Soares; especificamente à edição intitulada <i>Bestiário </i>(link aqui)</a>. Nessa carta de 11/06/2023, Carla escreve sobre <i>os bichos que lhe aparecem </i>na chácara onde mora, registrando <i>as lembranças dessas relações em pequenos trechos de diário</i>. O texto, como habitual da escritora, é uma preciosidade e, após lê-lo, senti comichão para escrever brevemente sobre os bichinhos com os quais cruzo durante os passeios que faço pelo parque do bairro. Naquele que é <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2019/10/observar-animais-john-berger-rilke-helen-macdonald-falcao-ken-loach-kes-imbued-life-russell-hoban-marlen-haushofer-wall-orides-fontela-damon-albarn.html" target="_blank">um de meus posts favoritos deste blog — <i>What do guinea pigs do?!</i> (link aqui)</a> —, compartilhei reflexões relacionadas à observação de animais; portanto esta postagem também dá continuidade àquela conversa. </p><p>No breve comentário escrito por Wisława Szymborska a respeito do livro <i>Book of Mysteries</i>, de Thomas de Jean, acredito haver uma boa explicação do porquê eu [e Szimborska, e possivelmente Carla, e os autores citados em meu primeiro post e aquelas que citarei a seguir] me perco observando animais. Szymborska diz que <i>Book of Mysteries</i> é um compilado daqueles mistérios que, de tão recorrentes, talvez já tenham virado meras banalidades: manifestações fantasmagóricas, pessoas abduzidas à lua, visitas alienígenas, monstro do lago Ness, ovnis. A poeta polonesa esclarece que seu enfado com o livro não significa que ela seja uma racional cabeça-dura incapaz de conceber a possibilidade de coisas estranhas ocorrendo no mundo; mas exatamente o contrário, uma vez que Szymborska não crê na ideia de uma Terra ordinária. Para a autora, uma árvore crescendo com folhas farfalhantes é enigma suficiente. Quanto a mistérios, portanto, assim ela finaliza o texto (tradução Polonês → Inglês: Clare Cavanagh; Inglês → Português: minha):</p><p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3eld_6Ov4nm9YCkmD12NmGiydCGicadAKR7EKMfRS-KP6ZqSYhQ1U7JaJXOwRdeMWW7C7HvEvp-7XMCEtyhR2f6d81tBqQDRAo-jMR3wHOeu9KZHRtTe1LTk_K7Keo3M1myrwgSE28AaNx83Udi6nA2bNe1Jw87cYvKx2Eft6KajSwUiUhfQqLePp/s1000/non%20required%20reading.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="646" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3eld_6Ov4nm9YCkmD12NmGiydCGicadAKR7EKMfRS-KP6ZqSYhQ1U7JaJXOwRdeMWW7C7HvEvp-7XMCEtyhR2f6d81tBqQDRAo-jMR3wHOeu9KZHRtTe1LTk_K7Keo3M1myrwgSE28AaNx83Udi6nA2bNe1Jw87cYvKx2Eft6KajSwUiUhfQqLePp/w129-h200/non%20required%20reading.jpg" width="129" /></a></i></div><p><i>"Outros podem requerer temperos mais pungentes, como, por exemplo, o sapo de Liverpool que supostamente rastejou para fora de um bloco de granito quebrado e sobreviveu por várias horas. Um sapo na grama já está bom para mim."</i></p><div><br /></div>Szymborska tem razão, pois os animais com os quais convivo no parque apresentam-me mais mistérios do que jamais serei capaz de desvendar. Contudo, em vez de me apoquentar com isso, deixo que a paz me invada, enquanto me abismo nas charadas que eles me lançam.<div><br /><div style="text-align: center;">🐱</div><br />Antes de prosseguir com minhas próprias lembranças, gostaria de anotar dois outros livros que <i>Bestiário</i> me trouxe de volta à memória. Carla começa a newsletter nos contando sobre seis gatos da região que gradativamente começaram a visitá-la e que, aos poucos, foram se aconchegando; destacando-se aqueles que ela nomeia Caju e Cajá (ótimos nomes, por sinal). Nunca convivi com gatos, portanto o pouco que sei a respeito deles provém das muitas horas gastas vendo vídeos, fotos e gifs de gatinhos na internet. Do que aprendi, o que mais me fascina é a doçura com que os donos narram as diferentes personalidades de cada um de seus gatos; relatos sempre repletos de detalhes suficientes para que minha imaginação construa toda uma concreta e palpável subjetividade. A maneira com que Carla descreve as diferenças dos jeitinhos de Caju e Cajá me lembrou um dos textos mais marcantes do livro <i>The Summer Book</i>, de Tove Jansson (autora dos Moomins). Numa pequena ilha escandinava, moram Sophia e sua avó e, tal qual ocorrera com Carla, um gato ainda filhote se aproxima da casa das duas e vai ficando. Sophia morre de amores pelo gato — a quem chama Moppy —, porém, para sua tristeza, o felino não lhe dá a menor bola. O diálogo da criança com a avó é de uma ternura esmagadora (tradução Sueco → Inglês: Thomas Teal; Inglês → Português: minha):</div><blockquote><div><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_-Vm7TAVamf6epRfxK4AfdX7jZrpbwhnHpOGSGyPo_utmuuB7IysrfOmPSdMNgg5vPMRGx6PiqIe6sKvXMxF7PgdiRBPucWqX_e2GsRAJtL7b1Ihzgym2lcD5zLVG_P8sTKNjRbMkaoayj8Ij_SEYNo18Y-w-X_THZaLX3QYrzaS68tuU2BRZmZo/s336/Summer%20Book%20tove%20jansson%202.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="226" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_-Vm7TAVamf6epRfxK4AfdX7jZrpbwhnHpOGSGyPo_utmuuB7IysrfOmPSdMNgg5vPMRGx6PiqIe6sKvXMxF7PgdiRBPucWqX_e2GsRAJtL7b1Ihzgym2lcD5zLVG_P8sTKNjRbMkaoayj8Ij_SEYNo18Y-w-X_THZaLX3QYrzaS68tuU2BRZmZo/s320/Summer%20Book%20tove%20jansson%202.jpg" width="215" /></a></div><br />"— É engraçada essa coisa de amor. Quanto mais a gente ama, menos somos amados de volta.</i></div><div><i>— É verdade. E o que fazer?</i></div><div><i>— A gente segue amando — diz Sophia com ar ameaçador — A gente ama cada vez mais e mais intensamente." A avó suspira e nada diz. </i></div></blockquote><p>Contudo, quando Moppy cresce e começa a caçar pela ilha, frequentemente trazendo presentinhos ensanguentados pra dentro de casa, Sophia fica furiosa e passa a desprezá-lo. A criança não entende por que Moppy mata pássaros - tão agradáveis e bonzinhos -, em vez de ratos - tão repugnantes; chegando a desejar que o gato nunca tivesse nascido. Daí, um barco ancora na ilha e os amigos tripulantes se queixam de que o gato que adotaram para caçar ratos simplesmente não caça nada. Ou seja, faz-se a oportuna troca e finalmente Sophia tem para si um gatinho meloso, que sempre dorme e ronrona satisfeito no colo. Fim da história? Na verdade não, pois a menina rapidamente se enfastia diante da personalidade morosa do novo gato. O diálogo final com a avó é outro primor:<br /><i></i></p><blockquote><i>"— Eu quero Moppy de volta!<br />— Mas você sabe como será.<br />— Vai ser horrível - diz Sophia com ar austero -, mas é Moppy que amo." </i></blockquote><p></p><div style="text-align: center;">🐱</div><div><br /></div><div>Um livro que, a meu ver, alinha-se bastante à proposta do texto de Carla (e à desta postagem, espero) é o <i>Pilgrim at Tinker Creek. </i>Nessa obra,<i> </i>Annie Dillard quase aparenta falar da suposta <i>floresta encantada </i>referida inicialmente no texto de Carla, mas a realidade é que Dillard mal dá um passo para além de sua residência urbana, tão somente relatando de forma impressionante — olhar super atento, uma escrita elaborada e poética — os encontros que estabelece com os bichos de um pequeno córrego em Virgínia, nos Estados Unidos. Quer dizer, de fato a premissa de Szymborska procede, pois basta olhar pro lado com um pouquinho de atenção, para perceber que a chácara de Carla no interior do Brasil (MG?), o córrego americano de Dillard e meu pequeno parque em Brasília oferecem mistérios suficientes para transformá-los, sim, em verdadeiras florestas encantadas. Conforme diz Dillard, estamos cercados por um espetáculo atrás do outro, no entanto é somente um show por cliente e, se piscar, perdeu. (Inclusive, Dillard é parcialmente culpada por eu ter comprado uma câmera fotográfica.) As histórias que Carla conta sobre os insetos que cruzam seu caminho foram o que provavelmente me catapultou de volta ao texto de Dillard, pois <i>Pilgrim at Tinker Creek</i> é repleto de histórias acerca desses animais; algumas bem assustadoras — aqui, falo no sentido "puta merda, a existência pode ser uma coisa muito, muito maluca". Para ilustrar este post, escolho o singelo causo das aranhas, pois a reflexão compartilhada por Dillard — simples, mas tão provocadora — mexeu bastante comigo (tradução minha):</div><div><blockquote style="font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoG4u3MRIwKjQuzgSgBigc9hdKqPr9OoTYJmHyHDzQyVgk9BAnj07_HHJ9V9kJOiIbb5Ya8k9Sc9t3Zdvm1sowYw4hck8fD7Z4ykJfXvvGqgTvCBbzv1tetIJSY4rslUbyy9UWKX85cn_muM2kBO1KnhlxOoH7MQ05pDpsqW2aQEFC7glv3B0LV9IV/s276/pilgrim.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="276" data-original-width="183" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoG4u3MRIwKjQuzgSgBigc9hdKqPr9OoTYJmHyHDzQyVgk9BAnj07_HHJ9V9kJOiIbb5Ya8k9Sc9t3Zdvm1sowYw4hck8fD7Z4ykJfXvvGqgTvCBbzv1tetIJSY4rslUbyy9UWKX85cn_muM2kBO1KnhlxOoH7MQ05pDpsqW2aQEFC7glv3B0LV9IV/w133-h200/pilgrim.jpg" width="133" /></a></div><br /></blockquote><p style="font-style: italic;"> "Deixo as aranhas correrem livres pela casa. Calculo que um predador que espera sobreviver de quaisquer pequenas criaturas que possa encontrar num espaço de 0,1 m², no canto do banheiro onde a banheira alcança o piso, precisa de meu apoio."</p><p>Em retrospecto, suponho que eu não deveria ter jogado pela janela a pequena lagartixa que apareceu no banheiro de casa dia desses. Pensando bem, o texto de Dillard não mexeu tanto comigo? Em minha defesa, ~teoricamente~ não a matei, logo...</p><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">🐱</div><div><br /></div><div>Certo, agora relatarei meus breves encontros. Incluirei uma foto e/ou vídeo para todos os animais mencionados — para provar, pois, do contrário, suspeitarão que falo de um zoológico, e não de um minúsculo parque de BSB —, contudo são todas realmente de péssima qualidade, visto que foram feitas com um celular <i>pebinha</i> que carrego na rua, tendo sempre de ser ligeira o suficiente para tirá-lo da pochete e capturar as cenas. Além disso, os animais do parque se comportam como o Moppy: são todos da mesma cor do espaço que habitam. Ao observá-los, espero que também eu adquira as cores do parque. </div><div><br /></div><div>🐾 <b>CARCARÁ</b></div><div style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvHkGGqV69sep3bapXB287bRKnadmNxuNNE-M_j8xFCv_oCOn8ljIgR1pa4WVQBMSHoMLiQtshL3s_bY5ejEFgvdb-PZ5b7tZBcHjP9jvtLl6JxzKbRZ750ArzGs1ursqaQvPMlTXfavUk0Dolp8dcVGFnOqJTQNdTQEaeJtYc4MkOSCNerPorxWCF/s1335/CARCAR%C3%81S.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1081" data-original-width="1335" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvHkGGqV69sep3bapXB287bRKnadmNxuNNE-M_j8xFCv_oCOn8ljIgR1pa4WVQBMSHoMLiQtshL3s_bY5ejEFgvdb-PZ5b7tZBcHjP9jvtLl6JxzKbRZ750ArzGs1ursqaQvPMlTXfavUk0Dolp8dcVGFnOqJTQNdTQEaeJtYc4MkOSCNerPorxWCF/s320/CARCAR%C3%81S.png" width="320" /></a><span>Soará estapafúrdio, mas confesso que comecei a me interessar por carcarás depois que esbarrei na aparição desse pássaro no livro <i style="text-align: left;">Os Miseráveis</i>, de Victor Hugo. Eu sei, não faz nenhum sentido a ave ser citada nessa obra, porém garanto que ela aparece, e minha antiga anotação de leitura está na mão para atestar: <blockquote style="text-align: left;">"O Brasil aparece no livro! Quero dizer, mais ou menos: Victor Hugo cita um grupo de saltimbancos que possuíam <i>"(...) um desses temíveis abutres do Brasil que o nosso Museu Real não conseguiu adquirir senão depois de 1845 (...) os naturalistas chamam-no, creio eu, de Caracara polyborus (..)"</i> </blockquote></span>Assim, foi pela superação dessa improbabilidade que Victor Hugo me ajudou a voltar os olhos para esse magnífico animal. O encontro registrado por minha foto foi especial, porque, além de ser um casal (nunca antes o tinha visto em dupla), os dois pareciam me acompanhar — eu sei, eu sei, estou bancando a maluca que se julga a encantadora de carcarás, mas o que posso fazer, se eles me seguiram?! Supus que me acompanharam porque, embora eu me distanciasse dos dois, eu me aproximasse de um possível ninho, entretanto no dia seguinte não localizei nada, logo ficarei com a satisfatória versão <i>Daniela, a encantadora de carcarás</i>.</div><div>🐾 <b>MACACO SAGUI</b></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHxsHyGeoJoMVjS1kGxIZyuzkbFV32I34s07lYtAiITmqTPAXMOmTJbGrZzIxNAc8tQzpxIcZYgLQSE-BHpJAFAaj8Mgh4sANnezQFT8AsG0bec6VFr17-k2Jtc6qTEUc-5JsZbHW495NEZhPKdoIGxmN6PY0vUGe9SGIv0ZQfTjzMyTdStGofG3-K/s486/SAGUI.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="433" data-original-width="486" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHxsHyGeoJoMVjS1kGxIZyuzkbFV32I34s07lYtAiITmqTPAXMOmTJbGrZzIxNAc8tQzpxIcZYgLQSE-BHpJAFAaj8Mgh4sANnezQFT8AsG0bec6VFr17-k2Jtc6qTEUc-5JsZbHW495NEZhPKdoIGxmN6PY0vUGe9SGIv0ZQfTjzMyTdStGofG3-K/s320/SAGUI.png" width="320" /></a>Tem sim um sagui nessa foto, e a quem encontrar, Deus proverá. Veja bem, esses bichinhos são muito desconfiados e lépidos, então é difícil fotografá-los. Na primeira vez que o vi, fiquei apreensiva, pois, burra que sou, achei que só havia sagui na Mata Atlântica. Em outras palavras, não sabia como ele sobreviveria num minúsculo parque seco de Brasília. Fiquei mesmo me perguntando se deveria carregar uma banana para alimentar o pobre macaquinho. Pois enquanto persistia na ignorância [*há espécies habitantes do cerrado brasileiro*], me vi certo dia chorando enquanto caminhava (quem não chora em parque não sabe o que está perdendo), quando dois saguis atravessaram do nada meu percurso, logo à frente. Eu sei, eu sei; agora engato a versão<i> Daniela, a encantadora de saguis</i>, porém, naquela ocasião, tive a certeza de que eles cruzaram de supetão meu caminho para me dizer: <i>Daniela, eu estou bem, tenho até um amiguinho, está vendo? Então, se eu consigo me virar nesse parque seco, você também consegue. Deixa de choro, e boa sorte. </i>Se <i>panz</i>, eles agora aparecem para checar se parei de chorar — e pra ver se eu não trouxe uma bananinha.</div> <br />🐾 <b>CORUJA BURAQUEIRA</b><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGmtgcU3243_l2hCTB5LXh36oCq_289i4mGAihUzLqwnTGisScUNrZdF-7V8nOW7f9TCKy-Buet4JI6Z37BhhJ-NOxdoYbPAB3eziJrSvH-4MeSnlilc2JAIGAULX6vNFotD-xsI7rb1F8l10i5tFU7BHuub645sQbbcrZrcZK6RLOjD9g6DBMvZ-s/s635/CORUJAS.png"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGmtgcU3243_l2hCTB5LXh36oCq_289i4mGAihUzLqwnTGisScUNrZdF-7V8nOW7f9TCKy-Buet4JI6Z37BhhJ-NOxdoYbPAB3eziJrSvH-4MeSnlilc2JAIGAULX6vNFotD-xsI7rb1F8l10i5tFU7BHuub645sQbbcrZrcZK6RLOjD9g6DBMvZ-s/s16000/CORUJAS.png" /></a> </div><div>Essas corujinhas são a coisa mais linda, e as vejo com bastante frequência. Meu encontro favorito com uma delas ocorreu à noite. Eu a avistei pousada numa árvore baixa e, encantada por vê-la tão perto, não me contentei e fui me aproximando. No entanto, quanto mais eu me aproximava, mais a danada girava o pescoço, virando a cara pro outro lado. De imediato, saquei a mensagem e dei meus passos para trás, ao que ela rapidamente voltou-se pra mim, então permitindo que a observasse em toda sua majestade. É sempre uma lembrança pertinente: o show (palavra adotada por Dillard) é nos termos deles, não nos nossos.</div><div><p>🐾 <b>MARITACA</b><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEherbccRdN2guJ0PN71J_uWFly0kCOOhv2A0jE3KV6u2w0-95Q2mwDVpp6fbr3tCDqPPjVRAouEvNaMe1RaiP8anhkLvMRaYh0klirxHSUfrneLCNQwJZfhRUlQ0cPF2J941UckRGX3vxcntVPlLe2EU3NOyFCLfvxsI8ix-uZMXWC6pj8inb2SfI_i/s442/MARITACA%20VESPA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="442" data-original-width="429" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEherbccRdN2guJ0PN71J_uWFly0kCOOhv2A0jE3KV6u2w0-95Q2mwDVpp6fbr3tCDqPPjVRAouEvNaMe1RaiP8anhkLvMRaYh0klirxHSUfrneLCNQwJZfhRUlQ0cPF2J941UckRGX3vxcntVPlLe2EU3NOyFCLfvxsI8ix-uZMXWC6pj8inb2SfI_i/w311-h320/MARITACA%20VESPA.png" width="311" /></a></div>Mais as escuto do que as vejo — pense num pássaro barulhento —, porém vê-las é sempre um deleite que me deixa muito feliz. Gosto do fato de que estão sempre em dupla [este post está me fazendo perceber que a mensagem que recebo é o número 2, hein], e pude identificar que, quando se alimentam, uma delas fica de tocaia, enquanto a outra vira de ponta-cabeça para beliscar uma frutinha ou, conforme ilustrado por minha foto, invadir um vespeiro (acho? rs). Tive a sorte de ver isso duas vezes e mal pude acreditar na audácia da ave. É lógico que o ninho estava ocupado, pois havia inúmeros insetos voando ao redor. (~comidinha~)<br /><br /><br />🐾 <b>QUERO-QUERO</b><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjGyhB6QgC1vSMBLuT2YFNk-WnZrHZKNY7RKoW8UUope04jVYH9kEKmpHFQvY1YiAPtrlMQdZb90BR1kXm-UB1Onr1RW1DcgwDXBesV7311zHxqcOL9rvwkqGt4IAXyF_qtz-gMVMRzuZ9nMgay7pNQVCI8xtZy0xK9LcDH9-jjaMp-6uu1z-do7fm/s836/QUERO%20QUERO%202.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="409" data-original-width="836" height="157" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjGyhB6QgC1vSMBLuT2YFNk-WnZrHZKNY7RKoW8UUope04jVYH9kEKmpHFQvY1YiAPtrlMQdZb90BR1kXm-UB1Onr1RW1DcgwDXBesV7311zHxqcOL9rvwkqGt4IAXyF_qtz-gMVMRzuZ9nMgay7pNQVCI8xtZy0xK9LcDH9-jjaMp-6uu1z-do7fm/s320/QUERO%20QUERO%202.png" width="320" /></a></div>Esses eu apelidei de Drama Queens, pois é um tremendo bicho estressado. Se eu ficar mais de três segundos olhando pra eles, param qualquer coisa que estejam fazendo (coitados, só fazem uma coisa: procurar comida), me encaram de soslaio, começam a berrar escandalosamente e se afastam o quanto antes. Justamente por isso costumam me abrir um sorriso e, de minha parte, tento não estressá-los. Simpáticos, gosto um bocado deles. E olha só, outra cena de duplinha. Juro que só percebi agora. Na hora de apostar, é dois na cabeça. Haveria alguma outra mensagem nisso?</div><div><p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>🐾 <b>CANÁRIO</b><p></p><p><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/tgzBqhOBRYU" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p><p>Puxa vida, esses passarinhos são incrivelmente fofos. Não andam em duplas, mas costumeiramente em largos bandos, e identifiquei que a hora mais propícia de vê-los, desse jeito no chão, se alimentando e revoando todos juntos quando passamos (tão bonito), é em torno das 15:30h-16h — ah!, creio que é a hora em que os cupins alados voam, né? O intenso laranja no topo da cabeça, em contraste com o amarelo vibrante, me mata demais.<br /></p>🐾 <b>LIBÉLULA</b></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUVQok7WHfdSWsFVRjKMTH6ke4Qsb3zYxI3GuxNPlgQqtG_JpxVvtv1_8d_T6CrJvqoZUHmKHZr3xnA_jtuNaBd0gniivmmFtet77Bv7E1DgBd43yn8CaZJiH9sVkMJh9Qc3eEGM0hnIkub9tqKyd8ucMEFilep01Td8nVbwP5ELZ6BjpgBUsFqrKG/s934/IMG_20220703_140000717_HDR.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="609" data-original-width="934" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUVQok7WHfdSWsFVRjKMTH6ke4Qsb3zYxI3GuxNPlgQqtG_JpxVvtv1_8d_T6CrJvqoZUHmKHZr3xnA_jtuNaBd0gniivmmFtet77Bv7E1DgBd43yn8CaZJiH9sVkMJh9Qc3eEGM0hnIkub9tqKyd8ucMEFilep01Td8nVbwP5ELZ6BjpgBUsFqrKG/s320/IMG_20220703_140000717_HDR.jpg" width="320" /></a></div>O parque é empestado de libélulas. Nunca liguei para esse inseto, porém Dillard me fez virar os olhos para ele, pois é outro que sofre nesta vida <i>maledetta</i>, enganado por superfícies brilhosas que fazem as vezes de espelho d'água (é tudo ilusão nesta merda, amiguinhos). Primeiro, me deparei com essa libélula pousada no galho; depois, tive a sorte de ver o instante exato em que uma delas dava as voltas no preciso galho, para nele pousar graciosamente. Desde então, chamo esse galho especial de Aeroporto das Libélulas.</div><div><br /></div><div>🐾 <b>TUCANOS</b><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDpfSLOfF9fpmAG8RZtG2D3yLxRwm33ejBDrWQEH_dwiYXeI0kTi6uaSs61KIXxe3JnN_Vvi0c4GiWFRzngihZyJyA6PmO5MBdpDw47ADQE_z-pzsYgVY9HB7rHN5kjcHxVEQqenYS9vVC5-zFa7rlYJfh55E_Ke1qfYkMXLp3otRHgkEijjEZBakA/s965/TUCANO.png"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDpfSLOfF9fpmAG8RZtG2D3yLxRwm33ejBDrWQEH_dwiYXeI0kTi6uaSs61KIXxe3JnN_Vvi0c4GiWFRzngihZyJyA6PmO5MBdpDw47ADQE_z-pzsYgVY9HB7rHN5kjcHxVEQqenYS9vVC5-zFa7rlYJfh55E_Ke1qfYkMXLp3otRHgkEijjEZBakA/s320/TUCANO.png" /></a><br />Fui agraciada uma única vez por essa formidável imagem (momento em que atinei o quanto aquele parque é especial), porém foi suficiente para me deixar maravilhada. Era fim de tarde, e o belo tucano parecia estar encantado pela beleza do sol se pondo no céu de Brasília, perdido em seus próprios pensamentos, tão sereno e contemplativo. <br /></div><div><br /></div><div>🐾<b> CAPIVARA</b><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs3ZserPx4qdxjSzFU7NEHk3Clay311Ax0paRGowUTv-EzX5IODAz6shSuyJ-Zil6d3JCyqk08P5irbRwjCti6KBEGoQJOWIQhp2XJOd03_znp7NpkjLrXl5_E9P3Iqzmee72Nvhm8_ClYhG2jyFLgyKiR16SbT8pJJlVLCUdQhZOniw5S4LulYN3P/s1280/CAPIVARA.png"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs3ZserPx4qdxjSzFU7NEHk3Clay311Ax0paRGowUTv-EzX5IODAz6shSuyJ-Zil6d3JCyqk08P5irbRwjCti6KBEGoQJOWIQhp2XJOd03_znp7NpkjLrXl5_E9P3Iqzmee72Nvhm8_ClYhG2jyFLgyKiR16SbT8pJJlVLCUdQhZOniw5S4LulYN3P/w320-h262/CAPIVARA.png" /></a><br />O que eu poderia dizer sobre capivaras que já não se tenha dito? Quando cruzo com elas, sou lembrada de que estresse nenhum nessa vida vale a pena. É bater os olhos, e pensar: taí uma figura que sabe viver. Nessa foto, certa está a danadinha que sequer levanta a bunda do chão para comer — novamente, Deus proverá, a quem localizar a esperta a quem me refiro.</div><div><br /></div><div><div style="text-align: center;">🐱</div><p>Pronto, esses são alguns de meus colegas de passeio. Fiquei triste por não ter nenhuma foto de um joão-de-barro, os quais estão por toda parte do parque (e suas casinhas bem erguidas e arquitetadas). Poxa, só porque são tantos, são menos especiais? Eu sou mesmo idiota. Faltaram também os pica-paus (estonteantes, mas algo difíceis de ver e captar), e aguardo ansiosa a chegada dos tesourinhas. É, suspeito que esta história não acaba aqui, sobretudo porque, conforme disse Sophia, a gente persiste amando mais e mais.</p><p>Por fim, não posso encerrar sem agradecer à Carla Soares pela inspiração para este post e por me mostrar que esse tipo de registro merece ser feito. Novamente, segue o link para a<a href="https://outracozinha.substack.com/" target="_blank"> newsletter <i>Outra Cozinha</i>: clique aqui.</a></p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-46682068204198142442023-06-19T19:56:00.010-03:002024-03-10T00:11:09.956-03:00O Pavilhão Dourado - Yukio Mishima<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBDwzjvZlfAoIHSXwEmaX5TsZRttQcb7lnCuFM3xI84s8HbXx56l5pCLKT_10jRtYAv0le4wfbngvXda0HVLVCj0EsP-0AHUyNhr5tB6E2lP4XY6L0r-rvxHc8m3Ml9wG-bfmdG4n6fPbiSFpxOQJpnv8pasI_uh5bFEIuxnGtxBzXlIrnR5flfA/s549/o%20PAVILH%C3%83O%20DOURADO%20-%20MISHIMA.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="549" data-original-width="357" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBDwzjvZlfAoIHSXwEmaX5TsZRttQcb7lnCuFM3xI84s8HbXx56l5pCLKT_10jRtYAv0le4wfbngvXda0HVLVCj0EsP-0AHUyNhr5tB6E2lP4XY6L0r-rvxHc8m3Ml9wG-bfmdG4n6fPbiSFpxOQJpnv8pasI_uh5bFEIuxnGtxBzXlIrnR5flfA/s320/o%20PAVILH%C3%83O%20DOURADO%20-%20MISHIMA.png" width="208" /></a></div>Nem lembro a última vez que publiquei um post focado em um único livro, porém sinto que <i>O Pavilhão Dourado</i> — meu primeiro contato com Yukio Mishima (tradução: Shintaro Hayashi) — solicita um singelo registro, um desafogar de sentimentos e de banais reflexões que seja. <div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🏯</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">E se eu disser que li o livro sem saber que Mishima se inspirara em um evento real? Fiquei abestalhada quando a galera do Goodreads me contou que a premissa realmente aconteceu. Estava ciente de que a maioria das edificações históricas japonesas se perderam em incêndios (temos, hoje, meras reconstruções), mas que alguém tenha ateado fogo num daqueles templos foi novidade pra mim. E mais abestalhada fiquei ao me deparar com o comentário de uma leitora no qual se afirma que o protagonista é basicamente um <i>incel</i>. Caramba, durante a leitura isso jamais me passou pela cabeça. Então consigo sentir empatia por incel, agora? Ah, pronto, era o que faltava. Pior é que, recapitulando a leitura, encontro diversos elementos textuais que sustentam essa interpretação para a personagem (a narrativa é em primeira pessoa, cabe pontuar), por vezes até um tom reacionário no texto. Além disso, se tomarmos aspectos da biografia de Mishima como suporte acessório, suspeito que ficará ainda mais difícil invalidar em absoluto esse tipo de análise. A despeito disso, prosseguirei titubeante o registro do que me passou pela cabeça durante a leitura da obra.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Mizoguchi era um garoto feio, frágil, gago, tímido, retraído. É certo que, para qualquer jovem, isso representa um entrave árduo de transpor, no entanto algo em Mizoguchi me parece dificultar sobremaneira esse processo: o rapaz tinha uma sensibilidade estética extremamente aguçada — e teorizo que isso o distancia ~um pouquinho~ de um ordinário incel. </div><div style="text-align: left;"><blockquote><i><b>"<span style="color: #0b5394;">Não exagero</span></b> ao afirmar que o primeiro problema com que me defrontei na vida foi a questão da beleza."</i></blockquote></div><div style="text-align: left;"><span style="color: #0b5394;">(<b>Narrador em off e leitor atento: — ele exagera.</b>)</span> Mizoguchi possuía a espantosa habilidade de enxergar beleza nas coisas, de sentir-se arrebatado por momentos diversos da vida, e é por intermédio desse olhar da personagem que a narrativa de Mishima induz o leitor a refletir acerca de experiências estéticas e da Beleza. Nesse contexto, contemplei coisas do tipo (platitudes, mas enfim):</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">🗾 A percepção e a resposta estética dependem de uma série de fatores difíceis de serem controlados e identificados. Uma mesma imagem pode despertar respostas diferentes em pessoas diferentes e, por vezes, uma mesma cena reconstruída em tempos distintos também pode produzir reações divergentes num só indivíduo. Ou ainda, uma mesma cena, num mesmo instante, tem potencial para evocar percepções antagônicas num único observador.</div><div style="text-align: left;"><i><blockquote>"Poderia a beleza ser assim feia?"</blockquote></i></div><div style="text-align: left;">🗾 A experiência estética habitualmente relaciona-se a momentos efêmeros que, com frequência, materializam-se na forma de cenas, de enquadramentos. A propósito, durante leitura paralela, abri um sorriso quando Roland Barthes me assegurou que o arrebatamento amoroso ocorre justamente diante de uma cena, um quadro: <i>"O amor à primeira vista é uma hipnose; estou apaixonado por uma imagem (...) amamos primeiro um quadro" </i>(tradução: Hortênsia dos Santos). O pavilhão dourado em Quioto desafia em certa medida esse pressuposto, tratando-se de uma edificação humana que nos impõe uma beleza estática e eterna; aspecto que perturba intensamente Mizoguchi.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>🗾 Claro, é preciso estar aberto e atento às experiências estéticas, sobretudo porque, conforme mencionado, a beleza costumeiramente reveste-se de efemeridade. <i>"A perfeição está em toda parte se apenas nos dignarmos a reconhecê-la."</i> — Kakuzo Okakura, <i>O Livro do Chá</i> (tradução: Leiko Gotoda).</div><div><br /></div><div>Ao mesmo tempo, é pertinente atentar que abertura demais pode ser um problema; sensibilidade em excesso pode sobrecarregar o espírito, visto que o mundo (tomando emprestados os versos de Thom Yorke:) é <i>too much, too bright, too powerful / </i>o mundo é <i>~ descomedido, luminoso demais, poderoso demais.</i> Hoje, no Instagram, li esta apropriada frase supostamente dita pelo pintor Claude Monet (grifo meu): <i>"Todo dia descubro <b>mais e mais coisas belas. É suficiente para enlouquecer uma pessoa</b>.</i>" E gostaria de ressaltar em especial aquele <i>"too bright/luminoso demais" </i>emprestado de Yorke, dado o aceno que Mishima faz no livro ~àquela~ passagem chave em <i>O Estrangeiro</i>, de Albert Camus.</div><div><blockquote><i>"(...) o Pavilhão é o único a preservar a forma e se apossar da </i><b style="font-style: italic;">Beleza</b><i>, reduzindo todo o resto a pó. (...) Mas, enfim,</i><b style="font-style: italic;"> o Mal seria possível</b><i>?"</i></blockquote></div></div><div style="text-align: left;">🗾 Quando li <i>O Livro do Travesseiro</i>, de Sei Shônagon, me impressionei bastante com o enorme peso e valor que Shônagon deposita na beleza dos diversos fenômenos e objetos que a rodeavam (naturais ou humanos), sua narrativa sempre extremamente atenta ao belo — nada escapa do crivo estético dela. Por causa disso, conjecturei que o impasse sentido por Mizoguchi pode também relacionar-se a um senso estético particular dos japoneses, em muito distante àquele ocidental. A<i> </i>obra<i> Elogio da Sombra, </i>de Junichiro Tanizaki, igualmente me direciona a essa hipótese, assim como o já citado <i>Livro do Chá</i>, de Kakuzo Okakura. </div><div style="text-align: left;"><i></i></div><blockquote><div style="text-align: left;"><i>"Com sua <b>ímpar capacidade de tudo transformar em poema</b>, nossos antepassados (...) descobriram beleza nas sombras e, com o tempo, aprenderam a usar as sombras para favorecer o belo." </i>— Junichiro Tanizaki, <i>Em Louvor da Sombra</i> (tradução: Leiko Gotoda). </div></blockquote><blockquote><div style="text-align: left;"><i>"O <b>longo isolamento do Japão do resto do mundo, tão propício à introspecção</b>, foi altamente favorável ao desenvolvimento do "chaísmo". (...) Um estrangeiro pode sem dúvida se espantar com tanto estardalhaço por motivo aparentemente insignificante. (...) Vamos <b>sonhar com o efêmero</b>, e demoremo-nos um pouco mais na <b>formosa tolice das coisas</b>."</i> — Kakuzo Okakura, <i>O Livro do Chá</i> (tradução: Leiko Gotoda).</div></blockquote><div style="text-align: center;">🏯</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Quando passava da metade do livro, calhei de ouvir <a href="https://open.spotify.com/episode/7ib23bRLW24Ot0R9VQVnFd?si=5294c6c645204d94" target="_blank">uma entrevista de Carolina Vigna (historiadora da arte) ao podcast Página Cinco </a>e fui fisgada por esta assertiva da entrevistada: <i>"Toda revolução é estética</i>." Carolina Vigna explica que estética é o contrário de anestesia, ela é aquilo que nos move, portanto sempre que se passa por algo que exige ressignificação, isso é uma revolução estética. Todas as revoluções seriam estéticas, na medida em que impõem <i>revoluções de significado, de compreensão do mundo, de representação desse mundo. </i></div><div style="text-align: left;"><i><br /></i></div><div style="text-align: left;">Até aquele ponto da leitura de <i>O Pavilhão Dourado</i>, eu não tinha dado muita importância ao contexto histórico da narrativa de Mishima, porém a fala de Vigna me fez questionar se a resolução de incendiar o pavilhão teria um significado narrativo restrito a uma dimensão micro, individual. Decidi regressar à impactante passagem em que, decretado oficialmente o fim da guerra e a derrota do país, Mizoguchi sai em disparada e observa com desprezo, do alto de uma montanha escalada, a população da cidade de Quioto, com suas luzes acessas, prosseguindo suas vidas corriqueiras como se nada tivesse acontecido. Aqui, o que ele fala:</div><div style="text-align: left;"><i><blockquote>"Aí está o mundo!" eu pensei. "A guerra acabou. Sob essas luzes todas, pessoas se entregam a pensamentos maldosos. (...) Essa infinidade de luzes são todas elas perversas. Eu me conforto pensando assim. Que a perversidade existente em mim prolifere, multiplique-se infinitamente (...)" </blockquote></i></div><div style="text-align: left;">Confabulei que talvez Mizoguchi sentisse que aquele momento impunha uma nova forma de compreender e representar o mundo. Quem sabe incendiar o pavilhão dourado, tradicional símbolo de um Japão agora perdedor e humilhado, representasse a revolução estética premente aos olhos de Mizoguchi. O país perdeu, toda a população foi vítima de violências atrozes, os americanos ocupavam o Japão e mandavam em tudo, e ainda assim aquele pavilhão seguia de pé, impondo sua tradicional beleza a todos, alienando-os da vida. Como e por quê? Pra quê?</div><div style="text-align: left;"><i><blockquote>"E no mundo assim transfigurado o Pavilhão é o único a preservar a forma e a se apossar da Beleza, reduzindo todo o resto a pó."</blockquote></i></div><div style="text-align: left;">Pois, ao prosseguir a leitura, eis que esbarrei com um trecho que aparenta sustentar precisamente essa teoria, quer dizer, sustentar esse diálogo que firmei entre a fala de Carolina Vigna e o incêndio do pavilhão (grifos meus):</div><div style="text-align: left;"><blockquote><i>"Através desse ato, eu estarei impelindo o mundo onde o Pavilhão Dourado existe em direção a um outro onde o Pavilhão deixará de existir. <b>O mundo certamente terá um novo sentido</b>... (...) <b>Conheci então a psicologia dos revolucionários</b>. Esse policial e esse chefe de estação provincianos que conversavam alegremente ao redor das brasas vermelhas do braseiro de ferro nem sequer pressentiam a aproximação <b>da grande transformação do mundo, da destruição de toda a escala de valores</b> à qual de apegavam."</i></blockquote></div><div style="text-align: left;">Essa leitura, é preciso reconhecer, bem combina com o pensamento e as ideias de Mishima. No mais, anoto que essa hipótese me faz aproximar Mishima a W. B. Sebald, pelo menos no que diz respeito à inquietação sentida por Sebald em face da apatia e indiferença com que o povo alemão respondeu à destruição e violência das quais foram vítimas, dando continuidade à vida também como se nada tivesse acontecido — são sentimentos compartilhados por Sebald no livro <i>Guerra Aérea e Literatura.</i></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Por outro lado, durante minha posterior leitura de <i>O Livro do Chá</i>, de Kakuzo Okakura, trombei com uma passagem do Sutra Lótus, na qual um pai chama seus filhos de uma casa em chamas para a segurança de um <i>roji</i> (aleia no jardim do aposento do chá). Okakura explica que a casa em chamas simboliza a penosa existência da ignorância e do apego a si próprio, de modo que o<i> roji</i> seria o local para abandonar as confusões do mundo. Visto por esse lado, o ato de Mizoguchi pode ser reduzido àquilo que mais provavelmente é: não uma revolução, mas uma estupidez cometida por um ególatra em estado de confusão, uma pessoa (como talvez dissesse Okakura) <i>com chá demais (= "frívolos estetas que se manifestam ao sabor de emoções descontroladas").</i></div><div style="text-align: left;"><i><br /></i></div><div>Para esta discussão, vale igualmente registrar o trecho de <i>O Pavilhão Dourado</i> que trata do <i>Décimo Quarto Caso do Mumonkan</i>, o tema <i>Nansen mata um gato, </i>escolhido a dedo pelo Velho Mestre para a reflexão zen no dia da derrota oficial do Japão. Para resumir bastante: um gato lindo e fofo (a Beleza materializada) aparece do nada e provoca briga entre monges, pois todos o querem para si; então o monge Nansen decide resolver o problema matando o bicho; enquanto o sábio discípulo Choshu, após ouvir esse relato, descalça as sandálias, as coloca sobre a cabeça e deixa o templo. E aí? Afinal, mais vale cortar o Mal (= a Beleza) pela raiz (supostamente) como fez Nansen, queimar o pavilhão, como fez Mizoguchi ou, quando diante do caos do mundo, só nos resta pôr as sandálias sobre a cabeça e nos recolher? </div><div><br /></div><div><div>Nas breves resenhas lidas no Goodreads, esbarrei com a afirmação de que o livro trata do Mal, algo que realmente pode ser corroborado a partir do próprio tema<i> Nansen mata um gato </i>(o Mal entrelaçado à Beleza)<i>. </i>No entanto, em relação à temática do Mal, minha chave de leitura concentrou-se na proposição de que a exacerbada sensibilidade de Mizoguchi também o leva a enxergar a feiura e o mal do mundo, uma feiura que ele tenta a todo custo provar que existe dentro de si, pois traria lógica ao fato do mundo negar-lhe a beleza. Penso aqui naquela máxima <i>"feio por fora, feio por dentro", </i>além de corresponder a uma reação violenta à negativa de beleza recebida do mundo sempre que ele estendia a mão, uma resposta à rejeição de que ele se julgava vítima. (Putz, esse cara era mesmo um incel, né? rs)</div><div><i><blockquote>"(...) reconhecia não possuir, com certeza, qualificações que me permitissem entrar na vida pelo lado luminoso. (...) me ensinara pela primeira vez a passagem obscura que me dava acesso à vida pelos fundos."</blockquote></i></div><div style="text-align: center;">🏯<span style="text-align: left;"> </span></div><blockquote style="text-align: center;"><i>"(...) arremedar na minha frente um monge gago entoando sutras com dificuldade, tropeçando nas palavras."</i></blockquote><div style="text-align: left;">No início da narrativa, Mizoguchi ironiza essa imagem de um monge gago, destacando que a gagueira trancava a porta entre seu mundo interno e o externo; associando gagos à figura de um pássaro preso à viscosidade de um mundo interior. No entanto, considerando-se as reflexões que já registrei no blog acerca da gagueira (foi <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2021/05/valeria-luiselli-papeles-falsos-janelas-bicicletas-gagueiras-joe-pera-gilberto-gil-junichiro-tanizaki-kiarostami-gherasim-luca.html">neste post: </a>"<a href="https://www.correndoentrelivros.com/2021/05/valeria-luiselli-papeles-falsos-janelas-bicicletas-gagueiras-joe-pera-gilberto-gil-junichiro-tanizaki-kiarostami-gherasim-luca.html"><i>sobre janelas, bicicletas e gagueiras</i></a>"), achei a imagem do monge gago extremamente bela, para não dizer mesmo propícia à vida asceta. Ora, nada mais oportuno à figura de monge do que a gagueira, se considerarmos (conforme anotei naquela antiga postagem) que, quando a língua é tensionada a tal ponto em que a gagueira se inicia, significa que ela alcançou seus limites, passando a confrontar o silêncio. Persistindo com aquela alegoria de Mizoguchi, minha suposição é que o gago seria como o pássaro que se desgarrou de sua viscosidade interior para voar até os limites do mundo exterior, até a insondável fronteira de onde não se retorna igual. Naquele tema <i>Nansen mata um gato</i>, eu apostaria que Nansen é um monge eloquente, enquanto Choshu provavelmente é gago. Em seu discurso, Mizoguchi discorre bastante a respeito da oposição entre Palavra e Ação, mas acaba por esquecer o (por vezes) precioso silêncio. Em resposta aos mistérios da vida, há diferença entre colocar as sandálias sobre a cabeça e gaguejar? E quer saber? Se um monge não for gago, creio que nem darei mais confiança, isso sim.</div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Ah, Mizoguchi também se diz <i>"gago de sentimentos"</i>, porém nessa ele me pegou desprevenida. De supetão, é uma premissa desconcertante.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: center;">🏯</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Gostaria de registrar as notáveis passagens nas quais Mizoguchi examina e descreve os rostos das pessoas. Chamou-me muita atenção o quanto a personagem esmiúça faces humanas, bem como as leituras e descrições decorrentes desse exercício (a mãe e o mestre prior são alvos frequentes). A mais impactante (pra mim) aparece logo no começo do livro, quando ele descreve o rosto de Uiko, no momento em que ela <i>rejeita o mundo, </i>comparando-o ao rosto que surge no cepo de uma árvore recém-abatida,<i> </i>o cepo<i> exposto repentinamente ao mundo que não é o seu e batido pelo sol e pelo vento como nunca deveria ter acontecido, um estranho rosto delineado pelos belos veios da madeira - um rosto que chegou a este mundo apenas para mostrar rejeição.... </i></div><div style="text-align: left;"><i><br /></i></div><div style="text-align: center;">🏯</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Sendo uma tonta apaixonada pelo mar, a experiência estética descrita diante do <i>"Mar do Japão"</i> me tocou bastante. Em determinada passagem, Mizoguchi, então transtornado, viaja em busca do mar da infância, um mar visto por ele como a imagem especular de si próprio. Se lembrarmos o histórico japonês de tsunamis, fica fácil penetrar o ambíguo e contraditório lugar ocupado pelo mar na relação com os japoneses; lugar do qual Mizoguchi se apossa bem. </div><div><i><blockquote>"(...) o mar encapelado, sempre irritadiço, o mar raivoso da costa interna do Japão. (...) um mar gasoso que cobria toda a região durante o inverno, um mar invisível, imperioso e dominador. (...) Sim, esse era o Mar do Japão! A fonte de toda a minha infelicidade e de todos os meus pensamentos sombrios. a fonte de toda a minha feiura, de todo o meu poder. As águas estavam agitadas."</blockquote></i><div style="text-align: center;">🏯</div></div><div style="text-align: center;"><br /></div>Por fim, preciso enaltecer e agradecer o excepcional trabalho do tradutor, Shintaro Hayashi (edição da Companhia das Letras). Sinto enorme gratidão por todos os tradutores, porém esta tradução me tocou de modo especial. Leio bastante literatura traduzida e não tenho por hábito lamuriar coisas do tipo <i>ai, como queria ler isso no original</i> — simplesmente tomo a mão dos tradutores e salto sorridente no abismo —, contudo a escrita deste livro mexeu comigo a ponto de despertar enorme curiosidade para saber como a prosa de Mishima soa em japonês, sobretudo para aqueles que tem esse idioma como língua materna. Ignoro a razão [talvez porque a dramática morte do autor (por seppuku /degolamento) me conduza a um suposto período remoto e inacessível?], mas a realidade é que antecipei encontrar uma escrita dura e hermética, entretanto me deparei com um quase oposto. A prosa de Mishima (na intermediação de Hayashi) soa moderna, ágil e primorosa, entremeada por uma poesia sutil e elegante. As imagens construídas pelo texto, em especial, são surpreendentes (vide aquela do rosto. é algo que valorizo demais; e autores japoneses costumam ter talento nisso). Sendo honesta, a prosa de Mishima neste livro me remeteu inesperadamente àquela de clássicos modernos americanos/europeus do século XX (talvez venha daí minha reação peculiar a essa escrita), embora a temática e sua respectiva exploração, a meu ver, pouco se relacionam à perspectiva ocidental. Ou melhor: quanto aos temas, consigo perceber que o livro dialoga intrinsecamente à linhagem literária japonesa. (*Não que eu manje muito de literatura japonesa, veja bem.)<div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">🏯</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div>P.S.: bicho, no fim das contas, acho que caí mesmo na lábia de um incel reacionário. Veja só do que as palavras são capazes. Um perigo. Humbert Humbert, neste momento, ri de minha presepada. Malditos, Humbert e Mizoguchi — porém ressalvo que Humbert escreve com propósito deliberado, enquanto Mizoguchi... ali é <i>chá demais, demais.</i></div><div><i><br />"E, como ele, eu quis viver."</i></div><div><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi21vBQ4qVD0zZWPBo5EPsI7HITVQzeKOm34US404yXwOAKlO8ikGf5paj87SVa2I8Hc2weMbxDgdP7888cqUHjIfWN0fDy25vB-VhXnzr6-8flWL4ZiGx8tWteZg5Kn3vAJ5ptSycrmRF1KcX3D6sUqXpgHnki1G6ROM_Aeffgb9wf39DlDtxeMotL/s979/PAVILH%C3%83O%20DOURADO%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi21vBQ4qVD0zZWPBo5EPsI7HITVQzeKOm34US404yXwOAKlO8ikGf5paj87SVa2I8Hc2weMbxDgdP7888cqUHjIfWN0fDy25vB-VhXnzr6-8flWL4ZiGx8tWteZg5Kn3vAJ5ptSycrmRF1KcX3D6sUqXpgHnki1G6ROM_Aeffgb9wf39DlDtxeMotL/w446-h640/PAVILH%C3%83O%20DOURADO%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS.jpg" /></a></div><div style="text-align: center;">(pintura feita por mim - *guache)</div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-29234213364665909862023-06-04T18:07:00.006-03:002024-03-09T23:47:18.735-03:00Tea leaves thwart those who court catastrophe<div class="separator"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_CUtFKcThhVmOglL8Ri3p59SVc-Rxxn3xJLmHko6ZdEtK7DSpN29P_wHKXidzbGrER1UCp8IZHJo1Y8caXFGRyHuThQQJy7hUXhP9_jnH_GcvgMB-Wgf_vjCZ2vWnP2KaxCyP8wv9Lcg_AFjAajhaRzH-2XkBFOMGGBgLSe9ZeSDOmYvS_K3MuQ/s541/succession%20poster.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_CUtFKcThhVmOglL8Ri3p59SVc-Rxxn3xJLmHko6ZdEtK7DSpN29P_wHKXidzbGrER1UCp8IZHJo1Y8caXFGRyHuThQQJy7hUXhP9_jnH_GcvgMB-Wgf_vjCZ2vWnP2KaxCyP8wv9Lcg_AFjAajhaRzH-2XkBFOMGGBgLSe9ZeSDOmYvS_K3MuQ/s541/succession%20poster.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="431" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_CUtFKcThhVmOglL8Ri3p59SVc-Rxxn3xJLmHko6ZdEtK7DSpN29P_wHKXidzbGrER1UCp8IZHJo1Y8caXFGRyHuThQQJy7hUXhP9_jnH_GcvgMB-Wgf_vjCZ2vWnP2KaxCyP8wv9Lcg_AFjAajhaRzH-2XkBFOMGGBgLSe9ZeSDOmYvS_K3MuQ/s320/succession%20poster.png" width="255" /></a></div><div> (— Sylvia Plath, <i>Ennui</i>)</div><div><br /></div>Eu sei, eu sei, ninguém aguenta mais <i>análises acertadas</i> a respeito de Succession — por sinal, especulo que o atual caminho para uma série de sucesso seja precisamente este: abastecer a internet de muito pano para <strike>manga</strike> (<i>argh:</i>) conteúdo —, porém quero registrar só uma ou duas coisinhas.<div><br /></div><div><div style="text-align: center;">💰</div><p>Visto que o pôster de estreia foi esse aí, colado à esquerda, é um tanto vexatório que tão somente nesta última temporada eu tenha atinado para os quadros que ocupam os espaços por onde circulam as personagens. Pior: a queda de minhas fichas sequer ocorreu naquele momento possivelmente mais emblemático, no qual Willa escapa do ensaio do próprio casamento e é perseguida pelos olhares fantasmagóricos nos dois retratos de Andy Warhol. [Reparar, é lógico que reparei; porém o fiz com o pensamento <i>puta merda, eu bem queria um desses no corredor aqui de casa. </i>Encontrei este interessante texto sobre essa passagem: <a href="How “Succession” Used Art to Foreshadow Its Most Shocking Twist Yet" style="font-style: italic;" target="_blank">How “Succession” Used Art to Foreshadow Its Most Shocking Twist Yet.</a>]</p>Na verdade, este sim foi o instante responsável por fisgar meu olhar para o fundo do enquadramento:<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirUx6HlagQ5UnKTcgAeg5UFyav2rG2QaXb9HJ1mRFKyA-MkRS74o9w8_BAjZesLa2yqPCycu-9Sr9N_2-TXp_qJyG9wewLJ4XKZ499iD8MbSydIEpItJrzfG2xOSrRaBcqeCCiqs3BhszJyjnY2g5I3FCN86R4JeSEVHd67kQmVDBiL-d-vmsdPQ/s2242/succession%20quadro%20fundo%204%20ROY.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1258" data-original-width="2242" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirUx6HlagQ5UnKTcgAeg5UFyav2rG2QaXb9HJ1mRFKyA-MkRS74o9w8_BAjZesLa2yqPCycu-9Sr9N_2-TXp_qJyG9wewLJ4XKZ499iD8MbSydIEpItJrzfG2xOSrRaBcqeCCiqs3BhszJyjnY2g5I3FCN86R4JeSEVHd67kQmVDBiL-d-vmsdPQ/w640-h358/succession%20quadro%20fundo%204%20ROY.png" width="640" /></a></div><div>Para começar (e encerrar? rs) a conversa, basta meramente observar essa curadoria e compará-la àquele quadro no pôster da série — de Peter Paul Rubens; <i>Caça ao tigre e leão</i>. Não é insana a discrepância entre os respectivos conteúdos expressivos? Visto que a paisagem às costas de Roman atende demais meus desejos estéticos, não surpreende nada que meu olhar tenha sido hipnotizado por essa curadoria de quadros. Com a ajuda da tiktoker (!) <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart" target="_blank">@meelzonart</a>, identifiquei três deles:</div><div><br /></div><div>- <b>à direita:</b> <a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" target="_blank">Paul Gauguin, <i>A Tahitian Woman with a Flower in Her Hair </i>(carvão, pastel)</a>;</div><div><br /></div><div><i>- </i><b>no centro, acima:<a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" style="font-style: italic;" target="_blank"> </a></b><a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" target="_blank">Honoré Daumier,</a><a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" style="font-style: italic;" target="_blank"> A Man Reading in a Garden (recto) </a><a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" target="_blank">(aquarela, carvão</a>)<a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333914" style="font-style: italic;" target="_blank">,</a></div><div><br /></div><div>- <b>no centro, abaixo:</b> <a href="https://www.metmuseum.org/art/collection/search/339677" target="_blank">Auguste Renoir, <i>Studies of Landscape, Trees, and Exotic Fruit</i> (aquarela, grafite)</a>,</div><div><br /></div><div>- <b>à esquerda:</b> ? - a tiktoker tem dúvida, mas aposta num Giacometti, porém eu não achei. Cacei ontem um tempão, cogitei um Dürer, porém não tive sorte. Bem, parece ser um estudo a carvão de nu feminino (*sabe de quem é? mande aí)</div><div><br /></div>Os quadros que espreitam Roman nessa cena são, com efeito, "meros" estudos/ desenhos/rascunhos, portanto representam algo que, teoricamente, ainda pode evoluir para uma outra coisa; quer dizer, as possibilidades permanecem abertas, pois aquelas são tentativas. Os materiais — aquarela, carvão, grafite —, por sua vez, conferem leveza e delicadeza, visto que são translúcidos e sem muito peso, carecendo do vigor e sensualidade da tinta (em especial daquela a óleo). E o aparente predomínio de linhas, com formas e volumes pouco definidos, sugere uma aura poética e serena. Quando esbarrei com essa galeria na retaguarda de Roman, imediatamente retornou-me o texto no qual Fayga Ostrower comenta uma ilustração do chinês Chao Yuan, no precioso livro <i>Universos da Arte</i> (leitura em curso e que tanto me ajudou neste post). Peço licença para tomar emprestadas algumas palavras da autora, a fim de melhor expor o que essa paisagem na qual Roman é inserido me evoca: <i>"(...) o típico espaço linear, frágil e translúcido (...) numa visão contemplativa da vida. A grave ternura desses desenhos, seu silêncio e sua contenção."</i></div><div><div><span style="font-style: italic;"><br /></span></div><div>Pois é, será que, no fim das contas, Roman é um introspectivo sensível à poesia e à contemplação, aberto para novas possibilidades que nada tenham a ver com o legado paterno? (Não ria, a pergunta é séria, poxa.) Deixo a insinuação suspensa no ar. Anoto, contudo, que o momento em que ele não consegue pronunciar-se durante o velório do pai me quebrou por completo, porque as palavras dele, aos prantos — ~ <i>"Meu pai está mesmo dentro daquele caixão? Não podemos tirá-lo de lá? </i>—, refletem exatamente o que me consumiu após o enterro de minha avó. Eu tentava dormir, mas minha cabeça teimava em gritar que minha avó tinha sido trancada dentro de um caixão e enfiada dentro de um buraco; e como assim a deixaríamos ali? Meu corpo se coçava para saltar da cama e tirá-la dali. É por essa (e muitas outras) que Hilda Hilst manjava mesmo dos rolês, tão sábia ao escrever, na obra <i>A Obscena Senhora D</i>:</div><i><blockquote>"(...) um homem, apenas o sexo saudável, um que não amolece diante do sangue, do cheiro, que vê vida e morte tudo natural, naa tuu rall, tudo é muito natural, morrer ó morrer faz parte da vida, mocinha, que bobagem, óóóóóhhh"</blockquote></i><p> — Hilda Hilst,<i> A Obscena Senhora D </i></p>Isso aí. Hilda; natural é o caralho! O problema é que o posto deixado por Logan pedia um homem que não <i>amolecesse</i> do jeito que Roman amoleceu, um homem que <i>achasse tudo muito natural,</i> e não um homem que corre para mãe <i>diante do sangue e do cheiro,</i> que tem medo de tubarões e que se angustia, com sentimentos de dúvida e culpa, ao demitir funcionários. </div><div><br /></div><div><div>Admito; eu <i>meio que</i> comprei a sugestão de uma enviesada redenção (?) para o Roman. Veja, não digo que ele virou um santo apenas porque chorou com a morte do papai, no entanto, dentre os três irmãos, ele é o que mais avançou no tal processo que chamamos toscamente de ~autoconhecimento~ (ou o que quer que seja isso). O que tento dizer é que os três são tontos incompetentes, contudo:</div><div><br /></div><div>- A Shiv é a pior, pois é a tonta que 1. não sabe que é tonta e 2. se acha muito esperta. Essa sequer começou a descida;</div><div><br /></div><div>- O Ken, em seu íntimo, sabe que é um tonto, porém ainda tem esperanças de que pode provar para si e para o pai que é um espertão à altura de liderar uma megacorporação americana. Ele está a meio caminho da descida — na cena final, está decidindo se retoma a subida ou se desce de uma vez;</div><div><br /></div><div>- O Roman, nesta última temporada, finaliza a descida: abraça a consciência plena de que é um tonto desprovido das habilidades — sobretudo emocionais — necessárias para liderar o império.</div><div><br /></div><div><br /></div><div>Agora, regressarei ao vídeo da tiktoker <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart" target="_blank">@meelzonart</a>, pois, para além do que já discorri, há outro ponto que me faz divergir um pouco da análise compartilhada por ela (*ressalto que, quando ela publicou o vídeo, a quarta temporada ainda seria exibida) [<a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart/video/7215372528028552491" target="_blank">Link 1 aqui</a>; <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart/video/7215372528028552491" target="_blank">Link 2 aqui</a>.]. Eis, em resumo, o que <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart" target="_blank">@meelzonart</a> fala (tradução livre):</div><div><i><blockquote>"(...) vemos o tema do homem e da paisagem, sobretudo no que refere-se a conquistas. (...) (Gauguin) era um homem colonialista, que explorou e objetificou muitas mulheres quando esteve no Taiti. A premissa de fruta exótica e terra em Renoir trabalha a ideia de conquistar um império. (...) Quero chamar atenção para o quadro de Daumier. Van Gogh o viu e comentou sobre ele numa de suas cartas ao irmão Theo. Ele escreveu: "Deve ser bom pensar e sentir assim, e superar e ignorar uma multidão de coisas." A ideia de ter tanto dinheiro, tanto privilégio a ponto de não ter de se preocupar com nada exceto ser mais rico que o pai. (...) Vistas independentes e em conjunto, essas obras contribuem para a narrativa de que Roman quer ser escolhido como o conquistador supremo."</blockquote></i></div><div>Achei o olhar dela algo simplista e redutor — mas, como ressaltei, ela ainda não tinha visto a quarta temporada (não sei se a opinião dela mudou). Além disso, tive a sensação de que ela usa a série como premissa de leitura dos quadros (de outro modo, parece forçar uma interpretação dos quadros que se encaixe na trama de Succession); enquanto o movimento de leitura correto, a meu ver, seria primeiro ler as obras por si mesmas, depois partir para a leitura isolada da série, e só então cruzar as respectivas expressões artísticas. No mais, pontuo duas questões:</div></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaxm0GpmiPvsmRfd44JECUkkx_ACWwbDwWB5JwcrU5gAsPrmzJumExaz3jbm71pbnrYNNAe4zsRwmglzXINYynG7EHCO10_K-sclHSJqY_HVyYq5iT0PJMTletP30z1tU9xR2Pi092_gqVElO1_uhuNFAaJVB4bOn-MXuii4hAPgTyFkhZ37ToeQ/s251/daumier.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="251" data-original-width="201" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaxm0GpmiPvsmRfd44JECUkkx_ACWwbDwWB5JwcrU5gAsPrmzJumExaz3jbm71pbnrYNNAe4zsRwmglzXINYynG7EHCO10_K-sclHSJqY_HVyYq5iT0PJMTletP30z1tU9xR2Pi092_gqVElO1_uhuNFAaJVB4bOn-MXuii4hAPgTyFkhZ37ToeQ/s1600/daumier.jpg" width="201" /></a></div>1. Por causa da forma com que ela cita o comentário de Van Gogh sobre o quadro de Daumier, um tanto fora de contexto, resta a sensação de que Van Gogh estava debochando de um dito privilégio daqueles que podem se dar o luxo de não se preocupar com coisas mundanas. Bem, é quase o oposto disso. </div><div><br /></div><div>No momento, estou lendo justamente uma coletânea das cartas de Van Gogh e, na hora em que a tiktoker mencionou o comentário, dei um salto, pois foi um trecho significativo que grifei. Na realidade, é um ponto em que Van Gogh compartilha com Théo reflexões acerca da escolha entre pintar figuras humanas ou paisagens. O pintor confessa cada vez mais acreditar que o maior valor estaria em retratar pessoas (como ele de fato fez - trabalhadores humildes do campo, mineiros, tecelões...). É nesse contexto que ele recorre ao <i>sketch</i> em aquarela de Daumier (uma ilustração para Balzac!), fazendo referência mais à mente do próprio Daumier (e não um deboche da imagem), um pintor que o inspirava ao deixar de se ater a pradarias e nuvens, a fim de focar naquilo que realmente importa: sim, pintar um velho "qualquer" a ler sob castanheiras (para quem tem a edição da L&PM: página 90). Quer dizer, Van Gogh, em certa medida, defende que foquemos <i>no que dá o que pensar, e no que diz respeito de uma maneira mais pessoal ao homem enquanto homem </i>(tradução: Pierre Ruprecht).</div><div><br /></div><div>2. Por outro lado, a tiktoker tem plena razão ao afirmar que o precioso tempo que a privilegiada turma de Succession tem é despendido apenas na perseguição por mais dinheiro. Mas esse é o paradoxo, não? Digo, <i>pensar no que dá o que pensar</i>, como propõe Van Gogh, é bem difícil. Dois livros povoam minha cabeça quando reflito sobre tais questões. Em <i>Jakob Von Gunten</i>, de Robert Walser; há uma passagem na qual Jakob comenta que esse lance de ficar à toa, tal qual o velho na ilustração de Daumier, pode trazer consigo a dor da existência. Jakob defende que ficar sem fazer nada e mesmo assim preservar o sentido da existência exige muita energia de uma pessoa. Para a personagem, quem permanece ocupado com alguma tarefa usufruiria paradoxalmente de uma vida mansa, em comparação. Na sequência, para complementar, lembro que o narrador de Nancy Mitford, no livro <i>The Pursuit of Love —</i> essencialmente uma obra que retrata riquinhos ingleses de 1940's, uma quase autoficção dos Mitford — denuncia que aqueles ricos (extrapolo por minha conta: virtualmente todos os ricos) nunca adquiriram o hábito da concentração, portanto não toleram o tédio. Tempestades e dificuldades? Tranquilo, só jogar e eles matariam no peito. Contudo, dia após dia de uma existência ordinária era, para eles, uma tortura entediante. A narrativa de Mitford aponta para a chave: eles, os ricos, não tinham a disciplina mental (a tal energia referida por Jakob) para tolerar o tédio, para não fazer nada. Posto isto, como esperar que os Roy usem o enorme tempo de que dispõem para sentar sob castanheiras? Para ficar a olhar o mar, não é, Kendall? Se importar com belas vistas de janelões, não é, Lukas? Achar que algo acontece em NY, não é, Lukas? </div><div><br /></div><div>A maioria dessas narrativas sobre ricos, tão na moda atualmente, são, em larga escala, estudos sobre o tédio. Sylvia Plath, creio, concordaria comigo. Quem sabe a predisposição de Roman seja outra?</div><div><br /></div><div style="text-align: center;">💰</div><div><br /></div><div>Para encerrar, um breve comentário relacionado ao último quadro, aquele que envolve Shiv em seu momento apoteótico (?):</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1DEhBi0JSESHQGyLroMULVb4D1bRXA-Up2JHEWmX5sQ-8fkxYuxEavihRfLkaHgkAnloxbpCWn_Y1jpKVSRUezRhf-be2N2eet9xsjeZTM48VCDnUgp557xSCGJoerCPj4bNDypp0oZGChSw5Qc5rxDdhhZk4Nu8G5Yhf0TFXR7FvidBC8WKrSQ/s1031/succession%20quadro%20fundo%204%20SHIV.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="608" data-original-width="1031" height="378" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1DEhBi0JSESHQGyLroMULVb4D1bRXA-Up2JHEWmX5sQ-8fkxYuxEavihRfLkaHgkAnloxbpCWn_Y1jpKVSRUezRhf-be2N2eet9xsjeZTM48VCDnUgp557xSCGJoerCPj4bNDypp0oZGChSw5Qc5rxDdhhZk4Nu8G5Yhf0TFXR7FvidBC8WKrSQ/w640-h378/succession%20quadro%20fundo%204%20SHIV.png" width="640" /></a></div><div>Também com a ajuda da <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart" target="_blank">@meelzonart</a>, descobri que esse quadro foi concebido pela artista Elizabeth Castagna e intitula-se <i>This</i>. Bom, de novo me oponho à análise de <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart">@meelzonart</a> (<i>"Shiv ultimately looks out for herself and her child"</i> - <a href="https://www.tiktok.com/@meelzonart/video/7238946756199714090">link para o vídeo dela aqui: X</a>), e focarei em minha leitura, a qual sustenta-se numa fortuita casualidade literária. </div><div><br /></div><div>Meu ponto de partida foi esta ominosa escolha de palavras feita pela secretária ainda dentro do avião, ao lado do corpo do chefe:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHmVxa9KQ2jRk7oGsljQ5fuBqIoJ9zk5pK047O7ot2no0P2tggnrnGtYRNt_KR2X59-GRSlSqwJc0FCjcVCGa02kpP_XK-Tx81SUk1Fy_tyLTqTxYP4z9dqQiN_V0uo6vl8nqGPWPqY6vNPKui2bItbOJm6rhquqA6DAiAPkURFLwbK631Pzgnhg/s746/SUCCESSION%20S4E3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="526" data-original-width="746" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHmVxa9KQ2jRk7oGsljQ5fuBqIoJ9zk5pK047O7ot2no0P2tggnrnGtYRNt_KR2X59-GRSlSqwJc0FCjcVCGa02kpP_XK-Tx81SUk1Fy_tyLTqTxYP4z9dqQiN_V0uo6vl8nqGPWPqY6vNPKui2bItbOJm6rhquqA6DAiAPkURFLwbK631Pzgnhg/s320/SUCCESSION%20S4E3.png" width="320" /></a></div>Ou seja, o cara morreu, então é hora de<i> juntar os ossos</i>. Ok. Logo em seguida, retomei a leitura da coletânea <i>Extração da Pedra da Loucura</i>, de Alejandra Pizarnik e, já no finalzinho, esbarrei com estes versos:<div><br /></div><div><i>(...) - falo do irremediável,</i></div><div><i>peço o irremediável -, o corpo desatado e os ossos</i></div><div><i>espalhados no silêncio da neve traidora. (...)</i></div><div><br /></div><div>— Alejandra Pizarnik; <i>Noite compartilhada na lembrança de uma fuga </i>(Tradução: Davis Diniz)</div><div><br /></div><div>Pronto, agora basta parear o quadro da sala de votação e o quadro na sala em que Shiv revela sua decisão ao irmão, e fica fácil deduzir aonde cheguei:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5lQQuIUYi8UNniQ3vUIiayX1Ymhfa7lcT2BmeRPupqGJUkvbjvf0VWopkiAmnZ69EQ6w5ZEBIy8obKqP8RIXPy7DhfjSBi5o94q3QyQFMEQaVnmfMXZaD_IDIcI2fWuN4JnjBXDLmMsowcOx0kaXVywssvntv1GwQwcpR_cgBlvfn_G4wViE6QA/s534/quadros%20shiv.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="326" data-original-width="534" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5lQQuIUYi8UNniQ3vUIiayX1Ymhfa7lcT2BmeRPupqGJUkvbjvf0VWopkiAmnZ69EQ6w5ZEBIy8obKqP8RIXPy7DhfjSBi5o94q3QyQFMEQaVnmfMXZaD_IDIcI2fWuN4JnjBXDLmMsowcOx0kaXVywssvntv1GwQwcpR_cgBlvfn_G4wViE6QA/w400-h244/quadros%20shiv.png" width="400" /></a></div><div>Não, Shiv não permitiria a patacoada de juntar os ossos de Logan. Dessa maneira, vale reconhecer que dois coelhos se vão com a cajadada única de Shiv: </div><div><br /></div><div>- o pai estava morto, e ela garante que assim ele permaneceria — aniquila-se a bobajada de que Logan (seu legado) seguiria vivo mediante a sucessão por um de seus filhos; </div><div><br /></div><div>- em conversa com Roman era apenas uma piada, no entanto Shiv de fato assassina o irmão,<i> espalhando os ossos </i>de Kendall<i> no silêncio da neve traidora</i>. </div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-23933399098839191622023-04-28T01:42:00.017-03:002024-03-16T17:44:11.590-03:00Doris Lessing X Série Coreana Porque esta é a minha primeira vida<p></p>Uma conversa em vídeo sobre dois contos da autora Doris Lessing, em paralelo à série de TV coreana <i>Porque esta é a minha primeira vida</i> (2017), escrita pela roteirista Yoon Nan-joong. Para acompanhar, incluí os processos de pinturas/desenhos inspirados pela série.<div><br /></div><div>Os contos da Lessing são:<br /> - <i>To Room Nineteen / O Quarto 19</i>;<br /> - <i>An Old Woman and her Cat / Uma Velha e o seu Gato</i> (início no vídeo: 22:34).<br /><br /><b><span style="color: #e06666;">*</span></b> <a href="https://open.spotify.com/episode/6hAsfeLWNJcY1YkA4OKgPM?si=856bcc7af33b4ac0" target="_blank">Episódio do Podcast Méxi-ap sobre a série: LINK AQUI</a></div><div><br /></div><div><b><span style="color: #e06666;">*</span></b><a href="http://www.correndoentrelivros.com/2017/11/caderno-dourado-doris-lessing-the-golden-notebook-llosa.html" target="_blank"> Post do blog sobre <i>The Golden Notebook (O Carnê/Caderno Dourado)</i>, da Lessing: LINK AQUI</a></div><div><br /></div><div><b><span style="color: #e06666;">*</span></b> [P.S.: crédito da inspiração para o formato deste vídeo pertence ao programa <i>Pintando com John</i> (HBO - John Lurie), pois adorei a proposta de vê-lo pintar, enquanto o escuto papear.]</div><div><br /></div><div><span style="color: #e06666;"><b>*</b></span> [infelizmente, o áudio está péssimo. (não que o resto esteja melhor...)]</div><div><p></p></div>
<div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/MNq7n01iJvs" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">*O resultado final da pintura:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyYLLlJS7Fds55g369yaY4QE-jDjtaNZJWIWR5Ucvln3iJYr0i8cwqUN29WMqniIIkuiHuNMKLP3jnEdvp2hJnTXt0ZCEn_T4tffkQNzZni0L7HIQVXPwJdtsss9wXT0YByFPGBOlgC2ymBHTJGEp2WMOUUtHjY1Oo277ELKBd3-7MoPk-p8raTQ/s495/Porque_esta_e_a_minha_primeira_vida_-_blog_correndo_enter_livros_50.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="349" data-original-width="495" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyYLLlJS7Fds55g369yaY4QE-jDjtaNZJWIWR5Ucvln3iJYr0i8cwqUN29WMqniIIkuiHuNMKLP3jnEdvp2hJnTXt0ZCEn_T4tffkQNzZni0L7HIQVXPwJdtsss9wXT0YByFPGBOlgC2ymBHTJGEp2WMOUUtHjY1Oo277ELKBd3-7MoPk-p8raTQ/w400-h283/Porque_esta_e_a_minha_primeira_vida_-_blog_correndo_enter_livros_50.jpg" width="400" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-91467363976698968732023-02-26T18:50:00.064-03:002024-03-09T23:55:21.766-03:00And I draw a line to your heart today [2023.1]<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKCOTItSfxbaw1FnGVfNI75pZxPVWqjXGt1FYaVpGGaAPz1ScfnP9FT2XpZQ3UUPhyNCgxP5EEtURtVXgh5pJLARIszMhT-kd2mAeGRct6XJNsvXNTfyJiXalz_1lMgyR8fWyXMz-7HqtKTzoNlQJ4eTTCaid_duzvCTEveQtxiTnp354JamUlAQ/s856/CASSANDRA%20CAT%207%202.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="856" height="374" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKCOTItSfxbaw1FnGVfNI75pZxPVWqjXGt1FYaVpGGaAPz1ScfnP9FT2XpZQ3UUPhyNCgxP5EEtURtVXgh5pJLARIszMhT-kd2mAeGRct6XJNsvXNTfyJiXalz_1lMgyR8fWyXMz-7HqtKTzoNlQJ4eTTCaid_duzvCTEveQtxiTnp354JamUlAQ/w640-h374/CASSANDRA%20CAT%207%202.png" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">[*Filme: <i>Um dia, um gato/ When the cat comes/The Cassandra Cat</i>; Vojtěch Jasný (1963)]</td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div>Não tenho lido nada [iniciar ano com leitura sem graça dá nisso], não tenho desenhado/pintado e minha saúde já esteve melhor, porém bateu tremenda vontade de conversar. Além do mais, alguém precisa alimentar o banco de dados das I.A.'s de Texto & Imagem, não é? Será um post singelo, trazendo alguns desenhos/pinturas do ano passado, os quais ajudarão a puxar assunto, misturados a breves entradas diarinho, combinado? <i>Bora lá</i>.<div><br /></div>💬 Eis que o tcheco <i>Um dia, um gato/ When the cat comes</i>, de Vojtěch Jasný, deu as caras na MUBI e finalmente pude vê-lo — a espera valeu, gostei. Já joguei uma cena/frase excelente do filme no topo deste post, mas também preciso guardar a passagem na qual as crianças começam a pintar como imaginam (sem que o professor peça, ressalto) o gato da história que escutam; um gatinho especial que cobre os olhos com óculos escuros, a fim de não revelar as verdadeiras cores das pessoas. Caramba, lindo demais. 👇<div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNYbjTFGz0MkB_mSmRpQIXDiThooKb-iBjzDd0-O-Eg9CJNNMYtpWOuiANdf3SLQ0yw1B_coUyRCg5CbAMXiwksx6afzd5a6IUx8VYxYmy0BoHuJdN7OytSpJ4FcrLZkmQBbGhxxWfT3o6X-HeCeNzILKonO4TvplJOyPMvz9gqRQf6I5RvgrhRQ/s635/um%20dia%20um%20gato%20correndo%20entre%20livros.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="309" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNYbjTFGz0MkB_mSmRpQIXDiThooKb-iBjzDd0-O-Eg9CJNNMYtpWOuiANdf3SLQ0yw1B_coUyRCg5CbAMXiwksx6afzd5a6IUx8VYxYmy0BoHuJdN7OytSpJ4FcrLZkmQBbGhxxWfT3o6X-HeCeNzILKonO4TvplJOyPMvz9gqRQf6I5RvgrhRQ/s16000/um%20dia%20um%20gato%20correndo%20entre%20livros.png" /></a></div><div><br /></div><br /><div>💬 A autora japonesa Sayaka Murata concedeu uma ótima entrevista ao Louisiana Channel [link: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=s_Z9AamH4XM" target="_blank">Writer Sayaka Murata 村田沙耶香 | Louisiana Channel</a>], e registro aqui o fascinante processo criativo compartilhado pela autora. Murata explica que, para criar suas histórias, ela desenha suas protagonistas num caderno, construindo um pequeno <i>aquário </i>de personagens. Colo esse achado na postagem porque ele incidentalmente se conecta de um jeito tão belo à elaboração criativa das crianças no filme de Jasný: elas escutam a história falada, transferindo-a em desenho no papel; enquanto Murata, por sua vez, desenha a história no papel, para então transformá-la em história escrita. [Claro que não estou chorando, que ridículo seria.]</div><div><i></i><blockquote><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj4gqgksJEkctIeCPF71qnuSgU7NIb73tSy77rwNJiT9pz4Q2aatbPrdnOY9D-ZoUsbdYl848xI9W7S7_0xTIvNT8O3SktxUs491Bwrm7ioiXYkdfjFfVfKFQt6sVX8NTm7egCkn7kOeLBuXjuGEkVMZiGtjDh2bRiCxgu_72Vno7kdvLw-HiXaQ/s393/Sayaka%20Murata%20Aqu%C3%A1rio%20-%20correndo%20entre%20livros%202%20r.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="246" data-original-width="393" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj4gqgksJEkctIeCPF71qnuSgU7NIb73tSy77rwNJiT9pz4Q2aatbPrdnOY9D-ZoUsbdYl848xI9W7S7_0xTIvNT8O3SktxUs491Bwrm7ioiXYkdfjFfVfKFQt6sVX8NTm7egCkn7kOeLBuXjuGEkVMZiGtjDh2bRiCxgu_72Vno7kdvLw-HiXaQ/w400-h250/Sayaka%20Murata%20Aqu%C3%A1rio%20-%20correndo%20entre%20livros%202%20r.png" width="400" /></a></div>"Quando escrevo romances, uso cadernos. Eu rascunho a personagem no caderno — não apenas seu rosto, mas também sua altura e roupas, para saber de onde ela vê o mundo, o lugar onde ela cresceu e viveu durante a infância. Quando termino a protagonista, desenho as personagens que a rodeiam. Enquanto as desenho e as nomeio desse modo, elas automaticamente começam a conversar entre si; daí eu escrevo as cenas. É como se eu estivesse construindo um aquário (...) onde coloco minhas personagens. (...) Em seguida, começo a mudar o mundo onde estão. Quando faço coisas diferentes, todos no aquário começam a se mover, então a história naturalmente se revela; momento em que escrevo o que observo. </i><b>— Sayaka Murata.</b></blockquote></div><div>P.S.: <i>Terráqueos</i> já está na fila para leitura em 2023, portanto Murata poderá visitar mais uma vez o blog. <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2022/06/hopper-botton-jang-eun-jin-sayaka-murata-loja-conveniencia-cup-noodles-loucos-um-pelo-outro.html" target="_blank">O <i>Querida Konbini</i> já rendeu post: aqui</a>.</div><div><br /></div><div><br /></div><div>💬 Não lembro de que forma começou ou por que deixei acontecer, porém confesso que estou circulando por dois becos de elevada periculosidade do You Tube: os nichos das entusiastas de caneta-tinteiro e as de fotografia. Pois é; necessito encontrar forças para não sucumbir, caso queira evitar irreparável e certa derrocada financeira. Quanto às canetas-tinteiros (por ora, possuo somente uma modesta Kaküno), acredito que será fácil resistir, pois me parece um hobby algo peculiar [galera da papelaria na internet se parece assustadoramente com fã de marcas (destaco algumas recorrências observadas: Superior Labor, Hobonichi, Kaweco, Sailor, TWSBI...); rolam uns papos bem bizarros, acho. Até a caligrafia da galera se torna igual; doideira], mas quanto à fotografia, receio de que não haverá remédio. Nos próximos dias, pretendo decidir e fechar a compra de uma câmera e set de lentes; a ver. Por certo será algo de entrada e de baixo orçamento — e desejem-me sorte, pois pretendo me aventurar no AliExpress. [*Atualizando em 03/03: claro que deu ruim ao tentar comprar lá; mas ao menos a merda ocorreu logo na saída. Por que insisto no erro, jesus?] Assim, além de desenhos e pinturas ruins, possivelmente também trarei fotos de qualidade duvidosa para o blog, num futuro incerto. Anoto uns objetos de estudo que me inspiram neste projetinho de fotos: aquelas pequenas flores de mato para as quais ninguém liga, os cãezinhos e capivaras do parque, passarinhos e insetos. </div><div><br /></div><div><br /></div><div>💬 <i>Por falar</i> #1 em fotografia e MUBI, trago esta minha pintura da cena de um filme que vi por lá (guache + aquarela):</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQpajFvoFi-XM5ZfqnSZLRUHkbXzxVwxc1mrCjsuVtmo1hL0p0dXzyVcfFX1BTTckrGr_dXeNMctOCCjY2wUyNVa29q1XCTTF0FRp917DqHc0gd1ClrWj0Cgw0FMGOv3s8zaSh5dLITHswUMG8QcxASyi0oGZdLI0tadB1s8ggeN83gBs531hzlA/s1662/wood%20and%20water%2010001.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1171" data-original-width="1662" height="450" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQpajFvoFi-XM5ZfqnSZLRUHkbXzxVwxc1mrCjsuVtmo1hL0p0dXzyVcfFX1BTTckrGr_dXeNMctOCCjY2wUyNVa29q1XCTTF0FRp917DqHc0gd1ClrWj0Cgw0FMGOv3s8zaSh5dLITHswUMG8QcxASyi0oGZdLI0tadB1s8ggeN83gBs531hzlA/w640-h450/wood%20and%20water%2010001.jpg" width="640" /></a></div><br /><div><i>Madeira e Água </i>(2021), de Jonas Bak, narra a história de uma alemã viúva e aposentada que viaja à Hong Kong, durante os protestos de 2019, para visitar o filho. Adorei a delicadeza do filme; os momentos de silêncio e solidão da personagem, bem como a relação estabelecida com a paisagem por onde ela circula, me tocaram bastante. Esta pintura me ajudou a consolidar uma lição importante, explico-a rapidinho: quando comecei a desenhar/pintar e esbarrei na câmera fotográfica, paralisei porque <i>"como diabos se desenha uma câmera fotográfica?"</i>, contudo logo me lembrei de que <i>"calma, sem estresse; basta desenhar as formas, sombras e luzes que enxergo, e a imagem há de se materializar.</i>" Não é que se materializou legal?</div><div><br /></div><div>Pinço, para registro, um momento logo no início do filme, quando a personagem vê-se obrigada a passar a primeira noite no país num quarto de albergue. Uma jovem no beliche puxa conversa com a senhora turista, contando-lhe as peripécias de sua viagem que se encerrava naquela noite, quando então pausa e emenda tão gentil: <i>"— Desculpe, esta é minha história. A sua está apenas começando." </i>Quer dizer, até aqui, meu post pensa em:<i> </i>desenhar histórias, fotografar histórias, contar histórias, ouvir histórias, escrever histórias, viver histórias<i>.</i></div><div><br /></div></div><div><br /></div><div>💬 <i>Por falar</i> #2 em caneta-tinteiro e MUBI, ano passado pintei uma cena do filme <i>A Ilha de Bergman </i>(2021), de Mia Hansen-Løve (aquarela):</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N1eAAKQutrR8d_rUXNo5tJphMxlKQ9uT6a-B0iW_L8UDOaiN4IYwu2PWKUuHsJnMHC6Jsg5p8ADcNtiA2wrT3Bi6n0JBUA45vHoXeakfN0sHhDzO1myfgELEpVC3ODvBLJqwYmrG6VuUfkh0Wepvt0nCy2BSkWqoj-bUQecW8MnN_i3iz95bqw/s2268/bergmans%20island%2010001%20(2)%20TU.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1360" data-original-width="2268" height="384" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N1eAAKQutrR8d_rUXNo5tJphMxlKQ9uT6a-B0iW_L8UDOaiN4IYwu2PWKUuHsJnMHC6Jsg5p8ADcNtiA2wrT3Bi6n0JBUA45vHoXeakfN0sHhDzO1myfgELEpVC3ODvBLJqwYmrG6VuUfkh0Wepvt0nCy2BSkWqoj-bUQecW8MnN_i3iz95bqw/w640-h384/bergmans%20island%2010001%20(2)%20TU.jpg" width="640" /></a></div> <div>Não consigo descrever o quanto gostei desse filme (a primeira metade, ressalvo), entretanto afirmo que, ao final, eu só queria saber de embarcar para uma ilha sueca carregando cadernos, livros e canetas-tinteiros debaixo do braço, e por lá passear de bicicleta e nadar com águas-vivas. Puxa, adoro essa diretora — ah, e a atriz Vicky Krieps! Por sinal, devo finalizar um retrato dela que desenhei no fim do ano passado, quase pronto. </div><div><div><br /></div><div>[P.S.: não nego que mulheres contemplativas, olhando para o espaço (janelas!), é um apreciado tema.]</div></div><div><br /></div><div><b>*</b></div><div><b>[ATUALIZAÇÃO 26/03/23:] </b>Pronto, desenho da Krieps finalizado (*grafite; lápis de cor). </div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0JxWkDjBJnFsTmndNQNh62XVP4NAVaNTU0-_SsjhKT7pABKKr78tNADFNB7FmQB5-0-fptAciLKy20zG-yHc_R3yHafWGabCNinDZc1ze3LPesEUI-OC4Y9g8xl0kHb14YzRCDQvkxhyuz-Q_CycnYDUnv7tYULPZgD4yFojs1fCRf25SFkqMLA/s566/Krieps_10001_30.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="566" data-original-width="502" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0JxWkDjBJnFsTmndNQNh62XVP4NAVaNTU0-_SsjhKT7pABKKr78tNADFNB7FmQB5-0-fptAciLKy20zG-yHc_R3yHafWGabCNinDZc1ze3LPesEUI-OC4Y9g8xl0kHb14YzRCDQvkxhyuz-Q_CycnYDUnv7tYULPZgD4yFojs1fCRf25SFkqMLA/w355-h400/Krieps_10001_30.jpg" width="355" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b>***</b></div></div><i>Pera</i>, impensável falar de águas-vivas e ilhas suecas, sem trazer de volta um de meus poemas favoritos, do sueco Tomas Tranströmer (que poeta subestimado por estas bandas brasileiras, pessoal; por quê? / *tradução: Marcia Schuback):<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFk3KVdxJsI--SsX1QBm5ZNM66zaVMUyiiZbHiy5jr6rgnelVY5XRn7iIOA119iNMpVMN0i4WikPGDQr7m4GRUiVXfl2FMA00LcpO-rQ9LO9TeD8sNM2ATx8I7DIdGPg5cBbg6VdlZP7WNtIN7-rNvRrFo0fJSfNt53wQW2E2jHQf8aFCEtU5Rsw/s615/TOMAS_TRANSTROMER_-_AGUA-VIVA_-_CORRENDO_ENTRE_LIVROS_3_90.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="615" data-original-width="615" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFk3KVdxJsI--SsX1QBm5ZNM66zaVMUyiiZbHiy5jr6rgnelVY5XRn7iIOA119iNMpVMN0i4WikPGDQr7m4GRUiVXfl2FMA00LcpO-rQ9LO9TeD8sNM2ATx8I7DIdGPg5cBbg6VdlZP7WNtIN7-rNvRrFo0fJSfNt53wQW2E2jHQf8aFCEtU5Rsw/s16000/TOMAS_TRANSTROMER_-_AGUA-VIVA_-_CORRENDO_ENTRE_LIVROS_3_90.jpg" /></a></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div style="text-align: left;"><b>*</b></div><div style="text-align: left;"><b>[ATUALIZAÇÃO 26/03/23:] </b>Como casa com o tema, colarei esta pintura que também finalizei agora, usando como referência a imagem de <a href="https://www.instagram.com/p/Cl-Eu0DrQr1/?utm_source=ig_web_copy_link" target="_blank">um mini vídeo publicado no Instagram pelo artista Scott Campbell</a> [era a visita da filha dele (creio) no Aquário Nacional de Baltimore.] (*guache)</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilP6PO3oOBT71JYOpGQeb8tYpncmtGvrgIo_mlj1QCviwP6xUJ2lR43_yS1ICu52VrR0gDB659XuOE2gLWlIiyGfRAXaDwuKhyphenhyphenAjASfc1sN0BUgSAgfKR6NyftytsaO_oUeoKSTwZwckTzFo7ERU_Fj5-HhxqrkNcsqanYjMdnZjZVPm0e9XNrkCvY/s519/girl%20jellyfish%20painting%20correndo%20entre%20livros.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="519" data-original-width="387" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilP6PO3oOBT71JYOpGQeb8tYpncmtGvrgIo_mlj1QCviwP6xUJ2lR43_yS1ICu52VrR0gDB659XuOE2gLWlIiyGfRAXaDwuKhyphenhyphenAjASfc1sN0BUgSAgfKR6NyftytsaO_oUeoKSTwZwckTzFo7ERU_Fj5-HhxqrkNcsqanYjMdnZjZVPm0e9XNrkCvY/w298-h400/girl%20jellyfish%20painting%20correndo%20entre%20livros.png" width="298" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b>*</b></div><div style="text-align: left;">E que coincidência!: vejo que <a href="https://www.youtube.com/watch?v=pSdKZS3WA7Y" target="_blank">uma artista de São Francisco, que comecei a acompanhar faz pouco tempo no You Tube (Christina Kent), acaba de postar um breve vídeo no qual pinta in loco a ilha de Alcatraz.</a> <i>Putz</i>, é totalmente meu tipo de rolê, queria demais. Ilhas são realmente paisagens especiais, não tem jeito. Felizmente, já tive oportunidade de visitar a ilha de Alcatraz e fiquei absolutamente encantada com o lugar, o que me desconcertou um pouco, dado seu peso histórico. No entanto, o livro <i>Slouching Towards Bethlehem </i>/ <i>Rastejando até Belém</i>, de Joan Didion, inclui um texto que me apaziguou os sentimentos, pois Didion assegura que, por mais que ela própria tente imaginar aquele espaço como a prisão que um dia foi, não consegue desgostar dali. Trago trechinho do que ela escreveu, anotado com carinho num de meus cadernos:</div></div><div><blockquote style="font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR0wtqPCDXKG3AcY5w-8kzMcQItwI_Pbxcf3T77HzUcVUpp3BBe1RNjXO6-Kg0qa3SXV9uMa6esWOjMOggV53APgLAKeNapDu05qR3AAC2QemStGYYGGo2sA9_4fL5hS1PcP0xl8gSae59v1SWGHr5d7m4h-1cyhMrgutjWC33gYCOH-IauT8CLg/s2560/STB%20II.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2560" data-original-width="1633" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR0wtqPCDXKG3AcY5w-8kzMcQItwI_Pbxcf3T77HzUcVUpp3BBe1RNjXO6-Kg0qa3SXV9uMa6esWOjMOggV53APgLAKeNapDu05qR3AAC2QemStGYYGGo2sA9_4fL5hS1PcP0xl8gSae59v1SWGHr5d7m4h-1cyhMrgutjWC33gYCOH-IauT8CLg/w127-h200/STB%20II.jpg" width="127" /></a></div></blockquote><p> </p><blockquote style="font-style: italic;">"It is not an unpleasant place to be, out there on Alcatraz with only the flowers and the wind and a bell busy moaning and the tide surging through the Golden Gate (...) I liked it out there, a ruin devoid of human vanities, clean of human illusions, (...) I came back because I had promises to keep, but maybe it was because nobody asked me to stay." <b>— Joan Didion. </b></blockquote></div><div><br /></div><div><br /></div>Ok, talvez uma visita à ilha de Fårö seja muito complicada (será? caro, com toda certeza seria), enquanto uma revisita à Alcatraz seja mais factível? Por enquanto, retornemos via foto:<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBSvXRoUZ-F_9QwquwxHxAD8Fbl3ELaDurG6p3II2m6vDx2KlTOrTx3mzoo3vyai6ZdacYmPoJcAh894YkVSwSJvd0deCHBV_CTdacYf4dLBgS7zdWZUxCIEF8WXt3lB1cvY7_zjA9-nTwqW0NetFqs1VrFF-9d1RK65vp76iduAYSN8Do2S5U1w/s635/Sf%202013%20Alcatraz%20CL++.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="635" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBSvXRoUZ-F_9QwquwxHxAD8Fbl3ELaDurG6p3II2m6vDx2KlTOrTx3mzoo3vyai6ZdacYmPoJcAh894YkVSwSJvd0deCHBV_CTdacYf4dLBgS7zdWZUxCIEF8WXt3lB1cvY7_zjA9-nTwqW0NetFqs1VrFF-9d1RK65vp76iduAYSN8Do2S5U1w/w400-h275/Sf%202013%20Alcatraz%20CL++.png" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">(*apaixonada pela gaivota lá atrás, inspecionando o que eu aprontava com malabarismos, para me fotografar sem ajuda.)</td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><br /></div><div>💬 Voltarei à MUBI [juro que este post não é patrocinado, mas, <i>hey</i>, fico à disposição da plataforma] para fixar no blog outra bela passagem de filme envolvendo desenhos. Na obra <i>Il Buco </i>(2021), de Michelangelo Frammartino, nada acontece, a paisagem é absurdamente linda e o silêncio prevalece (ou seja, lógico que amei). Acompanhamos a expedição do Grupo Espeleológico do Piemonte, ocorrida em agosto de 1961, o qual se dirigiu ao sul da Itália (Calábria) para explorar a caverna do Abismo Bifurto, então desconhecida. Em paralelo aos trabalhos da equipe, há cenas de um aldeão que pastoreia a região (ator? suspeito de que seja um local escalado pelo diretor), um senhor com uma mirada super intensa (sério, ele está fantástico em cena). Daí, dentre os membros do grupo, há um cartógrafo quem, à medida que a exploração avança, desenha o mapa da caverna. As cenas nas quais o pesquisador trabalha no mapa, usando nanquim e bico de pena, paralelamente ao que vemos ocorrer com o aldeão e à própria paisagem italiana, é lindo, lindo, lindo. Depois desse, Frammartino é outro diretor que entrou no peito, sem dúvidas, pois também aprecio o <i>Le Quattro Volte</i> (2010).</div><div><br /></div><div>Inclusive, que parceria espetacular, não? Cavernas e Ilhas. Sim, colocarei esses elementos no meu hipotético <i>aquário</i> criativo — ao lado das canetas-tinteiros, máquinas fotográficas, frascos de tinta, águas-vivas e gatinhos de óculos escuros. Está ficando bonito.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBtzahcvm0nZ1l72ZMde_rH353x8e3RN8Er_aWv21y8z3VRjtsEb52F-qinodG6_J_ul_yLV7tvqYR4iSo0pJMxaVeXK8cZNmRm1QFguJxAAHhHVfj3vPaNNVuIvNpPp8vx89pKLQeDMQseM5ze5RO2zisk38OSFqc6fhHV_vHK7GKnlAOBEfYuA/s635/Il%20bufo%20map%20-%20correndo%20entre%20livros%202.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="601" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBtzahcvm0nZ1l72ZMde_rH353x8e3RN8Er_aWv21y8z3VRjtsEb52F-qinodG6_J_ul_yLV7tvqYR4iSo0pJMxaVeXK8cZNmRm1QFguJxAAHhHVfj3vPaNNVuIvNpPp8vx89pKLQeDMQseM5ze5RO2zisk38OSFqc6fhHV_vHK7GKnlAOBEfYuA/s16000/Il%20bufo%20map%20-%20correndo%20entre%20livros%202.png" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">(ah, este fundo cego... o percurso na caverna: <i>everything was beautiful, and nothing hurt</i>.)</td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><br /></div><div>💬 Para não dizer que não estou lendo nada, vale comentar brevemente que leio (aos pouquinhos, com calma) a coletânea de cartas que Van Gogh escreveu ao irmão Théo (dívida antiga minha). Estou radiante por me deparar com comentários tão ricos, generosos e honestos de Van Gogh acerca de seu processo criativo e de sua própria formação artística — que material valioso são estas cartas; e o quanto desmistifica a ideia de genialidade mágica. Reservarei impressões mais detalhadas para um possível post futuro (há tanto por falar), contudo, dado que minha pintura anterior do <i>A Ilha de Bergman</i> foi feita com aquarela, é imperioso destacar o quanto me satisfez ver Van Gogh corroborar que aquarela é coisa do diabo (<i>"A aquarela é algo diabólico." - </i>tradução: Pierre Ruprecht). Puta material desgraçado sim. Tenho curtido bem mais o guache e já investi numas tintas de cores primárias da Royal Talens (porém os vidrinhos são tão lindos, que persisto com pena de usar; daí continuo brincando com o baratinho HIMI).</div><div><blockquote><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP9jnXUkGy-QqkqPesfX8QRr1Slcb2jj9812PKgfBpFb5ofOVVdmbenbP7f9yuS6hlwifVdpt_OqrTWpKz_26XTx6_asirPLlotlfZ8ORH-5tpeauV1BtWGcuXvdJ1UEm-6-l8iOB0tscpqujfqMvv0XzA70s83RDaxvJuqUHfsInu79THUjaMlw/s500/Cartas%20Theo-Van%20Gogh.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="285" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP9jnXUkGy-QqkqPesfX8QRr1Slcb2jj9812PKgfBpFb5ofOVVdmbenbP7f9yuS6hlwifVdpt_OqrTWpKz_26XTx6_asirPLlotlfZ8ORH-5tpeauV1BtWGcuXvdJ1UEm-6-l8iOB0tscpqujfqMvv0XzA70s83RDaxvJuqUHfsInu79THUjaMlw/w114-h200/Cartas%20Theo-Van%20Gogh.jpg" width="114" /></a></div><br /></i></blockquote><p style="text-align: center;"><i>"(...) a aquarela exige uma grande habilidade e uma grande rapidez no trabalho. Deve-se trabalhar no material meio úmido para obter harmonia, e não há muito tempo para pensar. Trata-se, portanto, não de trabalhar fragmentadamente, e sim de esboçar quase de um só golpe (...)" </i></p><p><b> — Van Gogh.</b></p><p> </p><p>💬 Outro filme que invadiu minhas pinturas do ano passado foi <i>Holy Motors</i> (2012), do Carax (guache):</p><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgthttjcLxYslLQxTje_KP_jbX4Jc-pBOV-MPR-DM8V0eMWSxMfqb9aSH7gkhXt0_ycUIFADqO2nBgkxvs2CQiEJ7EwZsvbPC1i9c0WBkrbARcH4Bb5U7ICzrbkbj9a4gucdezkxpM7uZp4oROsRLCxXcokOWnXYEQlF07cQm4SKYazKLETg0drFQ/s635/Holy%20Motors%20correndo%20entre%20livros%202.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="390" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgthttjcLxYslLQxTje_KP_jbX4Jc-pBOV-MPR-DM8V0eMWSxMfqb9aSH7gkhXt0_ycUIFADqO2nBgkxvs2CQiEJ7EwZsvbPC1i9c0WBkrbARcH4Bb5U7ICzrbkbj9a4gucdezkxpM7uZp4oROsRLCxXcokOWnXYEQlF07cQm4SKYazKLETg0drFQ/s16000/Holy%20Motors%20correndo%20entre%20livros%202.png" /></a></p><p>Visto que os filmes prévios do Carax aos quais assisti não me deixaram extasiada, me surpreendi um bocado com o quanto amei esse filme. Dane-se, tascarei um <i>perfeito</i> — poxa, tem tudo que valorizo: boas atuações, silêncios, é engraçado e triste na medida (piada discreta com assunto tabu? sou a favor; melancolia infinita? principalmente), é sem pé nem cabeça e ao mesmo tempo possui todo o sentido para instigar reflexões complexas; e tudo isso sem se levar a sério. No meu dicionário, é perfeito mesmo. Inclusive, percebi que o grande equívoco de Carax no filme <i>Annette</i> (2021) foi não ter escalado Denis Lavant para o papel do protagonista (perdão aí, Adam Driver). AH! Não posso deixar de comentar: vi graças à plataforma Cine Sesc Digital; tremenda iniciativa massa.</p></div><div>Para encerrar estes devaneios, escolho transcrever a resposta da personagem de Lavant à pergunta acerca do motivo que a faz prosseguir fazendo o que faz. Trago a frase porque, em parte, ela ajuda a justificar minha dedicação a este humilde e inconsequente blog em pleno 2023, ano em que apenas robôs de I.A. e de indexação leem coisas na internet. [Suponho, a propósito, que seja a mesma razão por que Carax prossegue fazendo seus filmes. E que bom.]</div><div><i><span style="color: #e06666; font-size: x-large;"></span></i><blockquote style="text-align: center;"><i><span style="color: #e06666; font-size: x-large;">"— O que me motiva desde o início: a beleza do gesto."</span></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSevIrlC9kwRGi-KYmVNvBrB6sxXq4aa3PotirRA8COU988IKVke5z6Qj3gLD7zFd_3aD-JmchGAsNtg8MRX_7tuJWCR_U9S8PDbxLn3AWR_QXNVdyw-Rs8guFVmeMi-6im40fl6LFltXaZJrdi3DSJwGcDVuGhx8I7u1H2H1uVECJKLqMGFPfFA/s494/ladies_flower_correndo_entre_livros_30.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="494" data-original-width="479" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSevIrlC9kwRGi-KYmVNvBrB6sxXq4aa3PotirRA8COU988IKVke5z6Qj3gLD7zFd_3aD-JmchGAsNtg8MRX_7tuJWCR_U9S8PDbxLn3AWR_QXNVdyw-Rs8guFVmeMi-6im40fl6LFltXaZJrdi3DSJwGcDVuGhx8I7u1H2H1uVECJKLqMGFPfFA/w388-h400/ladies_flower_correndo_entre_livros_30.png" width="388" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">(guache - minha pinturinha de 2022 que mais curti. <i>This is the way</i>, I guess.)</td></tr></tbody></table></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-49089536401584662682023-01-08T12:08:00.007-03:002024-03-09T23:47:46.407-03:00Of imagination all compactDia desses, enquanto eu desenhava, ouvi uma <a href="https://www.youtube.com/watch?v=amEnXKQYTaU">antiga e breve palestra proferida por Maria Rita Kehl sobre sua tese intitulada o<i> bovarismo brasileiro</i>.</a> Em certo momento do evento, o mediador aproveita o gancho para engatar jocosamente a ideia de que Flaubert, em <i>Bouvard e Pécuchet</i>, também critica as figuras que ilusoriamente julgam-se grandes intelectuais da nação. [É, parece que temos esta: <i>bovarismo intelectual</i> — eles disseram, tenho nada a ver com isso.] Visto que a galera curte ridicularizar o coleguinha (na academia, então, vixe), o rumo do papo não espantou; no entanto meu lápis parou de percorrer o papel quando ouvi Kehl retrucar: <i>"Mas, veja, eu não gosto de usar esse tema do bovarismo para acusar ninguém."</i> Como nunca li a tese da autora, me admirei ao vê-la esforçar-se, por mais de uma vez durante o seminário, para desfazer a corriqueira chave de leitura que condena Emma Bovary — e, por analogia, indivíduos não ficcionais — simplesmente porque ela quis mais, quis ser uma outra; porque ela imaginou → desejou. Conforme pontuou Kehl, a presepada de Bovary nem é imaginar; é sobretudo desconhecer/não dominar o jogo social para concretizar suas fantasias (cabe ressaltar que, sendo mulher no século XIX, Emma já entrou no jogo em desvantagem). Enfim, dessa específica ponderação da psicanalista, quero transcrever os seguintes trechos:<br /><i></i><blockquote><i>"<b><span style="font-size: medium;">Imaginar</span></b> é o primeiro passo para termos contato com nosso desejo, é quando ele surge na forma de fantasia, a qual pode até ser enganosa, mas não imaginar é muito pior, já teríamos a depressão... </i><div><i>(...)<br />Se a gente não sonhar querer ser mais do que é, a gente se deprime. <b>A questão do bovarismo é não saber manejar os mecanismos do mundo para chegar onde se quer.</b><br />(...)<br />O sentido da vida (que não é dado) é uma invenção que depende tanto da <b><span style="font-size: medium;">imaginação</span></b>.... e daí não é uma coisa específica. (...) Numa sociedade em que nosso imaginário já vem de fora para dentro, a depressão aumenta. Deveria diminuir, já que se oferece o sentido o tempo todo, mas não é um sentido que o (próprio) sujeito encontra para responder suas questões. (...) Ao mesmo tempo que o indivíduo tem uma oferta enorme de fantasias que poderiam lhe dar sentido para a vida, ele não consegue engajar em nenhuma, pois não foram/são elaboração dele."</i></div></blockquote><div> — Maria Rita Kehl, 3o Seminário do Programa de Pós-Graduação em Lit. Brasileira da USP </div><div><div><br /></div><div>Pois é; fiz todo esse floreio e sequer quero devanear sobre bovarismo ou <i>Madame Bovary</i> exatamente, mas sobre Imaginação. A transcrita fala de Kehl, quero dizer, sua específica perspectiva a respeito da imaginação, norteia grosso modo esta minha groselha.</div><div><br /></div><div><div style="text-align: center;">💭 </div><br />Três livros lidos numa sequência fortuita me empurraram inicialmente para este precipício; todos com protagonistas que se agarram à imaginação porque (tomando as palavras de Maria Rita Kehl:) não imaginar seria muito pior. Listando as obras sucintamente:<br /><br /><b>(1) <i>Jakob Von Gunten</i>, de Robert Walser</b> (tradução para o inglês: Christopher Middleton)</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEx_fqghkK000YampgsrSzTso9-YYiq9KGU7vAOB9NIf1tlRiqWo-SYvdDMFUOWvw34g9JsiZ3sN42aJKwL904EIb1CWMnJgGxJZj3kiOjsQBJE4dL3INJZjJm5Fahm3u5LpslFIIdrvBG8YevCexLh_Yj26tVLHP92LfcAlx5At5u6p7Gs8rX6A/s2083/JVG.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2083" data-original-width="1291" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEx_fqghkK000YampgsrSzTso9-YYiq9KGU7vAOB9NIf1tlRiqWo-SYvdDMFUOWvw34g9JsiZ3sN42aJKwL904EIb1CWMnJgGxJZj3kiOjsQBJE4dL3INJZjJm5Fahm3u5LpslFIIdrvBG8YevCexLh_Yj26tVLHP92LfcAlx5At5u6p7Gs8rX6A/w124-h200/JVG.jpg" width="124" /></a></div><div><br /></div>O jovem Jakob Von Gunten não fazia ideia do que o aguardava quando resolveu fugir de casa e bater à porta do Instituto Benjamenta, porém tão logo pôs os pés ali, ele soube que jamais escaparia da escola onde <i>ninguém aprende nada</i>, lugar que o transformaria num <i>charmoso zero à esquerda</i>. Ok, talvez não seja para tanto, pois Gunten se tornaria sim uma coisinha de algum valor: aprenderia a servir bem para servir sempre, tornando-se um homem paciente, subordinado e disciplinado. — (Para voltar às palavras de Kehl:) O sentido da vida já tinha sido imaginado para Gunten, a quem só restava assimilá-lo com a ajuda do Benjamenta. — Os irmãos Herr Benjamenta e Fraulein Lisa Benjamenta, responsáveis pela direção da escola, e o corpo docente (<i>professores sonolentos, mortos ou aparentemente mortos, fossilizados</i>) eram verdadeiras miragens do inescapável futuro dos garotos do instituto.</div><div><br />No início da narrativa, Gunten diz algo notável a respeito do aluno e amigo Schacht:<i> "Ele sonha em tornar-se músico. Ele me diz que toca violino maravilhosamente, com a ajuda de sua imaginação, e eu acredito nele."</i> Gunten acrescenta que os dois se contam histórias de vidas inventadas e que, quando o fazem, têm a sensação de que uma música começa a tocar e que o quarto estreito e escuro se expande, abrindo espaço para ruas, palácios, cidades, paisagens, vozes... Quer dizer, um refúgio possível parecia existir aos alunos na imaginação; elemento que se transfere para a forma narrativa da obra, dado que, por vezes, eu não sabia se estava com Gunten no Benjamenta ou se tínhamos partido para lutar ao lado de Napoleão ou mesmo acompanhar um funeral numa floresta mágica. O imaginário de Jakob era, de fato, mais empolgante que a realidade na qual ele vivia, realidade <i>que rouba coisas e parece espalhar tristeza por prazer</i>. Jakob Von Gunten, um fedelho cheio de deliciosas gracinhas e super melancólico... Que incrível narrador.<br /><br /><b>(2) <i>The Prime of Miss Jean Brodie</i>, de Muriel Spark</b><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbySxkHw7NxG_CqysxpFBFnwjQ__wmfve5WRU12ZE66BYyLXDr9H5lTfa5csia5ZmWPXSFOSbJneZYrC9aqRSCF-1ilSo95FCm_RjfqbNtHxe80jcRiuA8KIRGj7tyMH-7ycPBUJPuDtm4_mG8ioOg2cZmSg9j2KULiltkcusDKHl_vyZLzMf2TQ/s360/miss%20jean%20brodie%20-%20Muriel%20spark.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="240" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbySxkHw7NxG_CqysxpFBFnwjQ__wmfve5WRU12ZE66BYyLXDr9H5lTfa5csia5ZmWPXSFOSbJneZYrC9aqRSCF-1ilSo95FCm_RjfqbNtHxe80jcRiuA8KIRGj7tyMH-7ycPBUJPuDtm4_mG8ioOg2cZmSg9j2KULiltkcusDKHl_vyZLzMf2TQ/w133-h200/miss%20jean%20brodie%20-%20Muriel%20spark.jpg" width="133" /></a></div><div><br /></div>A senhorita Jean Brodie até pode estar no auge da vida, porém quem me interessa aqui é uma de suas alunas: Sandy Stranger, futura Irmã Helena da Transfiguração. Isso; o Instituto Benjamenta sai de cena para ceder lugar à Escola Marcia Blaine. [Bicho, qual o problema das escolas? É, <i>teachers, leave the kids alone</i>.] Exposta à insólita influência de uma pessoa tão peculiar quanto Jean Brodie, não surpreende que a imaginação de Sandy voasse alto a ponto de escrever fanfics de romances eróticos protagonizados pela tresloucada mentora. No entanto, essas fanfics sequer representam o ápice de Sandy, cujo talento imaginativo máximo transparece nos trechos em que ela maneja habitar simultaneamente duas realidades. Destaco estas formidáveis passagens:</div></div><div><br /></div><div>- Brodie leva as alunas para assistirem a um espetáculo de balé, o que imediatamente aciona a engrenagem imaginativa de Sandy, que transforma-se numa talentosa bailarina <i>Principal</i> de uma grande companhia de dança, daí iniciando altos papos com a estrela do espetáculo a que assistiam e que, claro, despeja fervorosos elogios para <strike>Mary Sue</strike> Sandy;</div><div>- Sandy lê <i>Jane Eyre</i> e catapulta a si mesma para o posto de amante num romance tórrido com Mr. Rochester;</div><div>- Ah, sim, é preciso incluir a fanfic com pitadas sáficas na qual Sandy se envolve com uma mulher policial. </div><div><br /></div><div>Que Sandy tenha se tornado freira (e feito o que fez com Miss Brodie), é de uma sagacidade que talvez só a mente trevosa de Muriel Spark seria capaz de bolar. Sandy Stranger, nossa grande quixote adolescente.</div><div><br /></div><div><b>(3) <i>Journey by Moonlight</i>, de Antal Szerb </b>(tradução para o inglês: Len Rix)</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOqjIvQulHUaSC50alrS3ACuGwsL20g-1_EXhE6AqBxtfjmccfaxvxXv5jpjPoRnPzTSDVkSmjbj_snKITlbs1eqso0YQqQiz9zaAIE_fqxi7cWK3cUIYAB89KglZpOJExXYcWjgnbD_bE9ZVdaRlyyhosoeYSKcVyDB01Sh7cRvWwtaa27Ei4hQ/s2400/journey%20by%20moonlight.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2400" data-original-width="1500" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOqjIvQulHUaSC50alrS3ACuGwsL20g-1_EXhE6AqBxtfjmccfaxvxXv5jpjPoRnPzTSDVkSmjbj_snKITlbs1eqso0YQqQiz9zaAIE_fqxi7cWK3cUIYAB89KglZpOJExXYcWjgnbD_bE9ZVdaRlyyhosoeYSKcVyDB01Sh7cRvWwtaa27Ei4hQ/w125-h200/journey%20by%20moonlight.jpg" width="125" /></a></div><br />O que acontece ao protagonista deste livro e que, a meu ver, o conecta às duas personagens previamente citadas é um tanto mais complexo. Mihály é um marmanjo de quase quarenta anos, portanto aquele destino pequeno-burguês reservado a Gunten e Sandy já berrava-lhe à porta, entretanto ele tenta escapar mesmo assim. Mihály larga a esposa durante a lua de mel na Itália e vai atrás de uma fantasia adolescente há muito encerrada, uma perseguição algo patética dos fantasmas da época de escola (<i>yep</i>, de novo ela). O que chama atenção no relato de Mihály é que o período adolescente narrado com ares nostálgicos caracteriza-se sobretudo por brincadeiras de encenação (literalmente) de histórias e de papéis muito mais excitantes do que a vidinha de trabalhador casado que o esperava. Esse passado adolescente inutilmente perseguido por Mihály é o do convívio com amigos que tinham um imaginário infinitamente superior ao dele. A cereja do bolo é que um desses amigos segue aquela mesma trilha de Sandy: torna-se monge na Itália. </div><div><br /></div><div style="text-align: center;">💭</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">A decisão de ler Simone Weil no momento em que eu persistia impregnada pelas histórias de Gunten/Sandy/Mihály revelou-se um baita equívoco, visto que a autora me deixou louca do juízo quando me disse que é preciso largar mão dessa besteira de imaginação. Mas, mas... Se aquelas personagens desapegarem da imaginação, o que lhes restará? Exato, só restará o vazio (ou a depressão, como falou Kehl), contudo este é precisamente o ponto de Weil nas anotações acerca de sua mística cristã, publicadas na obra <i>Gravity and Grace (La pesanteur et la grâce / A Gravidade e a Graça </i>- tradução para o inglês: Emma Crawford e Mario von der Ruhr). A premissa da autora é até bastante lógica: para ela, o sofrimento é o que permite à Graça nos alcançar, dessa maneira a busca por consolos deve ser rechaçada. Há consolo maior do que a imaginação, onde tudo é excitante, usualmente perfeito e sem contradições? Weil destaca que a imaginação é um obstáculo à Graça porque nos afasta da realidade presente, mediante construção de um passado (Mihály) e um futuro (Gunten, Sandy) ilusórios. Para Weil, em tudo não encoberto pela imaginação há a presença real de Deus. Além disso, outro ponto fundamental na mística de Weil é a demolição do Eu; portanto, se inexistir um sujeito para imaginar, talvez nem haja mesmo que se falar em imaginação. Até aí, "tudo bem", o contratempo foi entender onde fica a literatura no meio disso tudo, especialmente porque, ao contrário do que supus, Weil não lhe impõe uma objeção absoluta. Há um trecho explícito quanto à questão que reflete a influência platônica, no qual Weil menciona que<i> a literatura é válida quando penetra a realidade mediante a arte, coisa que só gênios conseguem fazer. </i>No entanto, continuo achando que as peças não se encaixam, ainda mais quando a literatura é tão intrinsecamente humana e repleta de <i>Eu's</i>.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1FicJnn7_gHy_yKHSO7cPuAklx94LpnMCewarKwYVfXGHcIdFioTZJOzD_pkIfEBZ_W-QSEzaqVKsrB0oVgImhouCaaEMOJpxH6nXbDelgp3VeZuh3jmwz8pgEkshYxpO0a8hoPEOXmVwcsSvHz_-vcXV5HusB1FMEK2xtcaYDQgbJZl8jzJPUA/s567/gravity%20and%20grace%20imagina%C3%A7%C3%A3o%20educada.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="416" data-original-width="567" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1FicJnn7_gHy_yKHSO7cPuAklx94LpnMCewarKwYVfXGHcIdFioTZJOzD_pkIfEBZ_W-QSEzaqVKsrB0oVgImhouCaaEMOJpxH6nXbDelgp3VeZuh3jmwz8pgEkshYxpO0a8hoPEOXmVwcsSvHz_-vcXV5HusB1FMEK2xtcaYDQgbJZl8jzJPUA/w320-h234/gravity%20and%20grace%20imagina%C3%A7%C3%A3o%20educada.png" width="320" /></a></div><div style="text-align: left;">Na ânsia por alguma conciliação com a tese de Weil, lembrei de supetão que o livro do Northrop Frye, <i>A Imaginação Educada</i>, estava aguardando leitura na estante, daí me pus a lê-lo. Pronto, esta sim foi uma decisão afortunada, pois Frye me apontou para o óbvio que sempre esteve bem diante de meu nariz: </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div><blockquote style="font-style: italic;"><blockquote style="text-align: center;">"Usamos a imaginação o tempo todo: ela participa das nossas conversas, da nossa vida prática (...) a imaginação é a própria base da nossa vida social."<span style="text-align: left;"> </span></blockquote></blockquote><blockquote style="font-style: italic;"><blockquote style="text-align: center;"><span style="text-align: left;"> — Northrop Frye, </span><i style="text-align: left;">A Imaginação Educada</i><span style="text-align: left;"> <span style="font-size: x-small;"> </span></span><span style="font-size: x-small; text-align: left;">(tradução: Adriel Teixeira, Bruno Geraidine, Cristiano Gomes)</span></blockquote></blockquote><p>Quer dizer, me dei conta de que, claro, era<i> </i>preciso dar um passo para trás e recordar que a construção de toda nossa existência depende da imaginação, inclusive a dita e suposta realidade. Não me contive e ousei questionar: ora, então Weil não se valeu de sua própria imaginação para escrever as anotações de <i>A</i> <i>Gravidade e a Graça</i>? A pergunta não subentende que as teses de Weil são necessariamente delírios sem sentido, mas que ironicamente partiram daquilo que ela, em tese, recrimina. Inclusive, no ensaio intitulado <i>Simone Weil</i> (coletânea <i>Contra a Interpretação</i>), Susan Sontag a inclui entre os escritores que vêm para oferecer um <i>alargamento da imaginação </i>(em oposição aos que contribuem para uma verdade, aliás). Afinal, acho que consigo apreender melhor esse ponto do pensamento de Weil, caso o combine àquele de Freye, chegando ao consenso particular de que ao menos a imaginação mal treinada, que embaça a realidade, merece um rechaço assertivo. (Este, o vacilo de Emma Bovary, por sinal.)</p><div style="text-align: center;">💭</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Engraçado, agora, perceber que minha insistente defesa da imaginação neste post acidentalmente sugere que o faço por ser uma exímia imaginadora, alguém com uma capacidade imaginativa prodígio. Puxa, quem me dera, pois meu atual problema é justamente não conseguir imaginar mais nada. Bom, se Weil estiver certa, significa que a Graça logo me encontrará. Xi, mas assim virará consolo. É, praticar as ideias de Weil não seria moleza.</div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-45041777216559071842022-10-06T20:24:00.014-03:002024-03-09T23:47:57.569-03:00He'll make a tree from me<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg24EIS2mLyUJM6AS7oIkrJ8dZr5ggbwe6Cm7Ko9KgWTIqaaB53xbyPxF8UkCCsZxyVG9k-SZSc0I6EtkgCGTCZ0ZQMFywp9HjjCUojMFNXygSqM4ibLV6QAeYhNUw2_GmPenqcxSx-_1lYhPVYa-CvhM2oano0m2FBfbNPpQAgEjvymPIhyy4fZA/s566/CASCAS%20de%20%C3%A1rvores%2022.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="213" data-original-width="566" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg24EIS2mLyUJM6AS7oIkrJ8dZr5ggbwe6Cm7Ko9KgWTIqaaB53xbyPxF8UkCCsZxyVG9k-SZSc0I6EtkgCGTCZ0ZQMFywp9HjjCUojMFNXygSqM4ibLV6QAeYhNUw2_GmPenqcxSx-_1lYhPVYa-CvhM2oano0m2FBfbNPpQAgEjvymPIhyy4fZA/s16000/CASCAS%20de%20%C3%A1rvores%2022.png" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><i>Em um grupo de pessoas vestidas de luto</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><i>um garoto</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><i>olha encantado um pé de caqui.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">— Abbas Kiarostami</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">(Tradutor: Pedro Fonseca)</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Assistindo a um vlog de viagem no You Tube (despretensioso, feito por quem não é influenciadora), fui surpreendida pela seguinte confidência da turista: <i>"Estou fascinada pelas árvores daqui. Vou mostrar minha árvore favorita." </i>Sem exagero, afirmo ter sido uma das coisas mais delicadas que já ouvi — num vídeo de viagem, ao menos. Nos dias seguintes, o comentário da vlogueira persistiu ecoando na cabeça e me vi consumida pela triste constatação de que não tenho uma árvore favorita. Por que e como isso aconteceu? Não sei; no entanto fui tomada pela certeza de que preciso encontrar minha árvore favorita. Desse modo, durante as caminhadas no parque, resolvi parar de observar os passarinhos (é um observatório fabuloso), a fim de reparar nas árvores. A dificuldade da empreitada logo superou a prevista, sobretudo porque atinei que sequer sei o que procurar ou registrar, durante a observação. Em outras palavras: o que torna uma árvore a favorita de alguém?</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Calculei que seria um bom momento para ler <i>Meu Pé de Laranja Lima</i>, de José Mauro de Vasconcelos (não, nunca tinha lido), contudo a obra só me deixou mais confusa. Para começo de conversa, Zezé não exatamente escolhe o pé de laranja lima como seu favorito. Na narrativa, o processo corresponde a um feliz encontro resultado do acaso: a família se muda de casa, cada irmãozinho escolhe uma árvore para chamar de sua e, a Zezé, sobra aquele pequenino pé de laranja lima. Descobri, também, que eu não apenas necessito encontrar minha árvore favorita, como terei de nomeá-la. Zezé, por exemplo, batiza sua plantinha de Minguinho, com direito ao apelido carinhoso de Xuxuruca. E até seu amigo português (um adulto) tem uma árvore favorita chamada Rainha Carlota, ainda que ele sempre a trate por Majestade. — Então é isto: todo mundo tem uma árvore favorita, menos eu. Ah, pronto. — Puxa vida, mas como eu poderia nomear uma árvore? Aquelas do parque se apresentam a mim tão imponentes e majestosas que, estou segura, jamais aceitariam ser nomeadas por uma humana. A propósito, o pé de laranja lima de Zezé fala (oh yeah), portanto teorizo que, na verdade, tenho de ouvir o nome das árvores, que elas próprias me dirão. Bom, nem preciso contar que não consegui ouvir nada, preciso? Para ouvi-las, possivelmente tenho de pedir a Deus meu passarinho de volta; aquele passarinho que, segundo o tio de Zezé, eu teria devolvido ao chegar (supostamente) na idade da razão.</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Retornando ao vídeo da vlogueira, para checar se ela explica o motivo daquela danada ser sua favorita, me deparei com isto: "<i>Minha árvore favorita, ali está ele. Ou ela. Ele/Ela tem um certo ar que impressiona." </i>Ah, pois é, outro problema a sanar: qual será o gênero da minha árvore favorita? Que imbróglio. Enfim, ao prestar melhor atenção nas árvores, sinto, conforme adiantei, uma presença bastante grandiosa, o tal <i>ar que impressiona</i> dito pela youtuber, porém isso se aplica a todas elas. Por outro lado, notei que cada uma emana, de fato, certa particularidade cuja percepção exige sensibilidade do observador. No ótimo livro <i>Lembranças do Porvir</i>, escrito pela mexicana Elena Garro, há uma passagem que aborda, de um jeito engraçado e preciso, essa questão à qual me refiro. A costureira Blandina vai até a casa dos Moncada, para preparar o enxoval dos filhos da família que partiriam em breve, e informa que, para trabalhar, não pode ficar entre paredes, sendo necessário que ela veja folhas. O detalhe é que não pode ser qualquer folha: </div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><i>"—Aqui está bem, dona Blandina?</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><i>— Não, não, não! Vamos para lá, em frente às tulipas... estas samambaias são muito intrigantes...!"</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Colocada de frente às tulipas, nova queixa:</div><div class="separator" style="clear: both;"><i>" </i><i>—</i><i>Muito vistosos! Muito vistosos! - disse com desgosto. Se não se incomodam prefiro estar em frente às magnólias."</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><i><br /></i></div><div class="separator" style="clear: both;">Posicionada então diante das magnólias, outra reclamação:</div><div class="separator" style="clear: both;"><i>"</i><i>—</i><i>São muito solenes e me deixam triste."</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Após testar a paciência da família, aqui está o ângulo da varanda no qual Blandina <i>se encontra </i>(grifo meu)<i>:</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><b><i>"— Daqui só vejo a folhagem; o alheio se perde entre o verde."</i></b></div><div class="separator" style="clear: both;"><b><i><br /></i></b></div><div class="separator" style="clear: both;"><i style="font-weight: bold;"> </i>— Elena Garro, <i>Lembranças do Porvir</i><i style="font-weight: bold;"> </i>(Tradução: Iara Tizzot)</div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Quer dizer, umas são intrigantes, outras vistosas e algumas solenes. Por sinal, lembro que a série <i>Dickinson</i> também explora brevemente esse mesmo ponto, mediante esta personagem<b><span style="color: #38761d;">*</span></b> que atesta a impossibilidade de paz, quando estamos sentados ao lado de uma roseira: <div>(<b><span style="color: #38761d;">*</span></b> = Ninguém menos que Frederick Law Olmsted, o paisagista responsável pelo projeto do Central Park.)<div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeX0QSMqi8cYM4acMfLhIWIK-gQZATixgiabCWLfTNoVanzXVfwXcZYL6OJ781XSdezDkU6H6GGMfJ70ACiHq-gnteX0Iqqam5Lr3LMkSjQYLKYduo0L6q1GNlN-sfZLq14ZFle5zOqyTki8dUbdXomMR1Yrd1lhE68pVUgIyNPQbEAwfqzxqjeA/s1076/DICKINSON%20PEACE%20ROSEBUSH%202.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="614" data-original-width="1076" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeX0QSMqi8cYM4acMfLhIWIK-gQZATixgiabCWLfTNoVanzXVfwXcZYL6OJ781XSdezDkU6H6GGMfJ70ACiHq-gnteX0Iqqam5Lr3LMkSjQYLKYduo0L6q1GNlN-sfZLq14ZFle5zOqyTki8dUbdXomMR1Yrd1lhE68pVUgIyNPQbEAwfqzxqjeA/w400-h229/DICKINSON%20PEACE%20ROSEBUSH%202.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>No meu caso, porém, o que prevalece durante as caminhadas é a forte sensação de ser observada atentamente pelas árvores. Por alguma razão que não sei explicar, inclusive, sinto que elas me observam a partir de suas cascas. É provável que isso decorra do simples fato de que as cascas estão facilmente à mostra, logo na altura de meus olhos, refletindo meu próprio olhar. Além disso, admito que a casca é o que mais tem chamado minha atenção; e fico apalermada diante da encantadora variedade de formas, cores, texturas, desenhos — a imagem no início do post são algumas cascas fotografadas durante recentes andanças. Dessa maneira, conjecturei que encontraria minha árvore favorita, caso seguisse as pistas das cascas. Assim, lembrei que o filósofo Georges Didi-Huberman escreveu um livro intitulado<i> Cascas</i>, o qual saquei para imediata leitura. Tal qual <i>Meu Pé de Laranja Lima</i>, o livro de Didi-Huberman não me ajudou tanto, visto que a obra realmente concentra-se na reflexão filosófica acerca de como recordar/ler o passado do holocausto; quer dizer, como construir e preservar essa memória para efeitos no presente. Simultaneamente, porém, foi bastante intrigante constatar que, durante a visita ao campo de concentração Birkenau, o filósofo foi tomado pela urgência exata de arrancar lascas de cascas das Bétulas que povoam o bosque daquele local. Nas palavras do autor (tradução: André Telles):<i> "(...) três lascas de tempo. Meu próprio tempo em lascas: um pedaço de memória, essa coisa não escrita que tento ler; um pedaço de presente aqui, sob meus olhos, sobre a branca página; (...)"</i>. Ao descrever as Bétulas que testemunharam o horror ali cometido contra os judeus, Didi-Huberman diz que <i>seus troncos possuem uma enorme força visual que chega até a tornar discreto o arame farpado, os postes de cimento e os fios eletrificados do campo</i>. Ainda segundo o autor, as Bétulas transmitem uma paradoxal <i>serenidade verdejante, com toda a delicada beleza dos troncos brancos com suas manchas, que evocam resquícios de alguma partitura musical</i>. Em consequência, ele me ajudou a perceber que os relevos de um dos troncos que avistei remete a caixinhas de música (!). Ao contrário de Zezé, quem sabe eu precise estar atenta para ouvir não a fala verbal, mas sim a música das árvores...? Melhor: <b>tocá-las</b> para ouvi-las? [Vixe, neste ritmo, logo virarei a louca que abraça árvores.]</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtr3MEv-j8ODflJ-SfpwyD7dDMJPbp8M3VZnkCsMb5YmRg48HCsJtEH4m7lBBrYShnDPW-1SEO7M3pRiC2D8tLw_RyrIawPQ1xVdNQAI_Keos_y8fLsLzlLzCN9C6Wf3ShvLXiXDa6igVbk523cG_p1D8pJ28SYyAVDZ7kFr35-yIEvU1ALqdlTg/s635/casca%20%C3%A1rvore%20x%20caixa%20m%C3%BAsica.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtr3MEv-j8ODflJ-SfpwyD7dDMJPbp8M3VZnkCsMb5YmRg48HCsJtEH4m7lBBrYShnDPW-1SEO7M3pRiC2D8tLw_RyrIawPQ1xVdNQAI_Keos_y8fLsLzlLzCN9C6Wf3ShvLXiXDa6igVbk523cG_p1D8pJ28SYyAVDZ7kFr35-yIEvU1ALqdlTg/s16000/casca%20%C3%A1rvore%20x%20caixa%20m%C3%BAsica.png" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both;">Didi-Huberman assegura que a casca das árvores não exatamente equivale àquela mera <i>superfície que esconde a verdadeira essência das coisas; </i>afirmando que as árvores se exprimem pela casca; ou que, em todo caso, elas se oferecem ao exterior mediante as cascas. Esse pressuposto é usado pelo autor como metáfora para fundamentar a necessidade de olharmos feito arqueólogos o espaço soterrado do campo de concentração, a fim de localizar elementos que ajudarão a firmar a memória daquele evento histórico. Embora a fundamentação faça sentido, não nego que ela acabou por estremecer minha impressão de que as árvores estariam me encarando de volta a partir de suas cascas; quero dizer, a palavra "superfície" permaneceu piscando pra mim. Para piorar, durante a rápida pesquisa feita objetivando rememorar informações biológicas sobre cascas, esbarrei com o óbvio: essa é a parte morta da árvore, logo como elas poderiam estar me enxergando pela casca?! Felizmente, entretanto, meu sentimento de estupidez se esvaiu quando minha memória catapultou à superfície (😉) um trecho do ensaio <i>The Naive Reader</i>, no qual a poeta dinamarquesa Inger Christensen escreve (tradução dinamarquês ➝ inglês: Susanna Nied; inglês ➝ português: minha):</div></div><div class="separator" style="clear: both;"><blockquote style="font-style: italic;">"Eu consigo enxergar uma árvore, enquanto a árvore presumivelmente não consegue me enxergar. Mas <b>o que significa "enxergar"? Isso é linguagem humana</b>. É claro que é correto dizer que uma árvore não enxergou nada, porém, à sua maneira,<b> a árvore me enxergou. Ela registrou presença humana</b>, nem que tenha sido nada além da poluição do ar. (...)"</blockquote><p><i> </i>— Inger Christensen,<i> The Naive Reader </i></p></div><div class="separator" style="clear: both;">Certo; reescreverei, portanto, minha declaração: as árvores do parque <i>registram</i> minha presença. O curioso é que, naquela mesma pesquisa, o Google acidentalmente (?) me mostrou um artigo que aborda a possibilidade de avaliar a qualidade do ar a partir do estudo da casca das árvores. <a href="https://ciencia.ufpr.br/portal/cascas-de-arvores-ajudam-a-monitorar-a-qualidade-do-ar/" target="_blank">(Link: X</a>)</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Ao revisar os procedimentos desta busca, aventei a possibilidade de que talvez eu não esteja observando direito; falha que potencialmente possa ser corrigida, caso eu me dedique ao desenho e à pintura das árvores do parque. Essa hipótese me foi soprada ao ouvido pelo pintor David Hockney que, no livro <i>A Bigger Message,</i> explica a Martin Gayford que desenhar nos permite ver melhor e cada vez mais claro, nos permite enxergar o mundo com maior intensidade. Na ocasião em que tivera essa conversa com Gayford, a obra de Hockney estava marcada pela presença de árvores que, na opinião do pintor, são a maior manifestação de força vital que testemunhamos, cada uma única — e Gayford complementa (no que Blandina concordaria): <i>gigantes vegetais, algumas heroicas, algumas elegantes, outras sinistras</i>. Fiquei aliviada quando Hockney acrescenta que árvores não são fáceis de desenhar, especialmente a folhagem — "<i>não parecem seguir as leis da perspectiva, com linhas seguindo em todas as direções"</i> — porque eu mesma enfrento muita dificuldade ao tentar desenhá-las. Das pinturas que já fiz, gosto desta onde, sem surpresas, predominam tronco e casca (*aquarela):</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikLyV7EvmE3ehPYEQXVsHbgXO2YIoXsNt7uJ-3K_udabl0y8IdEkKcM0T2Ah1j7V2JgW2QLXvtMO5uujNNIapOkFDUfkt_h05ygjFm1pUWc53DYzxOTMLWugec8sS8H3hbJ28IkNuiBPgCkLM4SZknYUdRLjUIJ5DpK_ULWwtU91HbCKpU5n3ZMg/s1327/%C3%81RVORE%20MAP%20CRUNCH%20RS.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1327" data-original-width="927" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikLyV7EvmE3ehPYEQXVsHbgXO2YIoXsNt7uJ-3K_udabl0y8IdEkKcM0T2Ah1j7V2JgW2QLXvtMO5uujNNIapOkFDUfkt_h05ygjFm1pUWc53DYzxOTMLWugec8sS8H3hbJ28IkNuiBPgCkLM4SZknYUdRLjUIJ5DpK_ULWwtU91HbCKpU5n3ZMg/w280-h400/%C3%81RVORE%20MAP%20CRUNCH%20RS.png" width="280" /></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">O que ocupa minha mente nos momentos em que contemplo as várias árvores do parque, em especial agora que sinto e vejo incontestáveis sinais de envelhecimento em meu corpo, é sobretudo o verso de Tom Waits usado para intitular esta postagem: <i>He'll make a tree from me / ~Ele fará, de mim, uma árvore</i> (<a href="https://open.spotify.com/track/0OIz5ChWgoPUstjgdE4Klb?si=43215c2befae483c" target="_blank">música <i>Green Grass</i></a> voltando ao blog). Ou seja, é o pensamento de que se aproxima a hora em que cederei todos os meus átomos para a eventual constituição de uma daquelas (ou outras) árvores. Nem de longe trata-se de um sentimento mórbido ou pesaroso. Juan Ramón Jimenez, no lindo livro<i> Platero e Eu</i>, escreveu de modo muito mais bonito e certeiro o que tento expressar. Colarei o trecho aqui, extraído do breve poema em prosa no qual o autor nos diz o que percorre seus pensamentos, quando ele avista o pinheiro no alto da montanha da cidade espanhola de Moguer (grifo meu):</div><div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both;"><blockquote><i>"Quando, no vaguear de meus pensamentos, as imagens arbitrárias se colocam onde querem, ou nos instantes em que há coisas que se veem como numa segunda visão e à parte do que é distinto, <b>o pinheiro do Alto da Montanha</b>, transfigurado como que num quadro de eternidade, <b>surge-me mais eloquente e mais gigantesco</b> ainda, na dúvida, <b>chamando-me para descansar em sua paz, como o término verdadeiro e eterno de minha viagem pela vida.</b>"</i></blockquote><p> — Juan Ramón Jiménez;<i> Platero e Eu </i>(Tradução: Monica Stahel)</p></div></div><div class="separator" style="clear: both;">Por ora, sou obrigada a encerrar esta postagem sem que eu tenha encontrado minha árvore favorita. Acredito que seja uma questão de acaso realmente. Ou talvez eu não esteja pronta. Não chegou a hora? Falta a vivência de uma história, que construirá uma memória afetiva? No máximo, tenho uma árvore que já há algum tempo me é muito querida: um ipê amarelo localizado em frente à rodoviária de Brasília. Quando está todo florido, esse ipê vive rodeado por pessoas tirando fotos; porém basta que suas flores amarelas caiam e seus galhos sejam tomados por abundantes folhas verdes, para que todos esqueçam dele. Desde que notei isso, faço questão de travar um diálogo silencioso com o Ipezinho da rodoviária, sempre que passo por ele durante trajetos de ônibus: <i>"Olá, Ipezinho, estou te vendo e você segue bonito como sempre." </i>Ao mesmo tempo, que sei eu daquele Ipezinho? É possível que ele nem curta a badalação e prefira não ser importunado.<i> </i>Sua voz ou sua música, nunca consegui ouvir, então eu não saberia dizer. De qualquer forma, ressaltarei que estas duas do parque em que caminho, que aparentam se abraçar (brigar por espaço?! xi), aos poucos me fazem sorrir:</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPP6LW67GR56QcIK4kMwceB11awqRnGVZNQoBOLkJE6avL5O6PcZ3COw0tRirtG-ZVN94WZOMuiWrg-sPuk5pbD5APELsxW_iLGEtBG-kXVnX8Y6yWRtvSPvvBj-j2hlKW_vEyjQ3ywxa4Q8Gb4atv3zf7JbppIrN6O7lkdnJ7Frwe2IAGKMyfHw/s600/hugging%20trees.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="450" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPP6LW67GR56QcIK4kMwceB11awqRnGVZNQoBOLkJE6avL5O6PcZ3COw0tRirtG-ZVN94WZOMuiWrg-sPuk5pbD5APELsxW_iLGEtBG-kXVnX8Y6yWRtvSPvvBj-j2hlKW_vEyjQ3ywxa4Q8Gb4atv3zf7JbppIrN6O7lkdnJ7Frwe2IAGKMyfHw/s16000/hugging%20trees.png" /></a></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-89276506929573530802022-08-11T22:27:00.005-03:002024-03-09T23:48:04.707-03:00Em que espelho ficou perdida a minha face?<p style="text-align: right;"> [— <i>Retrato</i>, Cecília Meireles]</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuk-sReSGfyPwF0430kI7_jUnFTXofkpL5eIRXh4Iyuh3yG66qzCNrB2R7104lbLqpt8Rs00DKuNZLe8c8_UZbP5eCpyy4Lj4TAcyrEaLL3aiSN93K_yKdCyQaUPTH5VSmpxAiPwtYhYu6Ff3DLNrA3ww3-ctVCgt8VeSAsg0scTD6fEgUmRbn3A/s1200/seeing%20ourselves%20women's%20selfportraits.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="800" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuk-sReSGfyPwF0430kI7_jUnFTXofkpL5eIRXh4Iyuh3yG66qzCNrB2R7104lbLqpt8Rs00DKuNZLe8c8_UZbP5eCpyy4Lj4TAcyrEaLL3aiSN93K_yKdCyQaUPTH5VSmpxAiPwtYhYu6Ff3DLNrA3ww3-ctVCgt8VeSAsg0scTD6fEgUmRbn3A/w266-h400/seeing%20ourselves%20women's%20selfportraits.jpg" width="266" /></a></div>Em <i>Seeing Ourselves - Women's Self-Portraits</i> (2016, edição revista e atualizada), Frances Borzello reúne autorretratos de mulheres (curadoria focada na Europa, notadamente Inglaterra; iniciando-se no século XVI), com a finalidade de investigar as razões por trás da maneira com que artistas mulheres se retrataram ao longo dos séculos. Em linhas gerais, a autora defende que os temas e gêneros observados nos autorretratos resultam largamente, em cada período, da combinação destes principais fatores: a respectiva situação das mulheres no mundo das artes, as ideias contemporâneas e os estilos artísticos do momento histórico específico. Quer dizer, não é possível falar de uma suposta essência fixa da artista mulher, pois costumes e atitudes de cada tempo afetam a concepção do trabalho e, claro, a leitura feita pelo público. <div><br /></div><div>Alguns elementos tornam instigante essa perspectiva do autorretrato (pra mim, pelo menos). Primeiro, há enorme curiosidade em saber o que acontece quando a mulher se liberta da posição de objeto retratado por homens e assume, ela própria, o manejo dos pincéis e das tintas (ou de outro meio), a fim de se autorretratar. Além disso, Borzello faz uma ressalva pertinente: no momento de planejar um autorretrato, as mulheres que iniciaram essa linhagem artística não tiveram referências nas quais se ancorar. Para modelos e parâmetros formais em pinturas de paisagens, por exemplo, elas sabiam a que recorrer; porém como uma mulher deveria se autorretratar? Os autorretratos feitos por homens não se mostravam apropriados, pois, em épocas passadas, dificilmente uma mulher ousaria se apresentar com o mesmo ar altivo, orgulhoso ou de boêmio desleixado, habitualmente observados naquelas obras. Ou seja, as artistas precisaram encontrar sua linguagem. No mais, é importante recordar que, até aproximadamente metade do século XIX, havia barreiras artísticas concretas e objetivas a serem superadas, dentre as quais o impedimento de ingressar em escolas de arte e de frequentar exercícios de pintura do nu com modelos vivos — com o agravante de que, durante muito tempo, os nus foram as pinturas mais valorizadas no universo da arte. Aliás, mesmo quando tais espaços começaram a se abrir para mulheres, as dificuldades persistiram. Em 1870, a jovem russa Marie Bashkirtseff se mudou para França com o propósito de estudar arte, e seus diários trazem o valioso registro da dimensão das adversidades enfrentadas pelas artistas, deixando evidente que os professores jamais permitiam às estudantes esquecerem de que eram mulheres. Transcreverei algumas passagens desse diário incluídas no livro de Borzello (tradução e grifos meus): </div><blockquote><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><i style="font-style: italic;">"(...) ele </i>(o professor)<i style="font-style: italic;"> sugeriu o tema, disse que um estúdio de mulher nunca havia sido pintado. (...) como lhe serviria de propaganda, ele faria tudo para me garantir a maravilhosa notoriedade de que ele tanto falava. </i><i style="font-style: italic;">(...) </i><i> </i></div></div></blockquote><blockquote><div style="text-align: justify;"><i><div style="text-align: left;"><i><b>O que anseio é a liberdade de sair por aí sozinha, de ir e vir, de sentar nos bancos do Jardim das Tulherias e especialmente no de Luxemburgo, de parar e olhar as lojas de arte, de entrar em igrejas e museus, de andar pelas velhas ruas à noite; <span style="color: #e06666;">é isso que desejo; e essa é a liberdade sem a qual não é possível tornar-se uma verdadeira artista. </span>Como posso tirar máximo proveito daquilo que vejo, sendo escoltada o tempo todo; quando, para ir ao Louvre, preciso esperar a carruagem, uma dama de companhia ou um parente?"</b></i></div></i></div></blockquote><div> — Marie Bashkirtseff, <i>The Journal of Marie Bashkirtseff</i> </div><div><br /></div><div>Com <i>Seeing Ouselves</i>, descobri que, no século XVIII, havia inclusive livros que desencorajavam mulheres a usar tinta a óleo — com o fundamento de que são excessivamente difíceis para mulheres, que portanto deveriam se ater ao pastel oleoso e à aquarela <i>— </i>e que as desaconselhavam, veja só, a pintar retratos, pois são gêneros que não perdoam erros — as mulheres deveriam, isto sim, dedicar-se à pintura de flores.<i> </i>Bicho; a desfaçatez da galera, né? Depois dessa, me peguei confabulando se o trabalho de Georgia O'Keeffe teria alguma relação com esse fato histórico. Digo, teria passado pela cabeça dela algo do tipo "<i>vocês querem que eu pinte florzinhas? Pois muito bem, pintarei "florzinhas""</i>?<i> </i>Não faço ideia, no entanto me diverti pensando nessa possibilidade.</div><div> <div>Visto que sequer pretendo resumir ou resenhar este livro, acredito que escrevi até demais. Na verdade, o trago ao blog por causa da surpresa que tive diante da evidência de um histórico diálogo artístico construído não só entre as próprias pintoras (do que resulta a lenta, porém gradativa, formação de uma linhagem), mas também entre mulheres artistas de áreas diversas. Explico. No capítulo sobre o século XX, Borzello ressalta que, alguns anos antes da publicação do livro <i>A Room of One's Own</i> (1929<i>)</i>, de Virginia Woolf, já era possível encontrar em quadros de pintoras a temática da importância de um espaço particular para aquelas mulheres que pretendiam seguir carreira artística. Não é fabuloso?! Em retrospecto, me parece um tanto óbvio, contudo assumo que essa possibilidade jamais havia passado por minha cabeça. Dentre as pintoras que inauguraram, naquele século, o gênero de autorretratos baseados na pintura do ateliê da artista, Borzello cita as seguintes (colo, abaixo, imagens das obras inclusas no livro):</div><div><br /></div><div>- Gwen John ⇒ por duas vezes, pintou seu amado quarto em Paris (1907-9);</div><div>- Emily Charmy ⇒ em 1900, pintou o primeiro dos vários de seus autorretratos concebidos a partir da imagem do quarto onde trabalhava;</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYcO0pN8DmGvJz7HBnBKW7Gs05k2tzFNptXmSPuWGDwUnSiakP3gmrWqkuPOEMEitYaZLdufllYFLNRGdRWI3PqPYdfuM8sUBqs7UzLB4xUhyCFZDo18wY7_Bf8Ipe3AATSpQt39z9qVl6Vy2eNANxGn50FtGTtlabkWjWxKxieLoBMV1koroaEg/s635/Gwen%20John%20Emily%20Charmy.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYcO0pN8DmGvJz7HBnBKW7Gs05k2tzFNptXmSPuWGDwUnSiakP3gmrWqkuPOEMEitYaZLdufllYFLNRGdRWI3PqPYdfuM8sUBqs7UzLB4xUhyCFZDo18wY7_Bf8Ipe3AATSpQt39z9qVl6Vy2eNANxGn50FtGTtlabkWjWxKxieLoBMV1koroaEg/s16000/Gwen%20John%20Emily%20Charmy.png" /></a></div><br /><div>- Gabriele Münter ⇒ no autorretrato, mostra-se trabalhando em seu ateliê (1909);</div><div>- Nina Simonovitch-Efimova ⇒ em 1916-17, produziu um quadro espacialmente complexo, no qual ela figura de corpo inteiro, no espelho de seu estúdio.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5wJ3VUhlcfsg5cN6fVVVa7nYpz33uKxP3G10XwcakWHTP0wFLiqzYTZvSHuItp9-6zPmGaTTXJxpo54LughvRpckT-eSmWaPhL5-GYxU8eicL074SSvhmpOFdU50e165oRaLmy_1VdDM57ocgbW6q5CJFQRA2e-s8-Cl2aN9kBQcUMyboXGWuaw/s635/Gabriele%20Munter%20Nina%20Simonovitch.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="418" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5wJ3VUhlcfsg5cN6fVVVa7nYpz33uKxP3G10XwcakWHTP0wFLiqzYTZvSHuItp9-6zPmGaTTXJxpo54LughvRpckT-eSmWaPhL5-GYxU8eicL074SSvhmpOFdU50e165oRaLmy_1VdDM57ocgbW6q5CJFQRA2e-s8-Cl2aN9kBQcUMyboXGWuaw/s16000/Gabriele%20Munter%20Nina%20Simonovitch.png" /></a></div><br /><div>Por grata coincidência, acabei constatando que o livro de ficção que eu lia paralelamente à leitura de <i>Seeing Ourselves, Women's Self-Portraits</i> também aparentava dialogar com obras de pintoras. Ao longo do século XX, Borzello refere que a temática da velhice tornou-se cada vez mais frequente nos autorretratos de mulheres, fato possivelmente relacionado (segundo a autora) ao maior número de mulheres artistas e à maior expectativa de vida. Outra distinção é que, a partir desse século, o retrato da velhice feminina nem sempre se revestia de ares, digamos, singelos. A seguir, fixo algumas obras compiladas por Borzello, nas quais a velhice é retratada como uma experiência cruel e macabra; das artistas (em sentido horário, início no canto superior esquerdo:) Käthe Kollwitz (1925-30), Alice Neel (1958), Meret Oppenheim (1964), Helene Schjerfbeck (1945).</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKJGl-AE6uJVa_ZwUrIfYK1MRp9mJdU-zVnM-5iuAaPsWZvhze0m1v5w8bz326vehqrm1h8BWEndDQOwS7Fz43NqNHO3tiW3HeX21U9zA4ffUgFpSotWvKaGL0y29jj8-DHCYB-bFrgAt_QDmx8xGuVbfCYfk55Asy6JeVWqjuzoHYJtEdLQ3DMg/s634/velhice%20obra%20artistas%20mulheres%20-%20Frances%20Borzello.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="524" data-original-width="634" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKJGl-AE6uJVa_ZwUrIfYK1MRp9mJdU-zVnM-5iuAaPsWZvhze0m1v5w8bz326vehqrm1h8BWEndDQOwS7Fz43NqNHO3tiW3HeX21U9zA4ffUgFpSotWvKaGL0y29jj8-DHCYB-bFrgAt_QDmx8xGuVbfCYfk55Asy6JeVWqjuzoHYJtEdLQ3DMg/s16000/velhice%20obra%20artistas%20mulheres%20-%20Frances%20Borzello.png" /></a></div><div><br /></div><div>Quando alcancei este ponto do livro de Borzello, minha leitura simultânea da obra <i>A Pianista</i>, de Elfried Jelinek, aproximava-se da metade. Por conseguinte, pude constatar que, neste livro publicado em 1983, Jelinek unia-se às artistas plásticas que, desde o início do século XX, começaram a retratar a experiência do envelhecimento sob uma perspectiva dura e brutal. Minha situação chegou a ser cômica, pois eu havia decidido ler <i>A Pianista</i> na esperança de que oferecesse algum conforto à minha própria experiência de envelhecer (desde logo espinhosa), uma vez que o livro supostamente exploraria o tema do erotismo mediante o relacionamento de uma mulher mais velha com um jovem aluno. Puxa vida, o tombo que eu levei — tantas leituras, e ainda não aprendi que literatura não conforta ninguém. Na realidade, Elfried Jelinek é assustadoramente cruel com sua protagonista, uma mulher beirando os quarenta anos, que não conseguiu realizar nenhum de seus desejos; mesmo porque, coitada, mal sabe quais são. As possíveis expectativas de leitura desmoronam tão logo ultrapassa-se o título - <i>A</i> <i> pianista</i> - e lê-se a primeira frase do livro: <i>"A professora de piano Erika Kohut entra como um furacão no apartamento onde vive com sua mãe." </i>(Tradução: Luis S. Krausz) Quer dizer, a mulher não é <u>pianista</u>, mas, sim, <u>professora de piano</u>. Sem querer ofender professores, há de se concordar que a autora, logo na largada, deliberadamente finca uma distinção relevante nos possíveis papéis da personagem, a qual se aprofunda à medida que conhecemos a trajetória de Erika (ela teria nascido para brilhar como pianista; não como professora). </div><div><br /></div><div>Enfim, conforme adiantei, a narrativa de Jelinek trata com uma brutalidade exasperadora o envelhecimento dessa personagem; e, após esbarrar com os comentários de Borzello em <i>Seeing Ourselves,</i> iniciei um levantamento sistemático das respectivas passagens. Revisando minhas anotações, decido trazer estes trechos:</div><div><br /></div><div><i><span style="color: #e06666;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAqCe_0j9eWL8zT9TbuSdemw4howOGJo_of2rnXbCIHFZ0Ne41wj5MSZnkKyi2F3BXNJKHTrJzLNcxgwpEtklfZwRvAZrYkFxMvw4eQ5Q7JrAUIh5aK-H1BUN-ebqIjoZ9eTYNC-ushbHDBgvxN8qTTLTcrID0DCjoU0CokMz2ZrRT83MBusSrvw/s2110/a%20pianista%20jelinek.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2110" data-original-width="1400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAqCe_0j9eWL8zT9TbuSdemw4howOGJo_of2rnXbCIHFZ0Ne41wj5MSZnkKyi2F3BXNJKHTrJzLNcxgwpEtklfZwRvAZrYkFxMvw4eQ5Q7JrAUIh5aK-H1BUN-ebqIjoZ9eTYNC-ushbHDBgvxN8qTTLTcrID0DCjoU0CokMz2ZrRT83MBusSrvw/s320/a%20pianista%20jelinek.jpg" width="212" /></a></div><br />"Por fora, seu rosto ficou grande demais, e esse processo há de continuar por anos a fio, até que a carne sob a pele encolha, desapareça, e a pele se grude na cabeça morta, que não mais a aquecerá. Na cabeleira, fios brancos são nutridos por sucos apodrecidos e se multiplicam sem parar, até que surjam ninhos de um cinza feio, nos quais nada nasce (...)"</span> </i>(⇒ Está mentindo? Eu bem gostaria que estivesse.)</div><div><br /></div><div><i><span style="color: #e06666;">"(...) vê homens jovens com corpos jovens andando de um lado para o outro, porque, pela sua idade, ela quase poderia ser mãe deles. Tudo o que aconteceu antes de ela chegar à sua idade atual passou, irrevogavelmente, e nunca poderá ser repetido. Mas quem é que sabe o que o futuro trará? Com os padrões elevados da medicina atual, a mulher pode exercer suas funções femininas até uma idade avançada."</span></i> (⇒ Beleza; então o lance é ligar pra Jennifer Lopez e pedir os contatos dos médicos dela, anotar a rotina de skincare e de musculação etc. Ah, e pedir que ela compartilhe a conta bancária e a genética.)</div><div><br /></div><div><i><span style="color: #e06666;">"Velhas com lenços de cabeça, que dão o último passeio do dia com seus cachorros, esperando que, uma única vez, encontrem um velho solitário que também tenha um cachorro e além disso seja viúvo."</span></i> (⇒ Jelinek passando o rolo compressor nas ilusões das jovens senhoras. Ok; o lenço e o cachorro - ou gato - até enxergo num futuro próximo, mas será que realmente procurarei um viúvo? Poxa.)</div><div><br /></div><div><i><span style="color: #e06666;">"(...) O técnico Klemmer calcula (...) Erika ainda tem um pouquinho de tempo antes de ir para a cova. (...) Mas, no final, o que conta são só as rugas, marcas, celulite, cabelos brancos, bolsas sob os olhos, poros dilatados, dentaduras, óculos, desfiguramento." </span></i>(⇒ hahahahahaha 😢)</div><div><br /></div><div><i><span style="color: #e06666;">"Hoje Erika tem o dobro da idade de uma menina de dezoito anos! Ela repete a conta, incessantemente, e a distância entre Erika e uma menina de dezoito anos nunca diminui, mas também não aumenta. A antipatia que ela sente por todas as meninas dessa idade aumenta desnecessariamente essa distância."</span></i> (⇒ É interessante que Jelinek tenha abordado esse aspecto do rancor em face dos mais jovens. No meu caso, o sentimento volta-se mais para a questão da saúde física (ando cheia de dores); havendo momentos em que me pego pensando coisas do tipo <i>"Olha ali; lá vai o jovem sonso todo se achando, só porque seu pescoço dá conta de sustentar a cabeça."</i> Pior que é engraçado, né? Ai, sei lá.)</div><div><br /></div><div>Encerrarei aqui, pois acredito que já é possível confirmar o quanto a narrativa de Jelinek reverbera aquelas obras de Käthe Kollwitz, Alice Neel, Meret Oppenheim, Helene Schjerfbeck. [Apenas como registro, anoto minha teoria de que a personagem Erika é, no entanto, um artifício narrativo mediante o qual Jelinek, na verdade, fala sobre/critica a Áustria.] Simultaneamente, é válido ressaltar que nem sempre o envelhecimento surge como algo tão impiedoso nos trabalhos das artistas. O autorretrato pintado por Alice Neel em 1980, por exemplo, me pareceu admirável. Assim o descreve Frances Borzello: </div></div><div><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTxrSSmhFijqEk-YlAsojD5xCmDdlWCImZpayfJkWmsjxTf_IO7AT1JZkTEBP9_B1OXGRiGz6kexrrD0QfA4kRrqMqSeFU4t0dlka4AogxZlzsrAO0ZL9-ygmi_vOWfdxeanLNeu8GWh9onD8StpHH-7smi5m3LGjXUgTKeE7YScVd8bWXJUUpFA/s640/IMG_3571.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTxrSSmhFijqEk-YlAsojD5xCmDdlWCImZpayfJkWmsjxTf_IO7AT1JZkTEBP9_B1OXGRiGz6kexrrD0QfA4kRrqMqSeFU4t0dlka4AogxZlzsrAO0ZL9-ygmi_vOWfdxeanLNeu8GWh9onD8StpHH-7smi5m3LGjXUgTKeE7YScVd8bWXJUUpFA/s320/IMG_3571.jpg" width="240" /></a></div><br /><br /></i></div><div><i><br /></i></div><div><i><br /></i></div><div><i><br /></i></div><div><i>"Embora ela tenha ares de uma vovó delicada, nada se encaixa no estereótipo; desde as cores fortes e vibrantes até a aceitação de sua nudez. Longe de parecer patética ou feia, a mão direita segurando a ponta do pincel, (...) a concentração em seu rosto confere legitimação de sua nudez idosa." </i></div><div><i><br /></i></div><div><i><br /></i></div><div>Para finalizar, confesso (com certa vergonha) que eu mesma acabei cometendo um autorretrato, o qual encerrará o post. Gosto bastante de desenhar e pintar, porém não tenho talento nenhum; portanto, numa hipotética futura edição atualizada do livro de Borzello, meu pobre autorretrato sequer figurará dentre aqueles das amadoras do século XXI. De qualquer jeito, foi como escolhi me expressar hoje, e talvez isso baste para ilustrar este blog irrelevante. Cogitei explicá-lo, mas sabe como é: ~uma artista não explica sua arte~. 😁</div><div><i><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyGXmGXbCt3WcuM-SdohDGcUcQYQAjucgEvDh7HzhsbDfxDBFDHETHzuetP1mRs1DANDvWdD1FiK0fDThfT6XHRI1p8tf3FYnxNKmr4GZjYQ6R9tSxXii-LKoMqXobV1T_PzUGRN2ucQYx0K_vxJqhgFg20PIqJUlfhu62UlO1BHihA_8LCZ3tHQ/s16000/SELF%20PORTRAIT%20JUL%202022%20CORRENDO%20ENTRE%20LIVROS%202%20R%202.png" /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Autorretrato (07/2022; aquarela)</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Daniela - Correndo entre Livros</span></div></div></i></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-80984527527437091392022-07-31T11:51:00.013-03:002024-03-09T23:48:13.636-03:00Think of me as a train goes by<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiazck47ysQmuAga57YwWZMQQViEcCHf0SGHfM0n3Nuucq2SVgoJ6hXRs8mw5rs_QSljEWO93lLCamvK6Q_oxaEUuTnX7_vJLwI-MjtK4Wd5tRqdZjVgrbeCMod6QqVFMiWGO4t1syPw2X_Rp7e5G_jyvOmVTtTschyeDYJ4ov1DMB_GqlAOTC44w/s591/bae%20su-ah%20X%20mugunghwa%20x%20jang%20eun-jin.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="591" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiazck47ysQmuAga57YwWZMQQViEcCHf0SGHfM0n3Nuucq2SVgoJ6hXRs8mw5rs_QSljEWO93lLCamvK6Q_oxaEUuTnX7_vJLwI-MjtK4Wd5tRqdZjVgrbeCMod6QqVFMiWGO4t1syPw2X_Rp7e5G_jyvOmVTtTschyeDYJ4ov1DMB_GqlAOTC44w/s16000/bae%20su-ah%20X%20mugunghwa%20x%20jang%20eun-jin.png" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Sabe o meme do Compadre Washington? Eita; verdade, preciso especificar, pois o compadre já rendeu vários. Eu me refiro àquela imagem em que ele aparece sentado numa poltrona de ônibus, observando contemplativo pela janela, enquanto escuta música (suponho) pelos fones de ouvido. Faz tempo desde que a piadinha estreou na internet, porém me recordo bem do abatimento que senti, tão logo tomei ciência de sua existência. Dado que a premissa parte da palermice oculta em certos contextos humanos, até cabe aplaudir aqueles que primeiro identificaram o potencial da coisa, entretanto não consigo conter o desabafo lamurioso: — poxa, galera, mas precisava mesmo? Enquanto pesquisava detalhes da real circunstância na qual se encontrava Compadre Washington (não obtive sucesso), o Google me mostrou este tweet de 2015, escrito por @AndrRbro: <i>"Tava escrevendo no ônibus e me senti o Compadre Washington nessa foto." </i>Exato, AndrRbro! Quero dizer, esse meme tornou impossível (ou quase) mergulhar no particular e especial estado contemplativo — quiçá meditativo — que ocorre durante viagens de ônibus, sem que se escute, ao longe, as risadas de um twitteiro desalmado. Como alcançar, agora, a imprescindível perda de autoconsciência durante esses percursos? </div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Bom, pois eu seguiria sentada e chorosa no meu canto, não tivessem dois livros coreanos me devolvido a poesia desses momentos. Bae Su-ah, em <i>Noite e Dia Desconhecidos</i> (2013) e Jang Eun-jin, em <i>No One Writes Back</i> (2008), usam em suas narrativas o mesmíssimo <i>movimento</i>: embarcar, sem destino, num <strike>ônibus</strike> trem; ou seja, <u>simplesmente embarcar</u>. A Coreia, por suas dimensões exíguas, favorece demais esse exercício, porque, em apenas duas horas — via trem de alta velocidade —, é possível cruzar o país de ponta a ponta (!). Duas horas, no entanto, pode ser pouco tempo para essa sublime modalidade de deslocamento, portanto ambas autoras recorrem especificamente aos <i>mugunghwas </i></div><div class="separator" style="clear: both;">(무궁화), que são os trens mais lentos (150km/h), antigos e baratos da malha ferroviária coreana. Eles costumam ter mais paradas, circulando por cidades não atendidas pelos trens modernos e velozes. Segundo pesquisei, por cerca de R$ 117,00, compra-se uma passagem para tais trens, num percurso partindo de Seul (norte) até chegar, após 05h53min, em Busan (sul, de frente ao mar). A graça da literatura reside bastante em imaginar o que se lê, reconheço; mas abrir o You Tube e percorrer virtualmente os caminhos de uma história lida é muito legal, assim colo aqui o vídeo a que assisti sobre uma viagem num <i>mugunghwa</i>: </div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/hBkZCR7Ii9o" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Aproveito para registrar novo queixume: por que diabos um enorme país feito o Brasil não tem uma boa e extensa rede ferroviária? Sequer trens de alta velocidade, entre Rio-SP, nós temos. Imagino que seja mais uma das idiotices importadas dos americanos. Ou seria a velha questão orçamentaria? Enfim, na falta de trens, sigamos o exemplo de Compadre Washington: façamos de ônibus, o extasiado rolê. Inclusive, quando usava o twitter, lembro de um tweet no qual um paulista compartilhava seu desejo de pegar um ônibus circular da madrugada apenas para rodar por São Paulo, absorto nas imagens da cidade sonolenta (ou nem tanto). Então, sim, creio que nós, brasileiros, damos nosso jeito. Ainda cabe, porém, chorar nossa escassez de trens, pois, conforme <a href="#">escreveu Adam O'Riordan num artigo do Guardian: </a><i>"<a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/2362263650027854065/8098452752743709139#">poets take trains</a> / <a href="#">poetas andam de trens</a>"</i> — e não de ônibus, saco; mas,<i> se só tem tu.</i>.. Tomarei emprestadas algumas das palavras de O'Riordan (em tradução livre), a fim de melhor explicar aquilo sobre o que escrevo neste post e que as autoras coreanas estão abordando em seus livros. [*Acrescento que esta postagem é praticamente uma continuação/anexo do <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2021/05/valeria-luiselli-papeles-falsos-janelas-bicicletas-gagueiras-joe-pera-gilberto-gil-junichiro-tanizaki-kiarostami-gherasim-luca.html" target="_blank">meu texto sobre janelas</a>]:</div><i></i><blockquote><i>"<b><span>Trens</span></b> permitem que nos movamos por lugares e conversas </i><i>sem sermos percebidos</i><i>; (...) </i>Eles <i><b><span>nos possibilitam estar no mundo, mas sem tomar parte nele.</span></b> (...) em trens, ao menos perceptivamente, tomamos emprestado um movimento e omnipotência usualmente reservados a semideuses ou cineastas de filmes de baixo orçamento. Somos presenteados com enquadramentos predefinidos, atalhos, close-ups; nosso repertório visual expande (...)"</i></blockquote><p> — Adam O'Riordan, <i>Why poets take trains</i> (The Guardian, 2008)</p>Muitas interpretações e reflexões podem ser feitas a partir da premissa que ora discuto, mas a frase que destaquei no texto de O'Riordan guarda aquilo que mais me fascina nesse lance de embarcar sem destino em veículos providos de uma janela para o exterior: a oportunidade de estar num espaço conexo, separado do mundo; o <i>não-lugar</i>. Também gosto de pensar n<span>a</span> sensação de pausa no tempo, aquela falsa impressão de que são os outros que se movem (e vivem), enquanto nós usufruímos de um intervalo no jogo, para tomar fôlego e recompor.<div><br /></div><div>Embora Bae Su-ah e Jang Eun-jin tenham usado, conforme citei, esse mesmo recurso narrativo das viagens de trem sem destino, há notáveis diferenças de contexto. Em <i>Noite e Dia Desconhecidos</i>, fui apresentada a Volpi, um poeta estrangeiro que viaja à Coreia para escrever sua nova obra. Para surpresa de Ayami, a coreana que trabalha como guia para o poeta, bibliotecas e cafés não são espaços propícios para a escrita de Volpi. Não; nosso poeta pede que os dois embarquem numa viagem de trem que os permita passar a noite sobre os trilhos, ao que Ayami sugere o <i>mugunghwa </i>(e que admirável paralelo firmado com aquele tweet de AndrRbro e o texto de O'Riordan). O processo da escrita de Volpi ajuda a entender a predileção do poeta pelo espaço ferroviário (grifos meus):</div><div><blockquote style="font-style: italic;">"Mas eu tenho que anotar imediatamente o que me vem à cabeça. Porque <b>as coisas vêm como filmes ou imagens</b>, e não organizadas em orações. Se não for no momento exato, elas simplesmente evaporam. E quando isso acontece, não consigo enquadrá-las em linguagem. Tudo que eu escrevo não passa de esboço, <b>não é a pintura final.</b> Não me importo com o lugar. Esqueça bibliotecas ou cafés. Detesto bibliotecas ou cafés, até quando não estou escrevendo."</blockquote><p><i> — </i>Bae su-ah,<i> Noite e Dia Desconhecidos </i>(Tradução: Hyo Jeong Sung)<i> </i></p><p>A narrativa de Bae Su-ah não se esquiva de reconhecer a inexistência de glamour no <i>mugungwha — </i>em concordância com o vídeo que anexei, por sinal —, visto que o poeta comenta nunca na vida ter visto tanta gente junta, causando-lhe a sensação de que teria estourado uma guerra e todos os coreanos tentavam fugir. O comentário da personagem aponta para uma super lotação desses trens, o que, de certo modo, denuncia que a maioria da população coreana não teria dinheiro para pagar as linhas mais rápidas e caras. Ou, pelo menos, que a maioria apela para o sacrifício do trem pebinha, para economizar grana. Ou ainda: seriam os coreanos fervorosos praticantes do <i>"simplesmente embarcar"</i>?!</p></div><div>O contexto narrativo presente no livro de Jang Eun-jin, por sua vez, envolve sentimentos agridoces, sem relação direta com poetas ou escrita. Em <i>No One Writes Back </i>(tradutor coreano-inglês: Jung Yewon), Jihun viaja a esmo pela Coreia com uma mochila nas costas, na companhia de um cachorro cego. Em certo momento de suas andanças, ele esbarra com uma estação ferroviária e decide embarcar num <i>mugunghwa, </i>explicando que trens sempre o fazem lembrar-se do irmão. Ele conta que, quando criança, o irmão, do nada, pôs o chapéu, colocou um livro no bolso e virou, perguntando-lhe: <i>"quer vir comigo? Acabarei me matando se continuar desse jeito." </i>Assustado pelas palavras do irmão, Jihun decide acompanhá-lo, e os dois fogem de casa, embarcando numa viagem de trem sem destino em mente. Durante o trajeto, o irmão lhe diz: <i>Jihun, faça o que você quiser da sua vida. Entende? Não deve haver mais que uma criatura estranha numa família." </i>Jihun afirma que, naquele instante, compreendeu que, graças ao irmão, ele pôde seguir vivendo do seu jeito. Os dois acabam retornando para casa, e o irmão tira a nota mais alta no vestibular; desse modo demonstrando que, durante a viagem, decidiu (conformou-se?) correr atrás do sucesso como a maioria das pessoas do mundo. Ah, e a preciosa cereja do bolo:<i> "(...) </i><i>nunca mais leu romances (...)." </i>Quer dizer,<i> </i>o irmão de Jihun tomou um trem para movimentar-se numa pausa do jogo, e assim decidir que estratégia seguir. (Se acertou/errou, eu não saberia dizer.) No mais, como curiosidade, incluo o que Jang Eun-jin diz a respeito de coreanos em trens (real? ficcional?): todos os passageiros batem palmas ao final da passagem por um túnel.</div><div><br /></div><div>Após tais leituras, portanto, resolvo aconselhar a mim mesma: </div><div> — Daniela, prossiga com suas viagens de <strike>trem</strike> ônibus, olhando contemplativa pela janela, pois esses piadistas de internet não manjam nada.<br /></div><div><br /></div><div><b>[Atualização em 02/08/22:] </b>Estava organizando minhas pastas, quando reencontrei este vídeo gravado em 01/2020: eu toda contente num vagão do metrô de BSB que, em plena tarde de um dia útil da semana, estava vazio. Na falta de bons trens, o metrô daqui até pode quebrar um galho, com seus janelões generosos (mas só nos trechos não subterrâneos, claro). </div><div><br /></div> <div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/pupmWJT9aHc" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-28069109586700446012022-07-18T17:59:00.010-03:002024-03-09T23:48:23.318-03:00mas, vovó, eu sei tão pouquinho...Recentemente assisti pela primeira vez ao <a href="https://www.imdb.com/title/tt0244316/?ref_=fn_al_tt_1" target="_blank">filme<i> Yi yi</i> (Edward Yang, 2000)</a>, e duas tocantes passagens dialogaram com elementos marcantes de dois livros lidos ano passado. A propósito, a surpresa de reencontrar essas questões na obra de Yang me ajudou a melhor assimilar minhas reações. Tentarei um breve registro desses paralelos. [*Spoilers, etc.]<div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b><br /></b></span></div><div><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLV4sm2x7_5_bICIJ5GM3w-MmdnRtjbsWxou4CGbDIhJeN-bH_9baUqYgY4CTsCfFRH12m13ZNSYz9O1qNFYO6zsbcTvKUqkh8DD9EYcbXAKOdFAL1b_Gz8TRUAQuh4wCcvoYrZnjPn6jJWsYzoTE-kCESMr9MhcudMNu5uhwVm64DgVAKWBo2kw/w640-h360/Yi%20yi%20scene%20x%20bernice%20rubens%20a%20five%20year%20sentence.png" /><div><br /></div><div><b>(1)</b> No filme <i>Yi yi</i>, a Vovó da família Jian acidenta-se, evoluindo para coma. Quando o médico dá alta hospitalar à paciente, transferindo-a aos cuidados domiciliares, recomenda que sempre conversem com a Vovó — mesmo que ela não responda —, a fim de estimular o sensório da idosa. Assim, diligentemente seguindo tais recomendações médicas, os amorosos familiares alternam lugar como interlocutores diários de conversas unilaterais com a Vovó comatosa.</div><div><br /></div>Na cena capturada pela imagem colada acima, vemos Min-Min ao final de mais um papo com a mãe, momento em que colapsa em lágrimas, desabafando para o marido:<div><div><blockquote><span style="color: #741b47; font-size: medium;"><i>"Não tenho nada a dizer pra mamãe. Repito as mesmas coisas todos os dias. O que eu fiz de manhã, à tarde, à noite... Leva só um minuto. Não aguento isso. Eu tenho tão pouco! Como pode ser tão pouco? Minha vida é um vazio! Todo dia... todo dia pareço uma boba! O que eu faço todo dia? Se um dia eu ficar como ela..."</i></span></blockquote><p>Quem não viu o filme possivelmente suspeitaria que o desabafo de Min-Min é consequência da exaustão relacionada aos cuidados de um parente idoso e doente, porém este não parece ser o caso — vale acrescentar que eles podiam contar com o auxílio de serviços de enfermagem. Assistindo ao trecho (e ao desenrolar da vida da personagem), a impressão é que a exigência de conversar todos os dias com a mãe, a qual era implementada mediante o artifício da narrativa em voz alta da própria rotina, obriga Min-Min a reconhecer e encarar aquilo que já estava consumindo-a intimamente. De certo modo, a circunstância parece se aproximar à experiência de uma sessão de terapia, dado que a verbalização dos pensamentos — a transformação das inquietações em palavras orais — forçou a personagem a constatar e compreender seus sentimentos. Com intuito de confortar a esposa, o marido decide que a enfermeira passaria a ler o jornal à Vovó, na esperança de que continuariam cumprindo a prescrição médica. Além disso, Min-Min resolve partir para uma espécie de retiro budista nas montanhas.</p><p>Enquanto via essa sequência, a lembrança de Miss Jean Hawkins, a protagonista do livro <i>A Five Year Sentence </i>(1978), escrito por Bernice Rubens, voltou-me à memória. Fui apresentada à senhorita Hawkins no instante em que ela saía de casa para o último dia de trabalho na fábrica de doces onde trabalhara por 46 anos. Por sinal, ela partia decidida a se suicidar quando retornasse da festa de despedida. Os planos da futura aposentada são, contudo, frustrados pelo presente recebido dos colegas: um caderno cuja capa de couro preto traz, grafada em letras douradas, a frase <i>"O Diário de Cinco Anos da Senhorita Hawkins".</i> Considerando-se que a personagem sempre viveu a obedecer ordens — uma vida solitária de dois ciclos: infância no orfanato de freiras → fábrica de doces —, aquele caderno representou o incontestável comando de ter de viver por mais cinco anos; a tal <i>sentença de cinco anos</i> expressa no título do livro de Rubens. </p><p>O início da batalha travada com o caderno remete bastante à situação de Min-Min, pois, durante a primeira semana, Hawkins decide ali anotar o que faz a cada intervalo de tempo. Quer dizer, Min-Min vê-se obrigada a narrar a vida a partir da palavra falada; Miss Hawkins, da palavra escrita. Uma dialoga com uma idosa em coma; a outra, com um caderno — e assim, em certa medida, ambas se veem obrigadas a conversar consigo mesmas. Eis a primeira entrada (*tradução livre minha):</p><p></p><blockquote><i style="color: #741b47; font-size: large;">"Segunda. Levantei às 8h30, tomei banho, me vesti, tomei café. Às 13h, almocei. Tomei chá às quatro da tarde. Janta às 19h. Não aconteceu nada."</i></blockquote><p> — Bernice Rubens, <i>A Five Year Sentence. </i></p><p></p><p>Com essa estratégia de escrita, Hawkins constata que a entrada da terça-feira é igualzinha à da segunda, bem como a da quarta-feira, com exceção da omissão das refeições. As páginas são repetidamente tomadas pelo <i>"nada aconteceu"</i>. O desânimo para prosseguir escrevendo <i>"nada aconteceu"</i> gera páginas em branco; e o retiro budista nas montanhas ao qual Min-Min apela é, aqui, trocado por dias de cama em casa.</p><p>No filme de Yang, essa premissa não é desenvolvida para além deste ponto (até porque Min-Min não é protagonista); enquanto o livro de Bernice Rubens não se acanha em explorá-la por meios assombrosos. Após aquela semana acamada, Hawkins retorna ao caderno e, de impulso, escreve "Saí para comprar comida", daí se veste e sai para cumprir o escrito. Aos poucos, portanto, a personagem aprende a usar o caderno como nova fonte de ordens a serem obedecidas, dessa maneira subvertendo o tempo dos diários, visto que o passado passa a representar o futuro. A medida que a narrativa evolui, as ordens inseridas no caderno tornam-se cada vez mais específicas e audaciosas; e Hawkins sente enorme prazer em cumpri-las, sobretudo em riscá-las da página com aquele <i>check!</i> de missão cumprida. No mais, a relação da personagem com o caderno logo se aproxima àquela de um dependente de substâncias psicoativas, pois ela é tomada por intensa ansiedade quando percebe ter saído de casa sem um comando. Não demora, também, para que ela alcance o ponto em que sequer recorda-se de ter escrito a ordem que lê na página. [Confabulei que o caderno vira quase uma materialização externa do Id da personagem, sei lá.] Após dois anos desse experimento forçado, Hawkins perde a vontade de prosseguir com o plano suicida, pois o diário havia lhe ensinado a não ter vergonha de buscar ativamente prazer na vida. Ao mesmo tempo, porém, a personagem teme o que aconteceria quando o caderno acabasse. Compraria outro? Conseguiria prosseguir sem a autoridade de um diário?<i style="color: #741b47; font-size: large;"><b> </b></i>Embora pareça que a história afinal segue um rumo feliz e edificante, asseguro que tal dedução não procede em absoluto — na verdade, a história degringola de um jeito assustador; mas manterei a descoberta dos pormenores a eventuais futuros leitores.</p><p>Eis aí por que eu, que não sou boba (ok, talvez um pouco), mantenho este blog diarinho conduzido por um fio temático alheio à minha vida. Fora deste espaço virtual, também escrevo num caderno, no entanto sou adepta do <i>Commonplace Book<b>**</b></i>, e não de diários ou <i>bullet journals</i>. Se eu escrevesse sobre minha vida, as postagens não seriam tão diferentes daquela segunda-feira vivida pela senhorita Hawkins, e eu não daria conta de padecer de crises diárias como aquela da Min-Min. </p></div><div><p>[<b>**</b>: Em resumo, são espaços onde anotamos aquilo que cruza nosso caminho e nos interessa; portanto vale tudo: citações de livros, letras de músicas, diálogos de filmes, desenhos, poemas, conversas, pensamentos, reflexões, pesquisas realizadas, trechos de artigos... Eu, porém, uso fichários tamanho ≈ A5.]</p><p><br /></p><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5MPtgWVxOv-0d1UAxsTT5aBTp5QnCSw-vnKWkATp_dA4zBwYLLZ-Tf5lIdk6lV-RfkrYaQvYX890J7A7X-wUpSdDpW7l52MPoicrxFPIP5NfExFszpWWdG1Nwc_KpxySpu6C2j8f9_rCrr8nH9qgd5vx9DzZHHz7ZVoUa2dI-leGblbhrtSm_oA/s887/YI%20YI%20x%20meu%20nome%20asher%20lev%20chaim%20potok.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="554" data-original-width="887" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5MPtgWVxOv-0d1UAxsTT5aBTp5QnCSw-vnKWkATp_dA4zBwYLLZ-Tf5lIdk6lV-RfkrYaQvYX890J7A7X-wUpSdDpW7l52MPoicrxFPIP5NfExFszpWWdG1Nwc_KpxySpu6C2j8f9_rCrr8nH9qgd5vx9DzZHHz7ZVoUa2dI-leGblbhrtSm_oA/w640-h400/YI%20YI%20x%20meu%20nome%20asher%20lev%20chaim%20potok.png" width="640" /></a></p><b>(2)</b> O garotinho da imagem acima é Yang-Yang. Nessa passagem final do filme, ele se despede para sempre de sua avó, explicando-lhe por que não pôde conversar com ela durante o coma [*detalhe importante para o alinhavo desta postagem: a criança lê as palavras que ela mesma escrevera em seu caderno; ou seja, com a ajuda do caderno, ficou mais fácil conversar com a Vovó]:</div></div><blockquote><div style="text-align: center;"><i><span style="color: #073763; font-size: medium;">"(...) tudo que eu podia te contar, você já devia saber (...) </span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span style="color: #073763; font-size: medium;">vovó, eu sei tão pouquinho." </span></i></div></blockquote><div><div>Dentre as coisas tão lindas ditas por Yang-Yang, há a menção de lembrar-se da avó quando ele olha o primo recém-nascido. O garoto fala que a avó, com frequência, dizia sentir-se velha; e agora ele próprio queria dizer que sente-se velho ao ver o priminho que nem sequer tem um nome.</div><div><blockquote style="text-align: center;"><i><span style="color: #073763; font-size: medium;">"Vovó, sinto saudade de você, especialmente quando vejo meu priminho que ainda não tem nome, porque me lembro que você sempre dizia que se sentia velha. Aí quero dizer pra ele que me sinto velho também."</span></i><span style="text-align: left;"> </span></blockquote>Quando ouvi essas últimas palavras de Yang-Yang, o Asher Lev, protagonista do livro <i>Meu Nome é Asher Lev</i> (1972), escrito por Chaim Potok, voltou a me fazer companhia. Asher Lev é um garoto judeu nova-iorquino, filho da união de duas importantes genealogias do movimento chassidista de Ladov. O pai de Asher, Aryev Lev, chegou à Nova York quando tinha quatorze anos, partindo da Rússia com a família. Aryev formara-se na yeshiva ladoviana, diplomara-se em ciências políticas pela Universidade de NY e trabalha para o Rebbe, sobretudo no auxílio a judeus perseguidos pelo regime stalinista russo. Por causa desse trabalho do pai, Asher teve de conviver com histórias de judeus perseguidos, violentados e torturados (por mais que os pais tentassem protegê-lo). Para além disso, desde muito cedo ele precisou encarar o embate entre sua religião e sua vocação artística para a pintura. Durante a semana em que passei ao lado de Asher, costumava me sobressaltar quando ele dizia (tradução: Attílio Cancian):</div><blockquote><div style="text-align: center;"><i><span style="color: #0c343d; font-size: medium;">"(...) não é um mundo agradável; (...) não é um mundo bonito. (...) </span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span style="color: #0c343d; font-size: medium;">Eu estava cansado, e muito cansado mesmo."</span></i></div></blockquote><p> — Chaim Potok, <i>Meu nome é Asher Lev</i>. </p><div><p>Uma criança de 08 anos sentindo-se velha; outra de 10 anos já sentindo-se tão cansada... É, Asher, o mundo às vezes não é exatamente agradável; no entanto, conforme reconheceu Yang-Yang, nós sabemos tão pouquinho, não é mesmo? Quem haveria de entender o que isso tudo significa? Yang-Yang disse que a Vovó sabe muitas coisas; então, quando eu chegar lá no lugar para onde ela foi, lhe perguntarei. A julgar por quão cansada e velha me sinto, devo chegar logo, logo. </p></div></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-87053852360212812612022-06-19T14:33:00.051-03:002024-03-10T01:12:51.602-03:00And I draw a line to your heart today [2022]Considerando-se (1) que reativei o blog e (2) que o estado deplorável do meu pescoço parece ter encerrado de vez meu impróspero futuro de artista; trarei pra cá alguns desenhos que fiz em 2022 (e umas velharias). Antes dos desenhos, porém, darei continuidade à proposta <a href="https://www.correndoentrelivros.com/2021/08/desenhos-filme-gosto-cha-helga-poznanski-buffy-wishverse-color-pomegranate-cor-roma-cannes-2021-gatinho-janela-bode-nordeste.html" target="_blank">do post anterior</a>, anotando alguns de meus encontros legais sobre o tema.<div><br /></div><div>(*<a href="https://www.instagram.com/dani.x.ela/" target="_blank">Arquivando desenhos/pinturas no Instagram: dani.x.ela</a>)<br /><div style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">...</span></b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">🎨 Ano passado assisti ao <a href="https://www.imdb.com/title/tt0101318/" target="_blank"><i>Os Amantes de Pont-Neuf</i> (Leos Carax; 1991)</a> e achei muito bonita a sequência e o paralelo estabelecido entre as cenas iniciais e finais, nas quais Michèle, personagem de Binoche, desenha um retrato do amante, interpretado por Denis Lavant. Colo aqui uma edição breve (há spoilers, é lógico), mas também vale ressaltar a tocante cena à noite no museu, na qual Michèle, com ajuda de uma vela e de um ombro amigo, observa um dos autorretratos de Rembrandt, possivelmente pela última vez (ela estava prestes a perder a visão). </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxt-lDX57_d4uDa6wdkxsP-HpGYU5K6zqNt3-YRVSMFSxjOV9KfwWwhJ75wkLIG-wl3J8AKGCNuOkFzqgU6Mw' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div><br /><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">🎨 Já neste ano, finalmente vi <i>A Caverna dos Sonhos Esquecidos </i>(2010), do Herzog. Na sequência, aproveitei para ler um texto de Gilda de Mello e Souza — na verdade, a transcrição de uma palestra que ela proferira em 1954, na Sociedade de Psicologia de São Paulo — chamado <i>O Desenho Primitivo</i>, incluído no livro <i>Exercícios de Leitura</i>, publicado pela Editora 34. O tema é fascinante e, desse texto, escolho guardar aqui dois pontos:</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnVSevC-lFuYfdX6Y3u9s6pSqSnEOxCx15rwtsv_juvFz-ea1j2jMD_8yp9KgnSunxl0Go_eWUAyYsK-2hS37EZGVNBaJwBZzE7BfCaguOdGjte-An0VxMYwPHSJt9JH7i65nrK4Yvm7i10OzzHNOgVwTHVSYWeiLvzGZAwVCqMNXFmE7w0whT6A/s2480/Exerc%C3%ADcios%20de%20Leitura%20-%20Gilda%20de%20Mello.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2480" data-original-width="1665" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnVSevC-lFuYfdX6Y3u9s6pSqSnEOxCx15rwtsv_juvFz-ea1j2jMD_8yp9KgnSunxl0Go_eWUAyYsK-2hS37EZGVNBaJwBZzE7BfCaguOdGjte-An0VxMYwPHSJt9JH7i65nrK4Yvm7i10OzzHNOgVwTHVSYWeiLvzGZAwVCqMNXFmE7w0whT6A/s320/Exerc%C3%ADcios%20de%20Leitura%20-%20Gilda%20de%20Mello.jpg" width="215" /></a></div><br />(1) A ressalva feita por Gilda de Mello de que, nas sociedades primitivas, raramente encontramos um desenho que se encaixa na habitual definição de desenho — quer dizer, <i>a arte do contorno</i> — , pois <span style="color: #073763;"><i>quando a poesia ainda não se separou da música e esta continua apoiando-se na dança; quando são 'impuras' todas as manifestações artísticas, também ao desenho vemos associar-se uma série de elementos alheios ao contorno que, falando aos sentidos, anulam o caráter abstrato do traçado (...)</i>.</span> Abracei demais essa ideia de manifestação artística <i>impura </i>(é contorno, é poesia, é música, é dança, é instrumento de magia religiosa... é tudo!), o que explica muito aquilo que sentimos ao contemplar as imagens dos desenhos no documentário de Herzog.</div><div style="text-align: left;"><i><br /></i></div><div style="text-align: left;">(2)<i> </i>Gilda de Mello faz questão de pontuar a distância entre o desenho primitivo e o desenho infantil (dado que percepções rasas tendem a aproximá-los). Ao mesmo tempo, porém, ela aponta uma magnífica semelhança (grifo meu): </div><div><i><span style="color: #073763;"></span><blockquote><span style="color: #073763;">"(...) uma finalidade utilitária, mágica ou intelectual. maneira de apreender o mundo e sobre ele agir, grafia da percepção, (...) visa sempre menos uma imagem que um saber, como diria Sartre. Onde o vocabulário é precário e a palavra ainda não se empenhou na descoberta do mundo,<b> é através do contorno </b>que o primitivo ou a criança apalpam a realidade, exploram o objeto, exploram o objeto, <b>chegam à noção abstrata das coisas</b>. (...) Assim <b>o desenho</b> estará preenchendo a sua verdadeira função, que é, segundo as belas palavras de Alain, <b>"fixar o homem e parar o curso do tempo"</b>."</span> </blockquote></i><p><br /></p><p>🎨 Por falar em desenho infantil, anotarei um diálogo simples e surpreendente que encontrei no lindo livro <i>Meu Nome é Asher Lev</i>, de Chaim Potok; o qual li no fim do ano passado, na tentativa de continuar vivendo a narrativa do querido Akiva, personagem da série israelense<i> Shitsel</i>. (Esse livro provavelmente retornará noutros momentos ao blog — ou não.)<br /></p><blockquote><i><span style="color: #073763;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuSDsCekQ12AJ7TRi8MEdnvHzXx12vq1i7FG4T3RG4kY0sNAYGJjptBugcAsyTmfuI8QO7Fg3W6kYq5EyfS05sOn72_jyXIcJkLBy6svOugq6xcjItAOT1Wd7o1SqQ8do2DLBW04xozpRN1mI8KnotO7s8OGdpCns0KWikX0qsZLz18dXAOoAzDA/s640/Meu%20Nome%20%C3%A9%20Asher%20Lev.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuSDsCekQ12AJ7TRi8MEdnvHzXx12vq1i7FG4T3RG4kY0sNAYGJjptBugcAsyTmfuI8QO7Fg3W6kYq5EyfS05sOn72_jyXIcJkLBy6svOugq6xcjItAOT1Wd7o1SqQ8do2DLBW04xozpRN1mI8KnotO7s8OGdpCns0KWikX0qsZLz18dXAOoAzDA/s320/Meu%20Nome%20%C3%A9%20Asher%20Lev.jpg" width="240" /></a></div><br />"Olhando para um dos meus desenhos, disse-me ele certa vez: — Asher, você não tem coisa melhor em que usar seu tempo? Seu avô não teria gostado de vê-lo esbanjar tanto tempo com tolice.</span></i> </blockquote><blockquote><i><span style="color: #073763;">— Papai, mas isto é um desenho.<br />— Eu sei que é um desenho.<br />— Mas, papai, um desenho não é uma tolice.<br />Ele me olhou surpreso, sem dizer uma palavra. Naquela época eu tinha quase cinco anos de idade."</span></i></blockquote> — Chaim Potok, Meu Nome é Asher Lev <br /> (Tradução: Attílio Cancian) </div><div><br /></div><div>🎨 Fechando ciclicamente, volto aos retratos, fixando o vídeo em que Berger pinta um retrato de Tilda Swinton, o qual só vi recentemente — é trecho do documentário <i>The Seasons in Quincy: Four Portraits of John Berger</i>, o qual ainda não consegui assistir. Além da técnica mais fluida, adorei o anteparo de madeira (novidade pra mim) que Berger usa para fixar o papel — deve funcionar melhor que a fita crepe. E tão, tão bonita a mirada de Swinton para Berger... — Não tem jeito, o olhar de um retratado para o pintor que o retrata é sempre uma imagem muito potente. Trata-se de um momento que mistura tantas coisas: vulnerabilidade, generosidade, curiosidade, intimidade, comunhão, erotismo, amor... Sempre me pega, razão porque precisei fixar aquele sequência do filme do Carax. </div></div><p>Ah, e a participação especial do livro de Victor Serge? Se está no catálogo da NYRB e foi lido por Berger, eu boto fé; mandei pra fila (Título: <i>Unforgiving Years</i>). </p><blockquote style="text-align: center;"><i>"We, who draw, do so not only to make something observed visible to others, but also to accompany something invisible to its incalculable destination."</i></blockquote><p style="text-align: center;"> <iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/CiaXbVJx750" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p><div style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">...</span></b></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A seguir, alguns de meus desenhos ruins deste ano, que me deixam feliz.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglWR1Oj0wEWNZxRWEXIcPFxVxUkb-wCvlj6GUyQyIro6opd30jvFBavmpnAtRUbf11lpgn8WmGL315QDh1buYYIWFXBrBADAvBgNGydRKHPRM7Ni5GaOF8g6AFEC5ieHxaN-J2uizhGWYPKXjCm0fwDvnbOKMFiHyr0oUG0ZWC0x7FmjjlAD4nBQ/s1600/GIRLHOOD%20%20OP%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1288" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglWR1Oj0wEWNZxRWEXIcPFxVxUkb-wCvlj6GUyQyIro6opd30jvFBavmpnAtRUbf11lpgn8WmGL315QDh1buYYIWFXBrBADAvBgNGydRKHPRM7Ni5GaOF8g6AFEC5ieHxaN-J2uizhGWYPKXjCm0fwDvnbOKMFiHyr0oUG0ZWC0x7FmjjlAD4nBQ/w323-h400/GIRLHOOD%20%20OP%202.jpg" width="323" /></a></div><div style="text-align: center;">[*referência do desenho: cena do filme <i>Bande de Filles</i>, de Céline Sciamma // aquarela.]</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuvp9BrhtadWO6LcgQnj87GJg3VrJshVN8ZUhVKuCgGn_EdNPYBACVEWOQDT_t8Gr-uYBhkdge1BeU33sR3D02r8eZu5MCEKjns-aJQhOoGCzoesCFK90Y76N9S8m49SCu5rxSH3hdnfVpgXVm6g31DVufZrkR0cLVLZQOnd-VTHT_SY2yLWTQBg/s2461/a%20grande%20beleza%2011.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1498" data-original-width="2461" height="390" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuvp9BrhtadWO6LcgQnj87GJg3VrJshVN8ZUhVKuCgGn_EdNPYBACVEWOQDT_t8Gr-uYBhkdge1BeU33sR3D02r8eZu5MCEKjns-aJQhOoGCzoesCFK90Y76N9S8m49SCu5rxSH3hdnfVpgXVm6g31DVufZrkR0cLVLZQOnd-VTHT_SY2yLWTQBg/w640-h390/a%20grande%20beleza%2011.jpg" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;">[referência do desenho: cena do filme <i>La Grande Bellezza</i>, de Paolo Sorrentino // aquarela]</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikfsOBGEowxn4Bm2sXERQBLxlEg-F0yqolrp6v5dbQW18HMNUA_8tu1rKZGADAPJ55365ild9LQJCnPfv8S0XkbXBOfLgY3Q6cItnn50b0BJPwl-brZEtIU9jWMr8I7PagsZyw31WMlKSGNkmOgZFuzdsigVdCeWLLARuiyyWFhnzeXB8YEy7XwA/s3423/FORMIGA.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3423" data-original-width="2107" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikfsOBGEowxn4Bm2sXERQBLxlEg-F0yqolrp6v5dbQW18HMNUA_8tu1rKZGADAPJ55365ild9LQJCnPfv8S0XkbXBOfLgY3Q6cItnn50b0BJPwl-brZEtIU9jWMr8I7PagsZyw31WMlKSGNkmOgZFuzdsigVdCeWLLARuiyyWFhnzeXB8YEy7XwA/w394-h640/FORMIGA.jpg" width="394" /></a></div>[referência do desenho: foto publicada pela conta Ig @dzulfikri72; fotógrafo Dzulfikri // lápis de cor.]<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIFOfcK49PyeWEUnm1iGl6jEyMJnWQy3yx-_t2JH5CufNgehH1m_hhbpDJfToEQox3eQpGrrIt8svZowbwOU0_ai0vCAj-FJGU_bCLJHvTKa6ZnjDHVXBcT9OfkDvBCpcemrHYHsGXDSrAxgEA59ZXMJcT7p2jwo-X3XBJmfuacA7EQzlBb3TyPA/s839/SCNERY%201.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="839" data-original-width="807" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIFOfcK49PyeWEUnm1iGl6jEyMJnWQy3yx-_t2JH5CufNgehH1m_hhbpDJfToEQox3eQpGrrIt8svZowbwOU0_ai0vCAj-FJGU_bCLJHvTKa6ZnjDHVXBcT9OfkDvBCpcemrHYHsGXDSrAxgEA59ZXMJcT7p2jwo-X3XBJmfuacA7EQzlBb3TyPA/w385-h400/SCNERY%201.png" width="385" /></a></div>[*referência do desenho: foto postada pela conta do Instagram @nomibis; Fabienne Nomibis // guache.]<div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlQl5KFjbEVLmf0fAveviQx2ludktUCHAnpc1kf2pLs3F2-5c1mRhZrFkqxuVMcFrekCM4akMFYhn1p7LLhDHNCoqedMoVF1VWALbw05ncY50mgFDmgEJG7yQeAeiYWJng2DOTzEyqD3obv-u8rlUREKkUAmHydtRslVH_1_H6y0I2T-4Zyey7sQ/s581/TAEMIN_KOONG_RS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="581" data-original-width="508" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlQl5KFjbEVLmf0fAveviQx2ludktUCHAnpc1kf2pLs3F2-5c1mRhZrFkqxuVMcFrekCM4akMFYhn1p7LLhDHNCoqedMoVF1VWALbw05ncY50mgFDmgEJG7yQeAeiYWJng2DOTzEyqD3obv-u8rlUREKkUAmHydtRslVH_1_H6y0I2T-4Zyey7sQ/s16000/TAEMIN_KOONG_RS.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: imagem compartilhada por Taemin (태민), com sua gatinha Kkoong (꿍) 🖤 // grafite + lápis de cor. /// Poxa, o desenho original ficou tão mais bonitinho... <a href="https://www.instagram.com/p/CZ0rknOsZnf/?utm_source=ig_web_copy_link" target="_blank">A qualidade é bem melhor no Instagram: aqui.</a> O</span><span style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;"> Blogger não ajuda; e n</span><span style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">ão sei digitalizar direito grafite e lápis de cor, o scanner sempre deturpando demais a imagem.]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAyUz7-qMg2mAvsawptUn97B4q2rN9wFA-M_EvrMwJuD8-saMkLlohE-ZkN33Zm6I3AseaJ4DtGPp90aJCCTqRfivbtUeJpdgjPOr6JT8Y5zECqn_4wfssiZmdQtZaUQxCeSBAQTQM2CpSLk5TruIOuI7hq3OCyxHzphz2Zw_10Eh73EqltI-5og/s2905/DOG%20ESPELHO%2010001%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2905" data-original-width="2437" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAyUz7-qMg2mAvsawptUn97B4q2rN9wFA-M_EvrMwJuD8-saMkLlohE-ZkN33Zm6I3AseaJ4DtGPp90aJCCTqRfivbtUeJpdgjPOr6JT8Y5zECqn_4wfssiZmdQtZaUQxCeSBAQTQM2CpSLk5TruIOuI7hq3OCyxHzphz2Zw_10Eh73EqltI-5og/w335-h400/DOG%20ESPELHO%2010001%20(2).jpg" width="335" /></a></div><div style="text-align: center;">[*referência do desenho: ... 😬 foto meme da internet? não localizei o crédito específico da foto usada // aquarela + lápis de cor.]</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8bEdeHGAd2WiQeZKAue114RVCF9j_5NYae74hKzRUWMvnlyGa2VmGT0rxS_6hoK2qlNYupQBpO2ASKwBLNivr8wuuuDhlKYcjlVZ-kIcDILu7pRcilcP97uDT7gV4yBWoq2z3v167VF3oH_QqpZFcphYwvtmtwCrVnpevRBLRkXbx13LH5eEvcw/s1768/RIHANNA%20GR%C3%81VIDA%2010001%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1768" data-original-width="1157" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8bEdeHGAd2WiQeZKAue114RVCF9j_5NYae74hKzRUWMvnlyGa2VmGT0rxS_6hoK2qlNYupQBpO2ASKwBLNivr8wuuuDhlKYcjlVZ-kIcDILu7pRcilcP97uDT7gV4yBWoq2z3v167VF3oH_QqpZFcphYwvtmtwCrVnpevRBLRkXbx13LH5eEvcw/w261-h400/RIHANNA%20GR%C3%81VIDA%2010001%20(2).jpg" width="261" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">[*referência do desenho: foto da Rihanna durante a gravidez, em 2022 // aquarela.]</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxeduJPycy9Z6gGKUT7YCKdzcSermdkp3OwDz5Ypc-wRIZMqXLe_F3ifzI30SEte9zq7q1U-I8UNr7uim8x9X4P-Y0qt-35B5QDSvgxItvzRRySbAdTSrYX2vqOXXC5lFJcTHTe2SWN2g5Yymk38DyIG7tPUIbTnmLKyzH3kw68e4UjGkr_tTJhQ/s2927/LOOKS0003%20EDITED.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1622" data-original-width="2927" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxeduJPycy9Z6gGKUT7YCKdzcSermdkp3OwDz5Ypc-wRIZMqXLe_F3ifzI30SEte9zq7q1U-I8UNr7uim8x9X4P-Y0qt-35B5QDSvgxItvzRRySbAdTSrYX2vqOXXC5lFJcTHTe2SWN2g5Yymk38DyIG7tPUIbTnmLKyzH3kw68e4UjGkr_tTJhQ/w640-h354/LOOKS0003%20EDITED.png" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;">[referência do desenho: fotos publicadas pela conta Instagram @2ah.in // aquarela.]</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihiUey0yEkexxYy6K21V648BC3R6u7I7DjK1ebSuNmQTuXeG5u3JAP6KqiXU2oZhH5W9ewGxJAwLnjeC6-sjNRMT9VDEerqLadY2TFh4a9-qlMHiHrM3RlzQ7oF71Yt-jdKuAODOtbSmdhRjmUKwk74v_eUn-426kwCFRyE1frtb5BuMQTINDSbw/s1733/SCENERY%2020001%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1396" data-original-width="1733" height="323" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihiUey0yEkexxYy6K21V648BC3R6u7I7DjK1ebSuNmQTuXeG5u3JAP6KqiXU2oZhH5W9ewGxJAwLnjeC6-sjNRMT9VDEerqLadY2TFh4a9-qlMHiHrM3RlzQ7oF71Yt-jdKuAODOtbSmdhRjmUKwk74v_eUn-426kwCFRyE1frtb5BuMQTINDSbw/w400-h323/SCENERY%2020001%20(2).jpg" width="400" /></a></div>[*referência do desenho: foto de Maggie Cheung, por Wing Shya, para a revista i-D 2004 // guache.]<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRHm7BrWgh1cuwb4uX7tLP1fgY1wanjWWeGN80f5lRxECMloj6PKEY1rFOnCEnX6z7d4YsVRF0ZDe26VeKWs12AQox9ib-iSmGTgefheglq0jb7uScvLadfB31pEamyRm1xVUBi4NeF9AnoBSpZU_efyU7zFclG9PBlS8GBH87M3qDHcyiq7sB_Q/s981/HEAVY%20BAILE.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="851" data-original-width="981" height="348" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRHm7BrWgh1cuwb4uX7tLP1fgY1wanjWWeGN80f5lRxECMloj6PKEY1rFOnCEnX6z7d4YsVRF0ZDe26VeKWs12AQox9ib-iSmGTgefheglq0jb7uScvLadfB31pEamyRm1xVUBi4NeF9AnoBSpZU_efyU7zFclG9PBlS8GBH87M3qDHcyiq7sB_Q/w400-h348/HEAVY%20BAILE.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;">[referência do desenho: imagem do clipe para a música <i>Vai Quebrando (Desce que Desce)</i>, do Heavy Baile; com a dançarina Celly IDD. // lápis de cor.]</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">...</span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Uns desenhos mais velhinhos, os quais trago de volta porque se perderam quando desativei o blog ano passado — e porque gosto muito deles:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBN_pz3i4R70IBfEGnfQdOZ5Hq_pImx9aEPq5BbTTh_wEyigIVLnPt_yeuv1jc3o0jSgqr-xbYwfxvb-rl2rQNaoU2skofFeOtPSs9cl2xH8MIsaxhJl4tk_zz3rhgESxHuioQOtH4vSIy2Re5wyrLy0St_0s3Cxh7p3dI-ErTnsW-IW0113m8ng/s2096/MACAQUINHO%20GAFANHOTO%202021.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2078" data-original-width="2096" height="396" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBN_pz3i4R70IBfEGnfQdOZ5Hq_pImx9aEPq5BbTTh_wEyigIVLnPt_yeuv1jc3o0jSgqr-xbYwfxvb-rl2rQNaoU2skofFeOtPSs9cl2xH8MIsaxhJl4tk_zz3rhgESxHuioQOtH4vSIy2Re5wyrLy0St_0s3Cxh7p3dI-ErTnsW-IW0113m8ng/w400-h396/MACAQUINHO%20GAFANHOTO%202021.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: cena da série documental Tiny World - Apple TV // lápis de cor.]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8358clWaICcJgKuYST3n3hodICERpgmstEebffnbLLE4M_6mu5Ia5f-69-Ay7W5ky1r9gtNONRRTDgRGfGKxEZ6acc9hpGcMzydnYKySjTtfbDda4XryNqGoeZ9enb1yDcFVliBsU_eOK98AwXlNtb_7CKXU5lCf0JkNsTdsYzV-4W1wZs4DNeQ/s670/Ratcatcher%20-%20O%20Lixo%20e%20o%20Sonho%20-%20Correndo%20entre%20Livros.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="670" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8358clWaICcJgKuYST3n3hodICERpgmstEebffnbLLE4M_6mu5Ia5f-69-Ay7W5ky1r9gtNONRRTDgRGfGKxEZ6acc9hpGcMzydnYKySjTtfbDda4XryNqGoeZ9enb1yDcFVliBsU_eOK98AwXlNtb_7CKXU5lCf0JkNsTdsYzV-4W1wZs4DNeQ/w400-h234/Ratcatcher%20-%20O%20Lixo%20e%20o%20Sonho%20-%20Correndo%20entre%20Livros.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: cena do filme Ratcatcher (1999), de </span><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="color: #262626;"><span style="font-size: 14px;">Lynne Ramsay // aquarela.</span></span><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE6XUfqcL1UfeSsDWm7Huv7frUZEH2f_mn7BpBGiwzN60B1pIA0TvzAmtL-xe4Sa-M6l-ugxQrVNErcnTxamV_VCeX71tLVy8PaMxxxF_3Ay_Fe31Ge1Uep5uctsFzzuZYRQag4OzRPb46Zk4ie5Lw_cXTVQSuxN9jymBZIim_njlrk7FdBMxfzQ/s2335/SENHORAS%20MAR%20MORTO.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1722" data-original-width="2335" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE6XUfqcL1UfeSsDWm7Huv7frUZEH2f_mn7BpBGiwzN60B1pIA0TvzAmtL-xe4Sa-M6l-ugxQrVNErcnTxamV_VCeX71tLVy8PaMxxxF_3Ay_Fe31Ge1Uep5uctsFzzuZYRQag4OzRPb46Zk4ie5Lw_cXTVQSuxN9jymBZIim_njlrk7FdBMxfzQ/w400-h295/SENHORAS%20MAR%20MORTO.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: puxa, perdi; mas era uma foto de senhoras no mar morto</span><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="color: #262626;"><span style="font-size: 14px;"> // aquarela.</span></span><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">]</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjih598_RHRM-UsoKEi9stqcR0qsyWyvnDKwlBxZJBrqPKn6zc9DhcG1fDKBkZyPqGt0z4w9jPaS1z0-U_GMAlvCXFUbC0uMXcwyTvq2tDsNBd-lN3tWOUUzTLL3Yw-n_OqjRq2ZOzs1c2rDC_dL2Xm_N2fKFAfMXXiqF0qk4GN7yY0PKHCxdEq0g/s1813/Malala%201%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1813" data-original-width="1505" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjih598_RHRM-UsoKEi9stqcR0qsyWyvnDKwlBxZJBrqPKn6zc9DhcG1fDKBkZyPqGt0z4w9jPaS1z0-U_GMAlvCXFUbC0uMXcwyTvq2tDsNBd-lN3tWOUUzTLL3Yw-n_OqjRq2ZOzs1c2rDC_dL2Xm_N2fKFAfMXXiqF0qk4GN7yY0PKHCxdEq0g/s320/Malala%201%20(2).jpg" width="266" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: foto da Malala no Graduation Day, 2020 // aquarela.] </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihvnLOIqg_FCFi730Qnv6EVnVjkqPIablRs8EDHCbVnRejrlbmNboRr6Kr1nN-KRfeQl7bTAstsKQyrPt-KstH23l4V_V3XDW_RoAq8qzRQ_5-pxtVM_bbEODA_-CKzaPz56WtoYeJmlpfd-rqAlUJPh0m_Fryfg5P8whSzn55GjBEncQTuSIIDA/s2512/CARRETA%20FURAC%C3%83O%2020001.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1469" data-original-width="2512" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihvnLOIqg_FCFi730Qnv6EVnVjkqPIablRs8EDHCbVnRejrlbmNboRr6Kr1nN-KRfeQl7bTAstsKQyrPt-KstH23l4V_V3XDW_RoAq8qzRQ_5-pxtVM_bbEODA_-CKzaPz56WtoYeJmlpfd-rqAlUJPh0m_Fryfg5P8whSzn55GjBEncQTuSIIDA/w400-h234/CARRETA%20FURAC%C3%83O%2020001.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #262626; font-size: 14px; text-align: left;">[*referência do desenho: Carreta Furacão! rs // aquarela.]</span></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-59543219667542563492022-06-19T14:33:00.049-03:002024-01-06T22:26:12.120-03:00That old convenience store, those tired faces and those haunted eyes<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJcxxnJpDm9O3COiaK1xDgd9O12xouhrtO9PCDkj2vhMYLtxso76Sdzc1fi2YlBdby90lqEkv47PBt6I_jDUdSYnzaPOZmQdA1tT_9s6EkZJXCJesUSGUUbfaDl6hN6EZCL3SxuNH4nLaHhwx14wSyJmF5Qb-atliaqeUeok7-JlBOIUI8_lK82g/s650/MAD%20FOR%20EACH%20OTHER%20LAMEN%20CONVENIENCE%20STORE.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="433" data-original-width="650" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJcxxnJpDm9O3COiaK1xDgd9O12xouhrtO9PCDkj2vhMYLtxso76Sdzc1fi2YlBdby90lqEkv47PBt6I_jDUdSYnzaPOZmQdA1tT_9s6EkZJXCJesUSGUUbfaDl6hN6EZCL3SxuNH4nLaHhwx14wSyJmF5Qb-atliaqeUeok7-JlBOIUI8_lK82g/w640-h426/MAD%20FOR%20EACH%20OTHER%20LAMEN%20CONVENIENCE%20STORE.jpg" width="640" /></a></div>Durante a ronda por dramas coreanos à qual me dediquei ano passado, diversas foram as obras malogradas, dentre as quais consta <a href="#"><i>Loucos um pelo Outro</i></a>. Embora eu não tenha sido capaz de sequer finalizar o primeiro episódio, houve uma passagem específica da série que me tocou bastante. Falo da sequência em que o protagonista, um policial afastado do trabalho em decorrência de transtorno explosivo intermitente, janta <i>lámen</i> industrializado (tipo <i>cup noodles</i>®) harmonizado com uma garrafa de coca-cola, numa loja de conveniência. Ah, e sozinho. Bicho, conjecturei que aquela possivelmente seria uma das cenas mais deprimentes já concebidas pela dramaturgia coreana. Enquanto tentava entender a razão de meu desassossego diante daquilo, imagino ter sido abençoada por uma feliz epifania: mas, ora, se não é praticamente uma versão do<a href="#"> quadro <i>Automat</i>, de Edward Hopper</a>?! Entretanto elementos mal explicados persistiam, sobretudo porque — <a href="#">conforme Alain de Botton também reconhece </a>num artigo para o site do Tate Museum—, os quadros de Hopper não me despertam tristeza/melancolia, ao passo que a imagem coreana me pôs num estado de franco desamparo. Naquele mesmo texto, Botton assinala pontos a respeito de <i>Automat</i> que me auxiliarão a delimitar divergências entre o quadro de Hopper e o de <i>Loucos um pelo outro</i> (*tradução livre por minha conta):<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><span style="color: #134f5c;">(1) Botton: <i>"A mulher aparenta estar autoconsciente e ligeiramente amedrontada, mal acostumada em estar sozinha num espaço público. Algo parece ter dado errado."</i></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Exato! O quadro coreano, em contrapartida, é tomado por uma normalidade acachapante. Aquele homem <u>aparenta</u> estar super bem acostumado à solidão, e aquela parece ser apenas mais uma das várias noites monótonas de sua vida banal.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><span style="color: #134f5c;">(2) Botton: <i>"Ela involuntariamente convida o observador a imaginar histórias para ela, histórias de traição ou perda."</i></span><div>E o policial coreano? Para que perder tempo imaginando alguma história para aquele homem, quando a situação sugere ser a mesma velha história mundana de tantos? (Vixe, acho que estou pegando pesado com o cara.)<div><br /></div><span style="color: #134f5c;">(3) Botton: <i>"A despeito da austeridade dos móveis, o espaço em si não aparenta desolação".</i></span><div>Poxa, essa é a descrição oposta de uma loja de conveniência! — na minha opinião, veja bem. Móveis sem personalidade, mesas rodeadas por prateleiras entupidas de quinquilharias, e o horror supremo: a nauseabunda luz branca fluorescente. Botton também ressalta o espaço bastante iluminado de <i>Automat</i>, mas defendo que estamos lidando com luzes distintas. Sinto que a luz noturna de Hopper preserva o calor da marcante luz solar presente em suas imagens diurnas, estando assim muito distante da frieza com que a luz branca afoga aquele que faz uma refeição numa loja de conveniência. [A propósito, que conceito, comer dentro de um quadrangular aquário branco.]</div><div><br /></div><span style="color: #134f5c;">(4) Botton: <i>"Outros podem estar sozinhos naquele espaço, homens e mulheres bebendo café sozinhos, igualmente perdidos em pensamentos, igualmente distanciados da sociedade."</i></span><div>Aí que está: o telespectador sabe que o policial é a única pessoa (excluindo-se a funcionária) a habitar aquele recinto. E ele não está bebendo um café fresco preparado com grãos de qualidade. Ele é um adulto se entupindo de miojo e refrigerante.<i> "Distanciado da sociedade",</i> ele com certeza está; neste ponto temos realmente um encontro entre as imagens de Hopper e a do drama coreano. </div><div><br /></div><span style="color: #134f5c;">(5) Botton: <i>"Hopper nos convida a sentir empatia pela mulher em seu isolamento"</i>.</span><br /><div>Embora eu não possa falar por todos os telespectadores, afirmo que aquela foi a cena que me afugentou em definitivo da série, a gota d'água. E, dado que me esforço em praticar a máxima honestidade (razoável) neste blog, nem esconderei que pode ter ocorrido comigo o mesmo que a Freud e seu reflexo no vidro do trem — o tal sobressalto provocado pelo estranho familiar. </div><div><br /></div><div style="text-align: center;">🏪</div><div><br /></div><div>Quando já tinha me esquecido desses pensamentos, eis que um livro coreano me empurrou novamente para dentro de uma loja de conveniência. E o desconcerto, meus amigos, nem conto. Ou melhor, conto sim (na tentativa de entender).</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42jUz4l12pJssKEd6G6gVRlAYMGszklAJeXJqVIeqPLdIbFrr47Z00EUewx402oDOd1T_mlSf4UJBVFpekhK1JRUj4tKpJ4oPtuNXbsuwnrKcqEzK26jl4S086mHoz3CAq5QfA7osnRoCkHyWTbWH_BUXJPbQRJN4VfUxJh8ZiE0CwuNpC3s1dw/s460/no%20one%20writes%20back.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="330" data-original-width="460" height="287" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42jUz4l12pJssKEd6G6gVRlAYMGszklAJeXJqVIeqPLdIbFrr47Z00EUewx402oDOd1T_mlSf4UJBVFpekhK1JRUj4tKpJ4oPtuNXbsuwnrKcqEzK26jl4S086mHoz3CAq5QfA7osnRoCkHyWTbWH_BUXJPbQRJN4VfUxJh8ZiE0CwuNpC3s1dw/w400-h287/no%20one%20writes%20back.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">No adorável<b>**</b> <i>No One Writes Back</i> [(~<i>Ninguém escreve de volta</i>), tradução coreano → inglês: Jung Yewon], a autora Jang Eun-jin me apresentou a Jihun, um rapaz que abandonou tudo para viajar pelo país apenas com uma mochila nas costas, um livro, um tocador de mp3 (a obra é de 2013) e um cachorro cego. Em suas andanças pela Coreia, Jihun mostra-se aberto a conhecer pessoas e, quando retornava aos diferentes motéis onde passava as noites, sentia prazer em escrever cartas para alguma delas. Pois imaginem meu susto quando o viajante me contou a história do Número 56 (Jihun preferia números a nomes), o homem em situação de rua que, numa loja de conveniência, disparou-lhe a pergunta: <i>"Quando uma loja de conveniência mais se parece com uma loja conveniente?" </i>Jihun, um tanto surpreso pela inesperada pergunta, responde que é quando ela convenientemente atende às suas necessidades prementes (imaginação passou longe, tadinho). Após recuperar-se do espanto de ter sua pergunta respondida pela primeira vez, Número 56 diz que Jihun está errado, pois uma loja de conveniência mais se parece com uma loja conveniente quando comemos <i>cup noodles</i>. Nem preciso dizer o quão abismada fiquei, preciso? Enfim, Número 56 seguiu explicando suas ideias a Jihun (e pra mim):</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><blockquote style="font-style: italic;">"Sem cup noodles, uma loja de conveniência nada mais é do que um cadáver. Não é fantástico? Você paga pelo cup noodles, eles nos dão água quente e uma cadeira de graça; e ainda nos permitem jogar fora o lixo depois que terminamos de comer. Não entendo as pessoas que comem cup noodles em casa. Isso vai contra o motivo do cup noodles existir. Às vezes desejo que as lojas de conveniência vendessem apenas cup noodles. Eu como cup noodles quase todo dia. Eles são baratos, fáceis de preparar e gostosos."</blockquote><p><i> </i> — Jang Eun-jin,<i> No one writes back (아무도 편지하지 않다)</i></p></div>Ainda mais surpreendente é a complementação de 56, segundo a qual a grande variedade de sabores de miojo é outra grande vantagem, pois quando opções lhe são oferecidas, ele não se sente humilhado. Olha, quando li essa passagem, o piso sob meus pés desapareceu e eu retornei flutuando àquelas reflexões propiciadas pela cena de <i>Loucos um pelo Outro, </i>atordoada e sem mais saber o que pensar. O Jihun, por sua vez, me contou que, depois do encontro com o Número 56, nunca mais comeu cup noodles nos motéis, me garantindo que miojo é muito mais saboroso quando degustado numa loja de conveniência, aquecendo-nos por dentro. Talvez Jihun esteja certo, digo, é provável que minha forte reação negativa à cena do k-drama resulte do simples fato de eu nunca ter comido cup noodles numa loja de conveniência. </div><div><br /></div><div>Como se isso tudo não bastasse, a narrativa de Eun-jin ainda tem a manha de incluir Edward Hopper na conversa. Um dos motéis pelos quais Jihun passa tem quartos temáticos de pintores, sendo-lhe reservado o quarto de Hopper, porque teria sido o artista que <i>entende como viajantes se sentem</i>. Enquanto observa as pinturas de Hopper nas paredes do quarto do motel, Jihun se dá conta de que Hopper <i>pintou cidades reais</i>. Não importava quantas pessoas cruzassem o caminho de Jihun na viagem; ele sempre enxergava uma mesma pessoa, aquele indivíduo com a mesma postura e expressão de rosto, que sempre olha em direção oposta: através da janela, para um livro, para uma xícara de café ou a si mesmo. Naquela viagem, Jihun se deu conta de que a verdadeira solidão ocorre quando estamos acompanhados. <div><br /></div><div><b>** </b>= então agora sou a leitora que diz que um livro é <i>adorável</i>... Meu deus, a idade está me transformando num monstro. </div><div style="text-align: center;">🏪</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1BQGc-EO8W4UqjQ5jNVYsxodi5WGxuFwrFoDAVZ3FPZ4JfybAGXs7BL2UzlEC5DOFxTadgBn-YTj-Qy6qIILH3U7ffala-cMl-WQCx1uxOGV0iC41r2YVvkNXeY_3Oax50kO1P2yhWGznb45mYJZBjh0DOLolDylj0P6Xb_rUCboiGZ1dBNFyVw/s435/convenience%20store.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="311" data-original-width="435" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1BQGc-EO8W4UqjQ5jNVYsxodi5WGxuFwrFoDAVZ3FPZ4JfybAGXs7BL2UzlEC5DOFxTadgBn-YTj-Qy6qIILH3U7ffala-cMl-WQCx1uxOGV0iC41r2YVvkNXeY_3Oax50kO1P2yhWGznb45mYJZBjh0DOLolDylj0P6Xb_rUCboiGZ1dBNFyVw/s16000/convenience%20store.png" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div>Após toda esta minha conversa fiada, talvez fique difícil acreditar que decidi ler o livro de Sayaka Murata com a inocência de que ele não me faria regressar às benditas lojas de conveniência, mas asseguro que assim foi. Os comentários de leitores com os quais eu havia esbarrado a respeito de <i>Convenience Store Woman / Querida Konbini </i> [コンビニ人間 (Konbini ningen)] me induziram a antecipar uma narrativa que meramente abordaria o direito, digamos, de uma mulher que resolve viver toda uma vida como funcionária de loja de conveniência e, puxa vida, ser plenamente feliz. Lida a obra, desabafo: que baita brisa errada. Na verdade, Sayaka Murata desenvolve uma narrativa bem mais complexa do que isso, a tal ponto que até agora (semanas após finalização da leitura), nem sei ao certo o que a autora pretendeu dizer com essa história — por sinal, diria que aí está o maior mérito da obra, que é do tipo <i>cada leitor que pense o que quiser</i>. Bom, só sei que gostei, e muito. Ah, e sim, a autora japonesa teve a proeza de me conduzir por corredores de lojas de conveniência inexplorados por mim. [*Uma ressalva: li a tradução para o inglês, feita por Ginny Takemori, cujos trechos traduzirei livremente aqui.]</div><div><br /></div><div>Para começar, achei engraçado me deparar com um breve diálogo que oferece mais uma resposta àquela pergunta do Número 56:</div><div><i></i></div><blockquote><div><i>"(...) estaremos abertos 24 horas, sete dias da semana, ano após ano. Por favor, venha e compre aqui à sua conveniência. </i></div><div><i>"Uau, vocês abrem à noite também? E cedo pela manhã?"</i></div><div><i>"Sim", eu respondi.</i></div><div><i>"Mas que conveniente!"</i></div></blockquote><div><i></i></div><div>Embora Keiko Furukura (a protagonista) confirme aquele meu prévio comentário sobre a normalidade opressora dessas lojas, a personagem igualmente me alerta que esse raciocínio é provavelmente mais intricado do que eu presumira. Veja, de fato a personagem me afirma que a loja de conveniência é <i>um ambiente forçadamente normalizado no qual qualquer matéria estranha é eliminada ou imediatamente corrigida, </i>mas simultaneamente<i> </i>ela assevera que só conseguia ser uma pessoa ordinária e normal enquanto trabalhava na loja — fora dali, Furukura me diz que é uma aberração inútil rejeitada pela sociedade. Ou seja, a menos que eu esteja doida (opa, como não?), o discurso da personagem deixa subentendido que lojas de conveniências nada mais são do que um microcosmo da sociedade, com uma diferença crucial: ali, há um manual; as regras são explícitas, claras e simples, fáceis de serem seguidas até mesmo por uma pessoa "esquisita" feito Furukura. A propósito, suponho que essas mesmas reflexões da protagonista também acabam propondo uma explicação à sensação de acolhimento e aconchego sentida pelo Número 56, um homem em situação de rua. Por tudo isso, acho que me flagrei numa situação<i> à la "o ovo ou a galinha"</i>: foi a cena na loja de conveniência que me deixou deprimida ou eu já estava deprimida sem nem perceber? Esse salto nos meus desvarios fez sentido?</div><div><i></i></div><blockquote><div><i>"O mundo normal não tem espaço para exceções e sempre elimina calmamente os objetos estranhos. Então é por isso que preciso ser curada. A menos que eu me cure, as pessoas normais me expurgarão. </i></div><div><i>(...)</i></div><div><i>Quando abro a porta, a caixa vivamente iluminada me espera—um mundo confiável, normal, que segue girando. Eu tenho fé no mundo dentro da caixa preenchida de luz."</i></div></blockquote><div><i></i></div><div>Prosseguindo com o exercício de honestidade, reconheço que a carapuça do preconceito com a qual a narrativa veste a personagem Shiraha (e vários funcionários da loja, curiosamente) possa me servir. Tal qual Shiraha, é plausível que minha aversão àquela cena de <i>Loucos um pelo outro</i> decorra da habitual associação de lojas de conveniência a pessoas fracassadas, os tais <i>objetos estranhos</i> citados por Keiko e rejeitados pela sociedade. Inclusive, uma aversão intensificada pela plena ciência de que eu própria engrosso a massa de <i>losers</i> do mundo. Quer dizer, trata-se realmente do spoiler que dei no início do post: a experiência do estranho familiar.</div><div><br /></div><div>Por fim, é mandatório inserir o miojo nesses desvarios, pois ele é peça chave do <i>pathos</i> da cena coreana. Bem, Keiko Furukura compartilha que a conexão dela com a loja de conveniência era tamanha, que todas suas refeições consistiam em comidas lá vendidas, razão porque ela acreditava que seu corpo, uma vez constituído pela comida da loja, a tornava parte integrante da loja de conveniência tanto quanto a máquina de café e as prateleiras de revistas. (*Tenso*) Posto isto; calculo então que Número 56 está certo ao defender que o cup noodles é o que torna conveniente a loja de conveniência; afinal o cup noodles é parte integrante da loja; em outras palavras, são indissociáveis. </div><div><br /></div><div>[*Certo; confesso: a garrafa de coca-cola é o que representa, na realidade, minha <i>piéce-de resistance</i> na cena coreana, visto que sou uma inveterada viciada na maldita bebida.] </div><div><br /></div><div style="text-align: center;">🏪</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div>Naquele artigo do Tate, Alain de Botton teoriza que restaurantes de beira de estrada, cafeterias noturnas, lobbies de hotéis [acrescentarei: <i>e lojas de conveniência?</i>] serviriam de espaços onde podemos diluir a sensação de isolamento e redescobrir um particular sentimento de comunidade — para Kieko Furukura, a loja funciona exatamente dessa maneira, por mais paradoxal que soe. Segundo o autor francês, seria mais fácil dar vazão à tristeza nesses ambientes desprovidos da sensação de lar — com suas luzes intensas e móveis estéreis —, os quais assumiriam a função de santuários àqueles que falharam em encontrar um lugar para si no mundo ordinário. É, talvez eu deva mesmo seguir o conselho do Número 56 e parar de comer meu miojo com coca-cola em casa.</div><div><br /></div><div style="text-align: center;">🏪</div><div>***O pior? Isto nem foi um #publipost.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-60357416006385974192022-06-07T17:53:00.003-03:002024-03-09T23:55:34.341-03:00Taemin - Never Gonna Dance Again Photo BookGravei um videozinho lo-fi para conversar groselha, enquanto folheio o photo book do Taemin (meu UTT), para o show <i>Never Gonna Dance Again</i> (Beyond Live, Maio/2021), o qual recebi semana passada. É; <i>agoooora</i> acho que virei kpopper <u>mesmo</u>. ¯\_(ツ)_/¯ <div><br /><div>[*Ombudsman: por que marcar o post como off-topic, se o vídeo, bem ou mal, trata de um livro? Preconceito da blogueira.] <div><br /></div></div></div>
<div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/SjJ-YVOJcU8" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-34784217847640907402022-05-12T16:08:00.015-03:002024-03-09T23:48:41.157-03:00♫* 심장 깊은 곳의 이 떨림 You are my messiah (killing me)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZATivTwSeZ9jpJ07X3iJ3s5c3iyCGt4sLu_tlSexV6uKT56-YyvL5bWXmWzcru3H-Wd-T7Bp92-kcmGd-YP3e9U--m8UVYdLPnVOtyNwHYqLa4OcAu_xdrufgCjbbNko3KM0urtGNdbW4pPt9tJAM7OYu5XGQBwcoX6v1n0luBUl-sOSwfCnPuQ/s480/Cultish%20Language%20Fanaticism%20Montell%20-%20Kpop%20-%20Correndo%20entre%20livros%2044.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZATivTwSeZ9jpJ07X3iJ3s5c3iyCGt4sLu_tlSexV6uKT56-YyvL5bWXmWzcru3H-Wd-T7Bp92-kcmGd-YP3e9U--m8UVYdLPnVOtyNwHYqLa4OcAu_xdrufgCjbbNko3KM0urtGNdbW4pPt9tJAM7OYu5XGQBwcoX6v1n0luBUl-sOSwfCnPuQ/s16000/Cultish%20Language%20Fanaticism%20Montell%20-%20Kpop%20-%20Correndo%20entre%20livros%2044.png" /></a></div><br />Desde o final de 2021 levo um caldo de <i>Hallyu</i>, a Onda Coreana, me divertindo com um ou outro produto da Coreia; no entanto o próprio fenômeno cultural é mesmo o que mais instiga minha curiosidade. Especificamente quanto ao K-Pop, a comunicação dos <i>Idols</i> com as fãs é o que tem roubado minha atenção, sobretudo aquela durante as lives informais, publicadas em sites como VLive e Instagram — aliás, teorizo que esse diálogo é <b><u>O</u></b> grande diferencial do mercado musical coreano que, tal qual diversas empresas modernas, percebeu que não basta ter um bom produto, é preciso construir um sólido séquito de seguidores. Nesse campo, confesso assumir tanto a posição da curiosa e observadora crítica, quanto a da fã seduzida; contudo me motivo a esmiuçar as engrenagens dessas lives justamente porque tenho plena consciência de que foram elas que me enlaçaram fortemente a certos <i>idols</i>. Quer dizer, aplicarei o que escreveu Amanda Montell: <i>em qualquer seara da vida, se você sente que algo está estranho, mas não sabe apontar exatamente o porquê, a linguagem é um ótimo lugar onde começar a buscar pistas.</i> E sim, é inegável a existência de um linguajar peculiar e recorrente empregado pelos artistas coreanos, em menor ou maior extensão, quando em contato com as fãs. Desse modo, como espécie de guia na organização das informações coletadas a partir das lives a que assisti, usarei o <i>Cultish, The Language of Fanaticism</i>, livro no qual Amanda Montell, com abordagem simples e despretensiosa, discute a linguagem utilizada por líderes de cultos com legião de seguidores. [E só porque não tenho uma amiga kpopper com quem conversar...]<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">📢</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Começo por ressalvas relevantes:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><b>👄 Cultish <u>não</u> aborda o Universo K-pop. </b>Meu plano é pinçar certos elementos linguísticos citados pela autora que, <u>a meu ver</u>, se encaixam ao linguajar observado entre <i>idols, </i>ou seja, <b>todas as associações ao k-pop neste post são por minha conta, </b>baseadas em pessoal experiência de observação. <b> </b>[*Aproveito para enfatizar: que baita objeto de estudo para acadêmicos da área. Pesquisadores, uni-vos! Em rápida busca, localizei trabalhos analisando a linguagem da mídia ocidental ao reportar o <i>Hallyu, </i>bem como estudos sobre o quanto o coreano estaria se mesclando ao inglês falado por grupos de fãs — temas, por sinal, igualmente instigantes.]</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">👅 Por enquanto, minha amostra de lives é pequena e enviesada, infelizmente. A quantidade de <i>idols</i> fazendo lives é enorme, não tenho tempo — nem disposição — de ver tudo (primeiro encontro músicas de que gosto, e só então surge o interesse de buscar uma live do respectivo artista). Por exemplo, ainda não assisti a nenhuma live de <i>girl groups </i>(porque não curto as músicas) ou de cantoras solistas. Mulheres adotariam uma abordagem distinta? Careço de evidências. Para além disso, percebi que a maioria das lives a que assisti são de <i>idols</i> da 2ª e 3ª geração, ou seja, não vi nada de artistas novos, pouco experientes. Os novatos estariam inovando? Não sei dizer. Também lamento que minha amostra não inclua a comunicação em plataformas similares ao Bubble, espécie de aplicativo no qual as fãs pagam um valor mensal para ter direito a conversas especiais e restritas com o ídolo (uma área vip, mais ou menos). Encontrei somente algumas trocas de diálogo nesses espaços privados, e o negócio é, digamos, singular. Ah, e abordo objetivamente as lives protagonizadas por apenas um membro, pois são minhas prediletas. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">👂 De modo algum estou aqui criticando ou "denunciando" (pelo amor de deus) que a turma kpopper se organiza como um culto; <i>loooonge</i> disso. De saída, transcrevo esta frase do livro de Montell: <i> <span style="color: #990000;">We’re “cultish” by nature</span></i> / (~) <i>Por natureza, nos inclinamos a cultos</i>. Conforme a autora explica, embora a palavra <i>culto</i> se revista de forte tom pejorativo, trata-se de um termo bastante inespecífico na verdade, pois o que existiria é um espectro: num polo, cultos inofensivos e benéficos; no outro, cultos nefastos, violentos e criminosos. A depender dos elementos identificados em qualquer relação humana, será possível encaixá-la num ponto desse espectro. A partir do que Montell discute no livro, eu consideraria o Universo K-Pop uma positiva experiência de culto, notadamente porque <b>(1)</b> não há coação para entrar, <b>(2)</b> não emprega eufemismos que buscam deformar a realidade ou camuflar objetivos espúrios, <b>(3)</b> ninguém é constrangido e/ou perseguido caso decida desembarcar e <b>(4)</b>, até onde pude perceber, é um meio que permite formar vínculos saudáveis de amizade. Apesar disso, vale trazer uma ressalva citada no livro de Montell, inclusive porque <i>euzinha</i> — kpopper novata, porém com muitos quilômetros de vida rodados — me peguei caindo na arapuca. <i>Cultish</i> afirma haver pesquisas psiquiátricas nas quais resta demonstrada uma alta incidência de distúrbios psicossociais entre fãs de celebridades, tais como transtorno dismórfico corporal, obsessão com cirurgias plásticas, mau julgamento de limites interpessoais, ansiedade, disfunção social, narcisismo, dissociação e comportamentos persecutórios. Pois bem, durante essas lives, é bem recorrente que os <i>idols</i> compartilhem constantes preocupações com peso corporal, dietas mirabolantes nas quais apostam (há lives em que se pode ouvir a barriga do pobre artista roncando de fome), ansiedade por estarem envelhecendo, inseguranças relacionadas à pele, cabelo, nariz, boca, mãos... Enfim, de tanto ouvir essa ladainha, eu mesma, que há muito tempo me conformei com a feiura e a velhice, me peguei brevemente cabreira por ser uma kpopper titia, reparando em assimetrias no meu rosto. (*MDDC*) Dessa maneira, avalio caber cautela para não se deixar contaminar pelas neuras próprias desses artistas, algo que talvez uma jovem não tenha de sobra. Mencionaria ainda que, por vezes, a linguagem deles acaba, perigosa e inadvertidamente (?), estimulando a construção de relações parassociais. Pode-se argumentar haver um tom cômico, do qual as fãs estariam cientes, quando eles dizem coisas do tipo <i>"fico feliz quando sentem ciúmes de mim"/"gosto que sintam tanto minha falta"/"vou pegar quem está te maltratando/"acho estranho que tenham namorados"/"digam que me amam"</i>, mas sigo encarando com estranheza esses tipos de falas direcionadas a um grupo tão heterogêneo e desconhecido de pessoas (no caso do BTS, por exemplo, são milhões de fãs assistindo; de todas as idades, em vários pontos do planeta). </div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">👀 Por fim, é imperioso destacar: essa comunicação é intermediada por tradução (para a enorme parcela de fãs não coreanas, é óbvio) que, a propósito, fica a cargo das próprias fãs em várias situações. Ou seja, todos os recursos de linguagem apontados por Montell em <i>Cultish,</i> e aplicados pelos <i>idols,</i> chegam às interlocutoras por via da tradução e, mesmo assim, os efeitos da mensagem não se perdem. É fascinante. Quanto ao tema, e para incitar devaneios, deixo este curto diálogo, extraído de uma live:</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Fã nos comentários, em inglês: - <i>Não entendo o que você está falando, mas te amo.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> Idol, respondendo em inglês: -<i> Obrigado. Hum*... (*dito em tom sério e pensativo).</i></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Ressalvas feitas, vamos à listinha de trechos de <i>Cultish</i>, acompanhados de breves comentários do que observei no Universo K-pop.</div><div style="text-align: center;">📢</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><b>👄</b><i><span style="color: #990000;"> "(...) a hair-raising sermon."</span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Antes de ler o livro, a ideia não havia passado por minha cabeça, porém bastou pôr os olhos na palavra "sermão", e eu tasquei: <i>taí!,</i> essas lives aproximam-se de um sermão; seriam o instante ritualístico em que a comunidade suspende tudo o que está fazendo, para ouvir a tão aguardada palavra do querido líder. (O show seria a celebração máxima, óbvio.)</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">👅 <i><span style="color: #990000;">"When repeated over and over again, speech has meaningful, consequential power to construct and constrain our reality."</span></i></div>É essencial que a linguagem seja repetida com frequência, repetidas vezes, a fim de que seus poderosos efeitos sobre a realidade sejam sentidos; o que significa dizer que essas lives não podem ocorrer apenas de vez em quando. Pelo que observei, chutaria haver o objetivo mínimo de 01 live/mês, aumentando-se exponencialmente essa frequência durante os períodos de <i>comeback</i> (= lançamento de um novo álbum). Para ilustrar o quanto isso é levado a sério, registro que membros do BTS, após shows e cerimônias de prêmios, voltam ao hotel e ficam, sei lá, meia hora falando com as fãs. Taemin (<span style="font-size: x-small;">❤</span> meu <i>ultimate bias/</i>UTT = o favorito dos favoritos) é outro que, no carro de volta pra casa após o show de 1h30min, bate papo com as fãs por 20 minutos. Você, pessoa não kpopper, imagine sair pilhada e felizona de um show e, na saída, poder conversar com o querido ídolo a respeito do show que acabaram de vivenciar juntos! Ainda que eu tenha compadecido da trabalheira/correria por que passam esses artistas**, achei a proposta massa. <div><br /></div><div>** = Embora Montell não cite esse específico recurso, ele é rotineiro na fala dos<i> idols</i>: é fundamental sempre destacar o quanto estão trabalhando duro, dando o máximo de si e se sacrificando; e tudo pelas fãs, é lógico. Na realidade, é um elemento que integra a próxima estratégia desta lista: 👇</div><div><br /></div><div><br /></div><div>👂<i><span style="color: #990000;">"(...) brands that succeeded in cultivating extreme solidarity and loyalty among both employees and patrons (...)"</span></i></div><div>Esse expediente é presença praticamente garantida nos discursos dos <i>idols</i>: o cultivo da solidariedade e lealdade extrema entre as partes. Por exemplo, eles jamais deixam de agradecer as fãs, quase sempre fazendo questão de reconhecer que tudo que conquistaram foi por causa das fãs. Trabalha-se uma linguagem que atenda à necessidade de consolidar uma parceria, um pacto entre <i>idol</i> e fã. De um lado, o <i>idol</i> se esforçará para entregar boas músicas e performances (vide o que citei no item anterior; ressaltar que se matam de trabalhar); do outro, a fã retribuirá comprando os discos, indo aos shows, ouvindo as músicas em sites de streaming, visualizando <i>os music videos, </i>e... 👇</div><div><br /><br />👀 <i><span style="color: #990000;">"Next step: Each month, recruit ten new members (...)"</span></i></div>...trabalhando para o artista, na medida em que as fãs se encarregam da trabalheira de divulgar os novos discos, elevar as músicas no topo das paradas de streaming. Dia desses, tive ciência de que, na Coreia, fãs colaram adesivos nos carros, para divulgar o disco novo do <i>bias</i>. Eu diria que o BTS é um exemplo extremamente bem-sucedido do método da parceria. Se duvidar, esta é a grande chave do sucesso do grupo, sobretudo porque o BTS aparenta trabalhar não só a parceria <i>Idol</i>-Fã, mas também a Fã-Fã, contribuindo para estreitar os laços entre os próprios membros da comunidade.<div><i><span style="color: #990000;"><br /></span></i></div><div><i><span style="color: #990000;"><br /></span></i></div><div><b>👄 </b><i><span style="color: #990000;">"(...) offered not only desirable products and services, but also personal transformation, belonging, and answers to big life questions (...)"</span></i></div><div>Embora eu não tenha identificado esse subterfúgio nas falas dos <i>idols</i> às quais tive acesso [*se bem que a última live do Namjoon (BTS) teve um pouco disso....], acho importante incluí-lo aqui, porque trata-se de um elemento que se faz intensamente presente nos discursos <u>das fãs</u> do BTS principalmente. Não sei até que ponto os artistas se articularam para firmar essa questão na comunidade, no entanto chutaria que o fenômeno tem, sim, dedo dos <i>idols</i> — ainda que somente mediante o teor das letras das músicas —, pois é como diz Montell: <i>"...a linguagem funciona como a cola que liga o viciante combo comunidade e motivação." </i>Em qualquer um dos diversos artigos que pipocam na internet defendendo o Army contra críticas, é praticamente certo deparar-se com este parafraseado argumento: <i>não se trata apenas de música pop ou de fãs enlouquecidas por galãs coreanos; é algo muito maior - é acolhimento, pertencimento e transformação</i>. </div><div><i><span style="color: #990000;"><br /></span></i></div><div><i><span style="color: #990000;"><br /></span></i></div><div>👅 <i><span style="color: #990000;">"They share intimate stories and hardships from their own lives and invite followers to reciprocate. Followers form deep-rooted loyalties to their favorite teachers..."</span></i></div><div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Cada <i>idol</i> escolhe como matará o tempo das lives. Na minha amostra, a música (os artistas cantando para as fãs e/ou promovendo um novo lançamento) preenche largos intervalos de tempo, é preciso assumir; no entanto, por ser um momento marcado (teoricamente) por informalidade (às vezes, estão em suas próprias casas — adoro<span style="color: #990000;">*</span>), a live corresponde à oportunidade para que o <i>idol</i> se mostre melhor às fãs, possivelmente compartilhando questões íntimas. Conforme adiantei nas ressalvas, não raro eles desabafam suas ansiedades e são mais espontâneos, falando bobagens que tipicamente falamos em conversas com amigos. Então, tendo em mente a citação de Montell, é inegável que aqueles <i>idols</i> que se sentem à vontade para expor um pouquinho de suas reais personalidades — quero dizer, baixando a guarda e criando uma brechinha para seus mundos interiores —, são os que têm mais sucesso em estabelecer a ilusão de intimidade com a fã. Comigo, pelo menos, é o recurso de melhor eficácia.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #232323; font-family: "Helvetica Neue", Palatino, Georgia, serif; font-size: 15px; text-align: justify;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Palatino, Georgia, serif;"><span style="background-color: white; color: #660000; font-size: 15px; text-align: justify;">*</span></span><span style="text-align: justify;">Nas palavras de Montell:</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Palatino, Georgia, serif;"><i style="background-color: white; font-size: 15px; text-align: justify;"><span style="color: #990000;">"(...) </span></i></span><i><span style="color: #990000;">sits close to the camera, creating the cozy atmosphere of a home gathering or a one-on-one conversation, (...)"</span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #232323; font-family: "Helvetica Neue", Palatino, Georgia, serif; font-size: 15px; text-align: justify;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #232323; font-family: "Helvetica Neue", Palatino, Georgia, serif; font-size: 15px; text-align: justify;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both;">👂 <i><span style="color: #990000;">"</span><span style="color: #990000;">But sex appeal isn’t just looks—it’s an ability to craft the illusion of intimacy between yourself and your fans. (...) The key to creating the following is to sound authentic. When you sound like popcorn, people can hear it"</span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Comumente líderes de seitas são tidos — ao menos entre as seguidoras — como caras sexys e charmosos. A maioria dos <i>idols</i> coreanos é inegavelmente agraciada pela beleza física (há embustes, entretanto é prudente omitir nomes), contudo a observação de Montell é pertinente mesmo no Universo K-Pop: a famigerada beleza não costuma se sustentar na aparência física propriamente dita, mas sobretudo na habilidade do líder em bombardear a seguidora com o linguajar certeiro. Enfim, é preciso saber seduzir; criar e sustentar bem a ilusão de intimidade. Essa específica habilidade é dominada com maestria por muitos <i>idols</i>, porém também há diversos desprovidos de carisma e que soam mais falsos que uma nota de três reais, sem nenhum talento para falar com fã. É frustrante curtir a música de um desses artistas, daí abrir uma de suas lives apenas para dar de cara com um <i>blob</i> desprovido de personalidade, que não sabe segurar uma conversa por míseros vinte minutos (repito: é mais seguro omitir nomes). A propósito, essa sensação de falta de carisma/artificialidade ocorre especialmente com <i>idols</i> que preferem manter bem alto o muro que os separa das fãs, digo, aqueles que não admitem nenhuma posição de vulnerabilidade.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">👀<b> </b><i><span style="color: #990000;">"Across the influence continuum, cultish language works to do three things: First, it makes people feel special and understood. This is where the love-bombing comes in: the showers of seemingly personalized attention and analysis, the inspirational buzzwords, the calls for vulnerability (...)"</span></i></div>Acredito que o <i>love-bombing</i> — bombardear a fã de amor/afeto — é expediente onipresente nas lives de <i>idols</i>. A facilidade com que dizem <i>Amo vocês</i> persiste me surpreendendo, assim como sempre acho graça quando perguntam <i>"Vocês já comeram? O que comeram? Cuidem da saúde."</i> Ah, também é curiosa a necessidade de sempre reforçar que não estão ali, batendo papo, porque a empresa mandou (ou porque o <i>bussiness</i> exige), mas sim porque estavam com saudades. Dia desses, caí na gargalhada com o JK (BTS), no Instagram, aconselhando as fãs coreanas a levarem um casaquinho aos shows, pois estava fazendo frio. Muitas vezes a abordagem até soa singela, porém a sensação de artificialidade constrangedora é bem mais frequente. É a habilidade do <i>idol </i>em soar autêntico, conforme referido por Montell, que ditará qual desses dois efeitos prevalecerá.</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div><br /></div><b>👄</b> <i><span style="color: #990000;">"This goal of isolating followers from the outside while intensely bonding them to each other is also part of why almost all cultish groups (as well as most monastic religions) rename their members (...) the special jargon (...) In the beginning, learning this private terminology makes speakers feel, well, cool (...)"</span></i></div>Cultos são notórios por empregarem um vocabulário particular, e o k-pop não foge à regra. Na minha experiência, com frequência necessito apelar ao Google, a fim de entender onde estou me metendo ou do que diabos estão falando — e não me refiro somente à barreira coreano x português. Além disso, fiquei estupefata ao descobrir que, ao contrário do que eu supunha, são os próprios <i>idols</i> quem apelidam/nomeiam as fãs; e também escolhem a cor da comunidade, o lightstick... Quer dizer, a estratégia de seita <i><span style="color: #990000;">Us x Them (Nós x Eles)</span></i> é igualmente levada a sério. Ignoro se a bizarra rixa entre grupos distintos de fãs nasce daqui, ou mesmo se seria encorajado pelos <i>idols</i>. Particularmente, nunca vi nada nesse sentido partindo explicitamente da fala dos artistas e duvido que ocorra. <div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>👅<i><span style="color: #990000;">"(...) His lullabies and moodiness, even his tantrums, gave him an “innocent adorable” factor (...)"</span></i></div><div>Embora não seja possível afirmar que todos apelam para a fórmula, com certeza ela está presente na linguagem da maioria: bancam e soam feito fofinhos adoráveis e inocentes (*em coreano, é o tal <i>Aegyo</i>). Para ser justa com esses artistas, é forçoso reconhecer que as próprias fãs enchem o saco pedindo esse tipo de comportamento — <i>"Ãin, faz coraçãozinho; ãin manda beijinho"</i>; nossa, é <i>chatérrimo</i> (<i>too old for this shit</i>) —, contudo Montell esta aí demonstrando que a parada funciona para segurar seguidoras. [Praticando a honestidade: e se eu disser que o atual bordão do meu UTT é <i>"Adorable"</i>? Reclamo, porém caí direitinho na conversa fiada.]</div><div><span><span style="color: #990000;"><span style="color: black;"><br /></span></span></span></div><div><span><span style="color: #990000;"><span style="color: black;"><br /></span></span></span></div><div><span><span><span>👂 <i><span style="color: #990000;">"(...) she was provided scripts to post verbatim that made (...)"</span></i></span></span></span></div><div>Não obtive evidências, no entanto suponho que ninguém discordará de que o mais provável é que as empresas treinem os <i>idols</i> na comunicação tanto com as fãs, quanto com a mídia. As recorrências de vários cacoetes de linguagem entre todos é tão impressionante, que conjecturei a existência de um eventual checklist. Posso afirmar, entretanto (pois eles confessaram e/ou vemos indiretamente), que todas essas lives são acompanhadas por, pelo menos, um funcionário da empresa, seja para monitorar os comentários das fãs, seja para ficar de olho em eventuais bobagens que os artistas falem. </div><div><br /></div><div>Acrescento que, em sua última live, Namjoon (BTS) compartilha que a conversa em inglês lhe exige cautela, pois sente que, expressando-se nesse segundo idioma, a probabilidade de falar o que não deve é maior, em comparação ao coreano. Achei a informação incrível, outro campo instigante para estudo envolvendo linguística e comunicação em mídias; sobretudo porque a sensação compartilhada por ele não parece resumir-se ao mero comportamento entre Língua Materna X Segunda Língua, mas resultar da própria estrutura dos dois idiomas, em paralelo aos aspectos culturais das sociedades onde são falados. Pesquisadores, uni-vos!</div><div><br /></div><div><br /></div><b>👄 </b><i><span style="color: #990000;">"(...) just stares intensely into the lens, grinning, barely blinking, intermittently murmuring, “I love you.” He calls these parasocial gaze-offs (...)"</span></i><div>Uma vez que o <i>parasocial gaze-off</i> (⥲ <i>olhar parassocial</i>, com sussurros de carinho próximo à câmera) exige uma maior desenvoltura e habilidade sedutora do <i>idol</i>, poucos têm coragem de aplicar esse complexo recurso; mas que rola entre alguns, ah rola — e eu sempre fico sem acreditar na audácia do fdp. [*sim, meu UTT faz ㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋ.]</div><div><br /></div><div><br /></div><div>👅 <i><span style="color: #990000;">"(...) has announced that he doesn’t want children because he already has seven billion (...)"</span></i></div><div>Em defesa dos <i>idols</i>, aponto o dedo para as fãs, que toda.fucking.hora pedem para se casar com eles. Pelo amor de deus, sabe? Ok; pode até ser brincadeira besta, mas, sei lá, se for pra fazer piada, por que não pedir logo <i>~outras coisas~</i>? Casar?! Que papo chato. Na última live, Namjoon (BTS) me surpreendeu ao perguntar, levemente aborrecido, que moda é essa de pedir pra se casar com ele. Enfim, esse papinho de que vão se casar com sei lá quantas fãs, mencionado por Montell em referência a certo guru, é relativamente frequente entre <i>idols</i> (não todos). </div><div><br /></div><div><br /></div>👂 <i><span style="color: #990000;">"For you, it might feel like the quest for self-actualization, but for them, it’s a profitable, scalable, passive-income-generating cash cow."</span></i><div>Para fechar, é preciso deixar claro que não estou criticando esses artistas, nem afirmando que são um bando de <i>falsianes</i>. Apenas sustento que <u>talvez</u> seja prudente não perder de vista o que está em jogo nessas conversas: uma empreitada que mobiliza muita grana e a promessa de uma carreira sólida e longeva. É benéfico sonhar o sonho — por enquanto, eu mesma estou me divertindo com esse sonho —, porém prefiro preservar a consciência de que, no fim das contas, estou meramente sonhando. [Mas, <i>hey</i>, <i>cada qual com seu cada um</i>, sim? Afinal, quem sou eu nesse rolê? Só uma kpopper novata e gagá, pobre de mim.]</div><div style="text-align: center;">...</div></div><div><br /></div><div>Nota: às fãs que gravam todas essas lives e as disponibilizam traduzidas no You Tube, meu muito obrigada; especialmente às Jjakkoongs (짝꿍) e Shawols. 😊</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-14571144192622120382022-04-30T16:39:00.015-03:002024-03-09T23:48:59.600-03:00Undoing the latchesApós encerrar as atividades no final de 2021, eis que, mais uma vez, resgato das cinzas o bloguinho. Para além de questões logísticas, a pausa resultou da concretização do que eu previra ano passado: meu pescoço travou linda e dolorosamente. Houve melhoras com a fisioterapia, porém sigo com dificuldades para permanecer sentada por longos períodos (e meu trabalho já me exige muitas horas à mesa); portanto é preciso cautela. A regra deste espaço sempre foi "só escrevo <b>quando</b> quero e <b>sobre</b> o que quero", de modo que apenas terei de acrescentar um "e <b>se</b> minhas condições físicas também quiserem." (Idade bateu demais.) Dessa maneira, hiatos sem postagens poderão tornar-se ainda mais longos, mas tudo bem. Por ora, estão publicadas no blog apenas algumas das postagens antigas. Aos poucos, republicarei outras, não todas. <div><br /></div><div>Ah, por que voltei? Hum... Talvez uma leitura deste ano tenha contribuído para a decisão. Marcelo, o narrador protagonista do livro <i>Bartleby e companhia</i>, de Enrique Vila-Matas, durante seu rastreio de bartlebys, acabou por me lançar a pergunta: <div></div><blockquote><div><i>"— E a senhora, por que não escreve?</i></div><div><i>As mulheres, às vezes, são de uma lógica arrasadora. Olhou-me, surpresa com a pergunta, sorriu e me disse:</i></div><div><i>— O senhor está brincando comigo. E então diga-me: por que eu deveria escrever</i>?"</div></blockquote><div>To write or not to write, that is the question. (Na Internet de 2022, então, nem se fala.) Marcelo, soltarei por uns instantes a mão de meu querido Bartleby e retomarei a jornada da blogueira do sim. Yes, I'd rather <strike>not to</strike> write (groselhas). [*até o dia em que eu prefira não.]</div><div><br /></div><div style="text-align: center;">📑</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb8jrPZQ4H44NK5T2dvQ-ls2f1eKy3-lBnYEd2tGqJMkOaCrvryUcSWkWU9FUxVo8i_PnyPVApT0_yAu3Y9FCy3Tt6ebfGZSrlXp9rLogiUFTMN0xbDGIJoNjoevlmgeHtGfqKygNmnWDSu06gUL3td2I6zY0Uj3eSgF3ris1veGhsubLU5lEZlw/s857/caqred.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="647" data-original-width="857" height="302" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb8jrPZQ4H44NK5T2dvQ-ls2f1eKy3-lBnYEd2tGqJMkOaCrvryUcSWkWU9FUxVo8i_PnyPVApT0_yAu3Y9FCy3Tt6ebfGZSrlXp9rLogiUFTMN0xbDGIJoNjoevlmgeHtGfqKygNmnWDSu06gUL3td2I6zY0Uj3eSgF3ris1veGhsubLU5lEZlw/w400-h302/caqred.jpg" width="400" /></a></div><br /><div>Na tentativa de me adaptar ao Instagram (devido à falta do blog), postei por lá um alinhavo, em vídeo curto, entre estes dois livros: <i>Os Tais Caquinhos</i>, de Natércia Pontes e o <i>Autobiography of Red (Autobiografia do Vermelho)</i>, de Anne Carson. Num exercício de aquecimento para a volta do blog, incluo uma versão em texto logo abaixo. No entanto, dadas as condições do meu pobre pescoço, antecipo a possibilidade de, a partir de agora, recorrer com maior frequência ao formato de vídeos no blog. A ver.</div><div><br /></div><div style="text-align: center;">📑</div><div><br /></div><div><div style="text-align: right;"><i>"(...) Pedro Garfias (...) um homem que podia passar uma infinidade de tempo sem escrever uma única linha, porque procurava um adjetivo. Quando Buñuel o via, perguntava-lhe;</i></div><div style="text-align: right;"><i>— Já encontrou aquele adjetivo?</i></div><div style="text-align: right;"><i>— Não, continuo procurando - respondia Pedro Garfias, afastando-se pensativo.</i></div><div style="text-align: right;"><i><br /></i></div><div style="text-align: right;"><i>(...)</i></div><div style="text-align: right;"><i><br /></i></div><div style="text-align: right;"><i>A vida é horrorosa, disse a mim mesmo. Imediatamente, porém, pensei que aquilo já não mudava nada e que era melhor não perder tempo procurando adjetivos para a vida."</i></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;"> — Enrique Vila-Matas; <i>Bartleby e companhia</i>. (Tradutoras: Maria Araújo/Josely Baptista)</div></div><div><br /></div><div><br /></div><div>Quando resenhistas falam/escrevem a respeito de <i>Os tais caquinhos, de Natércia Pontes,</i> é recorrente relatarem que o livro trata da vida de adolescentes que, durante a Fortaleza da década de 90, vivem num apartamento sujo, fedido, entulhado de lixo, repleto de baratas, sem comida. Bem menos recorrente nas resenhas — pra não dizer quase inexistente — é a preciosa informação de que a autora escolhe que a forma de sua narrativa reflita o espaço caótico e entulhado no qual as personagens vivem. Ou seja, assim como as personagens, o leitor também habitará um texto sujo e amontoado. Para efetivar essa decisão estilística, a autora lança mão de alguns recursos narrativos, dentre os quais surgem os diversos capítulos curtos que, empilhados no sumário, parecem esboçar a imagem dos caquinhos do título, algo que também relaciona-se à fragmentação em que se encontram as personagens do livro. <a href="https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/literatura-brasileira/uma-casa-muito-engracada" target="_blank">Em resenha na revista 451, Iara Machado Ribeiro comenta esse aspecto formal do texto, chamando atenção ainda ao uso sistemático da conjunção "e": <i>"Com blocos de texto sem parágrafo, iniciados sempre por inusitados títulos, e o uso sistemático da conjunção “e”, o enredo e a forma do texto se encontram nessa estética do amontoamento, a obsessiva conservação das coisas que formam uma vida."</i></a> Neste meu post, no entanto, desejo me deter num específico artifício de escrita eleito pela autora: o excesso de adjetivação. Natércia Pontes escreve um texto repleto de adjetivos, outra ferramenta na construção de uma forma que espelhe uma vida em escombros. Quase todos os substantivos estão colados a um adjetivo; por sinal, o mais comum são dois adjetivos para cada. <a href="https://www.plural.jor.br/noticias/cultura/livros/la-onde-gafanhotos-escapam-de-posteres-e-falta-um-sofa/" target="_blank">Consegui localizar uma resenha que aborda esse específico procedimento, escrita por Julie Fank, para o Plural Curitiba: "<i>A adjetivação kitsch entalhada nas descrições quase faz, vez ou outra, a história escorregar, mas, notadamente, forma e conteúdo se dissolvem na decadência encapsulada de uma família em pedaços. É como se cada descrição nos propusesse um reconhecimento do caco estirado no chão, somente nomeável a partir da análise da arcada dentária." </i></a> Por mais que eu compreenda a escolha estilística da autora — em teoria, pertinente e interessante —, é forçoso admitir que não consegui dar conta de tantos adjetivos, sendo <i>"vômito verde e luminescente"</i> o ponto de máxima irritação em que me dei por vencida e abandonei a leitura. É curioso, pois, ao admitir minha dificuldade em ler esse texto, é como se eu desabafasse às personagens: sinto por vocês, mas terei de abandoná-las, uma vez que não consigo viver nesse espaço caótico e sujo.</div><div><br /></div><div>Passado certo tempo, tive uma epifania que me trouxe de volta à memória o que Anne Carson escreve a respeito de Stesichoros, logo no início do livro <i>Autobiography of Red (Autobiografia do Vermelho),</i> o qual li este ano, pouco antes de <i>Os tais caquinhos</i>. Stesichoros foi um poeta da antiguidade clássica grega que se destacou justamente por fazer adjetivos. Ao apresentá-lo, Carson nos convida a pensar por um instante acerca de adjetivos. O que seriam adjetivos? Nas palavras da canadense, <i>nomes nomeiam o mundo, verbos ativam os nomes</i>, <i>contudo adjetivos vêm de outro lugar</i>. Em grego, a palavra significa "colocado em cima" — olha os cacos de Natércia Pontes, seus diversos e curtos capítulos empilhados na obra — importado, estrangeiro; e, em princípio, parecem tratar-se de acréscimos inofensivos. No entanto, esses pequenos mecanismos importados são responsáveis por conectar todas as coisas do mundo a um lugar de particularidade. Os adjetivos são as travas do ser. (<i>"They are the latches of being"</i>) Ao retrabalhar os adjetivos em sua épica, Stesichoros começou a desfazer as travas, de modo a permitir que todas as coisas do mundo passassem a flutuar livres; livres para todas as diferentes possibilidades de ser. </div><div><br /></div><div>Ao rememorar esta passagem do livro de Anne Carson, voltei a refletir, atônita, sobre a obra de Natércia Pontes; percebendo que a proliferação de adjetivos dialoga não apenas com os cacos e a sujeira, mas também com o tempo e espaço daquele livro. Possivelmente apenas aqueles que viveram a adolescência na Fortaleza da década de 90 compreendam, porém eu vivi esse tempo/espaço e, quando penso nele, a imagem e sensação que me tomam é precisamente a de uma vida presa numa particularidade. Ali, naquele meio, não era possível flutuar para agarrar qualquer uma das inúmeras possibilidades diferentes de ser. Na Fortaleza da década de 90, uma amarra bastante firme segurava os adolescentes — a Daniela adolescente, que seja — a um único jeito de ser. É claro que cada experiência é diferente; no entanto, pelo menos até o ponto em que li <i>Os tais caquinhos</i>, sinto-me segura em afirmar que as personagens do livro, a protagonista em especial, sentiam-se presas a uma única forma de ser, soterradas pelos caquinhos da vida. Embora irritantes, o quanto então cresceram pra mim <i>os tais adjetivinhos</i> da narrativa de Natércia Pontes... Se duvidar, é outra razão por que não consegui terminar o livro: não quero (não posso) voltar àquele modo de ser, àquele tempo e espaço, ainda que apenas via literatura. Prefiro fazer como a personagem de Vila-Matas, incluída na epígrafe do post: não perderei tempo procurando adjetivos para minha vida. Flutuar! é a ordem do dia. </div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-53043803362510463152021-11-13T03:23:00.121-03:002024-03-09T23:49:09.969-03:00저기 멀리서 바다가 들려 Em setembro, postei breves impressões sobre minha primeira assombrosa experiência com dramas coreanos e afirmo que, de lá pra cá, as coisas só pioraram. Ou melhoraram? Nem sei. Direi que melhoraram, pois a Coreia persiste proporcionando alegrias. Há novos dramas sobre os quais adoraria conversar; no entanto, agora venho escrever sobre alguns destaques encontrados quando finalmente explorei mais a sério o <b>K-POP.</b> Escrevi "mais a sério" porque, assim como os k-dramas, eu também já tinha tentado entrar de penetra na festa K-pop e falhado. Por tratar-se de um universo gigantesco e complexo, no passado pedi recomendações a conhecidas que manjam do assunto e, naquelas prévias ocasiões, só recebi dicas de <i>Girl Bands</i>. Com o parco conhecimento ora acumulado, tenho uma teoria do porquê não curti nada do que me recomendaram: a maioria das Girl Bands coreanas cantam Bubble Pop (~ <i>pop fofinho</i>) ou pop com pegada rap (algo, maaais ou menos,<i> à la</i> Nicki Minaj), e eu não costumo curtir esses sons. Enfim, nesta nova empreitada, segui meu caminho sozinha e finalmente consegui descobrir excelentes músicas pop/dançantes para correr, andar de bike, faxinar a casa, tomar banho, dançar; daí pensei que valeria a pena registrar algo deste momento. Apelarei para uma listinha sucinta.<div><br /></div><div>[P.S.: sim, também estou lendo literatura coreana. Já providenciei três livros e, ~qualquer dia desses~, publicarei algo sobre eles.]<br /><div><div><br /></div><div>📻 <b>VIREI</b> <b>ARMY?! OH NO.</b></div><div>→ O que é necessário pra ser Army? Há limite de idade? Aceitam vovó? Requer trabalho integral? Quanto eu precisaria investir nisso? Minhas escavações ainda não me deram respostas, contudo a verdade é que, sim, dei uma chance ao BTS e estou encantada, bem feito pra mim. ¯\_(ツ)_/¯ Na minha idade, é um tanto vexatório, reconheço. Mas dane-se, até porque afirmo, sem pestanejar, que os rapazes fazem um pop bastante honesto — opa, mais que honesto, com muitas canções ótimas. Inclusive, ousaria dizer que, quanto a <i>Boy Bands</i>, o BTS elevou o nível consideravelmente (seja em música, dança, qualidade das performances). (<u>*Ressalva*:</u> P- Eu entendo de Boy Bands? R- Não.)</div><div><br /></div><div>Bom, a apresentação deles no <i>Tiny Desk </i>(NPR), em 2020 [aliás, mal acreditei quando o You Tube me entregou o resultado na busca: "BTS na NPR?! <i>Say what</i>?!"] foi o que me rendeu de vez à banda — poxa, achei a performance bem bacaninha. Além disso, suspeito de que o fato deles estarem mais velhos me ajuda a abandonar tolas resistências. Play! ↷</div><div><div><br /></div></div> <div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/gFYAXsa7pe8" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">→ Não citarei todas as músicas de que gosto (há várias extraídas das playlists de hits e da escuta cuidadosa da discografia completa ↦ ainda estou em 2016), porém vale incluir umas coisas que jamais imaginei encontrar e que adorei (<i>"como assim isso é BTS?"</i>). Três exemplos:</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">esta -<i> Dis-Ease </i>(2020) (refrão super delícia):</div><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="100" src="https://www.youtube.com/embed/rSi4UIWbtM0" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>e esta - <i>Trivia 起 : Just Dance</i> (2018) (tem um beat<i> firmezinha</i> demais)<i>:</i></div><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="100" src="https://www.youtube.com/embed/_xjZtbeKd4E" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>e mais esta - <i>Ma City </i>(2016) (<i>Say la la la la la;그래 babe babe 이게 나의 city </i>)</div> <iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="100" src="https://www.youtube.com/embed/RTz_LWyZSdI" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>→ O que me divertiu bastante durante esta semana — a propósito, é o que me convenceu a deixar este arquivo no blog — foram as Lives que os membros realizam <a href="https://www.vlive.tv/channel/FE619" target="_blank">no site VLive</a>, em especial aquelas com um integrante sozinho. Pra começar a conversa, o rei da porra toda (<i>na minha opinião etc.</i>®): Jeon Jung-kook, vulgo JKaaaaaaaayyy. <i>Na moralzinha</i>, esse maluco simplesmente liga a câmera e fica 1-2 horas falando bobagens aleatórias divertidíssimas com as fãs e/ou (o mais massa:) dando um mini show vestido de pijama (é da LV? menor ideia), com direito a covers e danças mega legais, tudo com um microfone na mão e a música tocando nas caixas de som (isso quando ele não fica enchendo a cara de vinho). Nesse sentido (e nessas lives, ao menos), me lembra o Thom Yorke (caaaalma:), quero dizer, é nítido o quanto ele se diverte e sente prazer em se apresentar para o público, em estar sob os holofotes. Sei lá; acredito que músicos que se apresentam assim — ou seja, sem o sorrisinho protocolar de quem está no palco a trabalho — permitem que haja uma efetiva troca de <i>anima</i> (termo emprestado do Yorke) entre artista e plateia, o que muito admiro. Ah, e quando ele apela para o site <i>Papago</i>, a fim de traduzir tanto o que as fãs escrevem nos comentários da Live, como também o que ele quer dizer pra elas? Puta merda, acho tão singelo, que meu <i>cuore</i> escapa pela boca. A partir dos pouquíssimos comentários das fãs lidos (devo chamar de stans? armies? ajudem a vó!), tenho a sensação de que a predileção por algum dos membros é desencorajada; porém não tem como resistir a esse moço. O Jung-kook me desperta tanto carinho, que só posso desejar que a carreira dele decole para voos ainda mais altos — potencial para carreira solo, ele tem. (*Por favor, não seja cancelado.*) Colo a live que, <i>jizuiz</i>, vi duas vezes nesta semana (ah; claro, a beleza dele não atrapalha nadinha):</div><div><br /></div><div> [**sugeriria ver ao menos a partir do ponto 50:45 da Live.]</div>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Gg3AKW4a9gY" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>Meu segundo destaque relacionado às Lives vai para Kim Tae-Hyung, V para as íntimas. Somente encontrei duas até agora, mas adoro o lance meio nonsense, meio <i>lynchiano</i> (calma, estou pensando naqueles vídeos curtinhos que o Lynch solta na internet). Em linhas gerais, o rapaz fica comendo em frente à câmera (um mukbang light, digamos) , com uma postura meio indiferente/desconectada, e é isso aí. Numa live na qual V come, enquanto deixa uma playlist tocando, caí na risada quando ele diz +- <i>"não estão me ouvindo? não importa, essa live é sobre a música, curtam aí o som, enquanto eu como meu sushi"</i>. E vale reparar no gosto musical dele: Al Green, Etta James... Contudo Boyz II Men...? <i>Err</i>, embora tenha mesmo boas músicas para karaokê, é um grupo que me deixa meio ~desconfiada~:</div>
<br /><div>Entrego o prêmio de consolação das lives ao Park Ji-min, muito bonitinho ao comentar, morrendo de vergonha, que a corrida lhe tem sido uma forma de aliviar o estresse (está certo!): <a href="https://www.youtube.com/watch?v=HoWkAXSAffY&t=2813s&ab_channel=BTSLIVE" target="_blank">Link aqui.</a></div><div><br /></div><div>→ Impensável fechar o tópico BTS sem parabenizar o responsável pelas coreografias da banda: Sonsungdeuk. Tentei escolher uma coreô favorita, porém não consegui. Talvez a de<i> Idol </i>(?), com muitos passos que lembram os da Sherrie Silver, responsável pela coreô de<i> This is America, </i>do Gambino (meu passinho favorito entrou!). <i>Oh, to be a teenager practicing BTS choreographies with my friends, at Centro Cultural de SP...</i></div><div><i><br /></i></div><div><i><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/bhWXw56puNY" title="YouTube video player" width="560"></iframe></i></div><div><i><br /></i></div><div>→ *O universo BTS definitivamente rende muito assunto que me instiga (a barreira/ponte do idioma — meu tema favorito nesse lance —, a fabulosa relação com as fãs, a estética, a música enquanto poderosa empreitada de negócio e até política pública econômica/diplomática (!) etc), portanto o grupo poderá retornar ao blog.</div><div><br /></div><div><br /></div><div>📻 A seguir, incluo meu solista favorito, uma das maiores glórias desse universo de músicas coreanas dançantes; com muitos trabalhos que seguem uma estética andrógina: <b>TAEMIN!</b> A música que mais ouvi foi <i>Criminal</i> (amo), no entanto colarei o mais recente clipe dele, música <i>Advice</i>, pois é maravilhoso — os passos da coreô! aaaahhhh! </div><div><br /></div><div>Por que Taemin não é um estrondoso sucesso mundial?! Ele tem tanta música pop massa, tanta performance incrível; realmente não entendo. Deve ser porque o planeta é habitado por tontas feito eu, que demoram a localizar a fonte do ouro.</div><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/sQg4VCB3bYw" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>*<b>Key - </b> Não é um solista exatamente favorito, mas o último disco é muito bom, então o incluo. Minha música favorita é <i>Yellow Tape </i>(acho), entretanto opto por esta apresentação de<i> Helium</i>, pois o look e a coreografia são pura perfeição.</div><div><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/LbPx3pYHiUE" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div><br /></div><div><b>P.S.:</b> ambos, Taemin e Key, fazem parte da boy band <b>SHINee</b>, igualmente excelente, gosto bastante.</div><div><br /></div><div>📻 Este oitavo mini álbum do grupo <b>Seventeen</b>, intitulado <i>Your Choice</i>, é outra delicinha pop. Das seis músicas, só não curto a baladinha final (mas costumo detestar a maioria das baladinhas coreanas, sendo honesta — *exceção: SHINee/Taemin). Música favorita: <i>Anyone</i> (mas ouvi <i>Ready to Love</i> pra caramba também).<iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="380" src="https://open.spotify.com/embed/album/79VvXTQNeLr8KmvcdxN0Pc?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe></div><div><br /></div><div><br /></div><div>📻 Conforme disse, infelizmente torço o nariz pra maioria das Girl Bands, porém, dentre as artistas solo, esbarro mais facilmente com músicas que me agradam e, até onde pude entender, quem manda nesse parquinho é a cantora <b>Sunmi</b>? Suponho que a música <i>Pporappippam </i>seja a mais famosa dela (ouvi até furar o disco), mas fixarei um achado recente (pra mim, pois a música é de 2013) - 24 hours(24시간이 모자라) (*saliento que necessito explorar melhor a discografia da Sunmi). </div>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/2UmDrsMlXXg" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>Também tenho a <b>LeeHi</b> no páreo, outra formidável descoberta coreana mais recente (fico com <i>Savior</i>):</div><div><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/fDB4CkyrR4U" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div><br /></div><div style="text-align: center;">🎶</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Este papo vai longe (?), portanto até uma possível nova postagem. Bora dançar, Coreia!</div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-86311744317560294032021-11-05T00:53:00.056-03:002023-07-23T21:51:51.553-03:00Ne me quitte pas; Je t'inventerai des mots insensés que tu comprendras<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAVR40mPwyeMD1bfUNXPOeFSdAFXHr1yDNDSUPaqfrjpnDyEbC6PvjiOok_ehSBsX2uEWVUaHjvPiCHbB11w2PzZTpsIuwdfbP5A08jRnqHNMXj5sW83lxPK5kKuq-azYgXOnnfYLidc7EqMzJ6uHE_VGb4mflE25D9_kHAVP0Pg_nN-PgviKJpw/s1200/Age-mur--Camille-Claudel-.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="1200" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAVR40mPwyeMD1bfUNXPOeFSdAFXHr1yDNDSUPaqfrjpnDyEbC6PvjiOok_ehSBsX2uEWVUaHjvPiCHbB11w2PzZTpsIuwdfbP5A08jRnqHNMXj5sW83lxPK5kKuq-azYgXOnnfYLidc7EqMzJ6uHE_VGb4mflE25D9_kHAVP0Pg_nN-PgviKJpw/w400-h283/Age-mur--Camille-Claudel-.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>L'Âge mûr</i>, de Camille Claudel</div><br /><div style="text-align: right;"><i> </i></div><div style="text-align: right;"><i><span style="color: #134f5c;">"É inacreditável a frieza dos homens diante do padecimento de uma mulher abandonada sem compaixão. Ainda por cima, criticam as pessoas e se defendem muito bem."</span></i></div><div style="text-align: right;"><span style="color: #134f5c;"><br /></span></div><div style="text-align: right;"><span style="color: #134f5c;">— Sei Shônagon,<i> O Livro do Travesseiro. </i></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">(*Tradução: Geny Wakisaka, Junko Ota, Lica Hashimoto, Luiza Yoshida, Madalena Cordaro)</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div><div><br /></div>Embarquei noutro daqueles devaneios nos quais, partindo de um ponto A, chego a um ponto B; porém sem entender por que fui parar ali. De qualquer forma, é precisamente pra isto que (também) me serve o blog: <i>tentar</i> compreender os percursos até os pontos B's e averiguar se, afinal, o ponto B é um destino pertinente ou uma tola fuga de rota. Pois bem, o início desta conversa fiada corresponde ao <a href="https://www.imdb.com/title/tt0094828/?ref_=fn_al_tt_1" target="_blank">filme <i>Camille Claudel</i> (1988), do diretor Bruno Nuytten, no qual Isabelle Adjani interpreta Claudel e Gérard Depardieu encarna Rodin</a> — trata-se da adaptação cinematográfica da biografia de Claudel escrita por Reine-Marie Paris, sobrinha-neta da artista. Considerando-se que meus conhecimentos acerca de Claudel se resumiam à escultura <i>A Valsa</i> e a "<i>um tal envolvimento com Rodin"</i>, suponho que não despertarei suspeitas ao compartilhar que o filme (visto em Maio/2021) me pôs num profundo estado de assombro e desalento. Num vexatório exercício de honestidade, assumirei que minha reação, para além da curiosidade despertada pela obra da escultora, partiu sobretudo do seguinte pensamento: ...<i>mas será que foi disso, então, que escapei (fedendo)? </i>Calma, não estou insinuando ser uma artista que se relacionou com um escultor famosão, mas simplesmente que já interpretei o —inevitável? — papel da mulher abandonada. Deprimente e deplorável, é o que me restrinjo a dizer a respeito da experiência. O caso de Claudel, no entanto, é marcado por certas peculiaridades desconsoladoras: eventos ocorridos no final do século XIX, no seio de uma sociedade francesa moralista e machista; protagonizados por uma mulher solteira de meros 20 anos; uma talentosa artista que, <u>em pleno início de carreira</u>, se envolve profissional e amorosamente com um homem casado de mais de quarenta anos, daí colocando-se deliberadamente à sombra de um artista do porte de Rodin (já renomado naquele período). O sentimento de sororidade fatalmente me conduz à ingênua pergunta "por deus; não tinha ninguém para avisá-la da cagada em que se metia?!", porém basta recordar que falo de uma mulher apaixonada (e jovem; pior) para constatar que qualquer alerta seria inútil. O lamentável resultado para Claudel: a perda da razão, uma carreira artística abortada prematuramente e trinta anos vividos internada num hospital psiquiátrico. O chão me escapa. <div><br /></div><div><br /></div><div style="text-align: left;">Fiquei tão ansiosa para conhecer melhor o trabalho de Claudel que, no mesmo dia em que vi o filme, comprei no sebo o livro organizado pela Pinacoteca de São Paulo para a Exposição Camille Claudel, a qual ocorrera em 1997 no Ibirapuera, com a curadoria de Reine-Marie Paris. Gravei um vídeo bastante improvisado no qual o folheio, só para dar uma ideia do material — ressalto que gostei bastante dos text textos de apoio.</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"> <iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/YBICVlLahc0" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div><br /></div><div>Quanto à leitura, incluirei na postagem estas breves descobertas:</div><div><br /></div><div>➽ Trecho de uma das cartinhas que o senhor Rodin mandou a Claudel durante o flerte; permeado de uma profecia reversa tragicômica (ah, a vontade de dar um soco...):</div><blockquote><div><i><span style="color: #134f5c;">"...Não aguento mais, não posso passar mais um dia sem vê-la. Senão é a atroz loucura. Tudo acabou, não trabalho mais, (...) amo você com furor. (...) não deixe que a horrível e lenta doença atinja minha inteligência, o amor ardente e tão puro que sinto por você. Enfim, piedade minha querida, e você mesma será recompensada."</span></i></div></blockquote><p> — Rodin, 1883. </p><p>➽ Ao ler algumas das cartas escritas por Claudel durante a internação, restou a impressão de que o senso de realidade da artista fora de fato afetado com repercussões clínicas relevantes em sua capacidade funcional (há recorrentes sinais sugestivos de delírios persecutórios, por exemplo). O que permanece bastante questionável, entretanto, é a indicação clínica de mantê-la internada num manicômio — em especial por 30 anos —, impedindo-a de continuar produzindo (se é que desejava). As críticas dirigidas à conduta da família da artista, em especial ao irmão, talvez tenham fundamento. Transcrevo, a seguir, o fragmento de uma dessas cartas, o qual ilustra meu questionamento (grifos meus):</p><blockquote style="font-style: italic;"><span style="color: #134f5c;">"Haveria ao menos alguém que tivesse reconhecimento e que soubesse oferecer algumas compensações à pobre <b>mulher cujo gênio despojaram</b>? Não! <b>Uma casa de alienados</b>! <b>Nem</b> mesmo o <b>direito de ter meu canto</b>!... (...) é a exploração da mulher, <b>o massacre da artista</b> a quem querem fazer suar até o sangue."</span></blockquote><p> — Camille Claudel; 03/03/1930 </p><div>➽ Conheci melhor a obra de Claudel e, neste post, anoto somente dois pontos: <br /><b>(1)</b> <i>A Valsa </i>(1895-1905)</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_j5rEN2VXL4TBoLb783SruzNwgqsGu3sibMeCKT5Ry_hdRK7RArBhcyak_ADClPpYCKAwtRBqcE9pSQFTLAX4JMq6LL98gPx7WOug5rNm3Djxm3LDJaXDO8WS_T0C9lCHT1-ThnWS-CbEVMOUreVYGPvs0XykNItHGLbC1SURqXjPFU5eqibDsg/s365/camille%20claudel%20%20-%20A%20Valsa%20r.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="270" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_j5rEN2VXL4TBoLb783SruzNwgqsGu3sibMeCKT5Ry_hdRK7RArBhcyak_ADClPpYCKAwtRBqcE9pSQFTLAX4JMq6LL98gPx7WOug5rNm3Djxm3LDJaXDO8WS_T0C9lCHT1-ThnWS-CbEVMOUreVYGPvs0XykNItHGLbC1SURqXjPFU5eqibDsg/w148-h200/camille%20claudel%20%20-%20A%20Valsa%20r.jpg" width="148" /></a></div><br />Em minhas observações da escultura <i>A Valsa</i>, jamais enxerguei uma saia vestindo a mulher; a qual, inclusive, fora acrescentada por causa do chilique crítico contra a nudez do casal — no desenho de Claudel, fica claro tratar-se de uma saia. O que sempre enxerguei na peça é a imagem de um casal rodopiando a medida que emerge em explosão a partir das profundezas do mar (sim!, uma escultura em movimento...), motivo da presença de <b>algas</b> — e não saia — vestindo a parte inferior da valsista. De qualquer jeito, minha prévia leitura não é equivocada, pois o texto do livro descreve a obra <i>"como uma concha marinha"</i> (boa, é isso que vejo). No mais, confirmei que <i>as heroínas de Claudel se projetam em direção ao céu num grande voo ou espiral quebrados; a ascendente oblíqua constitui o eixo preferido de suas esculturas</i>. Também adorei saber que a música e a dança fascinam as heroínas da escultora, as quais assumem o papel de uma <i>dançarina hindu mais que europeia, dançando sem pés nem pernas, com os braços, com seus dedos e a cabeça jogada para trás</i>.</div><div><br /></div><div><b>(2)</b> <i>A Onda </i>(1897)</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgzZKo66DdPui0JNur-64wzI43o2MhNr0CW4qgAc6MAcLse42PUXCm4_CY10bnddB3DO1iOHwRVTsdkRQnkm6AlbILN-f-_jz9AgsTcqS2XoUetrv7C3lbOKNWYz01-H9vRsrQAEAX_7xxHBKHtp6MffaNoqlO-uhfSIbc20tk50EPpg832mWrYQ/s457/a%20onda%20-%20camille%20claudel%20r.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="457" data-original-width="355" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgzZKo66DdPui0JNur-64wzI43o2MhNr0CW4qgAc6MAcLse42PUXCm4_CY10bnddB3DO1iOHwRVTsdkRQnkm6AlbILN-f-_jz9AgsTcqS2XoUetrv7C3lbOKNWYz01-H9vRsrQAEAX_7xxHBKHtp6MffaNoqlO-uhfSIbc20tk50EPpg832mWrYQ/w156-h200/a%20onda%20-%20camille%20claudel%20r.jpg" width="156" /></a></div><br />Uma vez que vejo mar em tudo, mal pude conter o feliz espanto diante da escultura <i>A Onda</i> (não conhecia); <i>esta quarta dimensão onde a pequenez humana se situa frente à imensidão do mundo; uma confusão imaginária com uma força marinha, o fluxo do desejo, da pulsão carnal projetada fora de si</i>.<div> <br />E, opa, super dialoga com as algas que sempre enxerguei (e continuo enxergando rs) em <i>A Valsa</i>. Adorei demais a obra. <br /><div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div>➽ Por fim, destacarei uma passagem do texto <i>O espelho e a noite</i>, escrito por Gérard Bouté, pois será fundamental para o alinhavo final desta postagem (grifos meus):</div><div><i><blockquote><span style="color: #134f5c;">"<b>Assim como o poeta fala por entre palavras</b>, desvia as palavras de seu sentido por subversão da língua comum, também <b>a escultura de Camille</b>, vibrante, construída como um escape,<b> embaralha o mundo das aparências</b>. Ela é feita do desejo. <b>Metamorfoseia o desejo em amor da forma. Transforma o sentido em energia</b>, faz surgir o sentido do corpo de sua massa."</span></blockquote></i><p><i> — </i>Gérard Bouté,<i> O espelho e a noite. </i></p><p style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;">❧</span></p><i></i>Este é o aparente momento <i>And now for something completely different</i> (<i>E agora para algo completamente diferente</i>); contudo prevejo que, ao final deste post, a pertinência deste suposto desvio restará demonstrada. Em meio às reflexões propiciadas pela vida e obra de Claudel, por acaso calhei de ler (pela primeira vez) o lindo poema <i>Tríptico</i>, do português Herberto Helder. A foto do danado está na mão:</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdiok2o9NA8D1bL5ypk77iclAF-8GJPsXcf_efQY6xVY9y-a9ZAZseeTZZx7NwR8g0OAKyg-GNt7mSUP4P3SXQZNLTSvFETZScQJrDW0IzDT8NC-HkZIv5iSi7L9xZN7vlgRZSI-ZQRYKGgVXkEpc9E2N1ut7FmNF1_ZrTzfzIag4GVB6QxklR6w/s640/TRIPTICO%20-%20HERBERTO%20HELDER%203v.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdiok2o9NA8D1bL5ypk77iclAF-8GJPsXcf_efQY6xVY9y-a9ZAZseeTZZx7NwR8g0OAKyg-GNt7mSUP4P3SXQZNLTSvFETZScQJrDW0IzDT8NC-HkZIv5iSi7L9xZN7vlgRZSI-ZQRYKGgVXkEpc9E2N1ut7FmNF1_ZrTzfzIag4GVB6QxklR6w/s16000/TRIPTICO%20-%20HERBERTO%20HELDER%203v.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">(*cobri parte de minhas marginálias, pois sou pudica.😁)</div><div><br /></div><i>Tríptico</i> é o segundo poema da coletânea <i>Poemas Completos</i> (Tinta da China) do poeta, o que complicou um bocadinho minha leitura, pois, após lê-lo, simplesmente não consegui superá-lo e avançar para o próximo. Os versos de Helder persistiram martelando minha cabeça por dias, e me vi obrigada a buscar análises que me ajudassem a entender meu apego. Não esmiuçarei aqui o poema — <i>malz aê</i> —, mas apenas trarei a imprevista chave de leitura que me interessa para meu devaneio. Com o papo de "<i>amador"</i> pra cá e "<i>amada" </i>pra lá, o eu lírico de Helder acaba sugerindo a imediata e fácil leitura de um amor romântico entre duas pessoas, porém o texto <i>Camões Transformado e Re-Montado: o caso de Herberto Helder, </i>de Rui Torres (li<a href="https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3455/1/Torres%20-%20Cam%C3%B5es%20transformado%20e%20remontado.pdf" target="_blank"> aqui: X</a>) chamou-me atenção à leitura que Maria Lúcia Dal Farra faz de <i>Tríptico</i>, a qual enxerga no poema uma metáfora da própria leitura; assim como da própria escrita, conforme complementado conclusivamente por Torres:</div><div><i></i></div><blockquote><div><i><span style="color: #134f5c;">"Maria Lúcia Dal Farra vê, também, neste poema uma metáfora da própria leitura onde o amador é o leitor que vem com seu silêncio e seu ruído, e onde a coisa amada é o texto (FARRA 1978: 87), para depois referir a permeabilidade e o espaço físico representados pela amada como sendo a opacidade do texto (OP. CIT. 1978: 88). </span></i></div><div><i><span style="color: #134f5c;">(...)</span></i></div><div><i><span style="color: #134f5c;">Deste modo, não se trataria apenas de uma leitura desmistificante do amor platônico, mas também uma leitura do próprio processo de busca que o poeta realiza na escrita. E isso faz-se através da posse, do texto, esse espaço baía onde o amador-poeta se renova e se transforma, com ele, transformando o mundo. "</span></i></div></blockquote><p> — Rui Torres, <i>Camões Transformado e Re-Montado: o caso de Herberto Helder</i></p><p>Relendo o poema com essa nova chave em mãos, um novo fascínio certamente se revelou pra mim. Por ora, guardemos este dado: amador e amada se batendo mutuamente — Escritor X Escrita —, transformando o mundo num ruído áspero; alimentando o silêncio do mundo e do amor. </p><div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;">❧</span></div><div><div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgDRT16q4ar2crUWFGta_M8c45eQ3gfM8j3n177UySwTIhQ8dzfzRYkVtjW7vlsM7ZNpXkqW8x9b2K4e8ciKloBha9dSHSbSzYGP7XlzbRQuZ3Qz1TPXmGjTl035BzGaAfmxP3WvbaVLwxUZb9MDF13Im7JX_Q0TloTCe8v-LH_0coNHxDFwXRig/s405/Paix%C3%A3o%20Simples%20-%20Annie%20Ernaux.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="304" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgDRT16q4ar2crUWFGta_M8c45eQ3gfM8j3n177UySwTIhQ8dzfzRYkVtjW7vlsM7ZNpXkqW8x9b2K4e8ciKloBha9dSHSbSzYGP7XlzbRQuZ3Qz1TPXmGjTl035BzGaAfmxP3WvbaVLwxUZb9MDF13Im7JX_Q0TloTCe8v-LH_0coNHxDFwXRig/s320/Paix%C3%A3o%20Simples%20-%20Annie%20Ernaux.png" width="240" /></a></div><br />Para encerrar esta groselha, incluo a grata surpresa que tive ao ler — motivada pela presença de Camille Claudel — a obra <i>Paixão Simples</i>, de Annie Ernaux (Editora Objetiva, 1992 - Tradução: Adalgisa Campos da Silva). O livro pegava poeira em minha estante há algum tempo; e lembro de tê-lo adquirido num sebo após esbarrar com os comentários de uma leitora dinamarquesa que afirmara ter encontrado nas palavras de Ernaux um alento para a dor provocada pelo fim de um romance. Além disso, se a capa ilustrada pela escultura <i>O Beijo</i>, de Rodin, não for um sinal de que este era o momento certo de lê-lo, não sei o que mais seria.</div><div><br /></div><div>Em <i>Paixão Simples,</i> Ernaux rememora seu envolvimento amoroso com um estrangeiro casado (a autora é notória por textos autobiográficos, descobri) e, até certo ponto, o livro oferece ao leitor o antecipado: a descrição de um amor tórrido protagonizado por uma mulher apaixonada que, uma vez tomada pela loucura passional, vive, pensa e respira em função do homem amado. <i>Até aí, beleza</i>; no entanto há, pelo menos, duas cruciais ressalvas:</div><div><br /></div><div><b>1.</b> conforme Marylène Caron escreve na tese <i>Annie Ernaux, Passion simple et L'occupation: féminisme, autosociobiographie e passion amoureuse</i> (2014; li aqui: <a href="https://archipel.uqam.ca/7418/1/M13717.pdf" target="_blank">X</a>), Ernaux narra sua experiência amorosa sem o sentimentalismo que facilmente se suporia observar. Longe de lamentar a condição de amante abandonada, a autora analisa sua paixão de maneira impessoal, permanecendo na linha estrita dos fatos e sem jamais perder o foco crítico quanto aos eventos recordados. O resultado é que a narrativa de <i>Paixão Simples </i>desvenda a artificialidade do estereótipo comumente ligado à mulher escritora. </div><div><br /></div><div><b>2. </b>a narrativa de Ernaux reiteradamente confronta o leitor com explícitas reflexões metatextuais — em outras palavras, acerca de seu processo de escrita — que parecem operar à semelhança do que ocorreu com aquela leitura do poema de Herberto Helder, causando-me a sensação de que a autora corroborava a chave de leitura que Dal Farra e Torres ofereceram a <i>Tríptico</i>. Em determinado momento da leitura, comecei a me perguntar se Ernaux rememorava um relacionamento amoroso com um homem ou se, na verdade, discutia a natureza de sua relação (amorosa?) com a própria escrita. Para facilitar a compreensão do que tento dizer, listo alguns pontos discutidos pela narradora ao longo do livro:</div><div><br /></div><div><b>- Escrita X Sexo?</b></div><div><i><span style="color: #134f5c;">"... esta deveria ser a tendência da escrita, esta impressão que a cena do ato sexual provoca, esta angústia e este estupor, uma suspensão do juízo moral."</span></i></div><div><i><span style="color: #134f5c;"><br /></span></i></div><b>- Viver uma paixão = Escrever um livro?</b></div><div><i><span style="color: #134f5c;">"...sensação de estar vivendo esta paixão da mesma maneira que eu escreveria um livro: a mesma necessidade de construir bem cada cena, a mesma preocupação com todos os detalhes."</span></i></div><div><br /></div><div><b>- Em que modo escreve?</b></div><div><i><span style="color: #134f5c;">"...agora já não sei em que modo escrevo, se é no do testemunho, vai ver é no da confidência nos moldes da que se encontra nas revistas femininas, no do manifesto ou no do processo-verbal, ou mesmo no do comentário de texto."</span></i></div><div><br /></div><div><b>- Vergonha de escrever sobre uma experiência pessoal?</b></div><div><i><span style="color: #134f5c;">"... não sinto vergonha de anotar essas coisas, por causa do espaço de tempo que separa o momento em que elas se escrevem, em que na solidão eu as vejo, do momento em que elas forem lidas pelos outros, que aliás. acho que nunca chegará. (...) (Logo é um erro que nos leva a tachar de exibicionista quem escreve sobre a sua vida, pois exibicionista é quem só quer uma coisa: se mostrar e ser visto na mesma hora)."</span></i></div><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><b>- Por que escrever memórias?</b><div><span style="color: #134f5c;"><i>"O tempo da escrita não tem nada a ver com o da paixão. No entanto, comecei a escrever para continuar naquele tempo, (...)"</i></span></div><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><b>- Escrita X Objetos na evocação de memórias:</b></div><div><i><span style="color: #134f5c;">"(E continua sendo tão doloroso reler as primeiras páginas quanto tocar no roupão de toalha que ele usava (...). A diferença: estas páginas sempre terão sentido para mim, talvez para outros também, enquanto o roupão — que só faz sentido mesmo para mim — qualquer dia já não evocará mais nada (...)"</span></i></div><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><b>- Por que escrever memórias II:</b><div><span style="color: #134f5c;"><i>"Queria ver que diferença havia entre aquela realidade passada e uma coisa fictícia. (...) (Será que só eu volto ao local de um aborto? Será que escrevo para saber se os outros já fizeram ou sentiram essas coisas, ou para que encarem normalmente o fato de senti-las. Ou até para que as vivenciem também esquecendo que as leram um dia em algum lugar.)"</i></span></div><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><b>- O Tempo na Escrita</b><div><span style="color: #134f5c;"><i>"Eu poderia parar na frase anterior e fazer de conta que nada do que se passa no mundo e na minha vida tenha qualquer possibilidade de intervir neste texto. Considerá-lo saído do tempo, em suma, pronto para ser lido. mas enquanto estas páginas forem pessoais e estiverem à mão como hoje estão, a escrita está sempre aberta. me parece mais importante acrescentar o que a realidade veio trazer do que mudar um adjetivo de lugar."<br /></i></span><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><div><span style="color: #134f5c;"><i><br /></i></span></div><div>Mediante a leitura dessas passagens, imagino que seja fácil entender por que guardei, da análise de <i>Tríptico</i>, a premissa de que escritor e escrita se batem mutuamente numa relação de amor, transformando o mundo; certo? Caso esse alinhavo ainda esteja embaçado, vale partir para a conclusão à qual a narradora de Ernaux chega, <u>por meio da escrita</u>, quanto à paixão vivida com aquele homem casado (grifo meus):<span style="color: #134f5c;"><i> "</i><b style="font-style: italic;">Medi o tempo de outra maneira</b><i>, com todo meu corpo. Descobri do que a gente pode ser capaz, isto é, de tudo. Desejos sublimes ou mortais, ausência de dignidade, posições e atitudes que eu condenava nos outros antes de recorrer a elas. <b>Sem saber, ele me ligou mais ao mundo." </b></i></span></div><div><br /></div><div>No livro <i>Lembrar Escrever Esquecer</i> — li na sequência, incentivada pelas reflexões de <i>Paixão Simples — </i>, Jeanne Gagnebin me apresentou sumariamente ao pensamento de Paul Ricoeur, e confabulo que possivelmente as ideias de Ernaux sobre a escrita se aproximam bastante ao que esse filósofo francês defende quanto à <i>hermenêutica do si pelo desvio necessário dos signos da cultura</i> (destaque para o segundo volume de <i>Tempo e Narrativa</i>). Para sustentar a hipótese, trago este trecho escrito por Gagnebin (grifos meus):</div><blockquote><span><i style="color: #134f5c;">"O segundo volume </i>(Tempo e Narrativa)<i style="color: #134f5c;">... Só queria ressaltar o sentimento muito forte que se apodera do leitor, enredado (!) pela estratégia narrativa de Ricoeur. O sentimento de que </i><b style="color: #134f5c; font-style: italic;">somente a arte da narração poderia nos reconciliar</b><i style="color: #134f5c;">, ainda que nunca definitivamente, </i><b style="color: #134f5c; font-style: italic;">com as feridas e aporias de nossa temporalidade</b><i style="color: #134f5c;">. (...) O tempo nos escapa e, por ele, como que escapamos a nós mesmos; mas a retomada dessa fuga na matéria frágil das</i><b style="color: #134f5c; font-style: italic;"> palavras permite</b><i style="color: #134f5c;"> uma apreensão nova, (...) </i><b style="color: #134f5c; font-style: italic;">Uma nova apreensão que, ao criar sentidos</b><i style="color: #134f5c;">, fugazes eles também, permite jogos ativos com o(s) tempo(s) e no(s) tempo(s) (...)"</i></span></blockquote><p><i> </i> — Jeanne Gagnebin; <i>Uma Filosofia do Cogito Ferido: Paul Ricoeur. </i></p><p>Com o artigo <i>De l’écriture « comme un couteau » à l’écriture « dans le vif » : Le vrai lieu d’Annie Ernaux</i> (<a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/2362263650027854065/8631174431756029403#">li aqui: X</a>), publicado pela pesquisadora Mariana Ionescu, pude confirmar que o projeto literário de Ernaux efetivamente visa registrar a todo custo a passagem do desejo carnal à escrita, de modo a conferir sentido à opacidade de suas experiências — um sentido não só individual, mas também coletivo; ou seja, a autora pretende intervir em si e no mundo. </p><p>Portanto, após todos esses paralelos estabelecidos, inevitavelmente questionei se essa não foi a saída que escapara a Camille Claudel. Digo; no começo deste post, transcrevi as palavras de Bouté, segundo as quais a <i>escultura de Claudel embaralha o mundo das aparências, metamorfoseia o desejo em amor da forma e transforma o sentido em energia,</i> certo? Então, assim como a escrita é capaz — vide o que aprendi com Helder, Ernaux, Ricoeur, Gagnebin —, será que o amor vivido na escultura também não poderia ter permitido a Claudel reconciliar-se com a dor do abandono? Mediante continuidade de seu trabalho como escultora, Claudel não teria encontrado um sentido para sua experiência e um novo jeito de habitar o mundo? Ou ainda: ela não teria se transformado numa pessoa <b style="font-style: italic;">mais ligada ao mundo </b>(usando palavras de Ernaux), em vez de desconectada dele? Dada a impossibilidade de obter uma resposta categórica às minhas indagações (e de mudar o passado), me resigno a encerrar este alinhavo lamentando profundamente o que ocorreu a Claudel, desejando que a artista finalmente esteja em paz.</p></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2362263650027854065.post-38785686896523272082021-09-25T20:35:00.129-03:002023-12-28T23:04:15.621-03:00Beloved (Amada) - Toni Morrison<div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMcf6GSK0ScQwdpodkU_u6Dh_E_FwB4oTV8egwF7mttSUaXpVuAjJNC61aJ6RKyK8FCbHUWfTOysdCBkGYgBnQPBU3_XJLTXVlFqvelnItjrp-iuQbFMav736N2fAg_xtRQ1oBRQKZ-g3sx2AMEaTDy5wn4MalYxTdjS-HKdq-Z0bTf5KAMnJznA/s580/TONI%20MORRISON%20BELOVED%20AMADA.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="302" data-original-width="580" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMcf6GSK0ScQwdpodkU_u6Dh_E_FwB4oTV8egwF7mttSUaXpVuAjJNC61aJ6RKyK8FCbHUWfTOysdCBkGYgBnQPBU3_XJLTXVlFqvelnItjrp-iuQbFMav736N2fAg_xtRQ1oBRQKZ-g3sx2AMEaTDy5wn4MalYxTdjS-HKdq-Z0bTf5KAMnJznA/w400-h209/TONI%20MORRISON%20BELOVED%20AMADA.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>[* As falas de A.S. Byatt e Ignes Sodré foram extraídas do livro <i>Imaginando personagens - seis conversas sobre escritoras</i>; Civilização Brasileira 2002 (Tradução: Roberto Mugiatti)]<br /><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="color: #990000;"><b>Daniela:</b></span> Olá, Ignês Sodré e A.S. Byatt. Muito obrigada por aceitarem conversar comigo a respeito de <i>Beloved </i>(<i>Amada)</i>. Ah, considerando-se que Morrison foi uma autora que discutia aberta e generosamente a própria obra, selecionei algumas de suas falas que julgo relevantes para o entendimento de <i>Amada</i>;<i> </i>as quais incluirei ao longo de nossa conversa, a depender do que estejamos discutindo, ok? Um recurso para que a autora participe do nosso papo.</div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Bom, comecemos do começo, certo? A primeira frase do livro — <i><span style="color: #990000;">"124 WAS SPITEFUL."</span></i> — já me pôs num estado de confusão. O pronome interrogativo que prontamente me veio à cabeça foi "<b style="text-decoration-line: underline;">QUEM"</b>, quero dizer, <u><i>quem</i></u> é 124? — por conta do adjetivo escolhido pela autora —, de modo que tive de avançar um bocadinho até entender que 124 não é uma pessoa exatamente (controverso, talvez), mas uma casa. <div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Olá, Daniela e Byatt. Sim, a casa é o primeiro personagem, o segundo personagem é o bebê que não sabemos quem é, mas que é bastante poderoso, que controla a casa. </div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Olá, Daniela e Sodré. Inclusive, é um bebê que faz coisas mágicas, como quebrar espelhos e deixar marcas de mãos em bolos. E isto é em parte cômico, o tom do texto tem um tipo de forte energia cômica.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Energia cômica, Byatt?! Puxa, discordo, hein. A única parte, ou melhor, diálogo que achei engraçado foi aquele próximo ao final, no qual Paul D e Stamp Paid questionam se Sethe seria tomada por instintos assassinos sempre que visse um branco pela frente. Os dois riram; eu, não nego, ri junto. </div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>De qualquer maneira, a narrativa, de fato, traz a gente logo para dentro desse mundo completamente diferente — pisamos dentro do 124 como os personagens o farão: do mundo exterior comum para o estranho mundo do 124, um mundo dominado por este bebê fantasma. É escrito de um modo que nos faz ser atraídos para o 124.</div><div><b><blockquote><br /><span style="color: #990000;">Toni Morrison: </span><i>"Eu queria que o leitor fosse sequestrado, lançado sem dó para dentro de um ambiente estranho, o que seria o primeiro passo em direção a uma experiência compartilhada com a população do livro — assim como as personagens foram arremessadas de um lugar para outro, de qualquer lugar para qualquer outro, sem preparo ou sem defesa."</i></blockquote></b></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>"Atraídos" é uma palavra forte, Sodré. Eu, pelo menos, me perguntei se queria/deveria, afinal, entrar ali. O início do livro me despertou medo e indagações do tipo "quero mesmo entrar e passar tempo numa casa onde um fantasma comete atrocidades contra um cachorro?!" </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Mas enfim, acabei entrando e ficando. No entanto, durante boa parte da leitura, persisti matutando acerca do número "124", até que a ficha caiu lá pela metade (meio lerda, eu sei): trata-se de uma progressão aritmética que remete a uma árvore genealógica. Por sinal, uma árvore* que espelha outras do livro: aquela chicoteada nas costas de Sethe e aquelas floridas, que guiaram Paul D à casa (*uma dentre várias imagens bíblicas do livro). O 1 seria Baby Suggs. O 2 seria Sethe (com certeza), e quem mais? Halle ou Paul D? O 4 representaria os quatro filhos de Sethe: Howard, Buglar, Beloved e Denver. </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>E voltando ao medo inicial que senti; compartilho que <i>Amada </i>foi o segundo livro a invadir meus sonhos — o sonho ocorreu logo na primeira noite pós início da leitura. Sabem qual foi o primeiro? <i>Pedro Páramo</i>, de Juan Rulfo. Meu inconsciente, pelo visto, se alarma quando confrontado pelo coro de fantasmas vítimas de violências atrozes. Ele se perturba em face de narrativas fragmentadas que não se revelam de imediato, encarado como aparente ameaça, não sei bem. </div><div><i><b><blockquote><br /><span style="color: #990000; font-style: normal;">Toni Morrison: </span>"A escravidão é um terreno sem caminhos. Convidar os leitores (e eu mesma) para dentro de uma paisagem repulsiva (escondida, mas não completamente; deliberadamente enterrada, mas não esquecida) equivale a armar uma tenda num cemitério habitado por fantasmas altamente vocais."</blockquote></b></i></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Entendo. "Eu sou Amada e ela é minha" é um eco do <i>Cântico dos Cânticos</i>. Alguém está dizendo: "Eu sou Amada, e portanto ela é minha", mas podia ser Denver falando, podia ser Amada falando, podia ser Sethe falando. São todas mulheres negras que perderam. São todas pessoas mortas também, eu creio, dizendo: "Embora eu esteja debaixo da grama, eu sou amada." Então a voz que fala se move para dentro do navio negreiro enquanto ainda é a voz de Amada na sepultura.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Isso enfatiza a importância do livro não fazer sentido à primeira leitura: o que aconteceu no passado é tão insuportável que só pode ser apreendido de uma maneira fragmentária. O leitor tem que sentir que a história só pode ser contada lentamente em pequenas migalhas, de outro modo seria impossível de digerir.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Exato, Byatt e Sodré. Meu começo de leitura foi estranho; sobretudo porque não me sentia segura quanto à plena compreensão do que lia. Cheguei a dar uma passada de olho em comentários de leitores no Goodreads, a fim de sondar se minha inicial desorientação era normal — era. No entanto, captei rapidamente o que Morrison estava fazendo com aquela narrativa, e a leitura passou a fluir mais fácil.</div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Inclusive, achei bem engraçado quando a autora, numa entrevista, disse haver leitores que a abordam perguntando "mas onde precisamente está a descrição do que Sethe fez contra Amada?". E é aquilo: a descrição está lá, mas não está; ao menos não explicitamente, numa tacada só. Assim como também não se faz presente com requintes de detalhes, perversidade e/ou sadismo.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Verdade, Daniela. Você não só sente que nada sabe a respeito do muito que está sendo contado, mas sua imaginação pode correr temporariamente para o lugar errado, para ser corrigida depois por outros pedacinhos de interpretação.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Com Morrison, você precisa ler cada palavra. <i><span style="color: #990000;">A little old baby</span></i> / <i><span style="color: #990000;">Um pequeno velho bebê</span></i>, por exemplo, é linguagem coloquial e, no entanto, no momento em que este bebê está morto, ele se torna o Deus, ele se torna toda a história da sua raça. E, de certo modo, os mortos são velhos porque são parte do passado e dos ancestrais.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Sim, existe nas personagens uma qualidade mítica, uma vez que são descritas em grande detalhe como indivíduos, mas também representam seu passado e sua raça. Além disso, as personagens são pessoas que passaram por experiências tão insuportáveis que têm de estar engajadas em batalhas com suas próprias mentes. </div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Impossível não falar da questão da memória neste livro, não é? A própria forma narrativa a respeito da qual estamos comentando reflete a relação que as personagens estabelecem com suas memórias. Na introdução de <i>Beloved, </i>Morrison afirma a pretensão de criar um contexto onde o esforço hercúleo para esquecer estivesse ameaçado pela memória desesperada por permanecer viva. </div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Sim, pois este romance é essencialmente sobre a memória, sobre personagens que não querem se lembrar, escrito por uma autora que é poderosa na ênfase de que não devemos nunca esquecer. A memória e a lembrança estão ligadas para manter vivos na mente aqueles que morreram e, portanto, com todo o processo de luto, que implica tanto manter uma relação interna com os mortos como também elaborar a perda. Isto é naturalmente o que Sethe não pode fazer: ela está tão ocupada pelo fantasma deste bebê, que um processo normal de luto não pode acontecer. </div><div><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>O luto é necessário para que a vida possa continuar no presente, mas o desejo de cada personagem de obliterar o passado rompe este processo na verdade. Quando lembrar é tão intolerável, não pode haver distanciamento gradual do passado.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Correto; e me agrada a complexidade com que Morrison trata o tema, sem apelar para trivialidades. A importância da preservação da memória mediante transmissão oral entre gerações, por exemplo, surge belamente no livro, por meio das histórias que Baby Suggs e Sethe contam para Denver, quem, por sua, vez, as conta para Amada — papel que Morrison também assume ao escrever <i>Beloved</i>. No entanto, a memória não é retratada com absoluto preciosismo; quero dizer, consigo identificar no texto elementos sugestivos de que a autora concorda com estas palavras de Todorov: <i>"Sacralizar a memória é uma outra maneira de torná-la estéril." </i></div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>A título de ilustração, menciono as pregações de Baby Suggs à comunidade, nas quais a personagem reforça a todos que a única graça que podiam ter era aquela que pudessem <b><u>imaginar</u></b>. Nessa fala, enxergo um claro apelo à necessidade de rememorar o passado de forma não paralisante; isto é, rememorá-lo visando recriar o presente e imaginar o futuro. Como Sethe poderia ter sobrevivido para viver seu presente e imaginar para si um novo futuro, caso tivesse deixado ser engolida por Amada, seu passado materializado? — <i><span style="color: #990000;">"But her brain was not interrested in the future. Loaded with the past and hungry for more, it left her no room to imagine, let alone plan for, the next day." </span></i></div><div><i><span style="color: #990000;"><br /></span></i></div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Como outro exemplo, registro esta frase assombrosa do livro, a respeito dos negros livres que estavam conquistando espaço de destaque na sociedade: <i style="color: #990000;">"In addition to having to use their heads to get ahead, they had the weight of the whole race sitting there. You need two heads for that." </i>(Mais ou menos:<i style="color: #990000;"> Além de terem de usar a cabeça para seguir em frente, eles têm o peso de toda uma raça sobre si. É preciso duas cabeças para isso.) </i></div><div><i style="color: #990000;"><br /></i></div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Trouxe essa citação em particular porque, no livro <i>The Wedding</i>, a americana Dorothy West, ao abordar gerações familiares de negros americanos, me chamara atenção para o peso brutal que recai sobre as gerações mais novas. Por mais que a transmissão da memória seja importante, ela também acarreta o risco de impor às gerações negras mais novas a sensação de uma dívida que seria impossível de ser paga aos seus antepassados, que tanto sofreram e batalharam. Assim, a frase que destaquei de Morrison, em <i>Amada</i>, me remeteu novamente às reflexões que tive com o livro de West. É terrível, pois me faz pensar numa perversa perpetuação de violência mediante uma memória sacralizada.</div><div style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><blockquote><b><i><br /></i></b><span style="color: #990000; font-weight: 700;">Toni Morrison: </span><b><i>"Não queria que as memórias e o passado de Sethe fossem abstratos, eu queria que ela sentasse à mesa com aquilo que tentava evitar e explicar; uma forma de dizer que o passado é isso, é algo vivo que somos obrigados a confrontar."</i></b></blockquote><p><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Morrison descreve a memória de Sethe como uma criança voraz, o que significa que o fantasma de Amada se identifica com sua memória que não a deixa ir embora. Mas isto nos traz uma grande ambivalência na história, porque tanto em Paul D quanto em Sethe sua força é sua capacidade de lembrar e de não serem destruídos.</p><p><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Verdade, Byatt! Você me fez lembrar que o livro destaca o valor de termos pessoas em nossas vidas com as quais podemos compartilhar e dividir o fardo de memórias dolorosas — uma expressão de amor* mediante a memória...? —; o que aparece nesta tocante frase: <i><span style="color: #990000;">"The mind of him that knew her own. Her story was bearable because it was his as well—to tell, to refine and tell again." </span></i>(*: tema crucial na obra de Morrison.)</p></div><div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Outra coisa em relação à memória é que Amada tem uma memória tão fragmentária. Tem apenas fiapos de memória que vêm do outro mundo ou de alguma infância psicótica vagamente lembrada. Quase sem ter memória, ela não se sente uma pessoa real: ela é estranha, ela não consegue se comunicar.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>E por ela ter furos de memória, ela possui furos no ego. Suas memórias têm uma qualidade fragmentária que as memórias de nossa infância possuem. Isto se encaixa com aquela cena em que Amada sente que está caindo aos pedaços. </div><div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Além disso, os brancos que lerem este livro devem ser capazes de se inteirar de uma história que não vivenciaram mas que deveriam conhecer. É onde um romance difere de nossas próprias memórias. Porque, uma vez que leu, você adquiriu memórias que talvez não gostasse de ter, mas como o livro é tão forte você agora as tem e elas são parte de você.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Byatt, acho que sua reflexão serve para propor que livros também funcionam como objetos mediantes os quais esbarramos com <i>rememórias</i> que não nos pertencem, conforme Sethe explica a Denver em relação a lugares, neste trecho do livro: <i><span style="color: #990000;">"Someday you be walking down the road and you hear something or see something going on. So clear. And you think it's you thinking it up. A thought picture. But no. It's when you bump into a rememory that belongs to somebody else."</span></i></div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Vamos falar de Sethe. O romance se baseia numa história verdadeira, de uma mulher que matou seus filhos para não serem devolvidos à escravidão. É ousado para uma romancista escolher alguém que cometeu tal ato como protagonista e então fazer com que você a ame, simpatize com ela. Ela o faz inventando uma mulher cujos poderes de amar são fortes. Você a considera psicologicamente convincente, Sodré?</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Inteiramente convincente, e acho que minha simpatia por Sethe é absolutamente constante ao longo do livro, o que é extraordinário. Reagimos à intensidade da sua dor e ao horror da tragédia, mas nunca, em nenhum momento, contra ela, porque acreditamos em seus motivos.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>O ponto é que, sem termos passado pela violência extrema da qual Sethe fora vítima (destino que ele pretendia evitar aos filhos), não temos ferramentas, quiçá o direito, para condená-la sumariamente pelo que fez — aliás, nem é preciso, visto que Sethe assume a função de sua própria juíza implacável. Você perguntou, Byatt, se Sethe seria "convincente", mas acredito tratar-se de uma pergunta despropositada, sobretudo quando sabemos que o mote principal de <i>Amada</i> de fato ocorreu, digo, Margaret Garner existiu. Conforme afirmara Morrison, <i>esse evento é maior do que a linguagem.</i> Ao escolher narrar esses fatos, Morrison escolheu narrar o indizível (o que também corrobora a forma escolhida pela autora). </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Por outro lado, penso haver, sim, espaço para ponderações morais acerca do ato de Sethe, as quais me remetem àquele que considero ser um dos temas principais da obra: a maternidade. A meu ver, no instante em que Sethe assassina a filha, ela esquece de que aquela vida não a pertence; quero dizer, o fato de ela ser uma mãe amorosa não a confere o direito de dispor da vida daquele ser humano como bem entendesse, assim como faríamos com aquilo que possuímos. É o paradoxo vivido pelas mães e pais, creio: sentem-se num estado uno com seus filhos, porém, simultaneamente, têm de aceitar que aquelas vidas não os pertencem, que os filhos não são eles — e vice-versa. Morrison, em entrevista, afirmou algo nesse sentido:</div><div><blockquote><span style="color: #990000; font-weight: 700;">Toni Morrison: </span><i><b>"Ela reivindicou aquilo que não tinha o direito de reivindicar; a propriedade de seus filhos. Decidiu que podia não só ditar a vida deles, como acabar com ela. E quando sabemos, assim como ela sabia, qual seria o futuro daquelas crianças, não é tão difícil entender a decisão dela."</b></i></blockquote><b style="color: #990000;">Daniela: </b>A autora comentou ainda que, quando lera o artigo sobre o fato — a história de Margaret Garner —, enxergou nele ideias relacionadas à compulsão pelo cuidar, à ferocidade que acomete uma mulher que se sente responsável por uma criança e, ao mesmo tempo, a tensão de ser uma pessoa separada, completa. Suponho que o fato de eu não ter vivido a experiência materna seja responsável pelo assombro e medo que o dito amor materno me desperta. Sem dúvidas a maternidade vincula-se, no livro, às noções de sufocamento, posse e obsessão que beiram a loucura. Em outras palavras, não nego enxergar pertinência na assertiva de Paul D:<span style="color: #990000;"><i> Your love is too thick</i></span>. Também gosto desta frase acerca do amor de Sethe: <i><span style="color: #990000;">Locked in a love that wore everybody out.</span></i><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>O bebê também expressa uma feroz possessividade composta de amor e ódio: ódio à mãe que é uma entidade separada.<br /><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Outra ideia que me vem à mente é a da sanguessuga, porque Amada é como uma sanguessuga, carrapato ou vampiro sugador de sangue, que tira a vida de você.<br /><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Curiosos seus comentários, pois afirmo que esse livro, em várias passagens, me remeteu a cenas do filme <i>Alien</i>, no que refere-se à relação da mãe com sua filha fantasma materializada. Tudo muito assustador. Parafraseando novamente Paul D, é <i>too thick</i> pra mim, não dou conta; meu espírito é afeito a amores mais serenos — defeito meu? Qualidade? Vai saber.</div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Conjuntamente, quanto a esse tema, é forçoso ressaltar um aspecto particular da obra: estamos falando de mulheres que foram impedidas de vivenciar plenamente suas maternidades. Essas personagens são mulheres negras forçadas a procriar como animais, sem que lhes fosse garantido sequer o direito de dar um nome aos filhos. Baby Suggs foi mãe de oito crianças, filhas de seis pais diferentes, cujos paradeiros ela desconhece e sobre as quais só se recorda que uma delas gostava de pedacinhos de pão queimado. Sethe não pôde criar vínculos com a própria mãe, sendo amamentada por uma escrava designada para esse papel. É muito, muito cruel. <br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Também interessante é quando a narrativa nos evidencia que, por consequência, não havia uma comunidade de mulheres formada e consolidada para servir de suporte mútuo na dura tarefa que é criar e ser responsável por uma criança. Fiquei profundamente tocada quando Sethe desabafa que, na criação de seus filhos, não tivera uma outra mulher a quem pedir ajuda, uma orientação, restando obrigada a descobrir sozinha seus caminhos maternais: <i><span style="color: #990000;">"I wish I'd a known more, but, like I say, there wasn't nobody to talk to. Woman, I mean. (...) It's hard, you know what I mean? by yourself and no woman to help you get through." </span></i><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Sobre isso, a propósito, temos a tendência de pensar em termos do romance europeu do século XIX, que é sobre tensões familiares e pessoas tentando romper com a família — temos aqui um romance que é sobre pessoas às quais esta estrutura humana básica é negada pela estrutura social dentro da qual elas vivem. Por isto, é quase mitológico para Sethe que ela deveria ser mãe de vários filhos e amá-los, cuidar deles, sustentar a todos.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Sim. Por exemplo, Sethe diz que Halle era como um irmão para ela. Esta intimidade é necessária não por causa da implicação incestuosa, mas porque eles não tinham nenhuma família.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Os negros de Sweet Home se integram numa espécie de família artificial, embora sequer tenham nomes de verdade; ninguém é a mãe de ninguém e ninguém é o pai de ninguém. Alguns têm os mesmos nomes. Ainda assim, eles se ligam numa família que funciona enquanto estão juntos. </div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Esse destaque para a significância de fortes laços comunitários (sobretudo entre mulheres), é um dos artifícios dos quais Morrison lançava mão para explorar o tema que lhe era tão caro: o amor e a bondade, o Bem. <a href="https://www.youtube.com/watch?v=PJmVpYZnKTU&ab_channel=HarvardDivinitySchool" target="_blank">Conforme expôs numa palestra que proferira na Harvard Divinity School, Morrison</a> pretendia que sua obra firmasse contraponto à marcante presença do Mal na literatura contemporânea, o qual, na visão dela, habitualmente surge envolto por ares sedutores e inteligentes, em contrapartida aos tons de asneira reservados para o Bem. Ou seja, a autora era comprometida em narrar o Bem / a Bondade sem os corriqueiros marcadores narrativos do humor, tolice e/ou ironia; e, nesse sentido, o suporte comunitário desponta como uma dos artifícios temáticos aos quais Morrison recorria para atingir seu objetivo. </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>No entanto, acredito que a autora acaba caindo noutra comum arapuca literária das narrativas acerca do Bem: um caráter excessivamente religioso; especificamente, cristão. Sinto haver, nas entrelinhas narrativas de <i>Beloved, </i>a tese<i> </i>de<i> </i>que o caminho para o Bem e a Bondade passa necessariamente pela fé em Deus e pela estrita observância dos ensinamentos de Jesus Cristo — esse aspecto do livro, aliás, me remeteu bastante ao Victor Hugo, em <i>Os Miseráveis</i>. </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Nos trechos em que a prosa reveste-se de pesados tons bíblicos, trinquei os dentes, não nego; sobretudo porque imagens do terço final do <i>O Mundo se despedaça</i>, de Chinua Achebe, teimavam em voltar-me à mente nestas ocasiões. Para além disso, parecem-me inquietantes as breves frases nas quais até o narrador em terceira pessoa de <i>Beloved,</i> que sequer é personagem do livro, nos denuncia sua fé cristã. Enfim, mentiria se dissesse que isso não me despertou certo enfado. <i>Pera</i>, minto: curti demais o trecho no qual as personagens ponderam que Jesus Cristo, tal qual Amada, não deixa de ser um fantasma que sofreu em vida e não foi embora. GÊNIA! Está na mão a passagem:</div><div><i></i></div><blockquote><div><i><span style="color: #990000;">"You know as well as I do that people who die bad don't stay in the ground."</span></i></div><div><i><span style="color: #990000;">He couldn't deny it. Jesus Christ Himself didn't, (...)"</span></i></div></blockquote><div><i><span style="color: #990000;"></span></i></div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>De fato, Morrison recorre à linguagem bíblica e cristã em <i>Amada, </i>como o faz em toda a sua obra, mas eu a vejo usando estas histórias de uma nova maneira, porque a história cristã também apresenta grandes figuras míticas sofredoras das quais se pode extrair força, mais do que sentir que elas exigem que se parta para a perseguição e vingança. </div><div><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>E isto me leva ao nome de Amada, que vem do Cântico dos Cânticos, atribuído a Salomão: "Minha amada é minha, e eu sou dela" (Cântico dos Cânticos 2:16) Acho que a imagem da boa pessoa sofredora, de quem você pode aproximar-se para também tornar-se boa, sublinha o que Toni Morrison pode fazer com um romance e o que os romancistas europeus perderam ao fazer pessoas boas, conforme você comentou, Daniela.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>E Sethe tem fé na possibilidade de uma relação inteiramente boa e por isso é capaz de entregar seus filhos a estranhos. Não é apenas o horror de sua posição, não é o desespero. É o apego à certeza de que a bondade existe, contra a prova de tanto mal. Esta certeza é o que Baby Suggs finalmente perde: o momento em que ela se fragmenta. A crença na bondade—sua existência como uma realidade psíquica—é a única coisa que torna possível esta vida absolutamente intolerável. </div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Contudo, Sodré, há uma fala de Sethe que, depois do que você disse, preciso incluir: <span style="color: #990000; font-style: italic;">"I birthed them and I got them out and it wasn't no accident. I did that. I had help, of course, lots of that, but still it was me doing it, me saying, Go on, and Now. Me having to look out. Me using my own head." </span>Ou seja, considerando-se as críticas que fiz ao tom cristão de Amada, preciso admitir que a narrativa não constrói personagens passivas, digo, que esperam que Deus resolva seus problemas sem que elas mesmas movam uma palha para isso. Na fala que destaquei, Sethe reconhece os muitos auxílios com os quais contou durante seu percurso (inegáveis e, certas vezes, cruciais), mas isso não a refreia de asseverar que, no fim das contas, a ajuda e feitos maiores tiveram de partir, em primeiro lugar, de si própria. </div><div><b style="color: #990000;">Daniela: </b>No mais, essa relação com o Cântico dos Cânticos, para a qual Byatt chama atenção, me ajudou a compreender melhor a enorme ambivalência que detecto em Amada. Teoricamente trata-se do fantasma de uma criança assassinada pela mãe e que, estranhamente, se materializa no corpo de uma mulher adulta que, por diversas vezes, exibe comportamentos eróticos em relação à mãe e atitudes ardilosas similares à própria serpente do Éden — e cenas do filme <i>Us</i>, do Jordan Peele! É tudo muito perturbador, porém este trecho sobre o Cântico dos Cânticos, escrito por Francis Landy (tradução: Raul Fiker), elucidou muita coisa a esse respeito: <i>"O amante é um estranho que representa, em sua heterogeneidade, o mundo que devemos tornar nosso; o corpo do amante é explorado, com todas as suas possibilidades multiformes de significado e ação, seus extremos de repulsa e atração, sua vulnerabilidade e risco. O corpo está sujeito à morte, e desse modo a uma preocupação em que há sempre um elemento de ansiedade. (...) o amor materno é o arquétipo do amor, que todos os amores subsequentes reconstituem : os amantes representam essa relação primordial."</i></div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Amada também é Cristo, ela é ou o demônio ou o salvador, ela é o cordeiro sofredor sacrificado que foi morto em favor do povo. "Muitas águas não podem..."— estou certa de que esta imagem sustenta e fortalece a imagem de Amada no fundo do rio. E o Cântico dos Cânticos é uma extraordinária mistura da imagem sexual e amor religioso, amor de sacrifício e amor paterno. Parcialmente sugere uma espécie de incesto, creio.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Daniela: </b>Ah, olha só, então não estou doida quando enxergo uma forte dinâmica incestuosa entre Sethe e Amada. Bom, ainda há muito o que discutir quanto ao livro — liberdade, cores/colorismo, símbolos (água, sangue, leite, seios), masculinidade, amor, escravidão na literatura... — mas já tomei demais o tempo de vocês. Agradeço-lhes pela paciência de conversarem comigo, Byatt e Sodré.</div><div><br /></div><div><br /><b style="color: #990000;">Ignes Sodré: </b>Foi um prazer. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><b style="color: #990000;">A. S. Byatt: </b>Até mais. </div><div><blockquote><b><div style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-size: large;">Toni Morrison: </span><b style="font-size: large; font-style: italic;"><i>"Quanto aos críticos que me acusam de escrever personagens maiores do que a vida, entendo que eles estariam dizendo que a vida é pequena. Minhas personagens não são pequenas, elas são, na verdade, tão grandes quanto a vida, que é realmente enorme." </i></b></div></b></blockquote></div>Unknownnoreply@blogger.com0